quinta-feira, 13 de maio de 2010

O PARANÁ ESTÁ SERVIDO À MESA – SIRVA-SE COMO QUISER.




No início da década de noventa, tive a alegria de dividir os corredores da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná com Fuad Faraj. Aluno discreto, de certa timidez, sem deixar de lado sua simpatia e senso comum com os demais alunos. Em 1995, resolvi alçar um voo mais alto, ingressando na carreira do Tribunal do Júri, à qual me dedico com alegria até os dias de hoje.

Quis o destino me reservar uma surpresa naquele ano. Ao dispor de meu carro para viajar até a longínqua comarca de Mangueirinha, para atender a uma nomeação para exercer a defesa em plenário de três réus carentes, chegando na comarca fui apresentado ao promotor que enfrentaria em plenário. Era exatamente o Dr. Fuad Faraj, que apesar do cargo, e das teses opostas que defenderíamos, recebeu-me com a mesma simpatia e humildade.

E tivemos então a oportunidade de trabalhar em plenário durante três dias, de segunda a quarta-feira, por longas horas, adentrando à noite com nossos debates, sempre esgrimando teses com nobreza, coragem, desprendimento, e acima de tudo, com ética e respeito.

Ao final do último júri, nos dirigimos até um restaurante daquela então pequena cidade. Ali, após três dias de batalha, tomando a mais justa das cervejas, conversamos sobre os casos, manifestamos nossos últimos entendimentos, e por fim, dentre uma ou outra lembrança dos tempos de faculdade, ousamos prever o futuro, onde me recordo, Dr. Fuad Faraj ousou profetizar que eu seria um dos grandes do Tribunal do Júri do Paraná. A ironia do destino, é que exatamente o Dr. Fuad Faraj seria o grande. O grande promotor dos dias de hoje.

Passados quinze anos, e mais de duas centenas de defesas em plenário, eu, já grisalho, assisti atônito ao escândalo na Assembleia Legislativa, e já sem as crenças ingênuas do início de minha carreira, imaginei que se tratava de mais um daqueles casos que explodem na imprensa para depois, implodirem no esquecimento do povo.

Também assisti às Denúncias que o Deputado Ney Leprevost, com ímpar coagem, fez em sua entrevista ao programa “Jogo do Poder”, dando conta das reais situações em que se encontra a Assembleia.

E não demorou para ver uma proposta de parceria entre o Ministério Público e a Assembleia para a apuração daquele escândalo, como se tal proposta, fosse suficiente para acalmar a imprensa voraz que se deliciava do banquete da notícia. Aliás, nesse sentido, interessante realmente observar como levou tanto tempo para a imprensa investigativa levantar estas questões. Por qual razão isso não havia se tornado notícia antes?

Mas de qualquer forma, mais que o questionamento do passado, a esperança nasce do presente, e naquele momento, parecia que uma força incomensurável, da Rede Paranaense de Comunicação, viria a encampar a batalha pela moralidade.

No momento onde uma parceria temerosa entre investigador e investigado se tornava quase certa, ressurge à minha frente, em entrevista ao telejornal, a imagem do Dr. Fuad Faraj. Como já era de se esperar, para todo aquele que conhece a pessoa, o silêncio não seria o convidado de honra. De pronto, resolvi convidar meu pai a assistir a manifestação do promotor, em face de imaginar que meu pai, já na oitava década de vida, muito mais que eu, precisa sim de um alento, e ver no mínimo, uma esperança de que esses absurdos não mais ocorrerão com tanta naturalidade neste país.

Então, pela primeira vez, entre goles secos dos repórteres que o entrevistavam ao vivo, alguém teve a coragem de denunciar o compadrio entre os poderes e os poderosos. Sem nenhum temor, usando com coerência e justiça de todas as prerrogativas de seu cargo, Fuad Faraj denunciou e nos fez pensar em tudo aquilo que sempre soubemos e perante o que, por descrença, nos calamos.

