quinta-feira, 31 de julho de 2008

INFERNO ASTRAL (Samuel Rangel)

"Texto publicado no Domingo, 19 de Agosto de 2007, e escrito na tenebrosa primeira quizena de dezembro de 2006 "

Inferno Astral.

Dizem que as vésperas do aniversário, todos nós passamos por uma fase difícil, onde os problemas aparecem aos montes, e as coisas mais fáceis começam a dar errado. Apesar de ter escrito com muito carinho sobre o “Centauro”, nunca acreditei em astrologia, e esse lance de signos para mim sempre foi mera brincadeira.

Mas esse ano foi demais. Se eu não acreditava, devo começar a rever meus conceitos.

Na segunda-feira, tendo um daqueles surtos de bom filho, peguei meu querido papai e fui leva-lo à farmácia para tomar uma injeção, pois estava com tendinite no braço. Chegando na frente da farmácia, ele me pede que estacione o carro ali mesmo pois não iria demorar.

Saí do carro para fumar aquele cigarrinho básico e notei que um Voyage, meio “veiagem”, morreu bem no meio da pista, e não havia diabo que o fizesse funcionar. Logo atrás daquele bólido havia um Fiesta. Enlouquecido pela inércia do paquiderme metálico, o doce condutor do veículo, sem dar aquela olhadela no retrovisor (atitude que deixou de praticar em função de estar mais ocupado com os xingamentos mais clássicos e cabeludos do trânsito) manobrou para a esquerda mudando de faixa sem sinalizar.

Em contra partida, uma desvairada psicopata ensandecida que conduzia um belo Audy A3 vinha trafegando em velocidade de autódromo. Quem sabe por não saber qual a função do pedal do meio, a criatura nem freiou. Pronto, aquele som característico e após colidir com o Fiesta, o Audy desgovernado começa a escorregar, escorregar, escorregar e pronto: demoliu a traseira do Espero. Passados uns cinco segundos é que lembrei que o carro estacionado ali, com a bunda deflorada pelo Audy psicopata, era o meu.

Soltei um Puta que Pariu com as mãos subindo a cabeça. Olhei para dentro do Audy e vi a mulher em prantos. Preocupado com seu bem estar dei-lhe o atendimento necessário. A senhora está bem? Perguntava o ignorante aqui. Ela com cara de quem está com a polícia à sua porta. Fechou os vidros e não me respondia. Apenas chorava.

Percebendo que a chorona havia fechado o vidro e esquecido de travar a porta, com um movimento objetivo e habilidoso no trinco, abri a porta, olheia para ela e comecei a acalmá-la para tentar uma primeira conversa.

Após acalmá-la retirei o veículo dela do meio da rua enquanto ela destruia uma caixa de lenços descartáveis.

Legal. Tudo vai ficar bem.

Anotei a placa do veículo, trocamos telefones, e pronto. Em um mês eu teria a bunda do meu carro reconstruída em alguma oficina.

Depois de correr a semana inteira atrás de orçamento para o concerto do meu bólido, hoje recebi a maravilhosa notícia de que a seguradora da Dona Fulana Fitipaldi, não irá pagar meu prejuízo, pois ela não tinha a menor culpa.

Agora sim. Agora eu entendo. Hoje então eu percebi que o culpado sou eu por ter nascido, é claro.
Saindo da seguradora, o meu carro ferveu, pois com o choque quebrou o reservatório de água. Cheguei ao estacionamento com uma chaleira daquelas que apitam. Puta que o Pariu de novo.

Mas tudo vai melhorar.

Chego no escritório e são apresentadas as contas do mês de novembro. Puta que o Pariu 19 vezes. É impossível piorar (que cagada ter pensado isso).

Um querido cliente meu me liga e comunica que o pagamento de outubro, que estava atrasado, só viria em fevereiro. Até lá eu dou um jeito de assaltar um banco ou coisa assim. Oitenta Puta que Paris bem sonoros.

Ensandecido com a situação soltei um belo tapa sobre a mesa. Quando pensava que o tapa era o desabafo, Ana, a querida estagiária, grita bem alto: "Filho da Puuuuuuuuuta".

Fazer o que?

Como fiquei meio nervoso demais, resolvi mandar este texto só para te encher o saco um pouquinho, porém, gostaria de advertir quanto algumas situações.

1) Se nos encontrarmos no centro por acaso, evite sorrir pois vou achar que você está tirando sarro da minha situação.
2) Quando me encontrar não pergunte se esta tudo bem, pois a resposta poderá ser um tanto quanto ríspida.
3) Ao telefone evite perguntar onde vou, pois meu transporte esta meio comprometido e eu posso achar que você está tirando sarro da minha cara novamente.
4) Na quarta-feira que vem, quando estivermos comemorando o meu aniversário, evite fazer comentários sobre carro, trânsito, seguradoras ou coisas do gênero, pois poderemos ter um problema de relacionamento.
5) Se você tiver um carro novo, evite mostrar para mim. Use o estacionamento mais próximo e não me faça inveja (Pelo Amor de Deus).
E no mais, estou indo embora (de ônibus)

terça-feira, 29 de julho de 2008

A REVOLTA DA NATUREZA (Samuel Rangel)


Eu que fui criado em uma Curitiba bem mais atrasada, onde assaltos eram coisas de notícia do Jornal Nacional apresentado por um Cid Moreira de cabelos ainda escuros, fui influído por esses modos brejeiros, e aqui vai minha confissão: Não cheguei a matar muitos passarinhos, mas peguei uma centena deles em uma arapuca com desarme automático que eu mesmo aprendi a fazer com meu avô.

