E chega novembro, e com ele um arrepio gelado que me percorre a espinha. Estamos às vésperas de dezembro, e portanto, às vésperas de meu aniversário. Não haveria nenhum problema, e seria mera tolice minha essa preocupação, se eu não tivesse um problema histórico com o tal “Inferno Astral”. Então uma vontade de gritar “_uta que _ariu” enorme me sobe pela goela, pois justamente eu que não acredito em astrologia, nunca abri uma porcaria de jornal para ler um horóscopo, coloco-me a então a questionar aos quatro ventos “porque eu”.
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Quando eu senti o cheiro da fase, corri para o word escrever essa saga desse ano, porém, faltava-me elemento para propor ao leitor boa distração. As histórias eram sem sal, e apenas pareceria mais um cara em uma fase não muito boa.
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Mas hoje, hoje sim eu venho com todos os palavrões ecoando nos dedos, pois definitivamente, o Inferno astral chegou. Não se trata mais tão somente daquela amiga da amiga, que depois de dois minutos que a gente se conhece, dispara uma série de críticas sobre a sua pessoa, como se conhecesse todos os defeito que você tem e mais aqueles que você virá a ter.
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Tudo bem. Pois no dia que fui submetido a esse julgamento sumário, resolvi mudar de bar, e procurar algum lugar onde eu pudesse estar em paz. E realmente encontrei várias amigas no outro bar, imaginando que aquilo me faria compensar os momentos desagradáveis vividos. E deu certo, mas não por muito tempo, pois foi só a conversa ficar interessante que os namorados dessas amigas resolveram ficar enciumados com nossa conversa. E com a evolução da noite, o ciúmes virou uma vontade enorme de entortar mais ainda esse meu nariz mal acabado.
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Advertido pelo amigo que me acompanhava, e a tudo assistia, que seria um bom momento para se retirar e buscar a segurança de minha residência, aceitei o conselho. Entramos no carro em meio a gargalhadas, questionando o motivo de tal situação. Quando chegamos a conclusão de que se tratava o retorno do Inferno Astral, rimos mais um pouco e chegamos à conclusão de que é uma mera fase, e logo ela acaba. Ele desembarcou do meu carro e sumiu prédio a dentro.
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Acendi meu companheiro Carlton e com um leve sorriso de indignação, tomei o rumo de minha casa. Ao chegar exatamente na metade do caminho, o prenúncio de que tudo poderia pior veio. Meu bólido transformou o painel em uma festa de luzes de alerta e o carro desligou. Pronto fiquei na rua. Empurrando o carro sozinho é claro, ouvi os impropérios mais injustos com minha mãe, pois acredito se quiser, eu fiquei com o carro parado em meio a um engarrafamento em plena madrugada curitibana.
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Mas tudo bem. Poderia ser pior, eu poderia estar em Santa Catarina. Vamos manter o bom humor.
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Ao acabar de empurrar o carro por cerca de cinquenta metros, rua acima diga-se de passagem, resolvi trancar o carro e chamar um táxi. Ao entrar no carro, percebi que as luzes de alerta tinha se apagado. Quando virei a chave, está lá o motor funcionando como novinho. Lógico que havia testemunhas para tirar sarro que eu havia empurrado o carro desnecessariamente.
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Chegou em casa rindo da história, pois insisto que vou manter o bom humor.
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De lá para cá, a minha amada condução fazia assim. Quando estava com vontade andava, se estava sem vontade, não andava. Lógico que ele perdia a vontade de andar sempre no meio a engarrafamentos. Normal, pois eu também não gosto de engarrafamentos, como poderia eu exigir que o carro se submeta a eles. Por isso aceitei essa atitude temperamental do meu bólido
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Quando a coisa começou a ficar mais grave, e ele começou a parar mesmo sem engarrafamentos, é lógico que eu decidi tomar uma atitude inteligente. É hora de arrumar o meu Buggy, que sempre nos momentos de cansaço do Espero, acabou virando o meu carro oficial, faça chuva ou faço sol.
