segunda-feira, 10 de março de 2008

SIM! EU SOU ESTRELINHA E IMPERTINENTE – Mais uma história insólita do bar (Samuel Rangel)

Por mais que pareça inacreditável, acredite! Realmente aconteceu!

O Álcool é realmente o maior catalisador do incrível.

Amigos são aquelas criaturas que Deus coloca em nossas vidas, para podermos ouvir dos outros, aquilo que nem nossa autocrítica tem coragem de nos dizer. Exatamente por isso, há dois cuidados que devemos ter com os amigos. Um, e o maior, é o cuidado de agirmos de tal forma para não perder esses anjos malvados. O outro, é o cuidado que devemos ter com as perguntas que faremos a eles, pois os amigos nos darão as respostas independentemente de estarmos preparados para ouvi-las como efeito da pergunta.

E os amigos são assim. Essas bênçãos.

Porém não se culpe se um dia você ouvir do teu amigo a resposta para uma pergunta que não fez. Mal entendidos são comuns para pessoas que convivem bastante.

O tema me traz com certo frescor a lembrança em uma das noites que eu estava tocando no Ponto Final. Eu estava substituindo o Riad que havia sido violentamente atacado por um feroz cão da raça Pintier. Lembrei-me do Ronaldo Bacellar como amigo e companheiro de violão, que como ninguém poderia tocar as bossas durante a noite. Comecei a noite e Ronaldo ainda não havia chegado. O bar relativamente vazio.

Pessoas foram entrando, até que repentinamente um cidadão com os pés redondos vem cambaleando em direção ao palco. Como cansei de levar pancada de microfone na boca, quando os bêbados esbarravam no pedestal, me afastei um pouco e comecei a cantar um pouco mais alto, protegendo assim a minha integridade bucal.

O “pudim de cana” sentou-se logo ali no pé do palco. E ali ficou durante toda a primeira seleção. Quando eu ainda aguardava Ronaldo, apareceu um rapaz que canta muito bem, pedindo-me para dar aquela canja básica. Claro que sim foi a resposta. Tão logo desci do palco Ronaldo chegou e nos cumprimentamos, e pedi licença para ir até o banheiro devolver a cerveja.

Ali no banheiro, num daqueles momentos em que o homem não sabe para onde olhar (se olha para baixo é por que está apaixonado pelo próprio instrumento, se olha para os lados é uma "bichona", logo, só resta olhar para cima), concentrei-me no meu serviço, mas fui interrompido com uma entrada do Pudim, que ao abrir a porta, deu-me com o trinco nas costas.

Tudo bem, eu pensei. Acontece.

Enquanto o Pudim procurava seu “bilau” para remove-lo das calças, percebi que realmente a situação era feia. O cidadão balançava muito, a ponto de quase cair dentro do mictório coletivo (isso eu vi uma vez no Botequim). Então percebi que ele estava mal mesmo, porém, como não tenho menor interesse em ajudar um cara com as coisas para fora da calça, fui lavar as mãos, e como argumento absolutório, pensei que já tinha visto gente em pior estado do que aquele (uma vez um amigo meu pensou que estava com o bilau para fora da calça e acabou mijando para dentro das calças mesmo – e tenho testemunhas, pois pergunta para o Cícero).

Enquanto lavava as mãos percebi que o cara começou a girar em movimentos maiores, como se fosse uma vara de bambu em dia de vento forte.

Em uma dessas rodadas, puder ver quando o cidadão bateu com a cabeça na parede do banheiro, desmoronando no chão, sem contudo, ter o reflexo de interromper o fluxo urinário ou mesmo de guardar a mangueirinha. Então eu vi o cidadão deitado no chão, urinando para cima sem perceber que o chafariz lhe inundava o próprio peito.

Quando vi aquela cena, lembro-me de ter pensado: É Samuel. Só faltava essa mesmo. Acho que isso prova que está na hora de você deixar a noite para lá.

O Pudim levantou, e ao levantar, olhou para mim e perguntou se eu era o músico que estava tocando. Respondi que sim. Então ele disparou a frase clássica:

- DOGA BAGARAI!

Entende que aquilo deveria ser um elogio ao meu desempenho musical, agradeci.

Então o Pudim Respondeu:

- DA UM ABRAÇO!

Quando percebi que ele já vinha na minha direção, coloquei o pé na barriga dele e apenas respondi que abraço eu não queria. Naquele momento o bêbado mudando de cara umas quatro vezes antes, disparou:

- NÃO SE PODE ELOGIAR. JÁ VIROU ESTRELINHA.

Sai do Banheiro e fui até a mesa do Ronaldo. Quando eu ia contar para ele o que estava acontecendo, percebi que havia alguém se aproximando. Era o pudim. De longe já veio gritando:

- E DAÍ, OH ESTRELINHA? VAI ME DAR UM ABRAÇO OU NÃO VAI!

Eu apenas respondi que não, mas acho que minha resposta não foi convincente, pois Pudim continuava a insistir no tal abraço.

Após um tempo, Ronaldo então interveio em favor do Pudim.

- O que está acontecendo Samuel? O que custa cara? O cidadão ali só quer um abraço! Ele é teu fã! Não custa nada!

Respondi ao Ronaldo que não iria dar o abraço, e que ele aguardasse, pois não sabia o que estava acontecendo. Mas como Ronaldo é um amigo daqueles cuja convivência faz irmão, ele insistiu, até que realmente ficou irritado comigo:

Samuel. Você está impertinente! O que custa dar um abraço no cidadão ali?

Naquele momento, irritado com a pressão, disse a Ronaldo que se eu estava impertinente eu simplesmente iria embora.

Ronaldo não entendeu muito a situação, mas aceitou minha decisão como um amigo faria, acreditando que eu estava em um daqueles maus momentos em que não adianta conversar.

Ao chegar em casa, pensei um pouco no assunto,mas logo dormi.

Acordei com Ronaldo ao telefone:

- Alô! Samuel? Poxa cara, eu pensei bem e acho que te devo desculpas. Eu chamei você de impertinente ontem.

Apenas respondi que estava tudo bem.

- É Samuel. E você tinha razão. Aquele cara é que realmente era impertinente.

Perguntei a Ronaldo o motivo da mudança de opinião.

- Depois que você foi embora, eu subi para cantar. O cara ficou lá puxando meu saco. Quando eu estava indo embora, um dos clientes veio me cumprimentar e me abraçou. Então o Pudim começou a fazer umas gracinhas. Perdi a paciência e mandei o cara embora do bar.

Respondi a Ronaldo que ele deveria ter me escutado, perguntando se muita gente tinha testemunhado o desentendimento. Ronaldo respondeu:

- Não! Isso foi bem no final da noite. Até então ele estava se comportando bem. Vinha elogiar o jeito que eu tocava.

Nessa hora então comecei a rir e apenas perguntei:

- Mas você Ronaldo, abraçou ou não abraçou o cara?

Ronaldo respondeu que sim.

O telefone foi interrompido. Ronaldo ligava e eu não conseguia falar. Após umas três tentativas dele, então contei para o Ronaldo sobre o que havia acontecido no banheiro.

Segundo os vizinhos de Ronaldo, viram-no juntando roupas do chão com um cabo de vassoura, e logo após, jogando-as diretamente no lixo do prédio.

2 comentários:

Lili Marlene disse...

hahahahahahahaha!!!! que nojo!!!!!!
só que acho que vc poderia ter sido mais rápido com seu amigo e o alertado para não abraçar o cara de jeito nenhum.
mas tudo bem, homens não costumam ser ágeis nessa parte da comunicação expressa!
Beijo

Unknown disse...

Eu li!