Naquela época, jogar papel na rua (perdão pela minha ignorância), deixar a torneira aberta, e sair sem filtro solar, era coisa comum. E já havia alguns loucos pela rua gritando que a natureza iria se revoltar contra o homem. Hoje, com a realidade do aquecimento global, tenho já as minhas provas da revolta da natureza. E eu que nem acreditava que a natureza tinha sentimentos, sofro diretamente a sua revolta.

A primeira delas senti em 1988, quando subia a escadaria da UFPr para encontrar a minha namoradinha e colega de curso de direito. Quando faltava menos de um metro para chegar a porta, fui atingido no ombro por uma senhora cagada de uma daquelas malditas pombas.

Era um presságio.

Mas o tempo passou e esses meus modos não mudaram muito. Até ensinei minha sobrinha a fazer a arapuca, apenas tomando o cuidado de ensiná-la a soltar os passarinhos após a captura dedica única e exclusivamente para a admiração e o contato com a ave.

Agora os agrotóxicos utilizados pelas plantações do interior, fazem com que as aves venham se abrigar justamente na cidade grande. Uma enormidade de espécies estão sobre nossas cabeças, e para quem se assustava com uma cagada de pardal, de sabiá, ou na pior das hipóteses de uma pomba, agora anda por aí com a cabeça à prêmio debaixo de uma garça, de um colheireiro e de tantas outras aves, cujo poder de lançamento é proporcionalmente superior à bitola da cloaca.

E a maior prova disso é o meu bom e velho Espero, que vive ali fora, ao relento, sendo bombardeado todos os dias por esses seres alados e vingativos.

A natureza está se revoltando, e meu carro sumindo debaixo dos esparrames mais insólitos que se possa imaginar. Qualquer hora dessas, a saúde pública recolhe meu carro, isso se for mais rápida dos que as blitz da lei seca.

Tudo bem. É só da boca para fora, mas as vezes acho que perdi a oportunidade. Por mais absurdo que pareça, acho que deveria ter matado aquelas avezinhas, pois seus descendentes miram caprichosamente meu bólido. E algum ecologista vai dizer: Que absurdo Samuel!
Pois é. Mas se eu tiver que lavar o carro todo dia, eu não estarei gastando a valiosa água que ameaça abandonar o planeta? Agora fico eu com esse penico ornitológico automotivo sem poder fazer absolutamente nada.

A natureza está se revoltando, mas para toda ação, uma reação!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O COXA E O HOSPITAL DAS CLÍNICAS, BERNARDINHO NO FLAMENGO E OUTRAS COISAS DO FUTEBOL (Samuel Rangel)

Há algum tempo, eu escrevi algo sobre um Campeonato Brasileiro dos sonhos, sem aquelas cagadas homéricas que os árbitros no melhor estilo Didi Mocó insistem tanto em fazer. Falei sobre os quatro pontos roubados do meu Glorioso Alviverde, na arbitragem mafiosa dos jogos Coritiba e Cruzeiro, e São Paulo e Coritiba. Esses mesmo quatro pontos que colocariam o Coritiba brigando pela quarta posição no campeonato.

Sim. E falo apenas destes quatro pontos, pois os demais, ainda que a arbitragem insista em prejudicar o Verdão, podemos dizer que o Coxa perdeu sozinho mesmo. Algumas vezes apresentando um futebol estranho, outras vezes jogando razoavelmente, mas na metade das oportunidades, deixando o resultado favorável escapar.

Como torcedor Coxa, eu não deixo de torcer pelo time, mas também não posso dizer que ele me enche de orgulho tanto quanto foi no primeiro jogo do Campeonato. Lembro-me de Michel colocando os palmeirenses na roda, e por incrível que pareça, o mesmo Michel que conseguiu perder um Gol debaixo da trave no jogo Goiás e Coritiba, deixando escapar uma vitória que não se pode aceitar. Sim. Perdeu um gol que acho que até o Lula, tão acostumado a fazer cagadas, tão mal assistido, faria com a maior facilidade.

Mas agora, com Michel viajando para o Japão, aquilo é passado. Temos que falar em projetos futuros.

A primeira idéia que gostar de sugerir ao comando do Alto da Glória, seria a imediata aquisição do Hospital das Clínicas, por que uma enfermaria é pouco para os feridos de batalha de nosso time. Pelo tanto de gente aos cuidados do setor médico, acho ainda de bom alvitre que o time pense na ampliação das instalações daquele hospital.

E ontem, enquanto assistia ao jogo, deixe escapar uma manifestação que agora divido com o leitor.

O JOGO DE ONTEM CORITIBA E IPATINGA ME EMOCIONOU.
SIM! POIS A RAIVA TAMBÉM É UMA EMOÇÃO.

Mas são coisas do futebol, e o que vale são os 3 pontos.

Coisas que não são do futebol, é o que aconteceu no jogo Flamengo e Portuguesa. Ao mesmo tempo que sugerimos o a aquisição do Hospital das Clínicas para o Coritiba, sugerimos ao nosso conterrâneo Caio Junior que vá para o Oriente Médio. Ele que vá curtir suas mil e uma noites com os petrodólares, pois pelo tanto que o Flamengo usou das mãos ontem, rumores começam a rondar a Gávea apontando que o técnico Bernardinho está sendo sondado pelo Urubu.

