terça-feira, 31 de março de 2009

ME CONTARAM - UROLOGISTA REPRESENTADA NO CRM (Caso verídico, ou não...)

O cidadão entra no consultório da Urologista com um ar de desconforto, e após balbuciar algumas palavras inaudíveis, finalmente falou:
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A senhora jura que não vai rir?! - perguntou o paciente.
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- Claro que não rirei! - respondeu exaltada a médica, e ainda acrescentou: - Sou uma profissional da saúde. Existe um código de ética em questão! Em mais de 20 anos de
profissão nunca ri de nenhum paciente!
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Tudo bem, então, disse o paciente. E deixou cair as calças, revelando o menor órgão sexual masculino que ela havia visto na vida. Considerados o comprimento e o diâmetro, não seria maior do que uma bateria AAA.
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Incapaz de manter o controle, a médica começou a dar risadinhas. Elas foram crescendo, e a médica percebeu que ou soltava a gargalhada, ou iria molhar as calças. Então a mais sonora gargalhada explodiu dentro do consultório. Ela perdeu o fôlego, bateu nas coxas com as mãos abertas e teve que curvar a coluna para não cair. Quando já estava sentada no chão não conseguia mais segurar o ataque de riso.
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Poucos minutos depois ela conseguiu recuperar a compostura, e logo foi dizendo:
- Sinto muitíssimo, disse ela. Não sei o que aconteceu comigo. Dou minha palavra de honra de médica e de dama que isso nunca mais acontecerá. Agora diga-me, qual é o problema?
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Está inchado! - respondeu o cara.
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Dizem que a médica chegou a desmaiar, após perder o fôlego de tanto rir.
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Também informaram que ela sofreu uma representação no Conselho Regional de Medicina, porém, foi absolvida por uma excelente defesa de seu advogado. Quando o conselho já estava pronto para excluir a médica, no meio do julgamento o advogado pediu para o homem que a representou baixar as calças e mostrar a razão o "objeto" da representação. Ao abaixar as calças, a absolvição era inevitável.
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Também foi comentado muito tempo depois que o julgamento foi suspenso por 4 horas, e após a recuperação dos conselheiros, eles simplesmente arquivaram a representação.

segunda-feira, 30 de março de 2009

PARABÉNS CURITIBA, DO TRÂNSITO ATÉ AS VILAS

Fotos cedidas pela fotógrafa Juliana Ribas


Ah Curitiba! Esta minha cidade, minha maternidade e companheira das crônicas que vivi em minha vida, desde aquelas mais cotidianas até as mais inacreditáveis. E Curitiba não escapa de críticas justas e injustas, pois feita de homens e mulheres pintados em desvirtudes, ela é o coletivo do ser humano.
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Não foram poucas as homenagens feitas à Curitiba pela passagem de seus trezentos e dezesseis anos. Homenagens em textos, imagens e sons que refletem um pouco dessa metrópole meio provinciana, desse paradoxo de concreto e vida.
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Na imperfeição de seu trânsito, descobri que não é verdade que o trânsito de Curitiba seja ruim. Percebendo com um pouco mais de complacência e atenção esse trânsito, o que se perceber é que a má ideia foi a campanha publicitária de alguma marca de cereais, do tipo: “Compre Sucrilhos Barbante e ganhe uma carteira de motorista.” O que falta então é uma legislação própria de trânsito, onde poderíamos organizar da seguinte forma: Nas vias rápidas, quem comprou carteira em Santa Catarina anda pela pista da Esquerda, quem ganhou a carteira de motorista na caixa de cereais pela direita, e pela pista do meio, o pessoal que realmente fez teste no Detran.
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Mas em uma abordagem mais séria sobre o tema, é interessante ver o curitibano reclamar do trânsito desta cidade, quando na verdade, existem famílias com mais de um carro por pessoa. Exatamente isso, essa mania de curitibano ter carro até para o cachorro, é que dificulta o trânsito. Quem sabe isso tem relação com o modo fechado do curitibano. Para não ter que falar com o seu filho ou com sua esposa, o curitibano prefere dar um carro para cada um e pronto.
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Mas esse jeito fechado do curitibano também não é sem razão. O que acontece na realidade, é que o curitibano realmente leva a sério demais as lições de sua infância. Quando a titia falava (sem olhar nos nossos olhos) “não fale com estranhos”, o curitibano levava isso para o resto da vida. E cá entre nós, hoje em dia temos filhos estranhos, mulheres estranhas, as mulheres por sua vez tem maridos estranhos. Então não falemos com estranhos e pronto.
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Mas em falar em gente estranha, dessa festa esquisita, ninguém é mais estrando que o curitibano mesmo. Até hoje eu tento entender as bermudas longas dos “vileiros”, os rituais de acasalamento nas boates da classe média, os pratos irrisórios que são vendidos por valores exorbitantes nos restaurantes da alta sociedade. Ou mesmo o público que não sabe bem ao certo em que momento bater palmas nos espetáculos públicos. Esse Curitibano tão europeu que muitas vezes coloca para fora sua pouca autoestima de terceiro mundo.
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Curitiba quem sabe seja esse estranho ponto do universo onde diferenças convivam harmonicamente. A Ferrari encostada no posto de gasolina ao lado do Corcel caindo aos pedaços ( Eles vivem harmonicamente porque não se falam. Lógico!) O mármore do fórum ao lado da poeira do estacionamento. O parque Barigui, de linhagem europeia, sendo cortado pelo rio de mesmo nome, onde cada peixe é um sobrevivente do reator de uma usina nuclear. E para sacramentar as diferenças, ainda surge um jacaré comedor de cachorrinhos provocativos.
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Curitiba é mesmo assim. Tão criticada pelos curitibanos, que ironicamente, são exatamente aqueles que temperam a cidade com suas imperfeições e problemas. Mas embora Curitiba seja esse alvo da piada Tingui, Curitiba merece, ao menos de minha parte, uma combativa defesa.
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Foi aqui, onde já não se tem mais tanto pinhão, que tive a oportunidade de aprender a tocar cavaquinho, do rodapé de meus quatorze anos, com o mestre e gênio Janguito do Rosário. Foi aqui, na piscina do Clube 3 Marias, que tive a oportunidade de pegar uma piscina nos finais de semana com o gênio fantástico de Paulo Leminski. E porque não dizer que esta cidade é que me deu a possibilidade de conviver com a fotógrada Juliana Ribas, que me oferece as imagens para este texto.
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Em Curitiba tive a oportunidade de dividir o palco do Bar Sarinha com Ivo Rodrigues, aquele gênio de voz inigualável da Banda Blindagem. No palco do Guairinha tive a honra de ajudar na produção da peça de Dig Dutra, que retornava do Rio para o Festival de Teatro. Em Curitiba tive a oportunidade de conhecer redutos de boemia que até hoje dançam em minha memória. Nos teatros de Curitiba é que tive a oportunidade de expor Curitiba e rir muito com os curitibanos, ao flutuar as asas dos Anjos Boêmios.
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E embora eu me permita criticar essa cidade e as pessoas que a dividem comigo, devo tudo isso a Curitiba. Devo a Curitiba a oportunidade de ser exatamente o que sou hoje. Um Curitibano antipático as vezes, e outras vezes o morador do bigorrilho sorridente. O advogado que frequenta o fórum de terno e gravata, e o jardineiro da própria casa que desfila de bermudas furadas no jardim de sábado. Em Curitiba posso ser apenas o autor desse texto, um rosto distante e virtual, ou mesmo aquele que fica preso no engarrafamento, desapercebido e incógnito, um anônimo que pensa em como homenagear essa cidade.
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Seja como for, minha forma de homenagear é agradecer. Apenas agradecer por tudo o que Curitiba me permitiu ser: “Um Curitibano”.

