sábado, 3 de janeiro de 2009

O MILAGRE DA VIDA


Foto publicada no jornal Diário da Manhã,
em 25 de março de 1998
Matéria: "Advogado faz defesa poética"


Édison de Britto Rangel


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Os olhos,
Ansiosos,
Pararam no horizonte,
Pensaram.
Sim,
pensaram.

A mente,
aflita,
olhava
angustiada
o mundo inteiro,
lembrando dos retratos do ontem.

Os olhos,
amparados no horizonte
pensavam na paz.
Não compreendiam a incompreensão:
"o sofrimento das guerras,
a fome do menino esquálido..."

A mente,
Que buscava
o belo, a natureza,
via, com desespero
o verde acinzentado,
os escombros da degradação.

Os olhos,
Parados no horizonte,
deixaram de pensar:
Renderam-se às lágrimas,
e aguaram as plantas esfalfadas
no solo crestado.

A mente, exaurida,
esfarrapada,
negou-se a mais ver;
fechou os olhos,
ajoelhou-se
e rogou a Deus.

Os olhos,
fechados,
pensaram em Deus.

A mente,
genuflexa,
viu Deus.

Nasceu,
com boas promessas,
um novo dia,
de um novo ano.

As plantas, ressecadas, esverdearam.
as chuvas foram apenas bênçãos.
O homem, quase vencido, sorriu.
Renovou-se o milagre da vida.




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Publico hoje com muito orgulho, e emocionado, as palavras deste, Édison de Britto Rangel, meu tio e padrinho, na advocacia de tantos júris, nas palavras tão pensadas, no amparo tão fraterno, e na distância tão insgnificante diante da grandeza de minhas memórias, que trazem pela mão a imagem do tio sorridente, e firme se necessário, contudo sem perder a calma.
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Hoje de sotaque goiano e barbas brancas, enquanto as minhas grisalham, lembra-se do sobrinho além da distância para com ele dividir palavras, sobrinho esse que com ele aprendeu a dividir, como agora, divido com o leitor as palavras escritas por um poeta da vida, um escritor de histórias verdadeiras, um dramaturgo que borda as mais belas peças que a dignidade há de contar.
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Obrigado pela oportunidade meu tio e padrinho.
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Do seu sobrinho e afilhado,
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Samuel Rangel






CONVERSÕES MENTECAPTAS


Interessante que algumas discussões religiosas não guardem nenhuma relação com a fé dos envolvidos. É como se ao mesmo tempo se tentassem converter o interlocutor dizendo-lhe que é tarde demais para mudar de fé.
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E eu estaria desautorizado a falar sobre o tema, pelo simples fato de que não sou nenhum exemplo em matéria de religião, mas ainda que não frequente com assiduidade aos templos onde dizem que se pratica minha fé, prefiro ter lampejos de fé no meu dia a dia.
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Rompo o meu silêncio então, por não admitir que a política domine a fé, e através das distorções onde só a política consegue mexer malabares, proponha o nome de "santo" ao que é vil.
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Independentemente de que nome dê você ao seu Deus, tenho certeza de que Ele é o único, e portanto, o mesmo Deus em que acredito. Apenas lamento que alguém julgue correto o ato de converter através da morte. Não existe conversão onde a vida se esvai.
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Mas se por um lado lamento, por outro a indignação me enlouquece. Quando crianças morrem antes mesmo de terem alcançado a chance de escolher sua fé, não há uma só religião no mundo que torne isso aceitável aos Olhos de Deus.
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Sob a troca de insultos, acusações e agressões, muitas pessoas já morreram em nome da fé, justamente a luz que deveria nortear o homem pelos caminhos da vida.
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E o que seriam dessas minhas loucuras se eu não tivesse fé?
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Que fé é essa então que deixa louco a tantos?
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Independentemente de culpas, uma boa forma de conter uma luta, é conter o mais forte. Não existe legítima defesa sagrada que justifique os mísseis contra as pedras.
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Como pretendem estes e aqueles a propagar sua fé? Atavés de seus atos?
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Prefiro continuar nos limites de minha fé.