terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O DIA EM QUE A TERRA ACABOU

Lembro-me com clareza da esposa do major “não sei o que”, saindo do túnel destruído pelos extra-terrestres no filme Independence Day. E para ser bem sincero, hoje ao transitar em Curitiba, tive mais ou menos a mesma sensação. Ruas movimentadas em dias normais, hoje convidavam aquelas esferas de feno seco como se fossem parte de uma cidade fantasma no melhor estilo velho oeste.
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E lá fui eu procurando sobreviventes da “febre do litoral” que assolou essa cidade. Encontrei primeiro Ronaldo, meu irmão adotivo, e fiquei feliz. Mas já nos primeiros momentos de nossa conversa, percebi que ele também estava com alguns sintomas e não escaparia à febre. Já no meio da conversa ele confirmou que estará descendo amanhã, dia 31 de dezembro, logo após ao almoço. Meu Deus! Até a Andressa Ramos vai viajar! Ela também pegou essa "Febre do Litoral".
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E peguei meu buggy tendo a certeza de que eu estava no lugar errado na hora errada. Com tantos contatos com o tal vírus da febre do litoral, e eu acabei aqui, resistindo. Mas apesar de ter essa sensação de estar errado quanto ao lugar e à hora, percebi que a coisa não é exatamente assim. Existem situações muito mais clássicas desses equívocos. Tanto é verdade que penso que eu poderia estar no lugar daquela turista, que estava em cima do elefante macho quando ele resolveu acasalar com aquela gostosa daquela elefantinha. Mas mesmo assim, calma lá. Mesmo em relação à turista, ela poderia estar em situação ainda pior. É de se imaginar ela no lombo da elefanta e não do elefante.
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Seja como for, Curitiba está às moscas. De certa forma, tirando os prédios de arquitetura ousada, Curitiba hoje me fez lembrar do tempo em que não havia engarrafamentos. É certo que mesmo que se houvesse engarrafamentos isso teria pouca importância para mim, pois na época eu não tinha carro. Apenas atrasaria um pouco mais o ônibus da linha Vicente Machado que sempre tão gentilmente me despejou na Praça Osório.
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E lembrando-me disto, passei a tarde fria deste verão curitibano, com aquele saudosismo teimoso e gostoso, do tempo que negócios eram feitos no fio de bigode em plena capital paranaense. Mas o tempo mudou, e hoje amigos se traem por dinheiro, irmãos se estapeiam por heranças, e mais uma porção de sacanagens estão a anunciar que o Bigorrilho, Curitiba, e todo o resto do mundo não é mais o mesmo.
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Tanto é verdade, que como sou o morador de uma das únicas residências com vida nesta cidade, todos os pedintes da Campina do Siqueira, Batel e Seminário, uniram-se com os pedintes do Bigorrilho e organizaram uma respeitável fila em frente a minha campainha. Atendi bem aos quatro ou cinco primeiro, mas depois disso, ficou insuportável. E o mais engraçado é que eles ainda resolveram começar a ofender minha honra e de meus familiares quando eu disse que não havia mais dinheiro, não havia mais comida, e nem o raio que o parta. Ora! Será que a prefeitura não tem plantão? Façam-me o favor senhores pedintes, pois se ficar em Curitiba na passagem do ano que vem, vou estabelecer senhas e horário de atendimento.
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E não foram só as ruas que ficaram vazias. Hoje ao acessar a minha conta no orkut, tive um surto depressivo, normalmente visitado por cerca de cinquenta pessoas todos os dias, hoje havia o registro de três minguadas visitinhas de nada. Eu até poderia escrever esse nada com “m”.
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Quando cliquei sobre o BuddyPoke, flagrei o bonequinho dormindo em pleno horário de expediente. Mas o que é isso? Acabei resolvendo perdoar o pequeno cidadão virtual por guarda por ele uma estima especial.
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Tentei acessar o messenger na busca de algum sobrevivente. E lá estava eles todos verdinhos bem no canto de minha tela. Ao chacoalha-los fui surpreso de saber que eles estão na praia também. Pensei comigo então numa sugestão para o messenger. Além dos clássicos “on line”, ausente, ocupado e tantas outras coisas, que normalmente as pessoas completam com tomando banho, escovando os dentes ou chapiscando a latrina, há algo que poderia ser colocado a disposição dos usuários: “NA PRAIA” que com certeza todos os meus amigos completariam com UH UH UH! Foca animal!. Também seria possível que no bonequinho verde, aparecesse um óculos escuros e uma sunga escrito “I love matinhos”.
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Como comecei e me irritar com as pessoas que estava no msn e na praia, resolvi abrir meu email. E pronto. Nesse momento tive certeza. O mundo acabou, ou Jornal Nacional foi gravado ontem, e eu estou aqui sozinho. Nenhuma, absolutamente nenhuma daquelas correntes do tipo, se não passar vai acontecer isso ou aquilo. Nenhum email daqueles que anuncia uma promoção que aquela super mega power plus multinacional está dando computadores de graça. Nem mesmo uma email de sacanagem daquele amigo maníaco. Apenas aquelas mensagens da revista Veja e do Correio. Mas isso eu sei que quem manda são máquinas. Realmente o mundo acabou.
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Eu sabia que o mundo não andava bem. Aliás, eu já havia até falado por aqui. Mas o mundo acabar justamente entre essas datas festivas, e o pior, ninguém pra me avisar. E pior ainda é pensar o tanto de promessas de ano novo que não serão cumpridas no ano que vem, apesar que não seriam mesmo se o mundo não acabassem.
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Mas se o mundo acabou, eu estou escrevendo para que?
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Tem alguém aí?
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Eu estou parecendo o Will Smith no filme “Eu Sou a Lenda”.
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Você está aí?
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Mas não era exatamente ele quem fazia o tal major que acabou com a nave extra-terrestre e ainda foi fumar um charuto? Nossa! Que coinciência... Isso chega a dar arrepios!
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Alô!
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Ninguém responde, mas acho que foi.
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Alô!
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É. Não adianta mesmo.
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Mas quem sabe seja um sonho e eu acorde no ano que vem.