quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

COMO PASSAR A VIRADA DO ANO DENTRO DE UMA BRASÍLIA


Dezembro, 31, e o Jornal Hoje estampa uma imagem inacreditável. Os paulistanos estão enfrentando uma fila monstruosa para descer para o litoral. Quando vi a imagem hoje pela manhã, no bom dia Brasil, imaginei que pudesse ser algum efeito residual da cerveja de ontem, pois eu não conseguia identificar no pedágio lotado qual o sentido da pista. Esfreguei os olhos e voltei a dormir. Mas no Jornal Hoje, pude perceber que realmente a coisa é séria. Segundo comentários, eles estão seguindo a um ritmo de dez quilômetros horários, o que então significa que, para um percurso de 120 km, eles terão que passar doze horas dentro do carro.
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Imaginei então a cena clássica da brasília azul calcinha, descendo para o litoral sob a cuidadosa condução de Sebastião. Sebastião é esposo de Edivancléia, filha de Dona Ilá. Dona Ilá é uma senhora de um metro e meio, e com cerca de noventa quilogramas (ela até lembra Dona Marisa, mas a brasília de Sebastião é outra). Como a vida não lhe permitiu acompanhar a moda, sinônimo de praia é aquela camiseta regata de viscose, branca já meio amarelada.
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Sebastião conseguiu colocar os quatro filhos na brasília, o que exige muita organização, disciplina e alguns cascudos também. No chiqueirinho da brasília vai o isopor com a tampa quebrada. Pelo buraco se pode ver um frango defumado, duas Cidras Pulmann, uma Coca-Cola e um Salpicão de Frango. Também vieram as laranjas (a criançada gosta de pois de sair da água). Os pacotes de batata palha estão no porta-luvas. As malas foram desfeitas e as roupas foram colocadas em plásticos azuis de sessenta litros sob o capo do pequeno porta-malas dianteiro da brasília, que tem motor traseiro.
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Welington, Washington, Wesley e Wildiney conseguiram fazer um acordo e levar uma única bola para jogar suas peladas na areia, pois só ficarão até domingo. Eles dividem o banco traseiro do bólido, enquanto Sebastião, Edivancléia e Dona Ilá, dividem o banco dianteiro. Não há problemas, pois o que sobra nas ancas de Dona Ilá, falta em Edivancléia que de tanto trabalhar em casa de família, não teve a sorte de acumular gorduras. E o espírito de Edivancléia ainda ajuda, pois vez por outra ela cochicha no ouvido de Sebastião alguma “besteirinha” acerca do freio de mão.
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Quando chegam no pedágio, já estão suados, e a verdade é que não adianta. Tem gente que vai passar o reveillon em plena estrada. Mas não tem problema. Foi um ano bom pois Sebastião conseguiu tirar o nome do Cerasa, e Edivancléia está feliz com as famílias que anda atendendo como diarista.
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As horas passam ao ritmo do motor da brasília azul, e quando eles percebem, estão cerca de trinta quilômetros da casa do tio do primo de um amigo, onde deveriam passar a festa. Mas não haverá tempo. Repentinamente uma agitação começa a tomar conta da estrada, e dessa vez não são tantas as pessoas reclamando do engarrafamento. Alguns olham para o relógio, e repentinamente alguém grita: falta uma hora!
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Sebastião sorridente já olha para Edivancléia e comunica que a ceia deverá ser por ali mesmo. Edivancléia que não perde o bom humor por nada, já manda os meninos abrirem o isopor. Quando passa o vendedor de milho verde, Sebastião consegue um bom punhado de guardanapos que deverá servir de prato. A Coca-cola litro as crianças dividem e tomam no bico mesmo. Mas a cidra não. Isso é coisa chique que a gente tem que tomar no copo. Logo consegue com o vendedor de Caldo de Cana três copos de plástico para fazer o brinde. O salpicão fica no painel da brasília, a batata palha fica no pacote mesmo, e o frango defumado vai direto para o guardanapo.
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E lá estão eles comendo a ceia de reveillon, felizes e cantando a clássica “Adeus Ano Velho”. O cidadão do carro da frente começa a tirar alguns fogos de artifício e dispará-los iluminando os olhos brilhantes das crianças da brasília.
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Já com a Coca-cola na metade, Edivancléia pede para que as crianças guardem o resto para o almoço do dia primeiro . Os ossos da cocha do frango voam pela janela e a ceia está acabada. Alguém grita que faltam só quinze minutos. Uma euforia toma alguns enquanto outros motoristas solitários olham para o relógio indignados. A cidra é aberta e a rolha atravessa a pista para sumir na vegetação. Enquanto Sebastião vira o primeiro copo da cidra Pulmann, uma moto da Polícia Rodoviária para ao lado da janela do motorista. O Policial Rodoviário pede para Sebastião descer e logo lhe pergunta: O senhor está bebendo e dirigindo?
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Sebastião não se contêm e uma gargalhada lhe escapa: Bebendo estou, mas dirigir eu não consigo há mais de dez horas. O Policial ri, e com o espírito de festa, resolve deixar a transgressão para lá. Quando acelera a moto, ouve alguém gritar: E o senhor que está ultrapassando em fila dupla? O policial percebe que está errado, pois as motos têm que respeitar as faixas que dividem a pista, mas irrita-se com aquilo e faz a volta.
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Quando pretende identificar o autor do insulto, alguém do outro lado grita: Olha o Policial andando na contra mão! Incrivelmente uma multidão começa a descer dos carros e se opõem a investida da autoridade. Quando o Policial percebe aquilo, alguém se aproxima e lhe oferece um gole de cerveja. O Policial ri, viu que não havia como lidar com a situação em meio ao caos. Ele agradece e rejeita a cerveja, mas logo coloca a moto no sentido certo e prossegue em direção ao litoral ultrapassando os carros entre as faixas.
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Como se fosse um gol do Corinthians, a multidão comemora. E repentinamente alguém começa a gritar: Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um e .... Todos gritam e se abraçam, desejando tudo que há de melhor nessa vida. O casal beija seus filhos, um a um, e dentre alguns conselhos sobre escola, comportamento e companhias, os pais desejam a eles um bom novo ano, e sem recuperação na escola.
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Quando Sebastião se dirige a sogra para dar-lhe o abraço, ela tem na face um semblante preocupado, enquanto o suor escorre pela sua testa. Ele se aproxima e faz seus votos de feliz ano novo, mas antes que ele consiga finalizar suas palavras, a sogra lhe interrompe.
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- Obrigado Tião, mas eu não estou passando bem. Você sabe que sou fraca para comida. Qualquer coisa que eu como e pronto. Acho que o salpicão me fez mal. Eu preciso de um banheiro!

31 DE DEZEMBRO DE 2008 - FELIZ ANO NOVO, E FELIZ ANIVERSÁRIO CRISLEI.


O ano agoniza triste, enquanto outro se promete. Mas é quase apenas um dia como outro qualquer, pois deveríamos refletir mais durante todos os dias do ano. Antes de cometer nossos erros tolos deveríamos ter nos dado o tempo de pensar para não errar.
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E mesmo assim, há aqueles imediatistas que medem a vida em segundos, minutos ou horas. Também tem aquele inseguro que mede a vida em meses. E não é difícil encontrar o acomodado que mede a vida em décadas. Por isso, não nos parece má idéia medir a vida em anos. E os anos passam.
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Assim como hoje, 31 de dezembro de 2008, um ano é somado na idade da amiga, e comadre Crislei, uma pessoa quem tem somado tanto em minha vida com o passar dos meus anos. E ao deitar as mãos sobre o teclado para escrever-lhe algo como votos de Feliz Aniversário, percebi que desejo a ela muita coisa, assim como também desejo a todos no ano de 2009.
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“Que nesta data você encontre os detalhes do grande segredo da vida, para que ela seja leve, embora não seja perfeita.
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Que você descubra a forma das pessoas, para que não se decepcione e apenas as aceite. Que você entenda os caprichos do tempo, para que ele torne você melhor e não mais triste.
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Que você perceba a diferença dos sons, para não se preocupar com tudo que ouve, mas para ter tempo de ouvir a primavera de Vivaldi.
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Espero que você aprenda mais temperos, para saber que o sofrimento do sal e romance do açúcar não são nada sozinhos, e que para se digerir bem a nossa existência, ela deve ser temperada.
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Quero muito que você entenda o que é sangue, para saber o significado completo da palavra família.
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Quero muito que você entenda que o livro da vida é escrito com palavras, que se unem para formar frases, que reúnem-se em parágrafos, que constroem capítulos, e que um dia irão completar nosso livro, pois um livro não se escreve só com o verbo ter.
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Não existe um só bom livro que tenha sido escrito sem no mínimo usar uma vez o verbo perder.
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Esse nosso livro é sério demais para ser tratado como comédia, e só as comédias de pouco valor é que só guardam boas gargalhadas.
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A vida não é festa, mas se fossemos agradecidos, faríamos uma festa para agradecer pelo dom da vida.
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Não a vida esbarrada em becos sujos, que tramam, conchavam, espreitam, especulam e planejam o mal, mas a vida como um sopro de um Anjo Divino que nos invade acima da lógica e de toda a tecnologia que o homem pensa que descobriu, mas jamais será capaz de repetir ou copiar.”
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Enquanto eu escrevo ou mesmo você lê, interesses políticos despejam bombas sobre crianças sob a bandeira de uma razão temerária, tratando civis como uma perda necessária e um número aceitável na estatística do custo e benefício.
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Enquanto você manda esse email para alguém, ou um desconhecido lê de outra forma qualquer, existem pessoas se drogando, vendendo drogas e se deitando nos prazeres de uma vida material onde o ser humano é um mero detalhes sob a marca da roupa que usa.
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Mas mesmo assim, e apesar de tantas outras coisas tristes, no meu livro tenho o verbo sorrir, e usarei ele sempre que eu souber que você leu.
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Então mais do que tudo, eu desejo a você muita Luz, para que te crie caminhos claros, onde você possa vez por outra, estender a mão e trazer alguém para o nosso lado da vida. Imperfeita sim, mas realmente clara o suficiente para que todos vejam nela o brilho da Benção.
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Que Deus abençoe todos a cada dia de 2009, e que seja criada a vigésima quinta hora do dia, para que as pessoas se amem e o ser humano volte a comemorar o verdadeiro significado do Amor.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O DIA EM QUE A TERRA ACABOU

