quinta-feira, 31 de julho de 2008

INFERNO ASTRAL (Samuel Rangel)

"Texto publicado no Domingo, 19 de Agosto de 2007, e escrito na tenebrosa primeira quizena de dezembro de 2006 "

Inferno Astral.

Dizem que as vésperas do aniversário, todos nós passamos por uma fase difícil, onde os problemas aparecem aos montes, e as coisas mais fáceis começam a dar errado. Apesar de ter escrito com muito carinho sobre o “Centauro”, nunca acreditei em astrologia, e esse lance de signos para mim sempre foi mera brincadeira.

Mas esse ano foi demais. Se eu não acreditava, devo começar a rever meus conceitos.

Na segunda-feira, tendo um daqueles surtos de bom filho, peguei meu querido papai e fui leva-lo à farmácia para tomar uma injeção, pois estava com tendinite no braço. Chegando na frente da farmácia, ele me pede que estacione o carro ali mesmo pois não iria demorar.

Saí do carro para fumar aquele cigarrinho básico e notei que um Voyage, meio “veiagem”, morreu bem no meio da pista, e não havia diabo que o fizesse funcionar. Logo atrás daquele bólido havia um Fiesta. Enlouquecido pela inércia do paquiderme metálico, o doce condutor do veículo, sem dar aquela olhadela no retrovisor (atitude que deixou de praticar em função de estar mais ocupado com os xingamentos mais clássicos e cabeludos do trânsito) manobrou para a esquerda mudando de faixa sem sinalizar.

Em contra partida, uma desvairada psicopata ensandecida que conduzia um belo Audy A3 vinha trafegando em velocidade de autódromo. Quem sabe por não saber qual a função do pedal do meio, a criatura nem freiou. Pronto, aquele som característico e após colidir com o Fiesta, o Audy desgovernado começa a escorregar, escorregar, escorregar e pronto: demoliu a traseira do Espero. Passados uns cinco segundos é que lembrei que o carro estacionado ali, com a bunda deflorada pelo Audy psicopata, era o meu.

Soltei um Puta que Pariu com as mãos subindo a cabeça. Olhei para dentro do Audy e vi a mulher em prantos. Preocupado com seu bem estar dei-lhe o atendimento necessário. A senhora está bem? Perguntava o ignorante aqui. Ela com cara de quem está com a polícia à sua porta. Fechou os vidros e não me respondia. Apenas chorava.

Percebendo que a chorona havia fechado o vidro e esquecido de travar a porta, com um movimento objetivo e habilidoso no trinco, abri a porta, olheia para ela e comecei a acalmá-la para tentar uma primeira conversa.

Após acalmá-la retirei o veículo dela do meio da rua enquanto ela destruia uma caixa de lenços descartáveis.

Legal. Tudo vai ficar bem.

Anotei a placa do veículo, trocamos telefones, e pronto. Em um mês eu teria a bunda do meu carro reconstruída em alguma oficina.

Depois de correr a semana inteira atrás de orçamento para o concerto do meu bólido, hoje recebi a maravilhosa notícia de que a seguradora da Dona Fulana Fitipaldi, não irá pagar meu prejuízo, pois ela não tinha a menor culpa.

Agora sim. Agora eu entendo. Hoje então eu percebi que o culpado sou eu por ter nascido, é claro.
Saindo da seguradora, o meu carro ferveu, pois com o choque quebrou o reservatório de água. Cheguei ao estacionamento com uma chaleira daquelas que apitam. Puta que o Pariu de novo.

Mas tudo vai melhorar.

Chego no escritório e são apresentadas as contas do mês de novembro. Puta que o Pariu 19 vezes. É impossível piorar (que cagada ter pensado isso).

Um querido cliente meu me liga e comunica que o pagamento de outubro, que estava atrasado, só viria em fevereiro. Até lá eu dou um jeito de assaltar um banco ou coisa assim. Oitenta Puta que Paris bem sonoros.

Ensandecido com a situação soltei um belo tapa sobre a mesa. Quando pensava que o tapa era o desabafo, Ana, a querida estagiária, grita bem alto: "Filho da Puuuuuuuuuta".

Fazer o que?

Como fiquei meio nervoso demais, resolvi mandar este texto só para te encher o saco um pouquinho, porém, gostaria de advertir quanto algumas situações.

1) Se nos encontrarmos no centro por acaso, evite sorrir pois vou achar que você está tirando sarro da minha situação.
2) Quando me encontrar não pergunte se esta tudo bem, pois a resposta poderá ser um tanto quanto ríspida.
3) Ao telefone evite perguntar onde vou, pois meu transporte esta meio comprometido e eu posso achar que você está tirando sarro da minha cara novamente.
4) Na quarta-feira que vem, quando estivermos comemorando o meu aniversário, evite fazer comentários sobre carro, trânsito, seguradoras ou coisas do gênero, pois poderemos ter um problema de relacionamento.
5) Se você tiver um carro novo, evite mostrar para mim. Use o estacionamento mais próximo e não me faça inveja (Pelo Amor de Deus).
E no mais, estou indo embora (de ônibus)