Contratação por contratação, Leandro Amaral é Tricolor ou não? Pelo gol que perdeu, fez de Michel novamente um craque. Mas considerando um gol feito perdido, e um gol perdido feito, Leandro Amaral está tão em cima do muro quanto foi o resultado de 3x3 no clássico Carioca. Nem Vasco, nem Fluminense. Apenas, Leandro Amaral.

Quanto ao Atlético Mineiro? Esse resolveu jogar só contra o Coxa. E isso prova bem que o time do Coxa é bom. Bom de coração. Não pode ver ninguém em maus lençóis que vai logo dando uma mão e reabilitando os moribundos. Se não fez isso com o Ipatinga ontem, é por que o Ipatinga tem um carma com o Couto Pereira. Se o leitor não sabe qual carma é esse, a sugestão a leitura do texto escrito no mesmo confronto no ano passado ( http://anjosboemios.blogspot.com/2007/09/coritiba-1-x-0-ipatinga-o-mineirinho-o.html )

Aliás, falando de Ipatinga, foi uma noite que o futebol mineiro quer esquecer, pois além das derrotas de Ipatinga e Atlético Mineiro, o Cruzeiro tropeçou no poderoso Goiás. A Raposa, o Galo e o Tigre parece que hoje terão que visitar o veterinário, e até estão pensando em convidar o personagem Disney, o Bamby, que Báh Tchê! Macho que é macho ganha de dois a zero!

Aliás, é certo jogar bem em Porto Alegre, o São Paulo gosta mesmo é de jogar bem pelas terras gaúchas quando é contra o Atlético Paranaense, esse mesmo que joga contra o Sport hoje, o Décimo Quarto contra o Décimo Sexto em disputa direta pelo beiral do campeonato, mas ambos agradecendo o empate da Portuguesa ontem, que continuou em décimo quinto com uma mãozinha do árbitro, e com uma mãozinha nos gols mesmo.

Aliás, duas mãozinhas.

Mas isso são coisas do Futebol, ou não!

terça-feira, 22 de julho de 2008

LEVANDO A ESPOSA AO TEATRO PARA VER A PRODUÇÃO

Então, nesta terça-feira, você amanheceu especialmente romântico, e resolveu premiar sua mulher com um programa diferente no sábado. Desta vez você não irá naquela churrascada dos amigos, que sempre que se reúnem, acabam realizando uma Festa de Baco, e você acabava no colo de sua mulher chorando seus traumas de infância. Mas você só falava com ela por que ela era muito sua amiga. Desta vez você resolveu premiar a paciência dessa santa que te agüenta há tanto tempo. E você vai logo falando para ela:

- Benhê! Sábado vamos ao teatro!

Ela sorri, pula, comemora, e finalmente acha que vai ter um sábado decente ao seu lado, e já liga para a mãe para cuidar das crianças no sábado.

Então, você ouviu falar que há uma peça “super chique” em Curitiba, e resolve ligar para o teatro para comprar seus ingressos:

- Minha senhora. Eu estou pretendendo assistir esse espetáculo. Ainda há ingressos?

Do outro lado ela responde:

- Sim meu senhor. Ainda restam alguns ingressos.

Você animado, lembrando que perdeu o show do Daniel que tanto sua mulher queria assistir, por não ter reservado o ingresso com antecedência, fica orgulhoso de sua perspicácia, e vai logo dizendo:

- Quero dois. Quanto custa?

E do outro lado vem a resposta:

- A meia-entrada varia de R$ 163,00 a R$ 73,00, de acordo com o setor do teatro.

Então você leva um susto, engole seco, e pergunta:

- Ok. E a meia entrada?

Ela responde:

- Esse já é o valor da meia entrada.

Então você faz de conta que é engano, e desliga rapidamente o telefone. Sua esposa ao lado, pergunta se você conseguiu o ingresso.Você fica sem resposta, e ela já adianta:

- Neste final de semana, eu quero ir ao teatro. Você prometeu! Lembra?

Nervosa, ela já começa com as máximas do casamento:

- É sempre assim! Você sempre promete mas nunca cumpre! Toda vez que você diz que vai me levar para sair é a mesma coisa! Nenhuma vez dá certo! (Segundo o especialista em relacionamento Leumas Odracir Legnar, as discussões de casais são dominadas pelas expressões "Sempre, Nunca, Toda Vez e Nenhuma Vez").

Então você descobre que está numa enrascada.

Mas calma. Nós temos a solução! Vamos primeiro aos cálculos.

Se a meia custa R$ 163,00 é provável que a inteira custe R$ 326,00.

Então se acalme e ligue já para a sua esposa e diga que vai levá-la ao teatro. Nós temos uma sugestão para você.

Como nem você, e nem sua mulher têm carteirinha de estudante, você pagaria R$ 326,00 cada ingresso. Então acompanhe, não se afobe, respire fundo e não desvie seu olhar. Siga o chefe:

Par de ingressos para Analice em Busca do Homem Perfeito : R$ 40,00

Estacionamento do Teatro : R$ 10,00

Assistir a uma história de bar e rir muito? Não tem preço!