Lembro-me com clareza da esposa do major “não sei o que”, saindo do túnel destruído pelos extra-terrestres no filme Independence Day. E para ser bem sincero, hoje ao transitar em Curitiba, tive mais ou menos a mesma sensação. Ruas movimentadas em dias normais, hoje convidavam aquelas esferas de feno seco como se fossem parte de uma cidade fantasma no melhor estilo velho oeste.
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E lá fui eu procurando sobreviventes da “febre do litoral” que assolou essa cidade. Encontrei primeiro Ronaldo, meu irmão adotivo, e fiquei feliz. Mas já nos primeiros momentos de nossa conversa, percebi que ele também estava com alguns sintomas e não escaparia à febre. Já no meio da conversa ele confirmou que estará descendo amanhã, dia 31 de dezembro, logo após ao almoço. Meu Deus! Até a Andressa Ramos vai viajar! Ela também pegou essa "Febre do Litoral".
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E peguei meu buggy tendo a certeza de que eu estava no lugar errado na hora errada. Com tantos contatos com o tal vírus da febre do litoral, e eu acabei aqui, resistindo. Mas apesar de ter essa sensação de estar errado quanto ao lugar e à hora, percebi que a coisa não é exatamente assim. Existem situações muito mais clássicas desses equívocos. Tanto é verdade que penso que eu poderia estar no lugar daquela turista, que estava em cima do elefante macho quando ele resolveu acasalar com aquela gostosa daquela elefantinha. Mas mesmo assim, calma lá. Mesmo em relação à turista, ela poderia estar em situação ainda pior. É de se imaginar ela no lombo da elefanta e não do elefante.
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Seja como for, Curitiba está às moscas. De certa forma, tirando os prédios de arquitetura ousada, Curitiba hoje me fez lembrar do tempo em que não havia engarrafamentos. É certo que mesmo que se houvesse engarrafamentos isso teria pouca importância para mim, pois na época eu não tinha carro. Apenas atrasaria um pouco mais o ônibus da linha Vicente Machado que sempre tão gentilmente me despejou na Praça Osório.
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E lembrando-me disto, passei a tarde fria deste verão curitibano, com aquele saudosismo teimoso e gostoso, do tempo que negócios eram feitos no fio de bigode em plena capital paranaense. Mas o tempo mudou, e hoje amigos se traem por dinheiro, irmãos se estapeiam por heranças, e mais uma porção de sacanagens estão a anunciar que o Bigorrilho, Curitiba, e todo o resto do mundo não é mais o mesmo.
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Tanto é verdade, que como sou o morador de uma das únicas residências com vida nesta cidade, todos os pedintes da Campina do Siqueira, Batel e Seminário, uniram-se com os pedintes do Bigorrilho e organizaram uma respeitável fila em frente a minha campainha. Atendi bem aos quatro ou cinco primeiro, mas depois disso, ficou insuportável. E o mais engraçado é que eles ainda resolveram começar a ofender minha honra e de meus familiares quando eu disse que não havia mais dinheiro, não havia mais comida, e nem o raio que o parta. Ora! Será que a prefeitura não tem plantão? Façam-me o favor senhores pedintes, pois se ficar em Curitiba na passagem do ano que vem, vou estabelecer senhas e horário de atendimento.
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E não foram só as ruas que ficaram vazias. Hoje ao acessar a minha conta no orkut, tive um surto depressivo, normalmente visitado por cerca de cinquenta pessoas todos os dias, hoje havia o registro de três minguadas visitinhas de nada. Eu até poderia escrever esse nada com “m”.
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Quando cliquei sobre o BuddyPoke, flagrei o bonequinho dormindo em pleno horário de expediente. Mas o que é isso? Acabei resolvendo perdoar o pequeno cidadão virtual por guarda por ele uma estima especial.
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Tentei acessar o messenger na busca de algum sobrevivente. E lá estava eles todos verdinhos bem no canto de minha tela. Ao chacoalha-los fui surpreso de saber que eles estão na praia também. Pensei comigo então numa sugestão para o messenger. Além dos clássicos “on line”, ausente, ocupado e tantas outras coisas, que normalmente as pessoas completam com tomando banho, escovando os dentes ou chapiscando a latrina, há algo que poderia ser colocado a disposição dos usuários: “NA PRAIA” que com certeza todos os meus amigos completariam com UH UH UH! Foca animal!. Também seria possível que no bonequinho verde, aparecesse um óculos escuros e uma sunga escrito “I love matinhos”.
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Como comecei e me irritar com as pessoas que estava no msn e na praia, resolvi abrir meu email. E pronto. Nesse momento tive certeza. O mundo acabou, ou Jornal Nacional foi gravado ontem, e eu estou aqui sozinho. Nenhuma, absolutamente nenhuma daquelas correntes do tipo, se não passar vai acontecer isso ou aquilo. Nenhum email daqueles que anuncia uma promoção que aquela super mega power plus multinacional está dando computadores de graça. Nem mesmo uma email de sacanagem daquele amigo maníaco. Apenas aquelas mensagens da revista Veja e do Correio. Mas isso eu sei que quem manda são máquinas. Realmente o mundo acabou.
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Eu sabia que o mundo não andava bem. Aliás, eu já havia até falado por aqui. Mas o mundo acabar justamente entre essas datas festivas, e o pior, ninguém pra me avisar. E pior ainda é pensar o tanto de promessas de ano novo que não serão cumpridas no ano que vem, apesar que não seriam mesmo se o mundo não acabassem.
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Mas se o mundo acabou, eu estou escrevendo para que?
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Tem alguém aí?
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Eu estou parecendo o Will Smith no filme “Eu Sou a Lenda”.
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Você está aí?
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Mas não era exatamente ele quem fazia o tal major que acabou com a nave extra-terrestre e ainda foi fumar um charuto? Nossa! Que coinciência... Isso chega a dar arrepios!
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Alô!
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Ninguém responde, mas acho que foi.
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Alô!
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É. Não adianta mesmo.
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Mas quem sabe seja um sonho e eu acorde no ano que vem.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

FILOSOFIA CURTA E GROSSA (Samuel Rangel)



Aprendi com o tempo, a misturar bons interesses dentre as minhas boas intenções. Só assim venci a ingenuidade que insiste em nortear a alma de artista.

Buquê de Pessoas



Flores
são às vezes o retrato fiel da pessoa a quem nós as entregamos.
Imperfeitas e inexatas por um lado, e irretocáveis por outro.
Tão logo os dedos se abrem, seu perfume estará em nossas mãos.
Em seu silêncio falam muito, um silêncio que se ouve.



Flores são essas expressões para as quais não há palavras.
Muito mais do que tudo que somos e menos que o todo.
Nascem para enaltecer, emocionar e causar admiração
Assim como as pessoas as quais nós as entregamos.



Flores, em pétalas assimétricas e cores calculadas.
Assinadas por um Criador surpreendente e imprevisível,
Assim como as pessoas as quais nós as entregamos.



Flores são pequenos espelhos da lua que brotam do chão,
e nós admiramos, pegamos e as entregamos a quem amamos
Assim como as pessoas as quais nós as entregamos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

AMIGO SECRETO, A CEIA E OUTRAS COISINHAS. ACERTOS E DESACERTOS NA NOITE DE NATAL MODERNA

Analisemos então. Das diversas formas, invenções, tradições e ilações da noite natalina, quais realmente são aquelas que guardam algumas relação com o que realmente tem valor. Parece-me que da forma que estamos comemorando o Natal, estamos nos metendo em uma porção de dificuldades que acabam, destroem, e expulsam de nossa cabeça qualquer possibilidade de festejar o Natal em paz. É importante lembrar que todos estão saindo da fase estressante da busca de presentes, decepcionados com o décimo terceiro, preocupados com a viagem para a praia. Então a noite de Natal deve ser dissecada e revista, para que os pequenos detalhes incômodos sejam cautelosamente extraídos de nossos hábitos.
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Mas nem tudo é negativo. Algumas idéias novas que foram inseridas pela realidade atual são bem interessantes. Uma delas é aquele sistema de Amigo Secreto no qual nem você sabem quem é que vai receber seu presente. Cada um leva seu pacote e o coloca sob a árvore. Após isso, números são distribuídos dentre os presentes que irão participar da brincadeira. Quando sorteado o seu número, você vai até a árvore e escolhe o seu presentinho. Você volta ao seu lugar como um bom menino, abre o pacote e mostra a todos o que escolheu. O primeiro lado positivo é que você nem sabe quem comprou aquele presente, e se for um sabonete da Avon em forma de anjinho, você nem tem como olhar feio para ninguém.
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Mas aí é que começa a diversão. Outro número é sorteado e a pessoa levanta-se e vai escolher o seu. Porém, se esta pessoa gostou do presente que você escolheu, ela pode vir com a maior cara de pau e tomar o seu pacote aberto, retirando-o de suas mãos sem qualquer constrangimento, e tudo isso em meio a gargalhadas da família inteira. E lá vai o primeiro ensinamento do Natal, fazendo com que você aprenda a lidar com a perda.
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Mas calma, lógico que você não vai ficar sem presente. Após o roubo qualificado pela cara de pau do seu cunhado, você tem direito de escolher outro que esteja embaixo da árvore. E lá vai você, novamente, e desta vez você nem quer algo tão bom, pois não deseja que o próximo sorteado venha tirar de suas mãos o precioso pacotinho que você tinha gostado tanto.
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Esse é um sorteio de amigo secreto bem interessante, e o bom é que, além de afastar qualquer tipo de discriminação (você não vai discriminar sua sogra por exemplo, pois nem sabe quem vai ganhar seu presente) ele é pedagógico. Exatamente. Além de ensinar a lidar com a perda, ele é pedagógico pelo fato de que você descobre que ficar na média já está bom. Se aquele sabonetinho não parar na sua mão no final da brincadeira, já está valendo. Isso significa que o empate, fora ou dentro de casa, já é um bom negócio.
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Lógico que, se você não fizer uma boa oração antes de tudo as coisas podem ficar feias. Também é de bom alvitre evitar que membros da família entrem com objetos contundentes para o sorteio. Outro elemento de cautela bastante positivo, é levar as regras escritas e afixar em uma parede antes do começo da brincadeira, pois sempre haverá alguém discutindo as regras. Se você tiver advogado na família, escreva as regras por artigos, incisos e alíneas, evitando deixar lacunas, mas mesmo assim, tome a cautela de chamar um vizinho fortão para a mediação para o caso do doutor resolver questionar alguma coisa a mais.
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Outro elemento pedagógico, é que é a mais pura demonstração de que os últimos serão os primeiros. Quanto menos pessoas ficarem para depois de você, menor a possibilidade de que alguém venha lhe tomar o seu pacotinho mediano das suas mãos.
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Mas em nível de sugestão, gostaria de dizer que acho interessante que pessoas acima de noventa anos, sejam classificadas como “café com leite” (não vale roubar o presente delas). Tente imaginar meu sobrinho de noventa quilogramas tentando tirar o presente de minha avó de noventa anos. É um caso típico onde noventa contra noventa não é justo e nem vai dar empate (apesar de que minha avó chegou a emparelhar a contenda por alguns instantes antes de capotar para trás do sofá da sala).
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Agora todo mundo sabe que o Natal é mais que Amigo Secreto e presente.
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Depois do lado material, é bem provável que o lado espiritual do Natal se proponha. Então alguém pede para fazer uma oração, e outro completa. Evite ladainhas, e rodeios. Vá direto ao ponto, para evitar que no final das contas, a coisa se estenda mais que a Missa do Galo (com o devido respeito).
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Você nota que algumas pessoas no meio da oração, começam a rezar para aquele Tender sair flutuando direto para a sua boca. Outro fica de olho no Fios de Ovos e nas cerejas. Mas aqueles que realmente têm sua religiosidade, estarão lá orando e manifestando sua fé. O único cuidado é se crenças divergentes se encontrarem na mesma sala. É importante que os presentes evitem discussões dogmáticas na noite de natal. Convidar seus cunhados já é problemático, mas se eles entrarem em discussões sobre a fé, a coisa vai acabar complicando.
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Acabada a fase da oração, alguém sugere uma canção clássica de Natal, porém, vamos combinar: canta que sabe o tom e a letra! Aqueles que não tiverem noção de tom e afinação, balbuciam as palavras bem baixinho. Mas aqueles que não sabem a letra, por favor não façam nada. É difícil ouvir uma versão alternativa para Noite Feliz. Além disso, o pior é que, ao começar a cantar errado, os “sabem nada” abrem oportunidade para que surjam os maestros. Exatamente. Então antes do tempo do verso, alguém fala a letra bem alto para que todos cantem certo. Conseguem imaginar? Não. Então eu desenho. Isso acaba criando uma versão de Noite Feliz no estilo Padre Marcelo Rossi.
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Mas após tudo isso, vem a comida.
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Eu apenas não entendo uma coisa. Se o Natal é uma noite de confraternização, por qual razão alguém inventou essa história de que, para todo mundo comer como louco, alguém tem que ficar torrando a barriga no forno para assar aquele peru do tamanho de um ganso. Aliás, isso é uma coisa interessante. Quanto maior a dificuldade financeira da família, maior é o peru para a ceia. Não é difícil ver pessoas se armando nos setores de ferramentas daquele supermercado, para enfrentar a briga no setor de congelados.
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E esse exagero acaba dificultando a própria confraternização, pois todos sentam-se a mesa como se preparassem o estômago o ano inteiro, e não conversam durante o jantar de horas, porque alguém combinou que falar de boca cheia é falta de educação. Depois que acabam o jantar, as sobremesas completam os últimos espaços vazios das entranhas de todos os presentes, e após isso, ninguém começa uma conversa interessante. O que se vê é uma multidão se jogando nos sofás (agarrada ao seu presente do Amigo Secreto) que mal conseguem mexer os olhos. E lá se vai mais uma vez a possibilidade de qualquer tipo de confraternização.
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Após isso, cada um entra no seu carro, e alguns entram no carro do outro, para se dirigirem empanturrados para as suas residências, para que no dia seguinte, tudo isso se repita. A vantagem é que no dia 25, ninguém vai se ferir novamente no amigo secreto.
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Ps.: Tirando as caricaturas e exageros, esse é um texto que busca apenas trazer algum sorriso para o leitor, pois meu sobrinho não tem noventa quilogramas e minha avó, apesar de ter noventa anos, não se machucou quando tombou para trás do sofá. (47290)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