Essa nossa estampa caipira, provinciana, de render homenagem e honra aos poderosos, e às suas famílias que se perpetuam no poder, independentemente de ter consigo os requisitos morais para exercer a função que exercem, nos calou durante muito tempo.

Da mesma forma que, em jantares luxuosos, sentam-se à mesa os nobres de pouca honra, sentam-se também às mesas das alcovas para alinhavar acordos espúrios e conchavos imorais, permutando favores, concedendo graças e indultos, dinheiro e poder, impunidade e mais riqueza. Nobre imorais que sob suas vestes caras, escondem o dinheiro que não podem explicar, o favor que não se pode conceder, a graça corrupta e torta.

E assim são não só os envolvidos no escândalo da Assembleia, mas também tantos outros do Poder Judiciário e do Poder Executivo, sem deixar de adentrar ao próprio Ministério Público, um quarto poder que deve ser saciado, mas não com favores, e ao quinto poder, o da imprensa, que tantas vezes calou mediante tantos favores.

Os fatos lamentáveis que hoje testemunhamos, estendem sobre a mesa um Paraná a ser servido aos chacais, aos abutres, as hienas e aos vermes, enquanto sob a mesa, um povo faminto se alimenta das migalhas que despencam das bocas sujas dos usurpadores.

E assim o Paraná ouviu falar dos bilhões que foram perdidos no Banestado, bem como de tantos outros milhões que foram pilhados em reformas e construções de prédios públicos, até que o escândalo da Assembleia nos aterrorizasse com a verdade falada, enquanto todos os demais, são tão somente a verdade velada.

Então é o momento de convidarmos todos e cada um a se servirem da mesa posta, como quiserem, pois o Paraná está aí, sendo desnudado depois de tanto segredo.

E por que não servir-se da realidade para questionar agora. Que a imprensa continue com o papel revelador que assumiu. Porém, se somente a Assembleia Legislativa for o foco das investigações e das denúncias, é certo que em outros jantares, outros acertos estão sendo promovidos de forma tão vil e imoral quanto as outras que aqui denunciamos em harmonia com Fuad Faraj.

E por qual razão não se ocupa um pouco a imprensa, sem esquecer dos Diários Secretos, da situação em que se encontra o Poder Judiciário. Enquanto o Conselho Nacional de Justiça determina em metas que a justiça faça números, a injustiça rasteja pelos cartórios cansados, desamparados, insuficientes para a realidade.

Justiça então é estatística?

E por qual razão deixaríamos de questionar as viaturas novas paradas na Academia do Guatupê, enquanto não há policiais para assumirem estas viaturas?

Se querem notícias e escândalos, a mesa é farta. Para rechear os noticiários, basta a vontade de investigar, a coragem de denunciar, e a isenção de parcerias imorais.

Corrupção. Este ralo, boca da ganância destes insaciáveis marginais de gravata, deve ser observado com maior atenção.

Quantos policiais os valores roubados da Assembleia colocariam nas ruas?

Quantos juízes a mais teríamos caso as obras do Poder Judiciário fossem corretas?

Quantos hospitais teríamos servindo ao povo do Paraná se os Conselheiros do Tribunal de Contas fossem imparciais e justos?

A verdade está posta, e embora todos a conheçam, ela é velada, e o silêncio é a marca ou da covardia, ou do interesse.

Quem sabe estes escândalos todos sejam fruto exatamente dos piores exemplos vindos de Brasília. Dos mensalões e dos gabinetes mais altos desse país, a compra da aquiescência. Um cala a boca coletivo.

O “Presidente de Teflon e a Corte dos Imorais”. Se servem para o Brasil, não servem para o Paraná.

E servir-se da realidade, embora seja amargo, serve para questionar, e serve para deflagrar o processo da mudança, ainda que seja lenta e gradual.

Vivemos um capítulo da história deste Estado.

Resta-nos saber como nosso nome será mencionado quando a história for contada.

O Paraná está servido à mesa.

Sirva-se como quiser.

Ou você prefere participar desses jantares inconfessáveis?