sexta-feira, 27 de março de 2009

PUDIM, O RIN TIN TIN TUPINIQUIM ... E BOM DIA PRA MIM.


Com certeza você já acordou com uma ligação de alguma operadora de celular oferecendo um plano de merda. E não tenho a menor dúvida, que você já teve um suave despertar, com a campainha de sua casa sendo insistentemente tocada por um pedinte. Também não é de se duvidar que você já tenha recebido um bom dia da vida com uma má notícia, daquela tia gorda que fala assim: Advinha quem morreu!
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Essa história de ser despertado pelo inusitado, e de olhar para uma cama carente dizendo até logo para você, não é novidade nem para mim e nem para você. Somos cercados por uma trupe de espiões sacanas, que esperam a gente ter a oportunidade de dormir até mais tarde para criar um evento e interromper nosso sono.
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Mas sinceramente, hoje foi inacreditável. Para não citar o nome do amigo, vou chamá-lo apenas de “Pudim”, numa honrosa menção ao ilustre personagem que tem roubado a cena na peça de Analice em Busca do Homem Perfeito.
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Hoje, 27 de março de 2009, quando o relógio marcava 6:30 da manhã, justamente neste dia que eu havia escolhido para dormir até as nove, a campainha começou a tocar insistentemente, irritantemente, incansavelmente, incessantemente, ininterruptamente, impertinentemente, inoportunamente, in ... Ok. Eu sei que você cansou, e já ficou irritado com tanta insistência, porém, ao menos fui feliz em descrever o quanto essa campainha foi tocada.
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Ao afastar a cortina da sala, dou de cara com Pudim (e não adianta insistir para saber o nome do bebum), cantando para toda a vizinhança a trilha bandida do filme Tropa de Elite. Ao seu lado, um cachorro companheiro, que na realidade, tem a obrigação de mostrar para o bêbado onde ele mora.
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Preocupado com a situação, saí com os olhos remelentos e com o cabelo em pé, do tipo estou dormindo, e perguntei o que estava acontecendo. Pudim então me pede um cigarro, e volta a cantar a sua trilha sonora. Cigarro na boca, e um pé engatilhado para lhe acertar a bunda, cinco minutos depois, e cerca de dez recusas ao convite de tomar uma cerveja como café da manhã (francamente, eu gosto de cerveja, mas gosto mais de mim, mas para ele seria uma espécie de copo de leite de boa noite), Pudim sai cambaleante pela rua, conduzido pelo seu racional cachorro Negão.
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Entro e olho para a cama que abandonei, já imaginando como faria para voltar a sonhar com a deusa que eu estava quase pegando, mas quando dobro os joelhos para alcançar o justo descanso, ouço assovios e alguns gritos pela janela. Ao atinar do que se tratava, percebo que Pudim resolveu pular o muro do vizinho para me fazer uma serenata vespertina, e a letra da música era: Vamos tomar uma cerveja? Não aguenta? Vez por outra ele ainda me chamava pelo aumentativo do extremo inferior do aparelho digestivo que é controlado por um esfincter.
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Nos braços do sono que eu sonhava em ter, não percebi de pronto, mas logo lembrei que meu vizinho tem um daqueles cães bombados, com corpo de búfalo e cabeça de sogra, orelhas cortadas e rabo pitoco, dentes de onça e paciência de professor ginasial. Ao me tocar disso, fui correndo para o muro, e vejo Pudim de quatro rosnando para o animal. Inacreditável, mas o animal mais perigoso da região (depois daquela vizinha de língua solta), não havia atacado o bêbado.
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O coração não boca já avisa que estou prestes a ver Pudim virar ração de cachorro, do tipo carne moída com pedacinhos de álcool. Eu então me vejo com as pernas moles, e já começando a querer pular o muro para salvar o Pudim. Como eu estava com sono, e não sem bom senso, gritei para Pudim que fosse saindo lentamente, sem dar as costas para o cão. Eu já imaginava como é que aquele pudim de cachaça iria pular o muro sem dar as costas para o cão. Não havia o que fazer. Eu estou prestes a presenciar um banquete canino com um amigo de muito tempo servido na bandeja. Os minutos foram passando, e o Pit Bull ali, armado, pronto para atacar Pudim.
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Quando eu já pensava em telefonar para o vizinho, e pedir para ele prender o cão, perguntei-me silenciosamente o que eu diria sobre a criatura que estava lá meio em pé, meio cambaleante, no meio do seu jardim.
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Neste momento, lembrando uma mistura do seriado da Lassie com o Rin Tin Tin, o cão Negão pula por sobre o muro e parte contra o Pit Bull, começando o que seria a luta mais injusta de todos os tempos. O meu coração que já estava acelerado inscreve-se para compor a banda do Olodum, e visto metade do tênis para sair correndo pela rua, tentando salvar o Negão, Pudim, e minha moral que já estava comprometida pelo show matutino do meu amigo.
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Neste momento, ao chegar ao portão do vizinho, o vejo saindo de casa com uma machado na mão erguido sobre a cabeça. Percebendo que ele estava pronto para rachar a mamona de Pudim, eu gritei que ele era meu amigo e que estava tudo bem. Nesta hora o vizinho me olha com a única cara que podia. Sobre sua cabeça um balão invisível me fez poder ver o que ele pensava, mas não posso escrever aqui.
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O vizinho irritado separa a briga dos cães, e Pudim sai com o Negão ferido carregando-o nos braços. Quando olho para Pudim ele me convida para tomar uma cerveja e comemorar a vitória de Negão na briga com o Pit Bull. Olhei para Negão e não o vi com nenhuma intenção de comemorar, até porque não havia vitória nenhuma.
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Então resolvi bancar o bom Samaritano. Recolhi Pudim no meu carro, com Negão ao colo, e levei ambos até a casa onde moram. Depois de perguntar ao Negão uma ou duas vezes sobre o endereço, pois Pudim só sabia falar em cerveja, cheguei a frente do referido habitáculo. Quando o tiro de dentro do automóvel, com o pedaço de cão na mão, a cunhada do cidadão me olha e diz.
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Você hein Samuel ... Bebendo até essa hora? E o pior é que leva “Pudim” para o mal caminho.
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Ao retornar para a casa, meu vizinho da frente pergunta se aquilo era hora de chegar em casa. A vizinhança toda acordada com a canção de Pudim e meus berros para interromper a luta dos cães, olha para mim com ar de reprovação, pois todos sabem que tenho um bar, e de pronto, associaram o ocorrido à minha história. Justamente no dia em que eu havia ido dormir cedo como um bom rapaz.
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Por isso gostaria de agradecer publicamente ao Pudim, por me dar a oportunidade de escrever este texto. A merda é que sei que meus vizinhos não vão ler.
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Desejo melhoras ao Negão, para que da próxima vez, morda forte mesmo o seu dono, para que ele não venha tocar a porra da minha campainha as 6:30 da manhã para pedir cigarro e tomar cerveja. Francamente. E digo mais Pudim. Se o Pit Bull me pedir seu telefone, e falo o número e o endereço. E espero que você vire bonzo da próxima vez.
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Agora que não consigo mais dormir, Bom Dia pra você também!