UM CONVITE ESPECIAL

www.juribas.com.br


Um convite para uma festa diferente. Uma festa interior que acontece na sua própria alma. Uma confraternização com sua vida e com seus momentos. Uma festa daquelas que pouco temos feito, muitas vezes por não ter mais tempo para nós mesmos.
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Convido você, para que neste Natal esteja consigo, e nesta oportunidade, tenha tempo de refletir sobre a benção que é a vida.
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Espero que você possa nessa reflexão, estar em meio aos seus familiares, para que eles acolham sua alma e suas palavras, seus gestos e seu silêncio quando esse se fizer necessário.
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Espero que nesta data especial, você possa ter algum tempo, para pensar alto, além dos limites de nossos pés e muito acima do ponto onde nossas mãos alcançam. .
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Espero que você nessa reflexão, descubra que você é uma benção para as pessoas que você conhece, e ainda que você chegue a conclusão de que não andou certo com alguém, que você descubra que é sempre é tempo de mudar, e quando a mudança é para melhor, o universo conspira a favor do perdão e da fraternidade.
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Espero que você tenha tempo ainda, para saber que embora a vida nos tire de perto uns dos outros as vezes, até porque é impossível estar com todas as pessoas que gostaríamos, eu desejo a você todo o bem que o mundo possa reservar, e com este gesto de carinho, proponho a você a inauguração de um ano onde a paz, a calma, a tranquilidade, a compaixão, a fraternidade e a fé em um mundo melhor possam ser a marca de nosa revolução de paz.

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Feliz Natal e um Ano Novo de paz, muita paz.

sábado, 20 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS



Mais um ano chega aos seus últimos dias, submetendo-se à nossa análise, ao balanço de tudo que nos aconteceu. E 2008 será a partir de alguns dias, apenas uma página a mais no nosso livro, um punhado de lembranças e o ano em que Felipe Massa perdeu o título mundial duas curvas antes da chegada. Mas a vida não é só Fórmula 1, ou é apenas parecida com ela. Poucos vitoriosos e muitos vencidos.
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E mesmo sem querer, acontece que nesta fase do ano, temos a tendência de olhar mais para si. O que eu fiz esse ano? Quais minhas conquistas? O que eu levo de bom daqui para a frente? Essas e mais mil perguntas ficam bailando em nossa cabeça entre uma conta e outra para os presentes de Natal. E ao contrário do que realmente deveria ser, olhamos muito mais para nós do que para os outros. E essa nossa natureza egoísta, não nos deixa sem punição, pois temos a impressão de que as coisas andam acontecendo conosco como versões de mau gosto das pegadinhas de Faustão.
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Mas se há algum tempo, todos sabem que o mundo anda doente, não é de se esperar que o ano de 2008 seja lembrando como o ano mais feliz de nossas vidas. A violência explode em todos os cantos, e Isabela Nardoni não terá pacotes sob à árvore. A política continua autofágica, mastigando almas de políticos e transformando-os em um contrato social de gaveta. A situação financeira parece ainda mais injusta, e os bolsões de miséria purulenta continuam a sitiar Curitiba e todas as demais capitais de nosso país. A natureza começa a dar sua resposta aos desmandos do homem prepotente, fazendo desaparecer completamente não só a vida de algumas pessoas, mas suas casas, suas histórias e qualquer perspectiva que tinham, como se viu em Santa Catarina. O respeito entre os povos continua sendo mera retórica, enquanto os americanos continuam mantendo tropas no Iraque, e relembre-se ainda que essas tropas na sua grande maioria são de não americanos, latinos e imigrantes que se mandaram para lá em busca de uma vida melhor. Hoje a vida melhor que têm é a estampa de um fuzil e um capacete cobrindo olhos aterrorizados pelos atiradores árabes ocultos.
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E nós, nessa paulicéia desvairada, começamos a reclamar dos presentes que temos que comprar, e de forma profana, esquecemos o quanto é bom ter as pessoas a quem dar presentes vivas e por perto. Perdemos o respeito ao luto de tantos, que o que mais desejam, era que alguns de seus entes queridos ainda estivessem entre nós. E agora, é de se perguntar se temos o direitos de reclamar de algo. É como fazer anos. Não há como viver muito sem somar a idade correspondente. A benção de envelhecer é poder dizer a cada ano que somamos mais um, enquanto tantos não tiveram a mesma sorte.
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Deixando de lado as questões coletivas, nós, essa suposta evolução do Homo Sapiens, hoje somos reféns de uma série de desejos, sonhos e imposições de um mundo extremamente consumista. Aprendemos que estudar dos cinco aos vinte e um anos é pouco, e por isso, vemos crescerem faculdades de cursos de pós-graduação, especializações em efemeridades, doutorados sem função e uma série de outras balelas que insistem em nos dizer, que hoje o ser humano vale pelo que sabe, e não pelo que haje.
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E nessa indústria de almas insatisfeitas, vemos crescer todos os tipos de absurdos. Síndromes nunca antes aventadas pela psicologia, hoje são comuns entre a população. Terapias são tão necessárias que algumas pessoas dependem realmente desse tratamento.
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Sem querer ser messiânico, quem sabe essa onda gigantesca de distúrbios, surja exatamente no desencontro do ser humano consigo mesmo. E afastando-se de si, ele afasta-se de família, dos amigos, e de tudo que sabemos que é imperativo para uma vida saudável. E nessa multidão de solitários, vemos o pai ausente querendo compensar suas faltas paternas com presentes de última geração. Vemos mães buscando uma viagem com o filho para compensar a eternidade de horas que passou em salões de beleza e nos shoppings. Uma multidão de insatisfeitos que sorriem com o carro novo que adquiriram, mas perderam totalmente a capacidade de olhar o por do sol.
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E seria tolice tentar argumentar de que não me encontro nesta multidão. Lógico que eu sou mais um destes que vestem cinza pelas calçadas geladas da cidade que não tem mais alma e nem sorriso.
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Mas ao menos, devo agradecer a oportunidade de enxergar isso, para me recolocar nos rumos certos. Sei que perdi amigos ao longo deste ano, e aqueles que perdi por culpa minha, peço desculpas pela minha falta de sensibilidade no trato da amizade. Aos que se foram por seus próprios erros, eu lhe dou meu sincero perdão, pois tal qual eu, somos feitos de erros e acertos, e apenas estamos tentando viver. A aquele que demonstraram que nunca foram amigos, e sua presença ao meu lado era puro interesse, espero que a vida lhe dê o que tanto buscam, para que nunca mais tenham que cometer o erro de misturar interesses com amizade.
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Ainda em relação aos amigos, hoje reconhecendo os falsos dentre os que estiveram ao meu lado, tenho algo muito maior que a tristeza que isso me traz. Tenho a alegria de reconhecer os verdadeiros, e a eles vou dedicar seu devido valor.
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Mas é Natal, e parece que há muito tempo, a humanidade anda esquecendo do aniversariante. E quando Papai Noel tomou o lugar do presépio, é porque realmente andamos dobrando esquinas erradas na corrida da vida. Nada que não possamos concertar.
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Espero que todos aqueles que possam, estejam com suas famílias neste Natal, e quem sabe, se acharem interessante, leiam estas palavras como forma de comemorar o que realmente tem valor.
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Desejo que todos nós tenhamos um pouco mais de tempo para a espiritualidade daqui para a frente. Para saber que mais do que um presente caro, o abraço e o carinho fraterno renovam a alma e edificam as relações.
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Desejo a pais e filhos que voltem a conversar sobre valores.
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Desejo que os casais encontrem tempo para conversar sobre o amor.
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Desejo que as pessoas que se cruzam afoitas pela rua, encontre tempo para se enxergar uma às outras, e nesse olhar, enxergar a semelhança e a fraternidade, superando o egocentrismo natural que deve ser vencido.
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Desejo aos jovens que entendam que a moda é efêmera, enquanto o caráter é eterno, proporcionando o levante em socorro dos valores que a humanidade deve preservar.
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Espero que todos nós tenhamos gradativamente, mais tempo para conversar e ouvir nosso filhos, seus medos e descobertas, suas façanhas e seus sonhos, para que quanto mais cresçam, mais sejam conhecidos por nós e na recíproca também.
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Espero que os idosos recebam mais atenção, para que contem a nossa própria história, para que ao menos saibamos de onde viemos, e possamos imaginar para onde vamos, mas principalmente, para nos capacitar a contar a história de nossos filhos.
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Desejo que as empresas, sociedades, e os trabalhadores, façam um pacto de paz durante os próximos tempos, para que o homem receba o que é justo, e para que a justiça financeira seja o princípio de uma justiça social para a sociedade em que vivemos.
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Desejo a todos, que tenham tempo nesse Natal para lembrar-se do aniversariante, Jesus, seja qual for sua fé, apenas para refletir sobre o que o amor é capaz de fazer. Palavras que se eternizaram por dois mil anos, simplesmente por que foram ditas com amor e verdade.
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Desejo a todos um feliz e verdadeiro natal, e um ano novo justo, pois as justiça é a mais sólida catalisadora da paz que eu desejo a todos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

JUCA, O TUBINHO BRANCO E O NATAL (Samuel Rangel)



Dezessete Contos em um só Natal.