E você ainda guarda R$ 276 para usar a imaginação, e ter um domingo fino ao lado da patroa.

Mas espere, se você fosse com sua mulher naquela peça, seria o dobro R$ 752,00. Opa. Espera aí. E não é tudo.Então dá para fazer mais que isso.

Você pode ir de táxi para o teatro Fernanda Montenegro, o que não deve custar mais que R$ 20,00, a menos que você more em Colombo.

Mas tem mais!

Chegando no teatro, você ainda pode tomar uma latinha, ou duas, ou mais. A cerveja Skol, na peça Analice em Busca do Homem Perfeito, é vendida ao público por R$ 2,50.

Mas espere. E isso não é tudo.

Você pode pegar um táxi e ir até a Cervejaria Anjos Boêmios, comemorar junto com o elenco, ouvindo Beto Dias, Kátia, Flavinho Banderat e Samuel Rangel com muita MPB. Já imaginou? A noite que você está proporcionando a sua mulher?

Sobra bastante dinheiro para você tomar uma cervejinha tranquilo, comer uma porção de frios, ou uma picanha na pedra.

Mas ainda não é tudo.

Com o dinheiro que sobra, você ainda pode pegar um motel com sua esposa, coisa que você não faz desde o primeiro ano de namoro. Imagine só. Sua sogra cuidando das crianças para você ir ao teatro, e agora você liga as 4 da manhã, acorda a velha, e avisa que o casal não vai dormir em casa por que vai pegar um motelzinho. Era tudo que você queria fazer quando namorava, e dessa vez, sua mulher estará ao seu lado.

Já imaginou? Pense na cara da sogra! Não tem preço!

E além de tudo isso, ainda há que se considerar uma coisa. Você está prestigiando o Teatro Paranaense antes dele ir para São Paulo.

Mas ainda não é tudo. Você estará assistindo uma peça que não recebe qualquer incentivo previsto em lei, e que o único patrocinador é o público.

Exatamente.

O nosso incentivo é o público, que também é o nosso patrocinador, nosso protagonista, e nosso enrendo.

ANALICE EM BUSCA DO HOMEM PERFEITO
TEATRO FERNANDA MONTENEGRO, 26/07 21 H

quarta-feira, 16 de julho de 2008

OK. UMA SALVA DE PALMAS PARA A LEI SECA (Samuel Rangel)

Tudo bem. Eu me rendo. A Lei Seca surtiu bons efeitos. Não só pela lei, mas pela fiscalização rigorosa que a Polícia tem exercido, bem como, pela parceria com os meios de comunicação que estão sempre registrando os flagrantes das prisões.

E já que não se pode questionar, o negócio é curtir o resultado.

O Jornal Hoje da rede Globo veiculou uma matéria onde foram registrados dois flagrantes de motoristas bêbados. Um deles, ao ser perguntado se havia bebido, respondeu apenas:

“Bibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibibi!” (Se ainda não viu, acesse o vídeo aqui
E lamentavelmente a matéria acabou. Quando vi aquilo, percebi que aquele era um bêbado de verdade. O outro, informava que só bebeu porque mora logo ali. O logo ali era nada mais nada menos que 10 km do local onde acertou um muro. Lógico que não me escapa ao juízo a certeza de que isso poderia ter sido uma tragédia, mas graças à Deus, e acho que a uma força grande de Santo Onófre, o que poderia ser uma tragédia se reservou no âmbito da comédia. E confesso que me diverti muito vendo a eloqüência destes verdadeiros pudins de cana.

Aliás, eu que ando tão satisfeito com a atuação de Cleiton Amorim na interpretação do bêbado Pudim, da peça Analice em Busca do Homem Perfeito, acabo tendo uma nova referência em relação aos cachaceiros. Se não soubesse que eram bêbados de fato, qualquer um deles acabaria por roubar o papel desse que considero um dos grandes atores paranaenses, e que tenho orgulho de tê-lo no elenco de algumas peças de nossa companhia.

Até procurei o vídeo na internet para poder dividir com os leitores, mas não consegui achar, pois acho que qualquer um dos dois tem material apto a colocar até o famoso Jeremias em segundo lugar. A verdade é que quando as notícias vão chegando, vou cada vez mais concordando que a Lei Seca faz sentido.

Tanto é verdade, que um grupo de bebuns que andava se reunindo em um tradicional bar de Curitiba, fez um minucioso mapa de roteiros alternativos para escapar das “blitz”.

E você deve estar achando os caras geniais. Só que como todo e qualquer bêbado, são geniais até o copo X, mas quando bebem o Y, ninguém merece.

A verdade é que os “gênios do mal” ou da logística ébria que criaram o roteiro alternativo, acharam-se tão inteligentes que publicaram na internet o mapa desse roteiro, demonstrando claramente a benevolência e o altruísmo desses ébrios.

E é lógico que ganharam adeptos de imediato, inclusive o comandante de operações do BPTran, que agradece antecipadamente as próximas prisões que serão realizadas nas próximas noites.
Parabéns “pudinzada”. Vocês são geniais!

Agora tenho que registrar. Procurando os vídeos na internet dessas prisões na internet, acabei me deparando com alguns momentos de absoluta insanidade ao volante.

Sem preconceitos, e apenas a título de diversão, indico o vídeo no endereço abaixo.

