Quando dezembro despenca do calendário, normalmente ficamos assustados com a rapidez que o ano se passou. Corremos para o espelho e lá estão duas novas rugas envelhecendo nossos olhos cansados. Lembramos então que chegou o momento de corrermos para as lojas abarrotadas de pessoas ensandecidas pelo espírito natalino. Elas se acotovelam nas lojas em busca de um Feliz Natal.
No trânsito o espírito natalino não e menos beligerante. Vemos que os carros estão crescendo e os pára-choques estão ficando mais grossos, enquanto mãos nervosas se agitam para reclamar da moça parada em fila dupla, ou mesmo do espertinho que roubou sua vaga no estacionamento do shopping.
Mas como tão bem foi cantado por Seu Jorge e Ana Carolina ... É ISSO AÍ!
Vamos então nos aconchegando no sofá de natal para assistir às retrospectivas de nossas espirituosas emissoras de televisão, mais ou menos sensacionalistas, que mostram imagens mais ou menos chocantes, mas que não nos fazem nem mais nem menos humanos.
Então deixemos de lado esses programas que nos enjoam, e vamos fazer nossa própria retrospectiva 2007.
Em janeiro, fomos piores do que achamos que somos e melhores do que pensam de nós.
Em fevereiro, nos calamos diante de barbarias e gritamos quando pisaram no nosso calo.
Em março, decepcionamos alguém que nos ama para surpreender alguém que não valia a pena.
Em abril, nos sentimos sozinhos em meio à multidão e acompanhados de nossa solidão.
Em maio, fomos a um casamento para cumprir um protocolo e bebemos com um amigo uma separação.
Em junho deixamos a jaqueta velha no armário por mero capricho, e nos enterramos sob os cobertores enquanto alguém congelava na rua.
Em julho, comemoramos as curtas férias enquanto reclamávamos das estripulias de nossos filhos.
Em agosto, ficamos irritados com as notícias políticas, e logo após, fomos jantar com os assessores de nossos mandatários.
Em setembro, investimos quase tudo em nosso trabalho pensando em nossa família, mas deixamos de investir um abraço nela.
Em outubro, resolvemos fazer uma análise de nossa conduta e acabamos pensando somente nas atitudes dos outros.
Em novembro, o espírito de final de ano aparece, mas descobrimos que teremos que repetir a mensagem do ano passado, pois nada de novo aconteceu.
Em dezembro, não haverá tempo para dedicarmos atenção às pessoas que amamos, pois estamos mais envolvidos com a compra dos presentes delas.
E assim 2007 chegou ao fim?
Ainda não.
Restam-nos aproximadamente um milhão e setecentas mil oportunidades para que nosso coração bata por alguém, por algo, ou ao menos, para agradecer a vida.
Restam minutos suficientes para amassar nossos filhos com um abraço infantil em meio às cócegas no tapete da sala.
Restam ainda algumas noites sem nuvens para admirarmos o céu que nos cobre gratuitamente desde nosso surgimento milagroso neste mundo.
Resta-nos tempo mais que suficiente para perdoar, superar e sorrir, pois levamos anos construindo mágoas, mas podemos superá-las em apenas um segundo.
Resta ainda a oportunidade de abrirmos os olhos para o significado do Natal, da Vida, do Amor, da Paz e de nossa real importância nessa história louca.
Resta-nos tempo para desenharmos caprichosamente um 2008 mais humano.
Errar é humano, mas amar, apesar de ser divino, neste mundo é exclusivamente humano.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
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