Juca é mais um brasileiro, daqueles que faz cálculos na ponta do lápis, olhando a caixinha de sapato cheia de boletos bancários, para ver se poderá levar as crianças para andar no “carrinho de choque” do parque Alvorada no Barigui. E como todo profissional liberal, houve meses que ele conseguiu levar os moleque três finais de semana, inclusive num deles, cada filho pode andar duas vezes, e por mais incrível que pareça, cada um em um carrinho.
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Entre altos e baixos, numa semana comendo frango congelado, e no outro frango defumado, que as crianças adoram chamar de “frango de natal”, Juca e sua família sempre levou uma vida tensa nas finanças, mas bem estável no aspecto emocional.
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Mas como todo brasileiro, quando começam a acender as instalações de pequenas lâmpadas, uma nostalgia e um frio na barriga tomam conta de Juca. É dezembro, o mês com certeza mais difícil de atravessar com esta vida incerta de profissional liberal. Todo homem que se presa neste mês, e que não sabe o quanto ganha, ou o quanto deixa de ganhar, espera o dia 23 de dezembro para descobrir quanto poderá gastar com os presentes.
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Aquele mês de dezembro não começou bem. O amigo ao qual havia emprestado um dinheiro, já comunicou a impossibilidade de pagar o empréstimo. Além disso, houve uma queda no volume dos negócios, pois seus clientes já estão se mandando para as praias e não movimentam mais o caixa. E dezembro passa atropelando as semanas enquanto o caixa de Juca continua no vermelho. Quando chega o dia 20, ele percebe que não haverá como fazer nada no Natal. Preocupado, Juca vai até a casa de seu sogro e conta a situação.
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Seu sogro, um simpático italiano que lhe tem em alta estima, ao ouvir a situação de Juca, demonstra toda a sensibilidade que se possa esperar. Diz a Juca então que até gostaria de lhe ajudar, porém, como sua condição financeira de aposentado não é boa, o máximo que ele pode fazer, é tirar de Juca a responsabilidade sobre a Ceia de Natal. O simpático sogro lhe socorre oferecendo a sua casa para as comemorações, e responsabilizando-se pela ceia.
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Juca saiu mais aliviado, porém, não sabia o que iria falar aos seus filhos, pois por mais educadas que sejam as crianças, elas não são obrigadas a entender as coisas dos adultos. O agravante maior é que dos quatro filhos, os dois menores ainda acreditam em Papai Noel, e a ausência de um pacote sob a árvore de natal, poderia frustrar esses sonhos.
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Após dois dias pensando em uma solução para o problema, Juca lembrou-se de um cliente, Leonardo, dono de uma loja de importados da China, que diante da confiança adquirida, poderia lhe fazer algo como um parcelamento em alguns brinquedos. Ao chegar na loja de Leonardo, percebeu que as comemorações de natal realmente estavam próximas. Um multidão de pessoas travestidas em gafanhotos, se espremia nos corredores entre as prateleiras devorando tudo. Juca foi direto a sala de Leonardo, que ficava no mezanino. Fo conversar com ele sobre a sua dificuldade. Ao chegar lá, viu Leonardo em pé à janela que dava para o galpão olhando o movimento orgulhoso. Ao ver Juca, Leonardo sorriu e veio ao seu encontro lhe abraçando e desejando um feliz natal.
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Juca, com a voz embargada, contou a Leonardo o que se passava, e envergonhado, perguntou sobre a possibilidade de comprar alguns brinquedos, sem entrada e com um bom parcelamento. Leonardo sorriu e prontamente disse que não havia necessidade de estipular tal parcelamento. Mandou Juca direto ao depósito escolher o que bem quisesse, combinando que o pagamento poderia ser feito quando e se Juca pudesse pagar.
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Emocionado Juca correu ao depósito e conseguiu os quatro presentes para as crianças. Finalmente, no dia 22 de dezembro já, ele havia conseguido dormir com a certeza de que não decepcionaria ninguém naquele natal.
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Ao acordar no dia 23 pela manhã, Juca foi avisado pela sua mulher que sua sogra havia ligado e combinado um amigo secreto antes da Ceia de Natal, e que o valor dos presentes ficou combinado entre cinquenta e sessenta reais. Logo depois de dizer isso, e com Juca esfregando os olhos, sua esposa lhe entregou um papelzinho dobrado, dizendo: se você pegar você mesmo, me diga que temos que refazer o sorteio.
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Juca de forma mecânica, foi desdobrando o papel, mesmo antes de dizer que não queria e não podia participar daquela brincadeira, pois na sua carteira, apenas uma nota de dez, uma de cinco, e uma de dois reais. E as dobras foram se desfazendo uma após a outra, e quando o papel se abriu por inteiro, lá estava o nome de sua esposa, encostada na porta, que já foi lhe perguntando se era ele mesmo. Juca chacoalhou a cabeça cansada, e disse que não. A mulher sorriu e foi correndo ao telefone: “Mãe. Deu certo! Não precisamos sortear novamente.”
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Enquanto Juca pensava como iria conseguir os outros reais que faltavam, ouviu a sua esposa confirmando a presença da família também nas comemorações do ano novo, e em meio a essa conversa, deixou escapar o desejo de comprar um vestidinho branco para o reveilon. Juca vestiu o jeans e saiu correndo, dizendo que ia trabalhar, porém, não havia serviço a fazer. Visitou os irmãos e descobriu que eles estavam na mesma situação. Visitou alguns amigos e nada. Juca era a mais fiel representação de um natal difícil para todos.
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Então Juca lembrou-se do amigo que lhe devia. E antes que o tanque de seu gol mil esvaziasse, foi direto para lá fazer a cobrança. Ao chegar na frente da casa do devedor, viu ele descarregando pacotes de presentes e sacolas de mercado. Ao olhar aquilo, um sentimento de traição lhe tomou o coração. Enquanto suas dificuldades se empoleiravam na sua frente, lá estava o devedor comemorando o natal dos sonhos de qualquer brasileiro. Pacotes grandes e coloridos, champanhe no lugar da Cidra, e um pernil de um porco de polaco. Quando perguntou a ele sobre a dívida, ele disse que havia chegado tarde, pois havia gasto seu dinheiro com as festas, porém, depois do ano novo poderia passar por ali para pegar ao menos parte do dinheiro.
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Juca deu as costas ao ex-amigo, e resolveu evitar de dizer-lhe algumas verdades. O nó na garganta era tão grande que nem um adeus foi dito. Entrou no seu carro, e resolveu comprar o presente de sua amiga secreta com os míseros R$ 17 que lhe havia sobrado. Parando perto do Círculo Militar para não ter que pagar o Star, Juca subiu em direção à Rui Barbosa, olhando atento às vitrines. Passou pela frente de lojas de roupas usadas, mas percebeu que seria uma grosseria dar um presente desses a sua mulher. O dia desapareceu nos passos rápidos das pernas de Juca, e ao final da tarde, Juca ainda não tinha um presente para sua esposa. Cada loja em que entrava, parecia o pregão de uma bolsa de valores, e uma multidão trocava “pacotaços”, cotoveladas e empurrões.
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Juca então parou em meio aquela multidão e perguntou-se onde estava o espírito de Natal. Decidiu então voltar para a sua casa, abrir seu coração, e contar para a sua esposa sobre a sua odisséia. Quando se retirava da loja, viu um secador de cabelos sobre o balcão da loja. O vendedor milagrosamente lhe ofereceu aquele secador pelos exatos R$ 17, pois estava riscado no cabo e não tinha caixa. Era uma milagrosa ponta de estoque. O Natal estava salvo. O vendedor saiu para atender outra pessoa, e Juca ficou ali, guardião do presente, aguardando o retorno de seu salvador. Já com um sorriso no rosto de alívio, começou a olhar complacente para as pessoas que não tiveram a mesma sorte que ele. O Natal de Juca estava salvo, enquanto guerreiros espartanos gladiavam pelos pacotes.
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Cerca de quinze minutos depois, o vendedor retorna, e ao perguntar para Juca onde estava o secador, este percebe que realmente o presente havia sumido do balcão. No caixa uma senhora com jeito de italiana empunhava o presente contando algumas notas. Ao tentar falar com a senhora, e tentar justificar que aquele presente era seu, a senhora se agarra ao secador com força e diz que não. A discussão ficou acalorada e a senhora então chama o segurança da loja, reclamando que Juca a estava assediando. O segurança, despachou via sedex Juca para fora da loja. Juca, agora ofendido, saiu marchando em direção a lugar nenhum. Blasfemava, xingava e gritava impropérios a esta multidão de loucos que se matam por um feliz natal.
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Juca andava pela rua com uma cara de Fred Krueger, mas com a sanha de um Jason Voorhees, e se todos desejavam transformá-lo em um boneco das festas de um mundo globalizado, seu olhar de Chuck, alertava que esse boneco poderia se tornar um assassino. Chuck realmente queria brincar com você.
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Mas o cansaço das pernas que correram o dia todo lhe tirou qualquer possibilidade de explosão, e a resignação tomou sua alma. Quando já despertava pena nas pessoas que cortavam seu caminho, como a luz de um anjo de Natal, em uma lojinha de turco daquelas que fica perto da Praça Zacarias, viu um reluzente vestidinho branco, tubinho, daqueles que ficaria lindíssimo em sua mulher, e exatamente como ela queria. Ao se aproximar, viu o preço do vestido numa etiqueta de papel e caneta “silverpen”. R$ 18 a prazo. Seis parcelas de R$ 6.00.
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Lá no fundo da loja, um homem gordo de bigode grosso gritava com as funcionárias e nem precisa de crachá para identificar-se como dono do estabelecimento. Juca foi até ele decidido e perguntou quanto custava o vestido a vista. O homem lhe disse: Eu Bode Fazer guinze.
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Juca sacou de todo o seu dinheiro e ainda sobravam R$ 2 para um coca-cola na confeitaria das famílias. Antes que alguma louca se agarrasse no vestido de sua mulher, Juca o sacou da arara e foi ao caixa. Pagou o vestido, saiu da loja feliz, e saboreou uma coca-cola com gosto de vinho fino na Confeitaria das Famílias.
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Atravessou o centro feliz e leve. Entrou no seu carro e voltou para a casa com um sorriso de campeão no rosto e o espírito de natal renovado. Tudo havia dado certo ao chegar ao final. Seu compadre Sandro sempre lhe havia dito isso.
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O dia vinte e quatro surgiu com o rádio da cozinha tocando músicas de natal muito bem escolhidas pela produção da Rádio Cidade. Crianças se enfileirando para o banho, o cheiro do Tender no forno, que sua sogra havia pedido para sua esposa assar, tomou a casa por volta das duas horas da tarde. O telefone não parava de tocar com familiares e amigos desejando a Juca e a sua família um Feliz Natal. O Natal reapareceu forte no coração de todos no dia 24.
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Juca, a esposa e as crianças embarcam no Gol e foram para a casa dos pais dela. Lá chegando, cunhados e cunhadas se abraçavam e forjavam um bem querer que não se viu durante o ano inteiro. Ao julgar ser a hora certa, a sogra chamou todos para ocuparem os sofás da sala. Dois que faziam parte do jogo de sala, e outros dois emprestados do vizinho que resolveu passar o natal na praia.
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A sogra então anuncia que primeiro seria feita a troca de presentes e depois o amigo secreto. Juca achou aquilo estranho, mas não questionou em virtude de sua felicidade cantar mais alto que o disco dos cantores do Palácio Avenida que rodava no toca-discos Gradiente System 96.
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Poucos pacotes sendo entregues, a sogra foi presenteando os filhos e as filhas, até que lhe restou um último pacote na mão e um olhar de ternura para a esposa de Juca. A sogra veio lentamente e abraçou Juca e depois olhou com uma ternura maternal para a filha dizendo.
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- Minha querida. Você sabe que para mim o maior presente que tive nessa vida, foram os seis filhos que Deus me deu. E você minha caçula, sempre foi aquela que mais esteve perto de mim em todos os momentos alegres e tristes. Quando você casou com Juca, eu não gostava dele, mas hoje o tenho como filho também, e o recebo em minha casa com muito amor. Portanto minha filha, eu consegui comprar um presente que simboliza meu sentimento por este casal maravilhoso. Eu estava andando perto da praça Zacarias e comprei esse vestidinho tubinho branco como você queria.
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A filha faz uma cara de feliz e ao abrir o pacote, ela permite a Juca ver um vestido exatamente igual a aquele que ele havia comprado para ela. Juca fica desconcertado, mas mantém a postura, afinal o Ano Novo se comemora na noite de 31 e no primeiro dia do ano. Não há problemas. Ela poderá passar as festas de branco.
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E após secar algumas lágrimas, a esposa de Juca abraçou fortemente a sua mãe, e com os olhos ainda úmidos, disse-lhe a clássica frase de Natal: Não precisava mamãe. Não precisava se incomodar.
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Juca ali ao lado, ouvia tudo.
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Ao desmanchar o abraço, a sogra de Juca olha para a filha e diz:
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- Não foi incomodo não minha filha. Eu paguei só R$ 11 na loja daquele turco gordo e bigodudo que não sabe falar direito. Quando eu estava saindo da loja ainda disse a ele que achei barato, e ele subiu o preço para R$ 18. Pode? (a sogra riu nesse momento)
- Mas agora minha filha vamos ao Amigo Secreto, porque esse sim é bom. Os presentes tem que ser entre cinquenta e sessenta reais. Agora vai começar o bom da festa. Quem começa é você Juca. Quem é seu amigo secreto?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