Um grande abraço a todos.

http://www.youtube.com/watch?v=hIuprWXwTVk&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=hIuprWXwTVk

terça-feira, 15 de julho de 2008

LULA, O BÊBADO E O BOÊMIO (Samuel Rangel)


Neste país onde confundem inocente com bandido, banqueiro com inocente. Onde o craque confunde travesti com mulher de programa, e o Presidente vive confuso, temos uma valiosa colaboração. Após anos de estudo como autodidata, num esforço profundo, algumas diferenças se tornaram claras. Não podemos confundir um bêbado, com um boêmio ou com um presidente.

Primeiro vamos falar do boêmio. Nesses meus vinte e poucos anos de boemia, de tanto fazer laboratório e de tanto observar a noite e os bares, desenvolvi a capacidade de diferenciar algumas coisas. E acredite que, para o boêmio, é fundamental que saiba diferenciar as coisas, caso contrário, você pode levar um susto ao acordar na casa daquela loiraça.

Sim. Aprender a diferenciar as coisas é fundamental para o “botequeiro”. Primeiro por que a noite não é para as crianças nem para os incautos. Ele precisa saber encontrar um bar onde possa realmente relaxar tomando uma boa cerveja, pois alguns botecos, sempre recebem a visita de algum fortão de humor curto, que pode acabar invocando com a sua gargalhada.

O boêmios têm que saber diferenciar a bebida também. É sabido que cada bebida reage de forma diferente em cada indivíduo. Exemplo disso é o Whisky que sempre me deixou burro e nervoso. Cá entre nós, não é uma condição muito favorável à uma noite agradável. Adaptei-me então a boa e velha cerveja, que me deixa burro e com sono. Mas da mesma forma que existe whisky falso, capaz de desenvolver uma dor de cabeça do tipo gravidez indesejada, também cada cerveja tem uma característica e uma reação. Tem aquela que é razoável, mas no dia seguinte a porção de batatas fritas tem a mesma reação que uma feijoada. Também tem aquela que nem gelada. Tem a cerveja que esvazia bar. Tem aquela que quando fabricam pensam que é vinho francês. E lá está o boêmio diferenciando e escolhendo tudo, dentro de suas capacidades financeiras. Absinto? Só louco toma esse negócio azul. Aliás acho que o patriarca da família Simpson deve ter tomando um porre daquilo.

Mas o boêmio também tem que aprender a distinguir pessoas. Não raras vezes nos sentamos em um banquinho vazio no balcão, ao lado daquela gostosa. Após se apresentar, em não mais que cinco minutos, descobrimos o motivo daquela banqueta privilegiada estar vazia. Ninguém merece. Também temos que distinguir a mulher em relação à perspectiva que ela nos passa. Existe a mulher garantia de sucesso, a mulher possível, a mulher difícil, e a improvável. O boêmios tem que se concentrar nas possibilidades e, levando em conta o que pretende para a noite, decidir e dedicar-se a uma dessas possibilidades.

Mas o fundamental é que o boêmios saiba diferenciar o boteco, de sua casa e de seu emprego. Se não aprender isso, provavelmente não resistirá na noite, pois acabará tratando o garçom como seu chefe, a mulher como garçom e o chefe como sua mulher. Isso criará problemas inomináveis para o boêmio. Ele estará deixando de ser boêmio para tornar-se um bêbado.

Então é fato. Boêmios são antenas ligadas que estão o tempo todo a observar, diferenciar e se adaptar ao meio onde estão, agindo, interagindo ou se isolando de acordo com o ambiente.
Nessa história de aprender a diferenciar, entre os meus goles de cerveja, observei e diferenciei cinco tipo de bêbados clássicos. O Filósofo, o Chato, o Chorão, o Brigão e o Catatônico.

O Filósofo é aquele dono de devaneios incríveis, e é capaz de te conduzir a horas de reflexões e idéias, mas normalmente, ele anda acompanhado dos Catatônicos, que ficam ali, imóveis e indiferentes a tanta filosofia. Normalmente quem reage ao filósofo é o Chato, que não pode ver alguém falando para logo ir se apresentando e perguntando qual é o tema da conversa. Exatamente por isso, quando o chato entra na conversa, não levará mais que alguns minutos para que o Brigão venha tirar satisfação do motivo de tanto riso. E quando a primeira bifa cantar na orelha do chato, desce do lustre o chorão, emotivo, pregando a paz mundial, e lembrando de suas 27 ex-mulheres, dando conselhos de todo o tipo.

Exatamente por conhecer bêbados, e por muitas vezes estar entre eles, acho que devemos desfazer um equívoco muito comum hoje. Lula não é bêbado. Vejamos as diferenças:

Bêbado bebe no bar e não em casa, pois a mulher não deixa ele beber nem na churrasqueira. Quem bebe em casa é Inconveniente mesmo. Um infeliz que não é bem recebido em nenhum boteco.

Bêbado não bebe com a mulher, pois nem a própria mulher aguenta beber com o bêbado. Além do que, ninguém lembra onde mora no final da noite. Quem bebe com a sua própria mulher, é papagaio de coleira mesmo.

Bêbado não fode com ninguém, pois normalmente ele é o primeiro a se foder. Quem fode com todo mundo não é bêbado, é sacana mesmo (não vamos falar da mãe de ninguém).