quinta-feira, 19 de março de 2009

JUCA, AS PASSAGENS E O TROCO


Dia cinza, sem sabor, e de sapatos velhos com a barra desfeita da calça jeans arrastando no chão, Juca desfila rápido seu pânico pelo centro da cidade, na inútil tentativa de resolver os problemas típicos de um brasileiro, acumulados pela existência de pouco glamour e quase nenhuma dignidade. Contas, empréstimos em banco, e lá se vai Juca recebendo uma porção de sim e outra não.
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Ao pedir o empréstimo no Banestado, ouviu um sim: Sim, o senhor está com restrições cadastrais, e não podemos lhe conceder o empréstimo solicitado. Na imobiliária ouviu outro outro sim: Sim, você deverá desocupar o imóvel em dez dias, pois o proprietário pediu o imóvel. Mas para provar que a vida não é só feita de “sim”, ouviu não também: não tenho dinheiro para te emprestar, não posso te ajudar, e por último, não quero mais ficar contigo.
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Assim, após ouvir de sua namorada, quase noiva, que não gostaria de levar a vida do lado de alguém que não tinha estabilidade financeira e nenhuma perspectiva, Juca resolveu esticar as pernas em seu apartamento, e desistir daquele dia. De nada adianta nadar contra a correnteza, principalmente quando a correnteza está prestes a desembocar em uma cascata enorme. Ao fechar os olhos Juca até podia ver e sentir aquelas pedras pontudas no fundo da cachoeira imaginária.
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Triste, de cabeça baixa como jamais havia olhado para o chão, Juca desceu do elevador, dessa vez sem agradecer à ascensorista, e como se estivesse nu, foi para seu quase antigo apartamento (por uma questão de dez ou onze dias) carregando a vergonha do mundo, como se fosse filho de algum ditador campeão de bilheteria em algum crime contra a humanidade. Ao andar lento e pesado de vexames pelo corredor, sem erguer os olhos, foi com passos programados até a porta de seu cafofo, e para seu desespero, ali no chão, um monte de correspondências com envelopes conhecidos. Avisos de cartório, cartas de cobrança, comunicados de atraso e um envelope do tipo carnê.
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Juca percebeu que estava na beira da cascata, ouvindo o turbilhão voraz, e que o tombo seria bem dolorido desta vez, mas com a alma honesta, e cheio de vontade de pagar, bem mais que aqueles que deviam para ele, Juca abaixou-se com dignidade e como guerreiro Mongol , ferido ergueu os envelopes. Com a coragem de quem olha nos olhos de seu algoz , passou os envelopes um a um, e por não conhecer aqueles carnês, deixou-os por último, pois conta nova não pode ter prioridade sobre conta antiga.
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Após olhar todos os envelopes, recebendo-os como tapas na sua vergonha, viu que os carnês não eram contas. Foleando-os pode ver uma porção de destinos, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, e um inacreditável destino final para o Tahiti na paradisíaca Polinésia Francesa. Quando Juca olhou o timbre da VASP, percebeu que eram duas passagens para uma maravilhosa volta ao mundo, um sonho de infância frustrado pela péssima situação financeira de Juca.
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Então Juca lembrou que Ediwancley, um amigo seu, frequentador antigo do Bar do Boto, havia lhe dito que havia indicado Juca para um concurso de passagens. Como Ediwancley tinha uma porção de milhas acumuladas, resolveu indicar Juca para o concurso. Bendito Ediwancley, que até então não passava de um chato de bar.
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Junto com as passagens, uma carta de uma agência de turismo solicitando a presença do beneficiário para confirmar as passagens e as datas de embarque. O contratempo é que Juca deveria estar presente naquela data, as 19:00 horas sob pena de perder o direito ao embarque dos sonhos.
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Juca deu pulos no sofá e dançou com um vaso de flor. Fez batucada com a garrafa térmica e beijou a foto de Ivete Sangalo convidando-a para uma viagem em torno do mundo. Como não podia controlar seus impulsos, ligou para a ex-namorada e disse que não queria mais também, pois iria fazer uma viagem pelo mundo. Ligou para o chefe e mandou-o relaxar o esfincter.
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Do homem que chegou vendo a beira da cascata, a um sonho voador em poucos minutos, Juca desceu correndo as escadas do prédio, dançando com os degraus e cantando para os cantos dos patamares. Seu celular virou uma espécie de microfone do sucesso, e ele se sentia uma mistura de Fábio Junior com Antônio Banderas. E como o celular lhe provocava, resolveu ligar para o gerente do banco e perguntou se queria fazer uma viagem. Quando o gerente disse que sim, riu alto pelas escadarias, e disse: Sim, você tem restrição cadastral no meu conceito.
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Ainda rindo por ter ido à forra, ligou para a imobiliária e disse que poderia entregar o apartamento no dia seguinte, porém, mediante um acordo. A imobiliária perguntou qual. E ele respondeu que entregaria o imóvel mobiliado inclusive, mas sob a condição do proprietário enfiá-lo reto a dentro. E enquanto a moça da imobiliária esbravejava, novamente Juca riu alto.
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Chegou à agência de turismo bonito, cheiroso e sorridente, e ainda na exata hora marcada. Sentou-se à frente da gerente, e identificou-se como Senhor Juca, aquele das passagens. Na realidade ele após uma vida carregada, estava realmente sentido-se o tal do Senhor Juca, quem sabe a primeira vez em toda a sua vida.
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A gerente o recebeu de forma atenciosa. Pediu seus documentos para o preenchimento das passagens, e enquanto isso falava ao telefone, informando da celebridade que estava presente ali. Após quinze minutos de espera, a secretária lhe oferece um café. Ao erguer os olhos acima do generoso decote, Juca encontra uma belíssima morena de olhos verdes, cabelos pouco abaixo do ombro, e um sorriso mágico.
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Ao lembrar de sua condição de sol-tei-ro, Juca não exitou, e convidou-a para lhe acompanhar na agradável viagem. A secretária sorriu, o que parecia ser um aceno com a possibilidade de um gostoso sim. Juca, o solteiro das passagens, viajaria acompanhado de uma bela morena de olhos verdes. Ela combinaria com o resto da decoração natural do Tahiti.
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E na agência todos pareciam estar comemorando a glória de Juca, tão merecedor, e tão humilde, que tinha o direito e a legitimidade para ganhar o prêmio. Uma vida dolorida, de requebrar as juntas e os molejos, capaz de desconjuntar a mais sólida espinha, fazia de Juca o exato vencedor, aquele que não só ganha, mas aquele que também sempre mereceu ganhar.
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Enquanto isso, a sorridente gerente ia e voltava, sempre deixando Juca hipnotizado pela secretária escultural. Quando voltava, telefonava para empresas, hotéis e a direção do grupo, inclusive da VASP. Juca percebeu que o que estava ouvindo antes, e que pensava ser o turbilhão da cachoeira, na realidade era o agradável som da turbina de uma avião que o levaria para ouvir os sussurros do mar dos sonhos.
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Passada mais de uma hora ali, após uma estranha ausência de dez minutos, a gerente volta, e meio gaguejando informa que estava encontrando alguns problemas. Juca foi respondendo a ela as perguntas que surgiam, e depois de cerca de meia hora de absoluta enrolação, o telefone toca. A gerente diz sim senhor, não senhor, entendi e eu providenciarei.
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Olhando para Juca a gerente diz: Lamento Senhor Juca, mas houve um mal entendido e o Senhor não é o beneficiário dessa promoção.
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Juca então se revolta e pergunta como não. Recobrando a compostura de alguém que faria uma viagem que só magnatas fazem, acalmou-se e disse que tudo seria resolvido ali, pois ele era o ganhador sim, relatando como encontrou as passagens em seu apartamento.
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Ela pergunta novamente:
O senhor mora no centro?
Ele responde que sim.
Na Rua Fabiano Bonaroski?
Ele responde positivamente.
No Edifício Marco Puppo?
Ele acena com a cabeça.
No décimo quarto andar?
Sim novamente.
No apartamento 1401?
Juca, sentindo um abacaxi verde voltando de ré pela sua garganta, responde que não. Na realidade ele mora no 1402.