42 anos. 420 amigos? (Samuel Rangel)


UMA FESTA E UM PRESENTE, COMO A VIDA É (Samuel Rangel)
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Minha teoria de que em nossa festa de aniversário retornamos aos nossos sete anos de idade, mais uma vez se confirma. Quando chega a meia noite do dia que antecede a nossa data festiva, e por mágica se faz no relógio zero hora, olhamos ao redor para saber quem será o primeiro. E não é difícil, havendo possibilidade, abrir o orkut, o hotmail e todas as outras porcarias bacanas que a tecnologia nos trouxe, para ver quem são os amigos mais ágeis. E ao contrário do que a maturidade nos aconselha, flagramo-nos fazendo planos e imaginando quem serão os presentes em nossa festinha. Pronto, egocêntrico e sensível, lá está um cidadão comemorando quarenta e dois anos, com a carga emocional de um menino de sete anos.
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Ainda com as costas surradas doloridas das lembranças do inferno astral, a comemoração de três dias vai começar, e calçando sapatos novos e roupa de domingo (que no meu caso são as mais velhas mesmo), lá se vai o menino homem para a data do ano, para a festa dos quarenta e dois, para o aniversário e coisa e tal.
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Dessa vez ele espera mais, porque a festa é no próprio bar em que é sócio, mas um telefonema avisa que o inferno astral não acabou. Corre o adolescente para o bar, pois não teremos funcionários para a sua festa. Alguém resolveu te fazer um presente surpresa. Achando que tudo faz parte de homenagem de amigos, do tipo festa surpresa, lá se vai o rapaz com as chaves do bar para a festa, mas ao chegar, a surpresa é de que realmente não há um funcionário, e aquela festa para 120 pessoas, não tem garçom, não tem cozinheiro, não tem porteiro e não tem nada.
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Um sorriso no rosto, uma decepção no coração, o homem então percebe que o infernos astral não acabou. Banda grega passando o som, e os convidados chegando. Atendendo o balcão, propondo-se a pedir uma pizza para os que têm fome, servindo de garçom e de tempos em tempos entregando a ficha de consumação como o bilheteiro do Couto Pereira, o aniversário começou antes da hora. Então uma pergunta me surge: Não deveria eu ter esperado a meia noite para começar essa festa? Assim o inferno astral já haveria te ter acabado.
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Mas enquanto pergunto onde estaria aquela pessoa que se disse tanto amiga, e havia me causado a surpresa indesejável, percebo que tudo faz parte da vida como ela é. E como se caíssem dos céus, anjos amigos vão se propondo a uma ajuda. Então há aquele que se propõem para portaria, a noiva do sócio amigo e a irmã se propõem a servir mesas. Quando o relógio alcançou as onze horas, decidi que era hora de mandar esse tal inferno astral para outra dimensão. Na mais completa tradição da Festa Grega, adquiri quatro dúzias de pratos, pronto para atirá-las ao chão com a redenção de meu estado de ânimo.
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Após atirar o primeiro prato errado, advertido pelo dançarino grego que de tal forma eu poderia machucar alguém (era a situação do meu estado de ânimo), recebi as instruções necessárias para a dança dos pratos.
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Confesso que, se eu soubesse dessa terapia de quebrar pratos, quem sabe eu não houvesse me divorciado. Realmente a sensação de ver os cacos se espalhando pelo chão,trás um alívio a alma e descarrega toda a tensão. Como a tensão era grande, não me fora suficientes as quatro dúzias. Resolvi então comprar mais três. Ao todo, foram mais de quatorze dúzias de pratos em cacos no chão ao final da festa.
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Ninguém mais lembrava de quem estava faltando. Apenas comorávamos os presentes.
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E a Festa Grega se revelou uma oportunidade fantástica de afastar os males. “Que todos os males se vão com esta louça”. Ao finalizar o show da banda grega, subi ao palco para cantar, aliviado e orgulhos dos reais amigos que realmente tenho, e com essa emoção, cantei para eles.
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Final de noite, sem faxineira também, eu e Luciano limpamos o bar até onde pudemos, mas precisaríamos de um transresíduos para levar os cacos embora. E realmente não é fácil, mas cheguei ao cansaço com a alma nova.
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Dia seguinte, o dia de meu aniversário, volto ao bar para lavar o chão e livra-lo de todo o gesso que jamais havia visto, e junto com Luciano e Carol, demos uma bela enganada no salão. Estamos prontos para o segundo dia de festa. Para esse segundo dia, no lugar do atendimento as mesas, convido minha sobrinha e uma amiga dela. Recebo o auxílio do Fábio e da Francielle, e o Luciano lá novamente. Pronto. O bar funcionou.
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Após servir no primeiro tempo de garçom, o segundo tirei de músico, e o terceiro, sem exitar, tirei de aniversariante. Quando pude observar o que acontecia, vi realmente o valor do que é verdadeiro. Eu percebi a diferença de quem faz e trabalha com vontade, com o ímpeto de auxiliar. Pude realmente perceber o valor de boas parcerias. Pude entender o quanto é importante ter por perto pessoas que realmente gostam de você.
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Com o mesmo sorriso no rosto, mas já superando a decepção, percebi que as lições que a vida traz, nem sempre com o carinho da tia Arlete do meu primeiro ano, são presentes do destino, que nos fazem envelhecer com alegria, valorizando o aprendizado, e aprendendo a evitar atalhos escuros, ou parcerias perigosas.
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Uma festa como a vida é, é capaz de nos propor cálculos. Quantos amigos você realmente precisa ao seu lado. Por que será que aos quarenta e dois anos, não temos quatrocentos e vinte amigos?
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Simples. Se tivéssemos todos esses amigos, não conseguiríamos nos dedicar de forma suficiente a eles, e com certeza, os perderíamos aos poucos, até que amarelassem em uma foto antiga. Percebi que a soma pode até chegar aos quatrocentos e vinte, mas não ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e com o mesmo espírito.
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O vento do destino que sopra nossa pequena nau na imensidão da história, brinca alegre nos levando para lá e para cá, levantando tempestades que escurecem os céus, ou mesmo clareando o sol da calmaria. Trazendo nevoeiros que nos aconselham a parar, e voltando a abrir o tempo de nossa história. E nesse cardápio de sabores infinitos de alegrias e tristezas, a nossa história vai colocando frases, parágrafos, páginas e capítulos em nossas vidas, e para cada ponto, um amigo, dois ou mais, que passará por nosso tempo dividindo a odisséia de enfrentar uma tempestade, ou os prazeres de descansar noutra página.
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Aos amigos distantes então, dedico esse texto em agradecimento pelos dias vividos, e sabendo das mudanças dos ventos, espero que num futuro próximo, possamos desfrutar de nossa parceria em bons momentos, ou nos tempos ruins que nos servem de boas lições.
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Aos amigos presentes, agradeço a sensação de conseguir erguer um castelo onde não há pedras. Agradeço a sensação poderosa de fazer churrasco onde não há carne, e desejo que em breve, seja farto aquilo que nos faltou para desfrutarmos de tempos ainda melhores do que esses.
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A aqueles que julguei amigos, e que espreitaram sorridentes minhas dificuldades, pelos vãos dos buracos onde se escondem, agradeço a lição, pois ao encontrar essa estirpe de gente, passo a dar maior valor aos verdadeiros. E quem sabe por dar mais valor, quem sabe eu tente me esforçar mais para estar por perto dos amigos que os ventos me afastaram.
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Quem sabe ao perceber o real valor da amizade, eu possa me tornar uma pessoa mais fácil de gostar, de conviver e mesmo de ser amigo.
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A todos os meus verdadeiros amigos, independentemente se puderam ou não estar comigo nestes dias, agradeço demais, pela alegria da presença, ou pela saudade da ausência, pela emoção do abraço, ou pela ausência do aperto de mão.
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A Deus, agradeço pela oportunidade de viver a vida como ela é, aprendendo a cada dia, e percebendo o valor de cada momento bom da vida.
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Como disse a algum tempo, o importante são os presentes. O importante é a presença de todos os amigos verdadeiros, seja em nossa festa, seja em nossos momentos difíceis, mas sempre em nossos corações.
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Obrigado a todos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O PROBLEMA DE MISTURAR UM PAPAGAIO COM AS CRIANÇAS

Nós, pais afoitos pelos acertos em tão nobre responsabilidade, as vezes tentamos de tudo para dar aos nossos filhos uma infância sadia. E ouvindo alguns conselhos, acabamos por acatar a idéia de um mascote. Um bichinho com o qual a criança aprenda algumas coisas como responsabilidade, cuidados e etc.

