Eu, que não costumo me dar muito bem com a aquisição de veículos automotores, conversando com o Adriano do Ice Beer Hot Bar, fui tomado pela seção nostalgia. E na seção nostalgia, tenho a incrível capacidade de me transportar no tempo. Lembrei do tênis “Bamba” de sola de plástico que me fazia escorregar como se fossem patins na cancha poliesportiva da Praça Oswaldo Cruz. Lembrei-me dos sarais no salão de madeira azul aos domingos no Clube 3 Marias, reduto de minhas primeiras paixões de adolescência. E fui lembrando, fui lembrando, até chegar aos meus dezoito anos.
Lembrei-me então da história do meu primeiro carro.
Como já era músico gozando de certo conceito na noite curitibana, fui convidado a tocar em um bar que estava sendo aberto em plena Santa Felicidade, justamente a frente do Restaurante Veneza.
Fui aconselhado por Ivo Rodrigues a cobrar bem o cachê, pois tinha que manter um preço justo de mercado, sob pena de desempregar algum bom músico, ou mesmo colocar-me em situação de desvalorizar meu próprio trabalho.
Chegando no bar, adotei o preço sugerido por Ivo como um preço justo para desempenho em Voz e Violão. O Dono do bar me informou que não podia pagar aquele valor, e eu, ouvindo ecos da voz de Ivo, virei as costas e me retirei do ambiente de forma educada mas decidida.
Após uma semana, o telefone de casa toca, e o dono do bar quer conversar. Retornei, já tentando contabilizar o bom cachê como forma de comprar aquela calça Pierre Balman e um tênis Adidas.
Quando cheguei lá, descendo do ônibus, o dono do bar já foi logo disparando uma contra proposta. Lembrei-me de Ivo e disse que não aceitaria outra proposta. Então o dono do bar me leva até o fundo do bar, abre a garagem, e mostra um Dodge Charger RT dourado. Sim, era um carro com motor 8 cilindros, câmbio em cima, e dourado nas partes onde a ferrugem foi derrotada. Onde a ferrugem ganhou, o dojão era cor de vão de cerca mesmo.
Então o dono do bar, vendo meus olhos brilharem com a oportunidade de abandonar o transporte coletivo, e parar de dividir a brasília em dois casais no Verde Batel, fez a proposta de tocar no bar de terça a domingo, durante 3 meses, e o carrão seria todo meu.
Como era de se esperar, aceitei o negócio na hora, e como parte do acordo o dono do bar assinou o documento do carro, reconheceu firma e me passou, condicionando a retirada do carro do páteo após a metade do contrato. Aceitei, até porque não teria dinheiro para colocar gasolina na banheira, pois na época, o carro da moda era o Fiat 147.
Toquei com incrível afinco durante aqueles 45 dias, e por sorte, surgiram alguns casamentos para cantar na igreja Pio X, permitindo assim uma economia de dois ou três tanques para a banheira.
No dia combinado, chego ao bar e sou recebido pelo simpático dono com a chave na mão. Antes de tocar, liguei o carro curtindo o som do motor V8, e fui até o posto. Com a arrogância de um garoto que come caviar pela primeira vez, encostei no posto e mandei encher o tanque.
Voltei ao bar e comecei a cantar com enorme orgulho. Surgiu uma menina com belos olhos admirando meu trabalho, e pela primeira vez eu via a possibilidade de sair com uma menina em meu próprio carro. Em meus intervalos, sentei com a menina que mandava muito bem na cerveja. Eu a acompanhei, mas não tinha muito preparo hepático na época, pelo que, ao final da noite, quando a menina me convida para ir embora, percebo que estou sem condições de dirigir. Ela sorridente me oferece uma carona, e justamente em um Fiat 147 Rally.
E por ironia do destino, na minha primeira noite de carro, eu estava de carona com uma mulher. Mas tive juízo e aceitei a situação naquela sexta-feira.
No sábado, pouco antes do almoço, resolvi ir buscar o V8.
Desci do ônibus como se desse adeus ao motorista que nunca mais veria, ao cobrador deselegante, e aos companheiros de calvário coletivo.
Caminhei pelas britas do estacionamento do bar curtindo o som dos meus passos em direção ao meu primeiro carro. Minha vida finalmente havia mudado.
Liguei o carro com orgulho, acelerando de forma a mostrar que o tanque estava cheio, e arranquei com aquela barca pela Manoel Ribas. Lembrei-me então que era uma bela oportunidade de passar em frente a casa das ex-namoradas. Quando comecei a desfilar pelos bairros, lembrei que era melhor ainda visitar aquelas meninas que não quiseram namorar comigo.