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Ela então responde que lamenta, mas houve um pequeno equivoco na entrega das passagens.
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Juca é tomado de um ódio que explode em palavrões. Depois de cinquenta sonoros “Puta que Paris”, cerca de duas dúzias de denominações variadas para o órgão genital masculino, uma dúzia de femininos, seis lazarentos e três desgraçados, ele se vê segurando o colarinho branco da gerente.
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Seguranças começam a despencar das paredes, e aparece uma câmera focando na cara de Juca. Quando Juca está prestes a finalizar a gerente, percebe-se que ela está rindo e chamando uma tal de “Produção”.
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Quando Juca engole um pouco de oxigênio, percebe uma multidão rindo, enquanto a gerente tira a peruca loira identificando-se como a apresentadora Sílvia Silva Santos, do Programa “Chegou a Sua Hora” da rede Tupiniquim de Televisão Digital.
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Os amigos de Juca começam a aparecer saindo de trás dos biombos, e não demora muito para a gerente falar como se estivesse declamando em um comercial de creme dental:
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- Parabéns senhor Juca! O Senhor participou da pegadinha de Primeiro de Abril, do programa “Chegou a Sua Hora”, no quadro “Eu Armei Para o Meu Melhor Amigo”.
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Dentre os amigos, Ediwancley se aproxima com os olhos molhados de tanto rir, e ainda sem fôlego, ri e curva-se apertando a barriga, contorcendo-se em descontrole, tudo isso sem tirar a mão do ombro de Juca. A apresentadora do programa então informa Juca de que Ediwancley foi o amigo cúmplice da brincadeira, ao que, todos respondem com uma calorosa salva de palmas, acompanhada de um coro tímido de Edi, Edi, Edi. Parece que Ediwancley havia feito alguns amigos durante a preparação do trote.
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Enquanto olhava a situação, o eco dos palavrões ditos por Juca momentos antes, lhe impede de falar qualquer coisa para seu amigão. E ele tenta decidir se dará o grande soco com a mão direita ou a esquerda, no nariz, no queixo ou no olho. Também resta a ele uma dúvida, sobre o que deveria fazer com a tal da Sílvia Silva Santos, tendo até a vontade de enfiar-lhe a mão dentro das calças e saber se ela também usava peruca nas partes pudendas.
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E no meio daquela balbúrdia, Juca viu-se com um avental xadrez e com uma lancheira do Cascão, mijando-se nas calças. A lembrança da maior vergonha de sua vida, com a trilha sonora dos cruéis amiguinhos rindo, havia lhe surgido real em sua memória. Tentando pensar em alguma coisa boa, Juca lembrou-se apenas de suas três reprovações no vestibular, e do dia que um indecente bateu o carro na traseira de seu fusca. Juca ainda tentava buscar uma memória boa, mas é interrompido pelo celular, que ao ser atendido, trás a Juca a voz gritada de seu ex-chefe: Você está demitido! Também não demora para o telefone tocar novamente, e dessa vez era a ex-namorada de Juca. Ele não a atendeu. Mas logo depois o identificador da chamada escrevia na tela do seu celular: Imobiliária.
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Juca então percebeu que o programa era transmitido ao vivo. Seu sangue esfriou e ele percebeu que estava sendo assistido pelo Brasil inteiro em uma espécie de concurso “O Otário do Ano”.
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Juca engoliu a raiva, e com a frieza do Bandido da Luz Vermelha, com a simpatia de Hugo Cháves, e ainda a agilidade mental de Rafinha Bastos, perguntou então se poderia falar alguma coisa no programa. A sorridente Sílvia Silva disse que claro que sim.
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Juca pegou o microfone, foi até a câmera e começou a falar:
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- Excelente a brincadeira. Uma pena que eu não tenha sabido brincar, pois ao pensar ser o ganhador destas passagens, eu vendi tudo que tinha por uma bagatela, perdi meu emprego e minha namorada, e fiquei sem ter onde morar. Também não vou deixar de contar que tudo isso que fiz agravou de forma definitiva o meu caos financeiro, e vendo agora que sou motivo de gargalhadas no Brasil inteiro, sinto já os primeiros sintomas de uma depressão profunda que vai me levar a cortar os pulsos, isso se eu conseguir algum dinheiro emprestado para comprar a navalha. Queria agradecer a esse filho de uma puta do Ediwancley, esse meu amigão, por ter me aprontado essa. Mas não é só, vendo aqui essa corja de amigos vagabundos, eu agradeço por não terem me advertido dessa armação. E à Rede Tupiniquim de Televisão, eu agradeço por ter acabado com minha vida para alcançar um recorde de audiência, e ofereço a transmissão ao vivo de meu suicídio em troca da compra do caixão, um terreno em algum cemitério da periferia, e uma lápide em mármore escrito em Arial 72 dourado “Vão tudo tomar no meio do seu cú seu bando de filhos de uma puta”.
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Um silêncio surge no cenário, e a apresentadora chama os comerciais.
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Entrou um intervalo comercial de quase uma hora, que repetia exaustivamente a propaganda de uma espécie de processador de frutas, uma câmera digital barata, e um grill com o nome de um lutador. Enquanto isso, os espectadores do programa ficaram aguardando o retorno do programa, mas após o intervalo que repetia "Ligue Já" e uma oferta para "Os primeiros dez telefonemas", o programa foi encerrado do estúdio, e a transmissão do local nunca mais retornou. .
Segundo comentários, Juca procurou um advogado e propôs uma ação de indenização moral e material contra a Rede Tupiniquim.
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Então o caso despertou o interesse de toda a imprensa, exceto da Rede Tupiniquim de Televisão Digital. As demais fizeram uma cobertura que deu destaque em todos os telejornais.
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Buscando informações sobre o assunto, alguns repórteres chegaram até Ediwancley. A ação não chegou a ser julgada, mas segundo informações do assessor de Juca, o próprio Ediwancley, ele deixou de falar sobre o caso há cerca de seis meses, quando saiu de viagem para a Inglaterra.
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Indagado sobre a possibilidade de entrevistar Juca sobre o caso, Ediwancley então disse ser impossível atualmente, pois Juca está de férias no Tahiti, e só retornará em seis meses, quando anunciará a compra da Rede Tupiniquim de Televisão Digital, que passará a se chamar Rede Juca de Televisão.
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Após a entrevista, quando o microfone estava desligado, Ediwancley confirmou que Juca estava acompanhado no Tahiti, porém não poderia divulgar o nome da mulher por questões de segurança. Quando lhe foi perguntado se poderia dar alguma pista dessa mulher misteriosa, Ediwancley só informou tratar-se de uma jovem morena de olhos verdes, e que sua aparência combina com a decoração natural da Polinésia Francesa.
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Informantes dizem que Ediwancley recebe um salário mínimo para trabalhar como assessor de Juca, como forma de cumprir um acordo judicial também.
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Quanto a apresentadora do programa “Chegou a Sua Hora” dizem que ela casou com o motorista da linha CIC Boqueirão, mas seu relacionamento atualmente está passando por dificuldades, pois a família está com problema de alcoolismo.
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A ex-namorada de Juca é professora de uma escola da periferia, mas está de licença segurança atualmente. Ela casou com um jogador de futebol com os dois joelhos estragados, e atualmente sem contrato, mas com uma proposta de um time da terceira divisão do Espírito Santo.
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Quanto ao programa, nunca mais voltou ao ar depois da venda do último daqueles processadores de fruta.
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Quanto ao processador, hoje mudou o nome para Juca Juicer, que é anunciado junto com a Juca Cam e com Juca Grill.
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Se fosse verdade, restaria a certeza de que audiência não é tudo, exceto quando ela é parte de um procedimento judicial. E também não seria tolice dizer que devemos tomar cuidado com o que fazemos com nossos amigos.
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Mas tudo isso não passa de um sonho bem humorado de alguém que não tem tempo para dormir.

