A repórter precisava de um furo. Com seu emprego em risco, e não conseguindo nada mais que receitas de pontos de tricô, ela coloca a cabeça para funcionar. Quem sabe o Atletiba que acontecerá no final de semana seja uma oportunidade.
Mas falar da violência nos campos de futebol é lugar comum. E com água no pescoço, ela tem que encontrar algo realmente interessante. Ela abriu o Google e pesquisou sobre a matéria. Na décima oitava página da pesquisa, depois de muita provocação entre as torcidas, ela encontra um título em um blogue: “Meu Cachorro é Coxa”.
Lendo a matéria, o autor, diz ser dono de um cachorro fanático pelo coxa. Diz que o cãozinho comemora cada gol do Coxa como se fosse um título, e a cada gol do Atlético, ele uiva, rosna, e demonstra profunda irritação.
Não tendo nada mais interessante em vista, ela acaba mandando um email para o dono do cachorro, perguntando da possibilidade de uma entrevista (com o dono é claro). O dono concorda e ela vai com o seu “quase desempregado” câmera até a casa no Alto da Glória. Ao começar a entrevista, o dono diz que Couto (um cachorro de raça desconhecida e paternidade casual), desde os primeiros meses virou seu companheiro em jogos. Assiste à televisão super interessado em toda e qualquer transmissão de futebol, mas, nos jogos do Coxa tem um comportamento inacreditável. Ele realmente torce pelo Coxa.
A repórter, já meio desconcertada e achando ser uma perda de tempo, pergunta ao dono como poderia mostrar uma prova da preferência do cão. O dono, muito atencioso, vai até o quarto e pega uma camisa do Coritiba. Quando mostra ao cão, o bichinho começa a pular, balança o rabo freneticamente. O dono então começa a cantar o hino do Verdão, e o cão late feliz, como se tentasse cantar junto.
Então a repórter já tem uma matéria, mas ela ainda estará no rodapé da última página da edição de segunda. Ela precisa de algo mais, e resolve pedir para o dono mostrar algo mais. O dono vai mais uma vez até o quarto, e de lá volta com a camisa do São Paulo. O cão fica desinteressado e volta para o sofá. O dono então mostra uma camisa da Seleção Brasileira. O cão até abana o rabo, mas não repete o show que deu diante do uniforme do Coritiba.
Então a repórter vê que conseguirá um espaço melhor, mas ainda precisa de mais. Ela pede que seu câmera vá até o carro e pegue sua camisa do Atlético. Ao mostrar a camisa vermelha e preta do maior rival do coxa, o cão ataca violentamente o câmera. Após acalmar o cão, o dono diz que ele é mesmo assim, e pede desculpas ao câmera com a calça rasgada. Agora sim ela tem uma matéria.
Câmera ligada e a entrevista então começa. O cãozinho parece ter conhecimento de que se tornará uma celebridade em Curitiba. Eles conseguem captar todos os ângulos e todas as imagens que comprovam que Couto é um “guapeca” torcedor do Coritiba. Após conseguir todas as imagens que queria para publicar a matéria, ela resolve encerrar com uma entrevista com o dono do cão.
Na entrevista o dono conta todos os detalhes da história interessante. Couto é mesmo assim, tal e coisa, coisa e tal. Diz que Couto, quando o Coxa ganha, fica feliz. Se o Coxa perde, chora. Se o Coxa empata fica apático. E diz que o comportamento mais interessante do bichinho é mesmo no Atletiba. Fica nervoso antes do jogo. Parece até saber o horário e a tabela. Ele diz que se o Coritiba ganha do Atlético, ele parece ser o cão mais feliz do mundo. A cada gol do coxa num Atletiba, o cão corre até o muro da casa do vizinho e zomba do atlteticano. Se o Coxa empata com o Atlético, o tal cãozinho fica triste, não quer comer, chora, e fica até doente.
Então a repórter pergunta: Mas se ele é assim, quando o Coritiba perde do Atlético, como é que ele fica então?
O dono responde: Bom. Isso eu não sei não senhora. Ele só tem dois anos e nove meses.