Mas nem sempre dá certo.

O vídeo abaixo é a mais fiel prova de que nessa intenção de acertar, podemos estragar tudo.

Inacreditável o que um aprende com o outro.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

INFERNO ASTRAL, A SAGA CONTINUA

E chega novembro, e com ele um arrepio gelado que me percorre a espinha. Estamos às vésperas de dezembro, e portanto, às vésperas de meu aniversário. Não haveria nenhum problema, e seria mera tolice minha essa preocupação, se eu não tivesse um problema histórico com o tal “Inferno Astral”. Então uma vontade de gritar “_uta que _ariu” enorme me sobe pela goela, pois justamente eu que não acredito em astrologia, nunca abri uma porcaria de jornal para ler um horóscopo, coloco-me a então a questionar aos quatro ventos “porque eu”.
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Quando eu senti o cheiro da fase, corri para o word escrever essa saga desse ano, porém, faltava-me elemento para propor ao leitor boa distração. As histórias eram sem sal, e apenas pareceria mais um cara em uma fase não muito boa.
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Mas hoje, hoje sim eu venho com todos os palavrões ecoando nos dedos, pois definitivamente, o Inferno astral chegou. Não se trata mais tão somente daquela amiga da amiga, que depois de dois minutos que a gente se conhece, dispara uma série de críticas sobre a sua pessoa, como se conhecesse todos os defeito que você tem e mais aqueles que você virá a ter.
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Tudo bem. Pois no dia que fui submetido a esse julgamento sumário, resolvi mudar de bar, e procurar algum lugar onde eu pudesse estar em paz. E realmente encontrei várias amigas no outro bar, imaginando que aquilo me faria compensar os momentos desagradáveis vividos. E deu certo, mas não por muito tempo, pois foi só a conversa ficar interessante que os namorados dessas amigas resolveram ficar enciumados com nossa conversa. E com a evolução da noite, o ciúmes virou uma vontade enorme de entortar mais ainda esse meu nariz mal acabado.
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Advertido pelo amigo que me acompanhava, e a tudo assistia, que seria um bom momento para se retirar e buscar a segurança de minha residência, aceitei o conselho. Entramos no carro em meio a gargalhadas, questionando o motivo de tal situação. Quando chegamos a conclusão de que se tratava o retorno do Inferno Astral, rimos mais um pouco e chegamos à conclusão de que é uma mera fase, e logo ela acaba. Ele desembarcou do meu carro e sumiu prédio a dentro.
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Acendi meu companheiro Carlton e com um leve sorriso de indignação, tomei o rumo de minha casa. Ao chegar exatamente na metade do caminho, o prenúncio de que tudo poderia pior veio. Meu bólido transformou o painel em uma festa de luzes de alerta e o carro desligou. Pronto fiquei na rua. Empurrando o carro sozinho é claro, ouvi os impropérios mais injustos com minha mãe, pois acredito se quiser, eu fiquei com o carro parado em meio a um engarrafamento em plena madrugada curitibana.
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Mas tudo bem. Poderia ser pior, eu poderia estar em Santa Catarina. Vamos manter o bom humor.
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Ao acabar de empurrar o carro por cerca de cinquenta metros, rua acima diga-se de passagem, resolvi trancar o carro e chamar um táxi. Ao entrar no carro, percebi que as luzes de alerta tinha se apagado. Quando virei a chave, está lá o motor funcionando como novinho. Lógico que havia testemunhas para tirar sarro que eu havia empurrado o carro desnecessariamente.
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Chegou em casa rindo da história, pois insisto que vou manter o bom humor.
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De lá para cá, a minha amada condução fazia assim. Quando estava com vontade andava, se estava sem vontade, não andava. Lógico que ele perdia a vontade de andar sempre no meio a engarrafamentos. Normal, pois eu também não gosto de engarrafamentos, como poderia eu exigir que o carro se submeta a eles. Por isso aceitei essa atitude temperamental do meu bólido
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Quando a coisa começou a ficar mais grave, e ele começou a parar mesmo sem engarrafamentos, é lógico que eu decidi tomar uma atitude inteligente. É hora de arrumar o meu Buggy, que sempre nos momentos de cansaço do Espero, acabou virando o meu carro oficial, faça chuva ou faço sol.
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Ontem então, levei o Buggy para o mecânico. O mecânico que sempre me atendia, falou-me que não poderia fazer nada antes do Natal, e que então, passaria o serviço para o seu auxiliar. Ao conhecer o auxiliar, descobri o cúmulo do pessimismo. Ao explicar para ele o que deveria ser feito no Buggy, ele me respondia sempre com um “Não vai ficar bom”, “Não vai dar certo”, “Isso não vai funcionar” e o dolorido e irritante “Você deveria jogar essa merda no lixo”.
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Mantive a calma, apesar de que eu tinha certeza de que se aquele mecânico, com aquele pessimismo, decidisse brigar comigo, ele desistiria por pensar: “eu sei que vou apanhar desse cara”.
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E hoje, ao chegar na oficina, vi o Buggy parado, e o mecânico com uma lista de peças na mão. Alternador, Bateria, Carburador, Arranque, coletor, bobina e mais uma porção de juntas e arroelas. Quando vi a lista, indaguei se era necessário trocar tudo, e como resposta tive o clássico “se não comprar tudo novo não vai funcionar”. Olhando para o pessimista, pensei no que fazer com as milhões de peças recondicionadas que estão por aí, mas lembrei que tenho uma amiga que trabalha numa representação comercial de peças automotivas.
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Liguei para ela, ela conseguiu tudo a preço de custo e para parcelamento em seis parcelas, porém, quando ela me passou o preço, imaginei que bela jardineira iria virar o Buggy parado. Mas essa cabeça se colocou a pensar e logo lembrei de que tenho um cliente, funcionário de uma autopeças, que me deve há mais de ano. Fui até lá, e acho que como minha cara não era muito boa, ele conseguiu o carburador e o alternador para mim, negociando um parcelamento com o chefe dele.
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E assim foi minha tarde, buscando uma peça ali, outra lá, e aquela ainda mais longe, pensando no mecânico pessimista, que a cada retorno meu, aumentava itens a lista. Ao finalizar a lista, e descobrir que terei um Buggy zero no final das contas, no caminho da oficina meu carro resolve parar. Após alguns impropérios, xingamentos, ameaças e olhares raivosos, tentei novamente ligar o carro, e dessa vez eu não consegui. E novamente e nada. Não adianta, pois dessa vez o carro só se recupera após um tempo na UTI.
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Saio eu do carro com as peças do outro na mão e vou a pé para a oficina. Ao chegar lá, o mecânico não está mais trabalhando no Buggy, pois outros serviços mais urgentes apareceram. Pronto. Agora foi. Um carro desmontado na oficina e outro carro desmontado na rua, e eu a pé, com a certeza de que mais uma vez, passarei meu aniversário dependendo da carona de algum amigo.
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É lógico que no caminho de casa, sujo de graxa, peguei aquela chuva nas costas. É lógico que nessa mesma chuva, um galho de pinheiro caiu e rasgou parte do toldo do meu bar. É lógico que não vai sobrar grana para arrumar o carro e o toldo, e se eu realmente conseguir fazer o Buggy funcionar, é claro que a chuva vai voltar.
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Agora percebi que durante meu “Inferno Astral” faço uma bela dupla com o mecânico, pois diante do histórico dos últimos três anos, não há como deixar de ser pessimista.
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Mas tudo bem, pois poderia ser bem pior. Ainda assim vou manter meu bom humor e convocar todos a estarem presentes no final do meu Inferno Astral. Quem sabe comecemos uma campanha para reavivar meu bólido, ou mesmo algum amigo meu resolva escrever para o Lata Velha.
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De qualquer forma, gostaria de saber se alguém poderia me dar uma carona para eu ir ao meu aniversário. Alguém? É no sábado, e é lá no meu boteco. Até lá estaremos com o toldo arrumado.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vamos que Vamos - Aniversário do Samuca



de: COMPANHIA ANJOS BOÊMIOS - CURITIBA PR para: Companhia Anjos Boêmiosenviado: 8 de dezembro de 2008 15:24

Atenção queridos companheiros, amigos, colegas e agregados.

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Não bebam muito durante esta semana, pois no sábado (13 de dezembro) vocês são meus. Estarei comemorando meu aniversário (não peergunte quantos anos. É indelicado perguntar e constrangedor ter que responder 42), lá no meu boteco (Cervejaria Anjos Boêmios, Rocha Pombo, 243 - Juvevê/Alto da Glória).

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Segundo alguns amigos e amigas me contaram, e se eles realmente pretendem fazer o que estão falando, vai ser complicado o domingo. Há quem diga que estará fazendo um grande acantonamento no boteco (imagina a cena todo mundo de pijaminha. Eu espero esse mínimo de respeito)..Outro detalhe, é que será a maior concentração de músico por garrafa de cerveja da História de Curitiba. E como essa rapazeada vai estar por lá, vamos fazer uma espécie de revesamento no palco que será bem interessante.

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Lembre-se que o importante são os presentes. Aqueles que não se fizerem presentes, estarão ausentes, e por consequencia, serão alvos de fofocas, denúncias anônimas feitas por mim, mandinga da mãe Dilá, Vudú, e outras bruxarias que ninguém acredita..Então, para evitar que apareça sua foto na manchete da tribuna, apareça, caso contrário eu não me responsabilizo pelos meus atos, pois se a culpa é minha, eu coloco ela em quem eu quiser.

