Quem foi que teve essa idéia?
A autoria desse plano não pode passar em branco. Tão importante quanto o esclarecimento de casos gravíssimos, é de se apurar quem foram as sumidades que colaboraram para a execução desse plano “elogiável”.
Quem foi o primeiro a pensar na idéia? Alguém deve ter dito: vamos pegar um Padre, pendura-lo em mil balões, solta-lo em Paranaguá e ir buscá-lo no Mato Grosso.
Mas claro que um plano desses precisa de planejamento. Alguém deve ter dito: eu tenho cento e quarenta e seis reais, e posso comprar os balões. Lá no fundo da sala alguém deve ter dito: o primo do namorado de uma tia minha, trabalha com cilindros de gás. E aquela moça que não faltava uma missa deve ter arrematado: Eu tenho lá em casa bastante fio de nylon.
Pronto. Está planejado!
Lógico que não foi assim. O planejamento envolvia material de última geração. Um GPS, um telefone via satélite, roupas térmicas, cadeira flutuante, e mais uma porção de coisas.
Perfeito!
Perfeito? Nada. Estava anunciada a tragédia.
Excelente a idéia de munir a aventura com um GPS, mas alguém poderia ter feito a gentileza de ensinar o padre a usar o equipamento. Quando ouvi no fantástico o padre pedindo para a repórter, que se comunicasse com a equipe, para que alguém o ensinasse a operar o aparelho, percebi que a história não acabaria bem.
Quanto ao telefone por satélite, perfeito, só que alguém poderia ter lembrado de carregar o telefone inclusive com uma bateria extra. Quanto às roupas térmicas ótimo, mas existem diferenças de roupas térmicas de altitude e aquelas próprias para água? A cadeira flutuante também foi uma idéia e tanto, pois ajudaria demais com as ondas de mais de seis metros que quebravam em alto mar.
Então, no domingo chuvoso largaram o Padre através de um estilingue invisível rumo ao céu, literalmente. E lá foi ele, voar por cima das nuvens. Uma pena que ninguém tenha se ocupado de analisar a espessura dos alto-cúmulos que se formavam. Que me perdoem minha "língua de sogra", mas se a intenção era voar com balões de festa de criança, ao menos não seria prudente esperar um céu de brigadeiro?
E sei que os comentários aqui confessados, poderão despertar críticas dos defensores deste projeto mirabolante.
Pois bem. É de se imaginar a reação do piloto do Boeing cruzando com mil balões e um padre pendurado, e o risco desnecessário a que se colocou o próprio padre e outras vidas também.
Na primeira notícia veiculada sobre o fato, o padre revelava estar a uma altitude de quase seis mil metros, e segundo a matéria, o dobro da altitude em que deveria estar. Isso bastaria para demonstrar a falta de planejamento. Mas o que é mais gritante, é que os balões que deveriam ser estourados para o pouso tranqüilo no Mato Grosso, aparecem flutuando nas águas que circundam Florianópolis. Um pequeno erro de cálculo, absolutamente compreensível nessa época de pouca tecnologia.
E agora, com o que se gasta em gasolina nos barcos da marinha, nos aviões e helicópteros que realizam as buscas ao padre, poderia construir muito bem mais uma estrutura daquela que o padre sonhava realizar.
Não se quer questionar o quanto louvável era a intenção do plano, e nesse sentido o que realmente deu certo, é que, se a intenção era levantar a causa da pastoral rodoviária, hoje ela é conhecida no mundo inteiro. Tanto é verdade que recebi um e-mail de um amigo português destilando a vingança mais que merecida: “Paripa. Pois, Pois. E depois os brasileiros ficam a dizer que cá nós os portugueses é que somos burros. Mas pá. Pois, Pois.”
Esperamos que esse Padre seja encontrado com vida, primeiro pela condição humana, mas num segundo momento, para tentar esclarecer e apontar todos os partícipes desta idéia de Jerico.
As perspectivas não são boas.
E não faltam aqueles que fazem piadas da tragédia, dizendo que se o padre queria ver Deus, está agora falando com ele de pertinho. Aliás, se assim é, é de se imaginar a chegada do padre no Céu. São Pedro chacoalhando a cabeça em reprovação, uma porção de anjos cochichando no canto e deixando escapar algumas gargalhadas não contidas.
Mas o realmente desperta a imaginação, é a pergunta do Grande Mestre: “Ok. Tudo bem. Mas me diga de onde você tirou essa idéia?” Não adianta ter tanta fé e não saber operar o GPS.
Quem sabe daqui alguns anos, tal qual no filme “O Náufrago”, estrelado por Tom Hanks, o padre seja resgatado em uma das ilhotas do Atlântico Sul, de barbas e cabelos longos, falando com cerca de mil Wilsons, “interpretados” agora por balões de gás em lugar de uma bola de vôlei.
Mas como o alcance da manifestação tomou proporções mundiais, acho que nessa minha batalha em prol da arte paranaense, acho que vou repetir o “quase feito”.
Lógico que minha sogra vai sugerir uma cota extra de balões: “Meu genrinho querido. Vai com dois mil balões para ter mais segurança”. E o GPS que vão me dar estará com pilhas fracas. O Telefone será um celular analógico, um PT500, daqueles que você carregava 3 dias para poder falar cinco minutos, isso por ter uma bateria Tarja Verde.
Pronto. Já me vejo subindo, enquanto o povo comemora com fogos de artifício. Alguns parecem ser mirados propositalmente na minha direção. Já estou até vendo, o povo ali, ficando cada vez menor. Até consigo ouvir alguém gritar: “Pode acender o fogo que vamos começar a festa.”
Pensando bem ...
Perdão, mas não posso deixar de concluir com a única frase que me vem à cabeça.
QUE GRANDE IDÉIA DE JERICO!
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Aos mais ousados, vai um conselho:
"A FÉ REMOVE MONTANHAS, MAS NÃO ENSINA A OPERAR UM GPS."
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Minutos após escrever esse texto, a minha amiga Lorena me chamou no MSN e escreveu: VOCÊ NÃO VAI PARA O CÉU!
Então respondi:
Vou, mas só se for pendurado em balões.
3 comentários:
Esse padre é biruta. Sequer se deu ao trabalho verificar a direção do vento.
Se ele queria ir de Paranaguá para o Mato Grosso (de leste, para oeste) o vento deveria, no mínimo estar soprando nessa direção.
O infeliz não teve a capacidade de fazer o que eu e meus primos fazíamos, quando crianças, para soltar uma pipa: dar uma lambida no dedo indicador e colocá-lo para cima, para ver qual lado ficava mais gelado e saber para onde ia o vento...
Que vexame e disperdício de dinheiro público.
Li.
Simplesmente hilário Samuca...
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