sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O SOM DO TEMPO QUE PASSA



Poderíamos dizer que é loucura pensar no som do tempo passando, mas os tempos são marcados em nossas vidas pelos ruídos harmônicos ou não que nos atingem a cada dia, cada momento. Exatamente por isso, ouvimos com certa nostalgia alguns destes ruídos. O telefone antigo, o ruído do tubo de imagem da televisão valvulada que se demorava a mostrar a imagem, e até mesmo o aço das rodas dos carroções que passavam pela caliça em frente de minha casa em minha infância, oferecendo verduras frescas colhidas logo ali onde hoje dizem ser o Ecoville.
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Quem sabe a trilha sonora original do Fantástico que anunciava o final do programa Os Trapalhões, naquela época que o Didi ainda tinha muita graça, quem sabe o som dos rádios de pilha com o ruído estridente nos jogos de futebol de domingo, sejam a grande harmonia do tempo que passa.
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Mas lembro-me com muito carinho do primeiro violão de meu irmão Sérgio, abandonado nas manhãs de 1975, quando ele vestia o guarda-pó azul para frenquentar as aulas do curso de eletrônica da então Escola Técnica, que depois viria a se chamar de Cefet.
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Um violão Gianninni, que certa vez despencou da parede por um descuido da empregada. Ao repor o instrumento, comprando um novo, aquele quebrado viria a ser meu primeiro companheiro na música. E foi neste violão quebrado, que Sérgio me ensinou três notas: Ré, Lá e Mi, que tocadas nessa ordem, fazia a base da música Dia de Santo Rei, para que ele pudesse se embrenhar nos caminhos do solo.
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Depois, eu via com mais atenção os primeiros sons da dupla Serginho e Orley, que compôs uma música que até hoje, vez por outra toco em meu bar. Mas lembro ainda em 1975, o dia em que ele comprou a sua primeira guitarra, uma Stratosonic, verde metálica, e que seria sua parceira nas bandas que viria a tocar.
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E desta história de formar uma banda, sonho de qualquer moleque que sabe algumas notas na guitarra, surgiu em 1978 a Banda Beko, Lembro-me do Barracão de uma distribuidora de bebidas que oferecia o espaço para os ensaios de final de semana daquela caixinha de rock.
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De lá para cá, sempre atraído pela música, experimentando uma infinidade de instrumentos, acabei por tomar meu próprio rumo na música, mas aquela bandinha de garagem que era criada pelo meu irmão, com uma formação, e depois outra, voltando a primeira e mudando tudo novamente, permaneceu durante os tempos, fazendo o som do tempo que passa, inovando no repertório, mas sempre dedicando-se a reprodução fiel dos Clássicos do Rock dos anos 70 e 80.
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E numa dessas noites, acabei virando sócio de um bar, depois de outro, e depois de outro, até que o destino me trás a Cervejaria Anjos Boêmios, justamente onde aquela banda que surgia 30 anos atrás, virá comemorar o seu aniversário de três décadas. Quem sabe seja esse o som do tempo que passa, trazendo-nos as rudas e os cabelos brancos, mas tornando-nos testemunhas de que o tempo, implacável, nos é muito amável a nos encher de histórias e lembranças, permitindo que a nostalgia vire música, e a música vire nostalgia.
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