Bêbado não tem segurança, pois o segurança é do bar, e normalmente não estão lá para proteger o bêbado. Pelo contrário. Normalmente é o primeiro a sentar uns sopapos no bêbado. Quem tem segurança é por que, ou fez cagada, ou está fazendo, ou vai fazer.

Bêbado não tem motorista, pois prefere gastar a grana em cana mesmo. Quem tem motorista é por que não sabe dirigir porra nenhuma.

Bêbado não tem assessor, pois quem assessora o bêbado ou é o garçom quando serve, ou é o segurança quando o conduz para fora do bar, ou a polícia quando o conduz para a delegacia, ou a mulher em casa na ida para o chuveiro. Quem tem assessor é aquele que não consegue se virar sozinho mesmo.

Bêbado não leva a mulher em recepção de autoridade, pois a mulher não quer ir passar vergonha. Quem leva mulher em recepção é fresco mesmo.

Bêbado não tem puxa-saco, pois ninguém bate palmas quando o cara faz cagada. Podem até rir dele, mas bater palmas não. Quem tem puxa-saco batendo palmas quando faz cagada é político mesmo.

Bêbado não pega o que é dos outros, pois mal pode cuidar do seu próprio copo, do seu isqueiro bick, e de seu fiofó. Quem pega o que é dos outros é ladrão mesmo.

Bêbado não dirige Brasília, pois com a Lei Seca, até bêbado sabe que vai se ferrar na mão da Polícia. Quem dirige Brasília, mesmo após ter bebido, é ignorante mesmo.

Por último, dizem que o último orifício do sistema digestivo do bêbado não tem dono, e isso basta para provar que o Lula não é bêbado. Na realidade não e no dele que está ardendo essa sacanagem toda.

No mais ....

segunda-feira, 7 de julho de 2008

MOTOBOY PERDE BÊBADO NO CAMINHO PRA CASA (Samuel Rangel)

Uma empresa de Motoboy será processada pela família de um bêbado desaparecido. Edivancléya Leite Assunção Onófre, esposa do bêbado, disse ter recebido a ligação do marido por volta das 4 horas da madrugada de sábado, informando que estava indo para a casa utilizando o serviço de Motoboy da empresa “É NOIS NA BIKE MANO”! Por volta das cinco horas da manhã, Edivancléya viu a moto estacionar na frente da sua casa, e quando saiu para receber o marido, percebeu que não havia ninguém na garupa. Ao perguntar onde estava o marido, disse que o motoqueiro respondeu: OPA!, e saiu com a moto em alta velocidade, mas ainda assim Edivancléya conseguiu anotar o nome da empresa.

“É uma irresponsabilidade”, disse a esposa. “Nós vamos procurar nossos direitos, vamos contratar um Divogado, ajuntar nossos Dicumentos, e entrar com um processo!”, arrematou a suposta viúva irritada.

Segundo informações da agência, o Bêbado desapareceu no caminho de casa, da garupa da motocicleta, no bairro Sítio Cercado, e segundo o motoqueiro que foi ouvido pela nossa equipe, ele não tem culpa. “Eu não posso segurar o guidão da moto e o bêbado ao mesmo tempo. Entreguei bem uns cinquenta naquela noite e não tive problema. Exatamente no último é que aconteceu essa tragédia.”

Procuramos a empresa de entrega de mamados em virtude da possibilidade de caracterização de uma jornada de trabalho excessiva, mas fomos informados que eles só falarão em juízo. Segundo informações da nossa consultoria jurídica, a obrigação da empresa é de levar o bêbado até a sua casa, porém, segurar-se em cima da moto é obrigação dele mesmo. “Até pedimos aos bêbados que não parem de falar no caminho para que o motoqueiro tenha certeza de que o cidadão está ali.” arrematou o representante da empresa.

O Sindicato dos Motoboys manifestou sua revolta contra os comentários sobre a culpa do motoqueiro. “Ou as empresas equipam as motos com um sinto de segurança para bêbado, ou terão que contratar “lulas” para dirigir as motos, pois teríamos que ter vários braços para a execução desse serviço. O representante do sindicato informou que a lula a qual se refere, é o animal mesmo. Indagado qual animal, ele informou ser o marinho. A maior concorrente do mercado já está equipando suas motos com um carrinho de terceiro eixo que vai acoplado na lateral da moto. “O nosso bebum não cai de jeito nenhum”, informou o proprietário usando do slogan da sua empresa, demonstrando bastante felicidade pelas previsões de lucro fácil.

Não é certeza que o bêbado tenha caído no percurso ou mesmo tenha descido da moto voluntária e sorrateiramente em algum sinaleiro para não pagar o transporte. Segundo o Chico, ele foi visto na manhã de sábado no bar do Marmota tomando "umas". As autoridades não instauraram o inquérito ainda, pois para configurar o desaparecimento, existe um prazo legal, mas no caso de bêbado, esse prazo nós enxergamos dobrado, disse o delegado.
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Importante:

Tudo bem, isso aqui é uma brincadeira. Não aconteceu, ainda, mas pelo rumos que as coisas estão tomando ....

Texto inspirado em conversa com a amiga Dani Mickosz quando conversávamos sobre as idéias da Cervejaria Anjos Boêmios sobre a nova Lei de Trânsito. (para acessar o texto, http://cervejariaanjosboemios.blogspot.com/ )

quinta-feira, 3 de julho de 2008

MARCÃO, TANG E O REPOLHO (Samuel Rangel)

Então, num sábado, Marcão aguarda atento o início do jogo do Atlético. Ele é daqueles fanáticos que coloca até a toca longa para assistir ao jogo em casa. E lá está o cidadão, roendo as unhas esperando o começo do jogo Grêmio e Atlético, que comprou na TV a cabo.