terça-feira, 17 de março de 2009

O ÉDEN, O INFERNO, E O NOSSO WIL SMITH INTERIOR.


No domingo, a luz acabou. E como um milagre desconfortável, o Faustão deixou de falar as bobagens costumeiras. Mas como eu iria ficar sem o futebol? É certo que futebol há muito deixou de ser um esporte para adentrar ao grupo seleto dos interessantes meios de marketing e negociatas. Parece que hoje se tornou mais importante o técnico do nosso time do que o cidadão que ocupa uma cadeira do legislativo, e que deveria legislar sobre a dignidade de nossa própria existência. E assim o verbo presente se tornou o pretérito imperfeito, onde tudo deveria ser com a gente queria, mas a gente não poderia, e não se uniria a quem revolucionaria, e concertaria essa porcaria, e deixaria tudo como deveria. Esse é o nosso dia.
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Na escuridão da atualidade das trevas percebo-me de que o avanço tecnológico deu-me a baixo custo um computador portátil, que o brasileiro adora chamar de notebook, ou de laptop. Eis uma boa oportunidade para abrir e limpar meu email, pois poderei ler todos aqueles emails inúteis em PPS (aliás PQP, para que contar piadas em PPS?), mas ao ligar a bagaça vejo que não posso fugir de mim mesmo na internet, porque o wireless está ligado atoa na tomada impotente. Estou sem luz, diacho!
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E penso em escrever algo, mas ao abrir o Word 2000, um alerta me manda fechar todos os programas, pois foi detectado um vírus que veio anexado a algum arquivo PDF daqueles que a gente tem que ler para acessar a listagem do INPI. Não entendo essa sigla PDF, pois acredito que FDP seria mais adequado.
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Então olho para a minha casa e vou a geladeira, tentar mastigar algum prazer enquanto a luz não volta. Mas o mundo hoje é rápido, e exige de nós decisões sumárias. Como não ando muito bem na arte do fitness, eu devo mexer as pernas e sair de minha casa. Mas para isso preciso de um telefone, e a modernidade inventou o telefone sem fio, que não funciona em dias de apagão. Que saudade daquele telefone cinza de disco giratório.
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Vou decidido até o portão e aciono insistentemente o controle remoto. Depois de chacoalhar o maldito controle por um bom tempo, tudo dando algumas porradinhas com ele na perna (como se controle remoto tivesse que chacoalhar antes de usas), percebo que de nada adianta essa tecnologia se a luz de casa, ausente, não pode fazer movimentar o motor de 0,5 HP que abre o mundo para mim todos os dias.
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Irritado eu volto a geladeira, mas logo recebo auxílio na tarefa de abrir o portão, que outrora só dependia de minhas mãos, mas agora depende dos computadores da COPEL. O carro que está a minha disposição sorridente, e que promete me levar da idade média para algum lugar no Século XXI está lá. Chave na ignição, um giro no sentido horário e nada. Mais uma vez e nada. Antes de levar a bateria a exaustão, lembrei do que Douglas havia me dito. Esse carro quando percebe que a gasolina é pouca, ele não liga mais. A tecnologia inventou isso para que ninguém mais fique com o carro na rua. Agora as pessoas ficam com o carro em casa mesmo. Como eu faço se sempre andei na reserva?
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Lembrando da Brasília do Guto, resolvi dar uma chacoalhada no carrão. Após uma espécie seção de levantamento de peso na posição em que napoleão perdeu a guerra, o carro super tecnológico resolve pegar. Pronto. Estou livre do cárcere de minha casa.
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Após me livrar da escravidão tecnológica, estou pelas ruas da cidade, mas não encontro pessoas. E foi assim que ao apagar da luz, pude perceber o quanto nos tornamos afastados de nós. Nos afastamentos um dos outros, e as vezes até de nós mesmos. Ocupados com o encantamento da tecnologia que criamos, não temos mais tempo de nos encontrar em silêncio. Quase não suportamos mais o silêncio, pois do MP3 ao MP10 já o roubaram de nós. E parece que ficou mais fácil viver nesse mundo onde não somos tão obrigados a conviver “com nós mesmo”. E porque a sonoridade do que escrevi é questionável, o word me adverte em vermelho tremido.
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Mas é assim mesmo, e eu devo me acostumar, pois a realidade é implacável. Criamos um mundo tão tecnológico que a pessoa passa a valer muito menos nele. E quem diria? Justamente eu que adorava ouvir histórias antigas de meus avós, agora pareço fugir de minha casa porque a luz me fez escravo. Que luz é essa?
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Horas passadas, ao retornar para a casa, todos estão dormindo, e a oportunidade de conversar com as pessoas que moram comigo se foi. Vou a geladeira fazer algo para mastigar em silêncio. E enquanto eu mastigava uma pequena porção de salame copa, a manchete do jornal que surge na tela da televisão que voltou a funcionar, é justamente a tecnologia que propicia.
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Um robô modelo, com a figura de mulher, pesando pouco mais de 40 kg, em virtude das emoções que foi programado para expressar, estará em breve desfilando nas passarelas da semana da moda em Tóquio. E não é de se duvidar, com essa tecnologia toda, que num futuro próximo estará estrelando algum desfile e destronando aquelas magrelas de carne e osso que outrora veneramos tanto.
