quinta-feira, 15 de abril de 2010

ONDE FOI QUE NÓS ERRAMOS?






ONDE FOI QUE NÓS ERRAMOS?

De um presidente se deve esperar atos de presidência. Do cargo mais elevado, a mais elevada esperança. Do poder maior, o “mais fazer”. Uma relação quase matemática, e de exatidão similar, faz dessas relações critérios inquestionáveis.

Porém, como dos humanos a matemática se ocupa pouco além do exame BetaHCG – onde maior que cinquenta é gravidez certa independentemente de quem seja a genitora – pouca lógica é sinal de surpresas com algumas figuras públicas. E a essa regra Nelson Justus não fugiu, embora tenha mudado outras que julgou necessárias na ingrata tarefa de não ver naufragar a nau da Côrte Legislativa, com seus nobres de pouca nobreza e salários inexplicáveis. Parasitas agarrados à árvore que está por cair. Rêmoras grudadas no tubarão que sente lhe cair a última fileira de dentes.

Pois é Presidente.

Enquanto tantos esclarecimentos eram esperados, em seu discurso o auge está na pergunta com ares de marido cafajeste: onde foi que nós erramos? Ora Excelência. Se o senhor não sabe, muito menos eu. Se o presidente não sabe, muito menos a moradora de Cerro Azul que sequer entende o que é uma cifra milionária.

E enquanto estudantes com ou sem pulseirinhas do sexo derrubam as grades que nós pagamos, algumas instituições pedem o afastamento do presidente da Assembléia Legislativa, afastamento esse fundamentado em argumentos fortes, legítimos e legais em sua essência. E essas instituições ainda o fazem de forma serena, tranquila, quase complacente.

Com a devida vênia, ainda que não fosse o caso de dar guarida a tais argumentos e dar efetivo cumprimento a esse afastamento por motivos de ordem moral, a simples observação de seu discurso revela que o afastamento da presidência é sim imperativo, e sem dúvida alguma, pode se dar também em virtude de lamentável problema de doença.

As anotações dos taquígrafos poderiam ser encaminhadas aos profissionais da área de psicologia, para que delas se extraia um preciso diagnóstico.

Não sabemos de início se são traços mitômanos que o impedem de ver a lamentável realidade e de adequar seu comportamento a ela. Poderíamos ainda cogitar, que ao entender que a imprensa lhe persegue, vossa excelência está desenvolvendo um traço esquizofrênico. Ou na pior das hipóteses, tratar-se-ia de um caso de perfil psicopata? Naquele onde o desprezo pelo próximo e pela coletividade, impede que a pessoa tenha conduta adequada aos padrões morais exigíveis ao homem médio.

Cremos então que o afastamento se deve dar por ordem médica, para tratamento de saúde, e sem dúvida nenhuma, também por interesse público, pois por mais escandalosos que sejam os acontecimentos na Assembléia, não lhes desejamos mal, mas apenas o justo. A sua saúde é de interesse público.

Exatamente isso.

Não se ofenda presidente, pois não é nada pessoal. Com o senhor não temos qualquer relação pessoal, o que neste momento muito nos alivia. Mas diante de tão jocosa situação, não resta outra opção. Nós não podemos ficar em silêncio, e nem o senhor. Afasta-se agora. Ocupa-se então de cuidar de vossa saúde, de buscar a nobreza da presidência e nela os esclarecimentos que até o presente momento não conseguiu nos dar. Enclausura-se na distância de seus aparentes perseguidores, para ver se eles não perseguem tão somente a justiça. É a irônica diferença entre “Perseguir o Justo” e “Perseguir o Justus”.

Ao reconhecer que erros aconteceram no passado, é importante saber que o passado compreende o ontem, a semana passada, ou mesmo cada diário extraordinário (nesse caso mais ordinários do que nunca). E se erros aconteceram, mais um deles é a sua tentativa insana de permanecer na cadeira mais alta dessa instituição.

Lembra-se do passado também, de como japoneses e alemães tratavam suas próprias vergonhas em escândalos de corrupção e imoralidade na gestão pública. Resguarda-se de tamanha tragédia.

Quem sabe, o melhor seja mesmo se ocupar de sua reeleição, pois diante dos últimos acontecimentos, percebe-se que não será uma tarefa tão fácil. Muito mais por tratar-se de um péssimo momento para perder a imunidade parlamentar, diante da possibilidade de que as tempestades que estão a rugir no horizonte, no Ministério Público, na Polícia Federal, venham a realmente atingir essa presidência, fazendo desbarrancar para fora deste prédio toda a lama e o lixo sobre o qual se estabeleceram os barracos da imoralidade.

Mas considerando que o tempo é pouco, e imaginando que muitas decisões difíceis devam ser tomadas, a brevidade é necessária.

Se o senhor não sabe onde errou, eu aqui também me coloca a pensar:

Onde foi que nós erramos?

Na urna eletrônica.