Cheguei a casa de uma menina, cujo nome deixo no anonimato, e qual não foi a surpresa dela de ver-me motorizado.
Então ela perguntou se poderia ir comigo a noite no bar, e lógico que respondi que sim, já pensando em um Verde Batel depois do bar. Com a agenda combinada e a noite prometendo, sai da casa da menina, e resolvi ir mostrar o veículo ao meu grande amigo Guto, mas não sem antes desfilar pela Av. Batel e estacionar por cerca de duas horas no Parque Barigui.
O interessante quando a gente tem o primeiro carro, é que quer mostrar para os outros mas não quer parar de dirigir. Entra no bar com vontade de sair, só para dirigir uma pouco mais.
Após o Barigui, fui até Campo Comprido para mostrar o Dojão para o Guto.
Quando encosto na frente da casa de Guto, e começo a acelerar a barcaça, vejo ele sair correndo acenando os braços e gritando para que eu desligasse o veículo. Quando desliguei, percebi que um calor enorme vinha dos meus pés, mesmo com o motor desligado.
Quando vejo guto correndo com um balde d'água, sai do carro rapidamente e pude ver as primeiras labaredas saindo pelas bordas do capô e pelos cantos dos para-lamas. Fiquei atônito. Guto mandou que eu abrisse o capô. Quando abri o capô percebi uma labareda subir como de uma fornalha, enquanto Guto despejava inutilmente o balde d'água sobre o motor.
E não teve jeito. Eu tinha metade de um Dojão pegando fogo. Vizinhos apareceram de todo lugar com extintores e conseguiram apagar o fogo antes que ele invadisse o interior do carro.
Sentado no meio-fio, vi ali meu meio primeiro carro, e quando a voz retornou, preguntei ao Guto se daria para arrumar os estragos do fogo. Guto disse que sim, mas eu teria que tocar um ano para conseguir o dinheiro.
Contabilizei o prejuízo e a perspectiva de lucro, percebi que não vali a pena.
Então liguei para o dono do bar e informei o ocorrido.
Ele aceitou um acordo. Ele receberia de volta o Dojão, e me dispensaria do restante do contrato. Então aceitei o acordo, após ele combinar que eu tocaria só mais dois dias para pagar o guincho para levar o carro novamente ao bar.
A menina que iria sair comigo me ligou a noite, mas pedi a minha mãe que dissesse que eu não estava, e não sabia a hora que eu ia voltar. Se ela insistisse, pedi que minha mãe dissesse que eu não morava mais lá.
Peguei o ônibus e cumprimentei novamente o motorista, o cobrador e meus companheiros de linha Santa Felicidade, sabendo que desta vez, eu só embarcaria mais duas vezes naquele ônibus.
Lembrei-me então da história do meu primeiro carro.
Como já era músico gozando de certo conceito na noite curitibana, fui convidado a tocar em um bar que estava sendo aberto em plena Santa Felicidade, justamente a frente do Restaurante Veneza.
Fui aconselhado por Ivo Rodrigues a cobrar bem o cachê, pois tinha que manter um preço justo de mercado, sob pena de desempregar algum bom músico, ou mesmo colocar-me em situação de desvalorizar meu próprio trabalho.
Chegando no bar, adotei o preço sugerido por Ivo como um preço justo para desempenho em Voz e Violão. O Dono do bar me informou que não podia pagar aquele valor, e eu, ouvindo ecos da voz de Ivo, virei as costas e me retirei do ambiente de forma educada mas decidida.
Após uma semana, o telefone de casa toca, e o dono do bar quer conversar. Retornei, já tentando contabilizar o bom cachê como forma de comprar aquela calça Pierre Balman e um tênis Adidas.
Quando cheguei lá, descendo do ônibus, o dono do bar já foi logo disparando uma contra proposta. Lembrei-me de Ivo e disse que não aceitaria outra proposta. Então o dono do bar me leva até o fundo do bar, abre a garagem, e mostra um Dodge Charger RT dourado. Sim, era um carro com motor 8 cilindros, câmbio em cima, e dourado nas partes onde a ferrugem foi derrotada. Onde a ferrugem ganhou, o dojão era cor de vão de cerca mesmo.
Então o dono do bar, vendo meus olhos brilharem com a oportunidade de abandonar o transporte coletivo, e parar de dividir a brasília em dois casais no Verde Batel, fez a proposta de tocar no bar de terça a domingo, durante 3 meses, e o carrão seria todo meu.
Como era de se esperar, aceitei o negócio na hora, e como parte do acordo o dono do bar assinou o documento do carro, reconheceu firma e me passou, condicionando a retirada do carro do páteo após a metade do contrato. Aceitei, até porque não teria dinheiro para colocar gasolina na banheira, pois na época, o carro da moda era o Fiat 147.