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Mas desse meio caminho dos meus quarenta e dois anos, eu devo confessar que tenho algum medo. O medo de saber qual o destino dessas máquinas. O medo de vê-las substituindo a cada vez mais o ser humano. E quem sabe tenhamos tomado um caminho sem volta para que em breve, e muito antes do que a gente pensa, estejamos tomando café da manhã servido por um robô.
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Um café da manhã solitário e pacífico, pois não teremos dificuldade de reprogramar o robô que compramos na loja de artigos eróticos. Um robô com o qual não temos que falar após o sexo, e nem nos cobra o almoço na casa de parentes. Um robô que nos fará cada vez mais escravos de nossa casa, tornando-nos impróprios para convivência.
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Sim. Será o Éden Tecnológico. Nós homens teremos a possibilidade de escolher entre casar com uma companheira sem manual de instruções, ou simplesmente passar em alguma loja e adquirir o modelo RX1732, com cabelos negros, olhos azuis.
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Então, não teríamos que acompanhá-la no shopping. Apenas deixamos as clássicas vinte e quatro horas carregando na tomada e pronto. Ao apertar o “on” e seguir uma série de instruções, teríamos a companheira ideal em casa. E se alguma falha no programa tivéssemos cometido, e a RX tentasse discutir a nossa relação, lá estaria o botão “off” para nosso sossego.
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Mas para não dizer que sou machista, embora tenha sido criado nessa formatação, também haverá a possibilidade para as mulheres. Um robô com corpo de Paulo Zulú e o charme de algum outro artista, prontinho para a mulher, inclusive com a programação em modos: modo carinhoso, modo companheiro, e ou modo latino “caliente”.
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Por mais que seja machista, tenho certeza que qualquer mulher iria preferir um desses do que o meu mal humor com extrato bancário na mão (e nem no banco somos atendidos por pessoas), ou meu ronco depois da cervejada com os amigos. E se a mulher tem dor de cabeça lá está o “Standby”.
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E assim, do éden da tecnologia, ao inferno que ela criou, vamos nós, tropeçando e pastando no campo das benesses que inventamos, e hoje elas inventam a nossa possibilidade de ser feliz ou não, como uma simples loteria.
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Somos abençoados, mas enquanto houver luz nos domingos de nossas casas. Se a luz acabar, acabaremos sendo obrigados a conviver com algum ser humano insuportável como nós, o que na verdade se tornará um perfeito inferno.
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Como Wil Smith no filme “Eu Robô”, nos tornaremos ativistas contra nossas invenções infernais, de tecnologia celestial, e acabaremos tendo saudade daquele ser humano que um dia fomos, e mesmo daqueles com quem convivíamos aos trancos em barrancos. E se o texto parecer alarmista, basta usar da tecnologia do “Google” para pesquisar avanços da robótica. As seguintes notícias aparecem com a rapidez que só a tecnologia garante: Robô doméstico busca cerveja gelada; Robô-recepcionista testa habilidades de professora no Japão; Robô prepara chá para visitantes de evento na Alemanha; Robô japonês mostra habilidade na faxina.
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Com todas essas comodidades, para que um “ser humano insuportável” ao nosso lado? De insuportável basta a gente mesmo.
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Agora que acabei o texto, vou acionar a correção ortográfica automática, pois esqueci as regras de ortografia em função do conforto de saber que o word faz as correções para mim.
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Esse é o mundo que estamos criando, mas apenas enquanto temos luz.

quinta-feira, 12 de março de 2009

DE POUCAS PALAVRAS 03/09

CRISE X CRISE
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Enquanto o mundo se coloca em esquinas pedindo esmolas, e enquanto americanos acampam como refugiados após perder suas casas, nosso presidente insiste que a crise não vai chegar aqui (ao menos é o que ele dizia).
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E quem sabe, exatamente por isso, e pelo grandioso Brasil estar muito acima da crise, os deputados agora querem igualar seus salário aos dos Ministros do STF, míseros R$ 24 mil.
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Sabendo que indústrias se esbarram em sindicatos, enquanto os trabalhadores aceitam uma redução de salários, essas bestas eleitas correm na contra-mão da história. E tudo isso para equiparar seus ganhos aos dos ministros do STF, que cá entre nós, já não gozam de bom juízo.
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OUTROS LADRÕES
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Deixando de lado aqueles que roubam com procuração, a canalha pobre da bandidagem anda tropeçando nos bigodes. Um ladrão foi preso ao ser encontrado dormindo no carro que furtava. Outro, após deixar a casa que furtou levando quinquilharias que não chegam a R$ 24 mil, esqueceu seu Alvará de Soltura, denunciando assim o nome da sumidade.
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Seja como for, em tempos de crise ou não, dormir em serviço, ou desídia com documentos podem acarretar demissão.
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Os deputados poderiam dormir em meio a votação de seus próprios salários.
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O GORDO E O MAGRO
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Ronaldinho Fênix ressurge dos lipídios, mas ainda em meio a eles, fazendo dois gols em três jogos,

... e me fez calar.

