domingo, 23 de março de 2008

O GRANDE PALPITEIRO (Samuel Rangel)

Cuidado! Eles estão por toda parte! E estão só esperando você começar a fazer algo para te atacar. Se você for pintar a parede de sua casa, um despencará do lustre. Se você for fazer churrasco, um vai ficar em pé sobre a grelha mandando você virar a maldita carne. E não pense que se você for cortar a grama, não vai parecer um daquele que vai dizer que você está fazendo errado.

Os palpiteiros se classificam em várias espécies, mas sem dúvida, a pior delas é o chefe. A única que se assemelha em pentelhação é o irmão mais velho. E é de se convir, que ao se tornar pai ou mãe, você acaba se tornando um palpiteiro também. Mas fazer o que? É da natureza!

Na realidade, enquanto cortava a grama e via uma multidão de vizinhos olhando, eu começava a perceber que ia sofrer um ataque de um palpiteiro. A angústia estava crescendo, e eu sabia que a qualquer momento eu seria uma vítima. Provando que ainda sobrevive no homem um “q” de animal, meu instinto estava certo. E lá veio o vizinho dizendo que eu gastaria muito nylon daquele jeito. Eu tinha que deixar a roçadeira paralela ao chão.

Olhei para ele indignado, até porque, era a grama dele que eu estava cortando. O cidadão podia vender “crédito carbono” com a floresta de mato que deixou levantar ao lado da minha casa. E vez por outra, eu via um mendigo dormindo feliz na filial do Congo que estava ao lado da minha casa. Quando percebi que aquilo colocava em risco a segurança de minha família, juntei os cacarecos e fui cortar a grama do cidadão.

Depois de duas horas suando as cataratas do Iguaçu, o cidadão me aparece no muro dizendo que eu estava fazendo errado. Naquele momento percebi que sou capaz de desenvolver uma surdez seletiva, e o barulho da máquina ainda me ajudava a esquecer do meu querido vizinho, que é meu amigo, mas não corta a grama, e ainda é palipiteiro.

E não é só vizinho. Quando fiz o Cartaz de Analice em Busca do Homem Perfeito, fui feliz da vida mostrar para o elenco. Logo apareceu alguém para dizer: Não gostei. Depois de quatro horas depositadas naquela merda de Paint Brusch (sei lá se é assim que se escreve, mas não venha me dar palpites), a minha melhor amiga, usando de sua sinceridade, vem dizer que não está bom?

O interessante mesmo, é que só não aprece um palpiteiro quando estamos fazendo cagada. Aliás, é exatamente no banheiro, quando despejamos nossa pútrida existência no vaso, é que estamos livres dos palpiteiros. Imaginou a cena? O Palpiteiro dizendo: Vai! Agora! Força!

Aliás, tenho que encerrar o texto aqui, por que meu sobrinho veio ler o que estou escrevendo e vai dar palpite. Meu Deus!!!! Maria José!!!! Me salve dessas criaturas.

E se você não gostou do que eu escrevi, ou acha que poderia ter escrito melhor, cuidado. Você pode ter sido abduzido pelos alienígenas palpiteiros do inferno.

Como meu sobrinho se foi, acho que ainda posso dizer.

Palpiteiros são aqueles lazarentos que embora digam que fazem melhor que você, nunca se escalam para fazer em seu lugar. São pessoas carentes, que de alguma forma, precisam mostrar para eles mesmos, que nossos erros são maiores que os deles.

Mas quer erros? Se eles não fazem nada!

Fecho com a máxima do teatro que aprendi com o grande e talentos diretor George Sada:

NÃO FALE! FAÇA!