Toquei com incrível afinco durante aqueles 45 dias, e por sorte, surgiram alguns casamentos para cantar na igreja Pio X, permitindo assim uma economia de dois ou três tanques para a banheira.
No dia combinado, chego ao bar e sou recebido pelo simpático dono com a chave na mão. Antes de tocar, liguei o carro curtindo o som do motor V8, e fui até o posto. Com a arrogância de um garoto que come caviar pela primeira vez, encostei no posto e mandei encher o tanque.
Voltei ao bar e comecei a cantar com enorme orgulho. Surgiu uma menina com belos olhos admirando meu trabalho, e pela primeira vez eu via a possibilidade de sair com uma menina em meu próprio carro. Em meus intervalos, sentei com a menina que mandava muito bem na cerveja. Eu a acompanhei, mas não tinha muito preparo hepático na época, pelo que, ao final da noite, quando a menina me convida para ir embora, percebo que estou sem condições de dirigir. Ela sorridente me oferece uma carona, e justamente em um Fiat 147 Rally.
E por ironia do destino, na minha primeira noite de carro, eu estava de carona com uma mulher. Mas tive juízo e aceitei a situação naquela sexta-feira.
No sábado, pouco antes do almoço, resolvi ir buscar o V8.
Desci do ônibus como se desse adeus ao motorista que nunca mais veria, ao cobrador deselegante, e aos companheiros de calvário coletivo.
Caminhei pelas britas do estacionamento do bar curtindo o som dos meus passos em direção ao meu primeiro carro. Minha vida finalmente havia mudado.
Liguei o carro com orgulho, acelerando de forma a mostrar que o tanque estava cheio, e arranquei com aquela barca pela Manoel Ribas. Lembrei-me então que era uma bela oportunidade de passar em frente a casa das ex-namoradas. Quando comecei a desfilar pelos bairros, lembrei que era melhor ainda visitar aquelas meninas que não quiseram namorar comigo.
Cheguei a casa de uma menina, cujo nome deixo no anonimato, e qual não foi a surpresa dela de ver-me motorizado.
Então ela perguntou se poderia ir comigo a noite no bar, e lógico que respondi que sim, já pensando em um Verde Batel depois do bar. Com a agenda combinada e a noite prometendo, sai da casa da menina, e resolvi ir mostrar o veículo ao meu grande amigo Guto, mas não sem antes desfilar pela Av. Batel e estacionar por cerca de duas horas no Parque Barigui.
O interessante quando a gente tem o primeiro carro, é que quer mostrar para os outros mas não quer parar de dirigir. Entra no bar com vontade de sair, só para dirigir uma pouco mais.
Após o Barigui, fui até Campo Comprido para mostrar o Dojão para o Guto.
Quando encosto na frente da casa de Guto, e começo a acelerar a barcaça, vejo ele sair correndo acenando os braços e gritando para que eu desligasse o veículo. Quando desliguei, percebi que um calor enorme vinha dos meus pés, mesmo com o motor desligado.
Quando vejo guto correndo com um balde d'água, sai do carro rapidamente e pude ver as primeiras labaredas saindo pelas bordas do capô e pelos cantos dos para-lamas. Fiquei atônito. Guto mandou que eu abrisse o capô. Quando abri o capô percebi uma labareda subir como de uma fornalha, enquanto Guto despejava inutilmente o balde d'água sobre o motor.
E não teve jeito. Eu tinha metade de um Dojão pegando fogo. Vizinhos apareceram de todo lugar com extintores e conseguiram apagar o fogo antes que ele invadisse o interior do carro.
Sentado no meio-fio, vi ali meu meio primeiro carro, e quando a voz retornou, preguntei ao Guto se daria para arrumar os estragos do fogo. Guto disse que sim, mas eu teria que tocar um ano para conseguir o dinheiro.
Contabilizei o prejuízo e a perspectiva de lucro, percebi que não vali a pena.
Então liguei para o dono do bar e informei o ocorrido.
Ele aceitou um acordo. Ele receberia de volta o Dojão, e me dispensaria do restante do contrato. Então aceitei o acordo, após ele combinar que eu tocaria só mais dois dias para pagar o guincho para levar o carro novamente ao bar.
A menina que iria sair comigo me ligou a noite, mas pedi a minha mãe que dissesse que eu não estava, e não sabia a hora que eu ia voltar. Se ela insistisse, pedi que minha mãe dissesse que eu não morava mais lá.
Peguei o ônibus e cumprimentei novamente o motorista, o cobrador e meus companheiros de linha Santa Felicidade, sabendo que desta vez, eu só embarcaria mais duas vezes naquele ônibus.
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