O Horário Eleitoral que agora ocupa os horários nobres da televisão, além de se prestar ao lazer, presta-se também como uma oportunidade de aprofundar estudos antropológicos, sociológicos e mesmo biológicos, isto diante da diversidade de candidatos e de algumas verdadeiras pérolas de campanha.
Como na esfera das eleições majoritárias a questão já parece estar resolvida, graças a Deus, pois nenhuma “Luíza Erondina bem acabada” vai colocar em risco a reeleição do atual prefeito, a questão se resume à escolha dos futuros ocupantes das cadeiras da Câmara Municipal de Curitiba, os vereadores que durante quatro anos (e realmente é muito tempo, pois as coisas não vão bem), irão representar a vontade do povo na importantíssima tarefa de desempenhar o Poder Legislativo.
Esperando que minha ironia serja perdoada, chego a encontrar no programa eleitoral gratuito, um programa de humor muito melhor do que alguns que estampam a tela da televisão nos finais de semana.
Rimas pobres, dedões fazendo positivo, leituras sem vírgulas e um “s” que insiste em abandonar os plurais, são a tônica daquela meia hora. Lembro-me do tempo de criança, quando achava extremamente chata aquela uma hora dividida entre MDB e ARENA (Neste momento você percebeu que estou ficando velho).
Mas para enriquecer a comédia eleitoral, surge então o pluripartidarismo, permitindo que uma infinidade de figuras engraçadíssimas venham nos divertir com seus “slogans” ainda mais hilários. Eu mesmo, com o auxílio de minha atenciosa mãe, criei alguns para uma suposta candidatura própria:
“Não caia na arapuca! Vote no Samuca!”
Quando surgiu tamanha criatividade, que por mais pueril que seja, supera em muito alguns “slogans”, aos risos a família que almoçava resolveu lançar minha candidatura imaginária à câmara de Samuelandia do Meio.
Então minha irmã dispara: “Vote Samuca! Esse não mete a mão na cumbuca!”, mas imediatamente meu pai chacoalhou os bigodes e achou muito pior que a primeira.
Minha vó, que se deliciava com os bolinhos de carne moída, demonstrou seu talento poético disparando: “Se a situação está maluca, Vote Samuca!”, mas a minha consultoria de marketing, encabeçada pela diarista que nos visita todas as quintas, rejeitou de plano esse mote.
Meu pai, sempre caladão, deixou escapar um sorriso e sugeriu “Para acabar com esse Bordel! Vote Samuel Rangel! Bom o “slogan”, mas não creio que ele seria muito aceito, principalmente por aqueles que se entregam aos goles de cerveja em minha companhia.
Lembrando de alguns pastores de sei lá qual religião, minha mãe sugeriu: “Deus no Céu, e na Câmara Samuel Rangel!”, mas como já tem muita gente usando o nome de Deus nessas eleições, acho que não devo envolver o nome Dele em vão. Tudo bem. Enquanto paquerava outro bolinho de carne, justamente aquele bem torradinho, até consegui imaginar o Samuel Rangel com os dois polegares balançando no horário eleitoral, mas como não sou nada fotogênico, achei melhor pensar em algo mais sério, do tipo o cara durão.
E o a brincadeira seguiu, e a política uniu a família no almoço ocupando o assunto. Minha avó finalizou: Vote Samuel Rangel! Esse cumpre o papel! Quando perguntei para ela de onde veio a idéia, ela lembrou-me que estou estudando Artes Cênicas, e desempenhando alguns papéis no teatro.
Decididamente, melhor renunciar à minha candidatura à prefeitura de Samuelandia do Meio, e voltar a tratar o assunto com a seriedade que ele exige.
Essa diversificada galeria de candidatos, revela que o eleitor precisa escolher um candidato, e acho que estaria eu a colaborar com o meu país, se eu lembrasse a todos que para uma escolha, critérios são necessários.
Jamais nos livraremos daqueles que escolhem seus candidatos, e as vezes até trabalham para eles, em troca de cargos, nomeações, e todo tipo de vantagens. Também existem aqueles que escolhem o candidato pela cor dos olhos, pela voz, ou até mesmo pelo partido. Critérios como estes, justificam a situação política brasileira, revelando que a continuidade desse sistema, conduzirá o estado e o país a uma situação insustentável.
E não são poucos aqueles que sustentam sua campanha alegando apenas que a situação tem que mudar. Mas acho que fica bem claro que quando estamos diante de uma possibilidade de mudança, é necessário identificar quando a mudança é para pior.
Para esclarecer melhor o assunto, acho que o país passou por várias mudanças. Tanto criticaram Fernando Henrique Cardoso, e resolveram mudar para Lula (eu sei, pois fui dos que errou elegendo Lula a primeira vez). Essa mudança foi para melhor? Cada um terá seus critérios para avaliar e responder.