Quando falta pouco mais de quinze minutos para começar o jogo, sua mulher vem até ele, com o barrigão de nove meses, onde se encontra o sexto filho do casal. Então ela passa a ele uma listinha de mercado. Quando ele pergunta se pode ir depois do jogo, a mulher faz aquele beicinho de grávida e ameaça ter um chilique.

Ele então, cônscio de sua função de pai e de mantenedor da paz doméstica, pensa que não irá perder mais que dez minutos de jogo se for no mercado, pois não é a mais que três quadras de seu apartamento. E sai correndo para realizar as compras da patroa.

No corredor do décimo andar, ao chegar ao elevador, percebeu que a sorte não estava do seu lado. O elevador estava no nono andar, mas estava descendo. Foi parando de andar em andar, até chegar ao térreo. Na volta, veio repetindo a escala. Andar por andar. Quando abre a porta, Marcão está pronto para meter a mão em algum moleque brincalhão, mas para sua tristeza, é um cidadão de dois metros de altura com um macacão cinza, fazendo a manutenção do elevador. Ele entra em silêncio, e vê o elevador subir até o décimo oitavo andar parando um por um. A cada vez que o elevador abria a porta, Marcão chacoalhava as pernas como se quisesse ir ao banheiro.

O técnico do elevador olhava aquilo com estranheza, mas não falava nada e continuava a apertar os botões, um a um. Quando chegou ao térreo com o terço rezado, Marcão saiu em disparada, mas antes que transpusesse a portaria, Vantuil, o porteiro gago lhe parou pelo braço.

Marcão disse que não podia esperar o desembuche das palavras, e saiu correndo. No mercado, encontrou uma enorme fila, mas manteve a sua postura de pai responsável. Fez as compras da lista, entrou na fila, e após uma espera de uma velinha que comprou uma batata, um saco plástico, uma cenoura, outro saco, um tomate, outro, uma banana, tendo frequentado todas a bancas do setor de verduras, frutas e afins, vê o leitor do código de barras do mercado falhar após uma queda súbita de energia. Então a caixa passa novamente todos os cento e dezessete saquinhos, um por um, digitando aqueles 23 números de cada código de barra. Marcão então pensa: Marquei de não trazer o rádio com os fones de ouvido.

Após uma correria enorme até seu prédio, chega e pergunta ao porteiro enquanto espera o elevador: O que você queria Vantuil?

As palavras chegam aos pedaços na boca de Vantuil, e Marcão não entende nada. Quando chega o elevador, Marcão desiste, mas antes que a porta se feche, ouve Vantuil alcançar êxito e dizer: - Sua mulher precisa também de um repolho, uma bolacha de chocolate e dois pacotes de Tang. Marcão não acredita, mas sobe tranquilamente imaginando que poderia colocar a culpa no porteiro gago.

Quando abre a porta, antes que possa falar qualquer coisa, a sua mulher lhe pergunta com a ansiedade de uma criança de 3 anos: - Trouxe minha bolacha, não trouxe? Eu estou morrendo de desejo!

Quando Marcão menciona o nome de Vantuil, a mulher desaba em choro, e começa a ter uma crise nervosa. Ela quer mudar de apartamento, quer matar o porteiro e continua querendo comer bolacha de chocolate com Tang. A criançada corre para a sala e começa a perguntar o que está acontecendo. Então Marcão vê na televisão que o jogo está no 44 minutos do primeiro tempo. Ele percebe que é melhor perder o intervalo, do que perder o segundo tempo. E lá vai ele, mas dessa vez com mais sorte.

O elevador está esperando Marcão, que entra correndo e vai direto para o térreo, sem parar em nenhum andar. Quando sai do elevador, da de cara com a assombração do porteiro, que lhe segura pelo braço e começa a gaguejar. Dessa vez não. Marcão, aprendeu com a lição anterior, e calmamente esperou ele conseguir falar. Desembucha Vantuil! Desembucha Vantuil! Até que, sua mulher quer uma bolacha de chocolate, um repolho de dois pacotes de Tang. Marcão irritado disse já saber disso, e então Vantuil apenas diz que para um porteiro competente é melhor passar um recado duas vezes que esquecer dele. Essa frase ele tinha decorada. Quase como uma canção.

E lá vai Marcão, lamentando profundamente o tempo que perdeu com o porteiro. Ao chegar no mercado, encontra o mercado vazio, sem fila algum nos caixas. Cruzando os corredores do mercado como um entregador de jornais, sem parar nenhuma vez, consegue realizar a compras em não mais que 30 segundos. Chega ao caixa com ares de campeão, e olha para todos com orgulho, como se dissesse a si próprio o quanto havia sido rápido. Até o valor da conta conspirava a seu favor. R$ 5,00 exatos.

