Durante muito tempo, Curitiba e o próprio estado do Paraná, permaneceram no ostracismo do meio de produção artística e cultural. Os talentos que por aqui surgiam, tinham que se submeter aos estúdios, empresário e produtoras de São Paulo e Rio de Janeiro, buscando se adaptar aos grandes centros de propagação da arte, e tornando seu produto comercial e financeiramente viável.
Esta posição secundária, de mera produção humana, condicionada à remessa desses talentos aos grandes centros, onde eram lapidados e teoricamente transformados em artistas, acabou fazendo com a população deste estado aceitasse essa condição de submissão.
De certa forma, é assim que nosso estado ficou até os últimos dias. Bandas como Blindagem, Djambi, Regra 4, e tantas outras, artistas como Diogo Portugal, Altamar Cezar e Dig Dutra, poetas como Paulo Leminski e Tatára, músicos como Cabelo e Serginho, Riad Bark e tantos outros, perambulavam pelas ruas da Capital colendo o pouco reconhecimento que Curitiba costumava dar. Não é difícil encontrar João Lopes, de cabelos longos e grisalhos em aniversários, e ao se indagar quem é o cidadão, poucos lembrarem que é dele a música “Bicho do Paraná”.
A arte curitibana e paranaense tinha que transpor fronteiras antes de fazer sucesso por aqui. Não é difícil imaginar que a banda Djambi foi mais aplaudida no exterior, em suas excursões pela Europa, do que nos bares de Curitiba.
Era a nossa realidade.
Então Diogo Portugal é lembrado e indicado para participar de um quadro no Domingão do Faustão. De pronto o sucesso se apresenta, e já na entrevista de Jô Soares, Diogo desfila o seu talento fazendo o próprio apresentador calar e prestigiar todo o talento curitibano.
E a Rede Paranaense de Televisão começa a valorizar nosso produto com a "Revista RPC". Rostos conhecidos de nossa cultura, começam a estampar a tela outrora dedicada exlcusivamente aos atores de novelas.
A mudança é só uma questão de tempo.
Esta antiga cultura, de não produzir além do que precisamos consumir, descende diretamente de nossa origem histórica, onde Matheus Leme e o meu parente longínquo Baltazar Carrasco dos Reis, mantinham em suas plantações o que era apenas suficiente para seu próprio consumo.
No Século XVII, Curitiba estava incrustada na Serra do Mar, cercada de barreiras naturais que impediam a comercialização do que aqui era produzido em outras localidades. A própria descida da serra era extremamente difícil e impedia que os produtos curitibanos chegassem sequer à Paranaguá com alguma competitividade.
Estamos no Século XXI, e a velocidade da comunicação é inacreditável. O produto Curitibano pode ser agora conhecido do outro lado do mundo no mesmo instante em que é produzido por aqui.
Exatamente por isso, é de se ponderar a necessidade de obrigar nossos artistas a migrarem para os “grandes centros”, impondo-lhe as dificuldades próprias de quem se submete a estas viagens em busca dos sonhos.
E se podemos produzir aqui, podemos também consumir aqui com todo certeza. E ao começarmos a consumir nossa própria cultura, além de nos livrarmos de padrões de aculturação dos outros grande centros, estaremos criando condições dignas para que a arte curitibana continue morando em Curitiba, e possibilitando aos artistas a opção de não se submetam às aventuras em outros estados, países, passando todo tipo de dificuldade para tentarem a sorte de um lugar ao sol.
Temos aqui inúmeros talentos, e viagens para outros centros, deveriam ser apenas para expor a outros públicos, a cultura que estamos produzindo por aqui. É da mesma forma admissível a viagem de artistas que buscam reciclar a sua arte, mas tornar Curitiba inóspita a estes artistas, é negar a nossa própria cultura.
Exatamente por isso, tanto quanto lançamos a campanha “Prestigie o Teatro Paranaense antes que ele vá para São Paulo”, gostaríamos de propor o início de um diálogo franco com o público, propondo também uma campanha de valorização de nossa cultura, e um movimento de criação de um centro de produção artístico em Curitiba.
Esta Capital tem o maior Festival de Teatro deste país, e não é difícil acreditar que podemos muito mais, mas o começo está aqui, na casa vizinha, ou no bar da esquina, ou naquele teatro que muitas vezes está vazio.
O começo depende de nossa capacidade de organizar esta evolução, tornando-a interessante aos empresários que por sua vez, devem entender que tanto quanto querem valorizar seus produtos fabricados por aqui, precisam valorizar a capacidade produtiva cultural de Curitiba. Existem leis de incentivo para isso. Existem assessorias de marketing que apontam bons patrocínios.
Os artistas por sua vez, devem buscar a força da união e da parceria, superando com ética a concorrência deste mercado hostil. Donos de bares devem começar a pensar em repassar na íntegra os valores cobrados a título de couvert artístico, abrindo mão um pouco de seu lucro, para finalmente ocupar um lugar honesto perante a cultura deste Estado.
E nós, como público uns dos outros, devemos ter o mesmo carinho para com nossos artistas, que nos desperta os primeiros acordes tocados no violão pelo nosso filho. Nossa capacidade de incentivar essa criança revela exatamente o tipo de pais que somos.
Passe essa idéia adiante, com a certeza de que ela é uma manifestação de nossa cultura, em favor de nossa cultura.
A Campanha está saindo nas ruas primeiro nas costas da camiseta da Companhia Anjos Boêmios, mas deverá tomar outros lugares também.
Para você que está no orkut, foi criada a primeira destas comunidades: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=49903005
Participe. Faça sua parte para testemunhar a capacidade de uma coletividade.
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