Então, a bem da leveza deste texto, vamos inverter a ordem natural, e indicar alguns critérios que não são os mais adequados na escolha do candidato.
Não vote apenas por que achou o (a) candidato (a) bonitinho (a). Lembre-se que isso é eleição, e não um programa para encontrar namorado (a) como aquele da Ana Maria Braga. Não confunda eleição com concurso de beleza. Se fossem coisas semelhantes, segundo as mulheres o Paulo Zulú seria presidente, e para mim, com certeza Daniela Cicarelli teria superado esse tal Paulo no primeiro turno mesmo. Seria um país bem interessante de ir a praia.
Não vote apenas por que ele (a) fala bem. Eleição não é concurso de oratória. Lógico que saber se expressar é fundamental para um político, até porque alguns candidatos mal sabem o que é uma vírgula. Se falar bem fosse tudo, com certeza o presidente seria Arnaldo Jabor.
Não vote apenas por que ele (a) é religioso (a). A Câmara Municipal não é uma igreja (aliás anda bem longe de ser uma igreja). Por mais que o cidadão seja religioso, orações não vão resolver nosso problema. E que Deus me perdoe. Não é que eu não acredite na Oração, mas acho que Deus não está interessado em se envolver em política. Pelo jeito que a coisa anda, poderia manchar sua reputação.
Não vote apenas por que ele (a) é seu amigo (a), parente, ou coisa que o valha. Todo mundo tem um amigo sacana, um parente vagabundo e uma coisa parecida absolutamente desonesta. Se você quer fazer algo pelos amigos, faça um churrasco, cante parabéns uma vez por ano, ou ponha uma foto no orkut. A Câmara não é churrasqueira de prédio para você ficar reunindo amigos nela.
Não vote apenas por que ele (a) é honesto (a). Não adianta nada a figura ser honesta, e ser uma mula. E mesmo se há alguma inteligência, hoje políticos não podem ser ingênuos. Se a honestidade fosse o suficiente, o Padre Júlio teria ganho qualquer sufrágio.
Não vote por que ele (a) te prometeu um cargo. O Brasil encontra-se na situação que está por que a maioria acreditou nas promessas do Lula. Depois ele (a) se elege e você não vai mais vê-lo por quatro anos. Nem telefone, nem carta. Somente aquelas porcarias daqueles cartões de Feliz Aniversário que os políticos insistem em mandar. (*Por obséquio. Senhores Políticos. Da próxima vez que me mandarem um cartão daquele, não esqueçam de anexar o cartão da bolsa família, bolsa teatro, bolsa advocacia, bolsa blogueiro, e bolsa bolsista para mim).
Não vote por que ele (a) é assistencialista. Não foram poucos os políticos que se elegeram com dentaduras, cadeiras de roda, e uma porção de esmolas. A Câmara tem a obrigação de desempenhar a legislatura objetivando um avanço social no sentido do bem comum. Existem organizações não governamentais que tentam suprir as ausências do governo. A Câmara deve exigir do Governo que supra suas próprias ausências.
Não vote apenas por que o (a) candidato (a) aparece demais. Muito material de campanha significa que ele tem muito dinheiro investido na campanha. E ter muito dinheiro investido, provavelmente permite que se tenha uma noção de quanto ele (a) deseja recuperar depois de eleito.
Não vote apenas para protestar. Existem os pessimistas, ou super pessimistas, e aqueles que acham que nem o pessimismo mais resistirá. Mas se você quer protestar, proteste com inteligênci. Para isso existem espaços como esse, adesivos de carro, e tantas outras maneiras de você lidar com os desconfortos do seu fígado. O voto é escolha. Então vote em um candidato que realmente tenha condições de representar sua revolta, ou chegue mais perto disso. Outro fator importante é conhecer a diferença entre voto branco e voto nulo.
Não vote apenas para ganhar. Eleição não é Futebol. Tente lembrar-se que você está votando, e não torcendo. Nesta infância de uma suposta democracia onde vivemos, já pudemos perceber que tem eleitor que quer ganhar. Se fosse assim, o Coritiba seria Governador do Estado e o São Paulo presidente do Brasil.
De qualquer forma, manifestamos desde logo que estamos atentos, e faremos uma coleta dessas campanhas primorosas. Surpreendente é que justamente a melhor campanha vem de alguém que não se esperava. Para finalizar, é extremamente elogiosa a campanha da Justiça Eleitoral. Se for pela melhor campanha, a Justiça Eleitoral está eleita.
Para você não ficar andando em círculos, não ficar sapateando na frente de policiais, não perder o trem, não ter que ficar ouvindo zumbido por quatro anos, e finalmente para não chorar quando o seu celular toca, leve a sério o seu voto. Quatro anos é muito tempo.
Sim.
Quatro anos realmente é muito tempo.
Pergunte para alguém casado.