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Entendido?Estamos combinados?Você se considera intimado?Preciso repetir?.Não vou repetir por que não gosto de repetir e esse negócio de ficar repetindo, repetindo, repetindo,repetindo, repetindo, repetindo,repetindo, repetindo, repetindo, repetindo, repetindo,repetindo,repetindo, repetindo, repetindo, não tem nenhuma graça. Já disse que não vou repetir e pronto. Repita aquele que quiser pois comigo não. Não vou repetir e está decidido..*Neste momento entra a mãe do Samuca no quarto e lhe ministra o gardenal que estava faltando. Desculpem o incômodo. E eu não vou repetir por que esse negócio de repetir, e ficar repetindo, repetindo, repetindo, repetindo ....

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Samuel Rangel

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O SOM DO TEMPO QUE PASSA



Poderíamos dizer que é loucura pensar no som do tempo passando, mas os tempos são marcados em nossas vidas pelos ruídos harmônicos ou não que nos atingem a cada dia, cada momento. Exatamente por isso, ouvimos com certa nostalgia alguns destes ruídos. O telefone antigo, o ruído do tubo de imagem da televisão valvulada que se demorava a mostrar a imagem, e até mesmo o aço das rodas dos carroções que passavam pela caliça em frente de minha casa em minha infância, oferecendo verduras frescas colhidas logo ali onde hoje dizem ser o Ecoville.
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Quem sabe a trilha sonora original do Fantástico que anunciava o final do programa Os Trapalhões, naquela época que o Didi ainda tinha muita graça, quem sabe o som dos rádios de pilha com o ruído estridente nos jogos de futebol de domingo, sejam a grande harmonia do tempo que passa.
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Mas lembro-me com muito carinho do primeiro violão de meu irmão Sérgio, abandonado nas manhãs de 1975, quando ele vestia o guarda-pó azul para frenquentar as aulas do curso de eletrônica da então Escola Técnica, que depois viria a se chamar de Cefet.
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Um violão Gianninni, que certa vez despencou da parede por um descuido da empregada. Ao repor o instrumento, comprando um novo, aquele quebrado viria a ser meu primeiro companheiro na música. E foi neste violão quebrado, que Sérgio me ensinou três notas: Ré, Lá e Mi, que tocadas nessa ordem, fazia a base da música Dia de Santo Rei, para que ele pudesse se embrenhar nos caminhos do solo.
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Depois, eu via com mais atenção os primeiros sons da dupla Serginho e Orley, que compôs uma música que até hoje, vez por outra toco em meu bar. Mas lembro ainda em 1975, o dia em que ele comprou a sua primeira guitarra, uma Stratosonic, verde metálica, e que seria sua parceira nas bandas que viria a tocar.
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E desta história de formar uma banda, sonho de qualquer moleque que sabe algumas notas na guitarra, surgiu em 1978 a Banda Beko, Lembro-me do Barracão de uma distribuidora de bebidas que oferecia o espaço para os ensaios de final de semana daquela caixinha de rock.
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De lá para cá, sempre atraído pela música, experimentando uma infinidade de instrumentos, acabei por tomar meu próprio rumo na música, mas aquela bandinha de garagem que era criada pelo meu irmão, com uma formação, e depois outra, voltando a primeira e mudando tudo novamente, permaneceu durante os tempos, fazendo o som do tempo que passa, inovando no repertório, mas sempre dedicando-se a reprodução fiel dos Clássicos do Rock dos anos 70 e 80.
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E numa dessas noites, acabei virando sócio de um bar, depois de outro, e depois de outro, até que o destino me trás a Cervejaria Anjos Boêmios, justamente onde aquela banda que surgia 30 anos atrás, virá comemorar o seu aniversário de três décadas. Quem sabe seja esse o som do tempo que passa, trazendo-nos as rudas e os cabelos brancos, mas tornando-nos testemunhas de que o tempo, implacável, nos é muito amável a nos encher de histórias e lembranças, permitindo que a nostalgia vire música, e a música vire nostalgia.
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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

30 ANOS KEEP ON ROCKIN na CABO


A Cervejaria Anjos Boêmios recepciona neste sábado, 06 de dezembro, uma festa muito especial. A Banda Beko, e a Banda Gás Pimenta, estão comemorando agora em dezembro nada mais, nada menos, que trinta anos de existência.

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Nascidas na década de ouro do Rock Progressivo, sob a influência de ícones do Rock que até hoje ocupam o ponto mais alto do estrelato no cenário musical, as bandas permaneceram, mudando alguma coisa em sua formação, mas mantendo sempre a identidade e o estilo que as tornaram um sucesso nos anos 70 e 80 em Curitiba.

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Com o passar do tempo, seus componentes associaram a experiência ao talento, dando a esse “Dinossauro do Rock Curitibano”, uma capacidade ímpar em suas interpretações dos clássicos do rock. Alguns dos componentes, permanecem profissionalmente ligados à música, e aqueles que se dedicaram a outras atividades profissionais, não deixaram de dedicar suas horas vagas aos ensaios, estudos, compra de equipamentos de última geração e de maior qualidade..

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Serviço ____________________________

30 ANOS Keep on Rockin

Local: Cervejaria Anjos Boêmios - Rua Rocha Pombo, 243 – Juvevê/Alto da Glória

Banda Beko e Banda Gás Pimenta

Couvert: R$ 10,00

Abertura: 22 horas

Reservas e Informações: 9614-5647

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ONDE ESTÁ O TONINHO DA RENOVAR?


Isso sim é uma boa pergunta. Depois de tanto tempo estrelando as propangadas de sua loja, ninguém mais viu, ninguém mais sabe, e há aqueles que façam disto uma piada. Não cruzam muitas esquinas para você encontrar alguém com a quela piada: - O Toninho da Renovar morreu! E você com a cabeça na educação do seu filho, na festa de aniversário do afilhado e tentando lembrar o número do telefone daquele cidadão de que deve uma quantia razoável, incauto e desatento, pergunto: Ele morreu? Mas como foi isso? E o piadista arremata em meio a gargalhada de Jardim de Infância: Morreu sim! Numa explosão de ofertas!
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E você poderia perguntar por qual razão este cidadão aqui escreve sobre o cidadão.
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Então deixa que eu te conte que em uma dessas explosões de ofertas, um Colchão de molas tamanho King Size veio parar justamente na minha casa, para acomodar meus pai, que após uma cirurgia mais delicada, precisava de um belo e cômodo lugar para repouso. Alguém que nem quero lembrar quem, me havia dito que havia comprado um colchão destes naquela explosão de ofertas, pela mísera quantia de R$ 1.500, e me convenceu a comprar o dito jogo de molas.
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Após um mês de uso, meu pai relata-me que o tal colchão estava apresentando desformações, e passando a prejudicar seu repouso. Hoje me puno, mas na época não acreditei muito, imaginando que aquilo poderia ser uma manifestação das crises pós-cirúrgicas.
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Passados uns três meses, meu pai e minha mãe se unem e me mostram o colchão. Colchão? Se aquilo fosse impermeável dava para fazer uma banheira. Se fosse de inox, dava para fazer uma fracalanza de festa de Italiano, para servir “Polenta com raditio”. Ao remover os lençóis, percebi ainda mais uma valiosa função daquele “colchão”. Poderia-se perfeitamente usar daquela porcaria para usar de molde de meu pai e minha mãe. Pensei em guardar a mercadoria, pois quem sabe, na páscoa, usando daquele molde, eu poderia dar para meus pais uma réplica deles em chocolate.
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E lá se foi meu pai “ajuntar seus dicumentos, pegas suas tistimunhas e entrar com uma ação”. No caso dele, não precisou contratar um “divogado” pois dois de seus filhos o são, inclusive este humilde que relata o ocorrido.
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Percebendo que hoje no Fórum Cível as ações de cobrança e indenização levam anos, além de custarem muito caras, meu pai resolveu recorrer ao pequenas causas, que não é lá muito mais rápido, mas ao menos não é tão burocrático.
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E foi. A Pretensão Resistida objeto do litígio, foi então proposta através da peça exordial oferecida ao Poder Jurisdicional competente, oferecendo ao final, após minuciosa descrição e justificação, os requerimentos de praxe, em especial, a execução das garantias para os fins de fazer a parte Requerida proceder a devida troca da merdacoria (não é erro de digitação).
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Como os esforços no sentido de uma composição amigável na audiência preliminar baldaram inúteis, não restando qualquer conciliação viável, o rito seguiu seu trâmite legal.
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Pensando bem, nem tudo que e Legal é legal.
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Confesso que não me sinto bem ao ver meu pai, do alto de seus 73 anos, colocar seu terno lutador e a gravata alinhada, para se sentar por horas nas ante-salas do Juizado de Pequenas causas, e sempre ouvir a mesma situação. Nem o representante da Renovar (que nem existe mais), e nem o fabricante do colchão se fazem presentes. E lá vem meu pai guiando seu “golzinho mil” todo desenchavido*, balançando a cabeça negativamente, decepcionado com a Justiça, sentindo-se um tolo crente em frente a cruz caída.
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Quanto ao sono dele, meu irmão deu a ele um colchão digno do sono dos justos, onde um homem de 73 anos, honesto que nunca soube o que e parar de trabalhar possa adormecer enquanto a televisão desliga, essa mesma televisão que nos apresentou o tal Toninho que não quis renovar o colchão do meu pai, que durante tempo não pode se sentir renovado após descansar naquele colchão.
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Mas o pior, é não poder renovar a esperança na luta da Justiça com algumas pessoas como Toninho.
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A propósito, se algum dos leitores souber do paradeiro do cidadão, se é que ele não morreu mesmo naquela explosão de ofertas, faça-me um favor. Avisa a ele que pode vir buscar a merdacoria que vendeu ao meu pai, pois além de não servir como colchão, nem banheira, nem fracalanza, e nem para o raio que o parta, aquela merdacoria só esta ocupando espaço nesta casa.
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Pensei em fazer uma doação aos desabrigados de Santa Catarina, mas acho que eles já têm desgraça demais por lá. Se eu levo uma merdacoria dessa no Corpo de Bombeiros, sou capaz de apanhar feio da guarnição inteira.
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Se puderem, avisem o Toninho.
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* Desenchavido. Ao escrever essa palavra, logo o Word aparece com aquela linha vermelha trêmula sublinhando minha burrice. E como todas as vezes que isso acontece, eu fui logo buscar a sabedoria do mestre. - Óh venerável Aurélio, que nos ilumina com as palavras certas enquanto pensamos em coisas erradas, sabeis vós, do alto de seu vasto vernáculo, como poderia esse seu humilde servo escrever a palavra em questão? Para meu espanto o mestre ficou em silêncio. E nenhuma resposta para esse discípulo surpreso. Então, quem sabe tentando escapar do sufoco de minha ignorância, imaginando que o mestre poderia calar-se por alguma idiotice minha, tentei encontrar Desinchavida, Dezenchavida, Dezinchavida, Desenxavida, Desinxavida, Dezinaxavida, Dezenxavida, e nada.
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Mas eu que jurava tantas vezes ter ouvido tal palavra, e mesmo tantas outras, julgava ter lido em alguma parte. Mas nada. Meu mestre se calou. Não sei se pela minha ignorância ou outra gafe qualquer que tenha cometido. A verdade é que, em meio a meu texto, encontra-se uma palavra que eu não sei como se escreve, inclusive, acreditando até que seja capaz que ela se escreva como eu escrevi. Por isso, a deixa lá, acompanhada deste singelo asterisco, por julgá-la mais adequada do que outra qualquer. Mas se não fui claro, a verdade é que me pai voltou “Puto da vida mesmo”.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