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Ontem então, levei o Buggy para o mecânico. O mecânico que sempre me atendia, falou-me que não poderia fazer nada antes do Natal, e que então, passaria o serviço para o seu auxiliar. Ao conhecer o auxiliar, descobri o cúmulo do pessimismo. Ao explicar para ele o que deveria ser feito no Buggy, ele me respondia sempre com um “Não vai ficar bom”, “Não vai dar certo”, “Isso não vai funcionar” e o dolorido e irritante “Você deveria jogar essa merda no lixo”.
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Mantive a calma, apesar de que eu tinha certeza de que se aquele mecânico, com aquele pessimismo, decidisse brigar comigo, ele desistiria por pensar: “eu sei que vou apanhar desse cara”.
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E hoje, ao chegar na oficina, vi o Buggy parado, e o mecânico com uma lista de peças na mão. Alternador, Bateria, Carburador, Arranque, coletor, bobina e mais uma porção de juntas e arroelas. Quando vi a lista, indaguei se era necessário trocar tudo, e como resposta tive o clássico “se não comprar tudo novo não vai funcionar”. Olhando para o pessimista, pensei no que fazer com as milhões de peças recondicionadas que estão por aí, mas lembrei que tenho uma amiga que trabalha numa representação comercial de peças automotivas.
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Liguei para ela, ela conseguiu tudo a preço de custo e para parcelamento em seis parcelas, porém, quando ela me passou o preço, imaginei que bela jardineira iria virar o Buggy parado. Mas essa cabeça se colocou a pensar e logo lembrei de que tenho um cliente, funcionário de uma autopeças, que me deve há mais de ano. Fui até lá, e acho que como minha cara não era muito boa, ele conseguiu o carburador e o alternador para mim, negociando um parcelamento com o chefe dele.
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E assim foi minha tarde, buscando uma peça ali, outra lá, e aquela ainda mais longe, pensando no mecânico pessimista, que a cada retorno meu, aumentava itens a lista. Ao finalizar a lista, e descobrir que terei um Buggy zero no final das contas, no caminho da oficina meu carro resolve parar. Após alguns impropérios, xingamentos, ameaças e olhares raivosos, tentei novamente ligar o carro, e dessa vez eu não consegui. E novamente e nada. Não adianta, pois dessa vez o carro só se recupera após um tempo na UTI.
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Saio eu do carro com as peças do outro na mão e vou a pé para a oficina. Ao chegar lá, o mecânico não está mais trabalhando no Buggy, pois outros serviços mais urgentes apareceram. Pronto. Agora foi. Um carro desmontado na oficina e outro carro desmontado na rua, e eu a pé, com a certeza de que mais uma vez, passarei meu aniversário dependendo da carona de algum amigo.
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É lógico que no caminho de casa, sujo de graxa, peguei aquela chuva nas costas. É lógico que nessa mesma chuva, um galho de pinheiro caiu e rasgou parte do toldo do meu bar. É lógico que não vai sobrar grana para arrumar o carro e o toldo, e se eu realmente conseguir fazer o Buggy funcionar, é claro que a chuva vai voltar.
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Agora percebi que durante meu “Inferno Astral” faço uma bela dupla com o mecânico, pois diante do histórico dos últimos três anos, não há como deixar de ser pessimista.
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Mas tudo bem, pois poderia ser bem pior. Ainda assim vou manter meu bom humor e convocar todos a estarem presentes no final do meu Inferno Astral. Quem sabe comecemos uma campanha para reavivar meu bólido, ou mesmo algum amigo meu resolva escrever para o Lata Velha.
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De qualquer forma, gostaria de saber se alguém poderia me dar uma carona para eu ir ao meu aniversário. Alguém? É no sábado, e é lá no meu boteco. Até lá estaremos com o toldo arrumado.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
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