sexta-feira, 30 de maio de 2008

E A PRIMEIRA MOTO? NÃO CONTEI? (Samuel Rangel)




Quando escrevi o texto contando do meu primeiro carro, aquele mesmo que pegou fogo, ele poderia ter sido o segundo. Sim. Eu havia tido a oportunidade de comprar meu primeiro carro uns dois anos antes, quando vi no Alô Negócios (leitura de cabeceira do universo pobre), um anúncio que dizia: “Vendo DKW precisando de reparos. Aceito troca também”.

Disquei o número do anúncio e pedi informações sobre o bólido. Depois de três ou quatro ligações, o vendedor me dá um retorno informando que aceitava minha proposta, algo em torno de R$ 150,00, um som 3 em 1 Gradiente com Tape Deck, e um violão Giannini modelo Signorina.
Guto, meu amigão, cansado de me emprestar a Brasília para minha noites “calientes” no Verde Batel, passou em minha casa, carregou o carro com os badulaques da barganha, e fomos felizes para a Vila Tingui para efetivar o negócio da China.

Lá chegando, um DKW, motor 3 cilindros e 3 bobinas, mas só dois tempos, vermelho ao que se via por baixo da poeira. Enquanto verificava o funcionamento do DKW, fui interrompido pelo Guto para perceber um pequeno detalhe. Enquanto o motor funcionava, eu não havia percebido que por trás do DKW, havia sido construído um muro.

Por mais incrível que pareça, o carro estava ali há tanto tempo, que construíram um muro atrás do carro, trancando-o entre a casa e o próprio muro, com não mais de 20 cm na frente e atrás. Quando perguntei ao vendedor como faria para retirar o carro, ele me disse que seria necessário derrubar o muro.

Até aí sem problemas, mas quando o vendedor me disse que a recontrução do muro seria por minha conta, descobri que eu estaria pagando pelo DKW o preço de uma Vemaguet. Como eu não tinha a grana para reconstruir o muro, desisti da compra e dei adeus ao DKW.

Com o som no carro, o violão e a grana no bolso, voltei para casa triste, e Guto ainda incomodado com o lance dos empréstimos do carro.

Como eu precisava me libertar daquela situação, resolvi então desistir de comprar um carro, e resolvi comprar um meio de locomoção.

Com alguma grana a mais, não demorou para aparecer a oportunidade de comprar uma moto Honda CB350. O vendedor veio com a moto até a minha casa, o que significava que ela realmente era um meio de transporte (e não estava dentro presa entre um muro e uma casa). Duas horas de negociação como que jogando bafo na frente da minha casa, e a moto era minha. E o Guto se mandou com o vendedor dentro da Brasília, levando o som, o violão, e uma luneta.


Fiquei radiante, e aquele foi meu meio de transporte durante um longo tempo.

Até aí não há nada de engraçado, porém, há detalhes a esclarecer.

A CB 350, é uma moto com motor 2 cilindros, dois carburadores e duas bobinas, apesar de ser 4 tempos. Era uma moto extremamente difícil de regular, e por causa disso, eu era cliente assíduo do “Sujeira”, um mecânico excelente mas com um humor de inspetora de colégio. Com 3 visitas por semana, o mecânico acabou me expulsando de sua oficina me dando um simples conselho: VENDA ESSA MERDA!!!!

Como não havia comprador, continuei com ela ainda durante um bom tempo. O defeito era simples. A moto era tão temperamental quanto o Sujeira. Como o motor era dois cilindros, raros eram os momentos onde os dois trabalhavam em harmonia. Normalmente eu tinha uma moto 350, funcionando como uma 175, e consumindo como uma 700. Até aí tudo bem.

O grande problema era quando eu, acostumado a acelerar com um cilindro só, via o outro voltar a funcionar sem aviso. Quando isso acontecia, a moto 175 dobrava a potencia e empinava, quase jogando para fora esse condutor que lhes escreve. Passei a ser conhecido então como o “louco da motocicleta da Campina do Siqueira”. Esse apelido não me caía bem, pois era injusto. O certo seria o “cara da motocicleta louca”.

Com o passar do tempo, os dois cilindros começaram a fazer greve juntos. Então eu andava pela rápida do Campo Comprido quando simplesmente o motor desligava sozinho. Como não dá para fumar andando de moto (eu sei por que queimei algumas vezes os cílios e as sobrancelhas tentando), eu descia da moto e acendia meu Carlton para esperar a boa vontade da motocicleta. Após normalmente um cigarro, mas as vezes dois, a moto voltava a funcionar e eu podia seguir para a minha casa.

Numa dessas vezes, o Guto vinha acompanhando com sua Brasília, até que, na curva do pinheiro, a moto desligou. Acendi o cigarrinho e pronto. Após o último trago, a moto pegou, e o motor parecia roncar forte. Quando arranquei, descobri que havia algo errado, pois a moto empinou e saiu em alta velocidade. Um motoqueiro que havia passado por mim muito rápido, viu com espanto quando eu e a maluca motorizada passamos por ele a mais de 140 km/h. Quando eu já me sentia dono de uma potente moto, ela morreu novamente, e o motoqueiro passou por mim rindo.

Em outra oportunidade, dois moleques montados em uma RDZ 135, me provocavam para uma corridinha de uma quadra. Quando arranquei, qual não foi minha surpresa de saber que apenas um cilindro funcionava. Tomei uma surra de dois moleques, montados em uma moto com um terço da potência. Senti-me um tanto envergonhado, mas como a Batel, em pleno domingo, começou a rir e coro, eu acabei percebendo que eu tinha futuro como comediante. Já como motoqueiro? Motoqueiro não.

Após algum tempo troquei a moto por um casal de papagaios, mas que acabei descobrindo ser um casal homossexual. Tudo bem. Eu não queria tirar cria mesmo.

Se duvidar de algo, pergunte para o Guto.

Um comentário:

td disse...

chorei de rir, lendo este post
Entrei pra ver o brasileiro e parei neste post hilário..

SAV