Eu que andava dizendo que futebol é esporte, e que em formas arredondadas ninguém jogaria nem em meu time de divorciados, sou agora obrigado a testemunhar o ressurgimento.
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Mas realmente a falta de gordura não diz nada em relação ao Futebol. Eu como Coxa-Branca, venho sofrendo com os resultados magros dos magrelos do Coritiba. Resta-me o consolo de ver o Cianorte vencer, embora espero que o Leão do Norte no próximo confronto não repita o resultado.
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O que me preocupa contudo, é que heróis viram símbolos, e não gostaria eu de ver Kenrison, após ganhar títulos se aventurar com “homem mulher” nas noitadas que o esporte permite.
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Mas será que permite?
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O TODO PODEROSO
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Se houvesse tecnologia suficiente, dinheiro suficiente, interesse suficiente e gente suficiente, seria interessante gravar uma versão paranaense da comédia O TODO PODEROSO, interpretado por Jim Carrey.
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A versão das araucárias poderia tratar de um governador em final de mandato, que percebe que em virtude de todos os seus desmando, seu poder está por ruir. Também poderia contar paralelamente a história de um secretário menino trapalhão, chefe de uma polícia que tropeça em seus baldinhos de praia.
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Resta perguntar ao roteirista, se o fim da história também seria conduzido para uma conscientização do Todo Poderoso, que ao se perceber de seus abusos, ficaraia arrependido. Cairia ou não em um arrependimento profundo?
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Esta dúvida surge em função do sucesso um pouco menor da segunda montagem, com o título de “A Volta do Todo Poderoso”, onde um político chamado de louco construía uma arca em a enchia de toda espécie de animais que estava protegendo.

Mera coincidência.
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Onde a arte imita a vida, e a vida para muitos é viver fazendo arte, mas como se fossem crianças.
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O TEMPO DE RUBINHO
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A notícia de que Rubinho permanece mais tempo na Fórmula 1 surpreendeu algumas pessoas. Porém, em que pese minha admiração por este ícone do automobilismo nacional, é de se convir que a notícia não pode causar qualquer surpresa.
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Levando-se em conta que Rubinho sempre levou mais tempo entre a largada e a chegada em relação a outros corredores, é de se concluir que realmente é natural que ele passe mais tempo correndo.
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Quem é mais lerdo passa mais tempo na pista.
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ANIVERSÁRIO DE EBE
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Presença de Julio Iglesias no aniversário da apresentadora despertou curiosidade dentre as inúmeras estrelas que foram prestigiar a humilde festa. Será que a apresentadora estaria de romance com o cantor que comemora 50 anos de carreira?
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A curiosidade acabou quando Ebe disse que “gostaria mesmo é de namorar Roberto Carlos”.
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Julio Iglesias não se manifestou sobra o assunto, mas acreditamos na participação de Ebe no show de final do ano do “Rei”.
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CANGURU QUE NÃO É PERNETA
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Amor! Não é o que você está pensando!
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Austrália um casal é surpreendido com os pulos de um Canguru em sua cama. Dizem que o animal invadiu a casa, mas o marido suspeita de que a mulher tenha aberto a porta.
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Depois do Canguru Perneta de Magda que colocou pimenta no Sai de Baixo, o Canguru com as duas pernas bem ativas parece que não queria sair de cima, da cama.
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EFICIÊNCIA NA SEGURANÇA PÚBLICA
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A Polícia do Rio de Janeiro prendeu os bandidos que atiraram de um penhasco um casal após assalto.
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O interessante é que enquanto a polícia não tinha a menor ideia de quem eram os meliantes, a investigação promovida pelos traficantes da favela foi rápida e eficiente. Segundo informações, os traficantes encontraram os autores da atrocidade, e após uma sessão de espancamento e tortura, expulsaram os quatro da favela.
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Em tempos de crise e com a possibilidade da terceirização de serviços públicos, assusta a ideia de saber que traficantes seriam mais eficientes nas investigações do que a própria polícia.

terça-feira, 10 de março de 2009

FILOSOFIA CURTA E GROSSA (Samuel Rangel)

O interessante é, que quando o motivo da discussão é de somenos importância, os detalhes absolutamente irrelevantes passam a ter maior valor.