MANUAL DO DIVORCIADO

Se você está em meio a um processo de separação, deve levar em conta algumas coisas. Se o princípio do relacionamento foi marcado por um caloroso processo emocional, é lógico que ele não acabará sem passar por outro caloroso processo emocional, só que dessa vez, mais que caloroso, ele é explosivo.
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No começo tudo não passava de arrepios e olhares meigos e apaixonados, mas agora os arrepios reaparecem com o sentido contrário, e os olhares trocados pelo ex-casal, agora vem em forma fagulhas enraivecidas e destruidoras, sem o menor temor de publicar sentimentos de recalque, tristeza, decepção e tantas outras mazelas do espírito humano.
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Mas se você está passando por isso, tenha calma. Você não será o único a encontrar na cabeça atordoada a idéia de rasgar uma foto, ou uma peça de roupa. Também não pense que você está sozinho quando se flagra tentando especular com quem ele, ou ela está saindo.
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O primeiro passo é com certeza, buscar a calma. O primeiro momento do processo da separação é totalmente emocional, e convenhamos, que nos braços da emoção, não temos nada de Homo Sapiens. Como os sentimentos que nos vem não são agradáveis, assumimos uma forma tão explosiva, que faria de Osama Bin Laden um escoteiro do parque Barigui.
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Se esse é seu momento, vamos primeiro nos dar conta de qual é o grau onde estamos. O melhor instrumento de medição da coerência na separação, por incrível que pareça, é o bom senso (as vezes nem acredito que escrevi isso, mas em relação ao processo de separação, é melhor definir as coisas bem claramente).
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Vamos às suposições.
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Se você está brigando por aqueles 19 relógios de parede que ganhou de presente de casamento, pare e analise a situação. Aquelas merrecas de relógio servem para que? Se isso realmente está acontecendo com você, imagine na hora em que for discutir a partilha do imóvel. Essa briga pela partilha dos bens, revela muito a realidade emocional dos separandos.
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Nessa nova vida que você está assumindo, a classe é fundamental, e se você perder a classe com um relógio que imita o canto de doze passarinhos, você realmente precisa de um tempo pra você. Consulte um psicólogo e vá viajar.
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Mas também não é raro encontrar aquele tipo de homem que pede todos os presentes de volta. Ao longo de vinte anos de relacionamento, ele consegue lembrar de todos, inclusive daquela vaquinha no tambor que ele trouxe de Minas Gerais. E no momento da separação, ele quer a maldita vaquinha que ele pagou R$ 2,25. Exatamente. A separação não tem nenhuma vocação racional. É de se indagar o que vai o cidadão fazer com a tal vaquinha?
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Mas as mulheres que se flagram sorrindo, por testemunharem esse comportamento em alguns camaradas, não devem tomar tal posicionamento. Se por um lado o homem comete essas sandices na separação, por outro, existem mulheres que não conseguem manter a separação como assunto particular.
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Lembro-me de uma oportunidade em que eu dirigia meu carro por um bairro nobre da cidade, e ao cruzar um prédio de alto padrão, eu vi roupas voando pela janela. Ali, na calçada, um cidadão juntava camisas, calças e jaquetas, em silêncio, e notoriamente envergonhado pela situação vexatória. O único problema é que, entre a janela que gritava e regorgitava roupas e o cidadão que as juntava, havia um pé de Ipê Amarelo. Em seus galhos, por cerca de uma semana repousaram cuecas e camisetas, até que a prefeitura municipal programasse uma poda para a árvore bem vestida.
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Levando-se em conta isso, é de se propor uma reflexão. Sabendo-se de que o processo de separação é um turbilhão emocional, tudo o que o separando não precisa, é de uma porção de atitudes que venham a despertar a sensação de vergonha que desperta depois e pode durar dias, meses ou até mesmo anos.
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Evite pois, atitudes que venham a colocar você em situação desconfortável. A separação por si só já é bastante desagradável, e não precisa de nenhum tipo de esforço seu, para se tornar um verdadeiro calvário da culpa e da vergonha.
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E existem vários motivos para que você se controle.
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Não existe nada definitivo, e nem mesmo, neste momento conturbado da separação, você pode ter certeza de que ela é definitiva. Tome cuidado para não criar situações irreversíveis.
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O segundo motivo, é que, em sendo definitiva a separação, você precisará reconstruir toda uma vida emocional. Fotos estampadas na manchete de jornais sensacionalistas, e exposições exageradas de sentimentos e emoções, podem ser extremamente prejudiciais à sua imagem. Lembre-se que uma boa dose de classe e charme, ajudará você a reencontrar equilíbrio em sua vida emocional.
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Também é de se considerar que a exposição, acaba tornando os confrontos mais graves. Depois que o fato vira público, ele deixa de ser fato para ser um vexame, um escândalo.
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Então, por mais difícil que seja ou pareça, procure manter a cabeça pensante sobre os ombros, mantenha a calma, converse com algum amigo de verdade e abertamente, visite a família, compre aquela roupa que a outra pessoa tirou de seu armário, use o tempo para você. Da mesma forma, se tiver filhos, seja o pai ou a mãe que você quer, sem ter que ouvir críticas ou censuras sobre a forma com que você fala, brinca ou briga com seus filhos.
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Tudo na vida tem um lado positivo, e então, seja temporária ou definitiva sua separação, procure enxergar esse período como tempo de reconciliação consigo mesmo, e desse reencontro, restaure a pessoa que mudou tanto durante a adaptação à vida de outra pessoa.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

QUANDO SE TEM UM CARRO VELHO, O QUANTO VALE UM GRANDE AMIGO


Então você comprou aquele carrão quase zerinho, e os seus amigos já cercaram você no estacionamento e começaram com a arcaica piadinha “ e os meus deizão nada”. Você saiu do estacionamento se julgando um galã global, e algumas mulheres na rua passaram a te olhar com outros olhos no trânsito. Finalmente você entrava para o seleto grupo dos “bem motorizados”.
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O tempo foi passando e você nem viu. Quando alguém lhe fazia uma proposta para comprar o carrão, você respondia com o dobro do valor do mercado. Mas o tempo continuou passando, e você nem aí. Um certo dia você percebe que seus amigos deixaram de fazer lances para o seu carro, e naquele dia, quando você embarca no carrão, você vê seu retrovisor interno despencar sobre seu colo.
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Pronto. A verdade veio a tona e a ficha caiu junto com o espelho retrovisor. Você é o proprietário de uma nave, algo de outro mundo, que ninguém mais tem e nem se interessa em ter um. Quando você percebe que o carro esta velho, apesar de sua ligação emocional com o bólido, você compra o Alô Negócios (coisa de pobre mesmo), para dar uma olhadela no preço de mercado da ferragem. Foleando as páginas, em negrito você vê o anúncio: TROCO CARRINHO DE CACHORRO QUENTE POR SOM, CARRO DE MENOR VALOR, MENOS ESPERO (Não insista).
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Então vem a imagem do vendedor que te entregou as chaves da barca na concessionária, dizendo em alto e bom tom que aquele carro jamais iria desvalorizar. Você pensa também na mãe desse vendedor, mas antes que a ira faça você começar a temporada de caça à criatura, você se dá conta de que está com o bólido há mais de dez anos. Opa! Há dez anos atrás, um Pentiun 233 era sonho de consumo de qualquer Escritório de Advocacia de Respeito. Porquê o carro não poderia envelhecer também.
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Neste dia você finalmente descobre o que realmente significa a palavra casamento. Você definitivamente está casado com a ferragem, e não adianta pensar em se livrar. Ninguém virá buscar. Surge então a idéia de reforma.
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Um pneu novo (aliás são quatro), um joguinho de rodas, um insufilm, mas nada adianta. A caranga não perde aquele ar “senhoresco”, com os traços de avô, e precisando de uma bengala. Seu destino está definido. O máximo que você vai conseguir, é vender a caranga daqui uns vinte anos para a Rede Globo gravar alguma novela de época que se passe nos anos 90.
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Nessas horas os amigos são importantes. Eles não abandonarão você só por causa do seu bólido, apesar de rirem aos montes em sua chegada nos churrascos. Tudo bem, afinal, sempre gostei de comédia. Apenas acho que não deveria se passar dentro do meu próprio carro e sem público pagante.
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Hoje, cansado de ver o meu querido automóvel (e por mais que outros não queiram, eu o chamo assim. Sim, ele é meu automóvel), arrastar o cano de escape como se estivesse tentando arar o asfalto do centro de Curitiba, levei ao meu bom amigo Hector, da Rota 27, para ver se em algum armário velho, ele encontraria uma borracha de sustentação do escapamento.
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Erguemos o carro, enquanto ele dizia que era melhor eu procurar no museu do automóvel. Enquanto o carro erguia, um rasgo no pneu do tamanho da falha de San Andreas, que se explodem na estrada, São Francisco nenhum dará um jeito de salvar sua pele.
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Certo, então trocamos o pneu também Hector.
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Enquanto o carro esta erguido, pensei que o serviço de lavagem era gratuito, pois uma enorme quantidade de líquido corria por debaixo do carro. Só então fui perceber que se tratava da mangueira do respiro do tanque de gasolina, e o que escorria pelo chão, era justamente os trocados que eu pretendia usar no final de semana no parque com meu filho. Solto o grito: Tampem essa mer...cadoria! Eu não posso perder dinheiro assim (mas como se pode perder aquilo que nunca se encontrou?)
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Depois de uma hora fuçando no tanque para cessar o vazamento, chega a hora de pagar a conta. Um pneu, duas borrachas, uma mangueira, mais a mão de obra. E eu só tenho R$ 50 no bolso. Como é que vou acertar a situação agora.
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Quando chego ao caixa já com o grito pronto: Fui assaltado!, Hector olha para mim e diz. Fica tranquilo Samuca, me dá “deizão” da borracha e está tudo certo.
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Olhei incrédulo. E quando insistia para ele para pagar os únicos R$ 50 que tinha, ele sorri e me desabafa. Sabe o que é Samuca? É que adoro trabalhar com velharia.
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Nessas horas é que entendemos que amigos são extremamente importantes, embora nem sempre lhe façam bem à sua auto-estima.
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Em falar em auto-estima, quem sabe a minha sofra exatamente por eu não ter diferenciado a auto-estima da estima pelo auto.

HISTÓRIA EM QUADRADINHOS VIII - Buddy e Analice em O RISCO QUE CORRE UM CAFAJESTE