E lá vai Marcão correndo reto até seu apartamento com a sacolinha na mão. Quando chega em casa entrega a sacola para a sua esposa e corre para a frente da televisão, mas antes de ver o jogo começar, ouve sua esposa dizer: Eu não acredito! Você esqueceu a bolacha e o Tang? Sabe o que eu quero que você faça com esse repolho? O Juiz apita, e Marcão segue reto para o elevador, passa pela portaria, cruza a primeira quadra, a segunda, chega na terceira, passa de lado pela porta automática do mercado, faz um curva brusca para a direita e segue furioso para o caixa 17. Lá chegando dispara: Eu comprei a bolacha e o Tang e ao chegar em casa, só tinha um repolho. A senhora lembra-se de mim?

A caixa disse que sim, mas informou que havia embalado a bolacha e o Tang em outra sacola. Ao ser indagada sobre a restituição da sacola faltante, a caixa diz não ser possível. Marcão tem um surto dentro do mercado, e como todo bom brasileiro, sabendo dos seus direitos, chama o gerente. O gerente lhe informa que não será possível reaver a sacola, pois depois que o produto passa pelo caixa, a responsabilidade é do cliente. Após uma discussão de cerca de 10 minutos, Marcão percebe que não terá outro jeito, e lembra-se do jogo que está perdendo. Então rapidamente, corre para o corredor da bolacha, depois do Tang, e volta para o Caixa. Na sua frente um cidadão passando o cartão de crédito, e nada de linha.

Vai ao outro caixa, e encontra a placa de fechado. A um terceiro, mas três carrinhos cheios de quinquilharias anunciam a má sorte. Vai ao terceiro, quarto, até que, encontra um caixa rápido. Quando passa os produtos, vem o valor da conta R$ 5,00. Então ele coloca a mão nos bolsos, e para a sua surpresa, não há nada. Então ele lembra-se de uma nota de cem que carrega na carteira. Sempre acreditou que aquela garopa lhe daria sorte algum dia. E lá está a nota de cem.
Entrega-a a caixa que imediatamente pergunta. O senhor não tem mais trocado? Ao mesmo tempo a luz do caixa se acende. Ninguém aparece, até que chega uma boa alma. Lá está Marcão chacoalhando as pernas, ao que a caixa responde apenas com o dedo indicador em direção ao banheiro.

E nada do troco. Marcão continua desfilando palavrões e reclamando do mal atendimento, mas quanto mais reclama, menos preça tem a caixa. Passa-se um tempão até que vem o troco, sendo boa parte em moedas. Então Marcão sai correndo para a casa, com a sonoplastia de um cofrinho de criança.

Quando entra no apartamento entrega a sacola à sua Mulher e corre para a televisão.
Ao olhar, o placar é de três a zero para o Grêmio. Marcão sente a fúria lhe subir pelas pernas.
Então sua mulher entra na sala: Eu não acredito que você perdeu as compras. Você perdeu a bolacha?

Marcão muito consciente já diz logo: - Não senhora. Está aí na sacola! Eu não perdi nada!
Diz a mulher - Eu sei que a bolacha está na sacola.

Marcão, então irritado, esquecendo-se da gravidez da mulher, dispara: Então! Não está aí? Por que que você vem me irritar com esta história de que eu perdi a bolacha? Eu não perdi nada! E chega! Deixa eu ver ao menos o final do jogo em paz.

Então a mulher arremata: Não perdeu? Tem certeza que não perdeu? E o que está fazendo esse outro repolho aqui?

Marcão, vendo-se encurralado, percebendo que tinha repetido a compra, diz logo: Eles devem ter mandado por engano.

As crianças olham aquilo com atenção, até que a mulher diz: Então está bem querido. Já que eles mandaram por engano, eu quero que você vá lá no mercado devolver este repolho.

Marcão levanta-se aos berros: O que? Devolver? Você está brincando?

A mulher responde: Não senhor! Você não vai dar mal exemplo para as crianças. Pode ir lá devolver. A César o que é de César.

O juiz apita o final do jogo, e Marcão pega o repolho irritado. Enquanto o elevador desce, Marcão relembra todos os passos da correria, e sente uma revolta que cresce na medida que o elevador desce. Quando chega ao térreo, Vantuil gentilmente abre a porta. Então Marcão tem a vontade de meter o repolho na cara de Vantuil, mas o pouco juízo que ainda lhe resta, diz que o pobre porteiro gago não tem culpa.

Marcão sai pela portaria e olha insistentemente o repolho, quando percebe que, além de ter perdido dinheiro no mercado, ainda terá que devolver um repolho pelo qual pagou.
Então a sua resposta vem de pronto. Vou tacar essa merda é na rua!

Antes que o cérebro coordene seus braços, eles já estão girando como num lançamento de disco olímpico. Duas voltinhas e o repolho sai da mão de Marcão em alta velocidade, quica uma vez na calçada, e vai em direção a rua.

Como se em câmera lenta, Marcão percebe com sua visão periférica que um automóvel se aproxima. Ele é branco. Mas espere, também é cinza e amarelo. E está entrando no seu campo de visão. Tal qual no programa do Silvio Santos quando abre lentamente aqueles envelopes, a Parati vai aparecendo, aparecendo, aparecendo, enquanto Marcão reza o Pai Nosso mais rápido que alguém já rezou. Mas perto do amém, a imagem que lhe aparece é nítida e terrível. O repolho vai direto contra a porta do carro da PM.

O carro para, e Marcão embarcou por trás, e sem pompas.

Não vou dizer nomes, mas dizem que aconteceu, em parte ou no todo. O que eu posso dizer que é verdade, é que eu sei de alguém que comeu esse repolho.