OS SANTOS E O EXCOMUNGADO

Enquanto a mídia se deleita com a audiência alcançada com as polêmicas, e começa a rifar cabeças no Big Brother porque a questionável experiência antropológica não desperta mais tanta curiosidade no público, os Santos e o Excomungado seguem suas vidas de santidade de blasfêmia. .
E nos assuntos da Fé, onde crer é fundamental, o descrédito vem travestido em pronunciamentos exegéticos e levianos, pontuais e sem nenhuma isonomia, tratando os filhos de Deus como se houvesse entre eles, um preferido e outro bastardo.
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No lamentável caso do aborto terapêutico realizado em uma menina de nove anos, grávida em função de estupro praticado por seu padrasto, a mídia noticia que a equipe médica é excomungada, bem como a mãe da criança, e algumas vertentes questionadoras indagam por qual motivo o estuprador foi poupado da pena máxima pela igreja.
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Em relação ao tema, por ter a benção de uma Fé, e por outro lado, por ser um dos palhaços neste país que ainda aceita e pratica as Leis, sou contra o aborto. Mas a Lei prevê o aborto terapêutico, que é legalmente permitido em casos de risco à mãe. E realmente, apesar de não ter cursado Teologia, acredito em Deus e suponho que não faz parte dos planos Dele, uma criança dar a luz a outras duas, frutos de uma crime bestial, sem ter condições físicas e psíquicas de dar à estas crianças uma vida saudável. E embora também não tenha estudos de medicina que vão além da Medicina Legal, acredito ainda que a criança não teria condições de levar a gestação de gêmeos até o final sem risco para a sua própria vida.
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Mas isso é só minha crença, e se houver louvor em minha fé, que os excomungados descansem tranquilos, pois mais do que jurisdição e os processos canônicos a jato, o que é certo será dito por Ele como canção aos seus ouvidos. E por não ser Santo, eu mesmo diria que tantos foram os santos queimados nas fogueiras da inquisição, terror imposto pelas autoridades da igreja e ao arrepio da Fé.
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E entre os Santos e o Excomungado, é realmente de se questionar por qual razão não são excomungados aqueles que atiram crianças pela janela. Será que Isabela seria menos importante para Deus do que o feto?
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Por qual razão não são excomungados os pedófilos que interrompem uma infância sadia, bestas disfarçadas nas mais belas vestes, e algumas inclusive infiltradas no próprio clero? Será que Deus desconsideraria o mal feito a essas crianças e a interrupção de sua infância?
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Por qual razão não são excomungados os membros dessa corja de vagabundos engravatados, que roubaram milhões de reais no caso do mensalão enquanto a gravidez de uma multidão de mulheres pobres foi interrompida por fome e falta de atendimento médico. Será que para Deus seria menos grave matar a distância?
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Aliás, quantos Nazistas foram excomungados em virtudes das barbarias praticadas na Segunda Guerra? Um feto polonês valeria menos que outro? (Necessário lembrar que não foram só judeus)
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Por qual razão não são excomungados?
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Mas questionamentos desta ordem perdem o objetivo quando percebemos que nenhum homem será capaz de impedir a comunhão de Deus com um homem de Fé, e que a ela se dedicou com amor.
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Então somos um povo excomungado, que assiste à televisão com pipoca na mão, capaz de ficar em silêncio enquanto alguns Santos vão a fogueira.
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Nessa excomunhão no estilo Big Brother, eu voto para saírem os falsos santos, estejam eles de batina ou não. Mas voto só por passa tempo mesmo.
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Para mim, o que dizem alguns padres e pastores, ou os argumentos de juízes e repórteres, é de pouca importância. Se pelas palavras que escrevo querem me excomungar, pouco me importa, pois ninguém me impedirá de após minha morte, entrar na fila para saber de Deus sobre meus erros e acertos.
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E creio que nessa fila, estarei bem na frente das bestas que a igreja não excomungou.

quinta-feira, 5 de março de 2009

BARES, ESSES LUGARES (Samuel Rangel)

(O Grande Bar, do pintor italiano Alberto Sughi,
integra a série temática Noturnos deste pintor
do “realismo existencial”, iniciada no ano 2000.)

Bares, esses lugares vulgares,
ou com os requintes dos ouvintes
que apreciam ou depreciam a música
de algum cantor ou menestrel de botequim.
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Bares são moinhos de corações,
Bibliotecas com pernas e sentimentos,
São depósitos de mágoas e emoções
Que se perdem entre o ébrio que paira no ar
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Bares são as mentiras mais verdadeiras
Nossas evocações profanas de si mesmo
Onde uma multidão sorri enquanto ele chora
E que chora no momento que deve sorrir.
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Uma pulsante incoerência que não para,
tirando almas para dançar com Baco.
Ou na cátedra de filosofias do absurdo,
uma fábrica insuportável de verdades.
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Bares são um pouco de minha história,
de minhas mentiras e de meus sonhos,
onde palmas e tapas fogem das mãos
E se espalham entre as mesas de taberna.
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Bares escuros onde corações se encontram
e depois se espancam em solidão e abandono
Onde histórias começam agendando um fim
Onde o fim vem com a noite e não passa do dia
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Esses são os bares que andei
E em alguns até amei, eu acho
Adoráveis e odiosos lugares
Tudo só dependia de minha alma.
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Em tantas mesas solitárias me acompanhei
E dentre tantas pessoas me perdi em solidão
Em tantos goles convidei sorrisos
E noutros a tristeza me afagava a alma
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Bares que juro que jamais voltarei
Mas juro que jamais voltarei hoje
Talvez nem tenha jurado. Talvez amanhã
Ou quem sabe noutra noite, ou noutro bar

segunda-feira, 2 de março de 2009

FÉ E GRATIDÃO


Essa não é uma daquelas correntes, dizendo que se você fizer isso ou aquilo, coisas maravilhosas vão acontecer. Também não é um texto que pede para você repassar para seus amigos. Este texto é apenas um testemunho, e não tem qualquer outra pretensão além de propor uma reflexão.
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Uma sequência de fatos desastrosos cuidou de fazer do meu início de ano bem difícil. Decepções, acidentes e incidentes, escureceram os meus dias do final do verão. Como sou de uma família acostumada às dificuldades, apenas aceitei isso como mais uma daquelas fases que nos colocam a pensar o que fizemos de errado.
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E quando tudo fica escuro, normalmente nos deprimimos e nos fechamos, como forma inclusive de evitar que o mal se alastre, e que as dificuldades aumentem. Porém, é nos escuro que podemos perceber com mais atenção as coisas que realmente brilham. Desde a menor das estrelas até as luzes da rua, ou do quintal de nossa casa.
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E no meio desse escuro, eu, filho ausente muitas vezes de minha fé, encontrei um inspiração. Como o filho que encontra dificuldade, procurei o colo da Mãe. Não a minha mãe que comemorou suas Bodas de Ouro no sábado, mas justamente a minha e a sua mãe. Em silêncio, e no escuro, ergui uma prece e um pedido à Nossa Senhora. Coloquei-me sob seus olhos em meus erros e acertos, e apenas me comprometi a testemunhar publicamente os resultados deste maravilhoso encontro.
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E este texto tem somente esse objetivo, não por uma obrigação moral, mas uma obrigação de gratidão. Após esse simples gesto de buscar o colo da Mãe com a serenidade materna, a luz voltou e suas bençãos se estenderam e trouxeram-me a felicidade novamente.
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Muitas vezes buscamos a felicidade em torno de nós, uma felicidade palpável, material. Mas justamente quando percebemos a fragilidade de tudo que é material, erguemos os olhos para um horizonte maior. E ao nos desprender do mundo material, e encontrar em Deus e na Fé um refúgio, passamos a entender os reais valores da vida.
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E nessa minha vida, uma vida abençoada pelas dádivas divinas, venho agradecer o tudo e tanto que me foi oferecido gratuitamente.
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Embora não seja este um texto dentre aqueles tantos, peço que ele se revista da forma de oração, a oração mais sincera que um filho pode dedicar à sua Mãe, ao seu Pai, e espero, com o brilho que somente a fé e a certeza do universo espiritual pode proporcionar.
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Sou grato a Nossa Senhora e a Deus Pai.