quarta-feira, 23 de abril de 2008

MÚSICOS DE BOTECO DE CURITIBA (Samuel Rangel)

Vamos chamar à realidade.

O músico de boteco, esse herói anônimo que se senta num baquinho sobre um palco discreto, todas as noites, submetendo-se à conversa do bêbado, aos tratos nem sempre gentis do dono do boteco, respirando toda a fumaça de cigarros que uma multidão acende, merece o devido reconhecimento. Quem sabe por ter vivido ao longo de tantos anos nessa posição, preocupa-me demais a condição destes batalhadores. Mas não quero com isso, martirizar aqueles que escolheram esta profissão, pois qualquer atividade profissional possui os prós e os contras.

O que se pretende apenas é chamar a atenção para o talento destas pessoas que tanto se dedicam. Exatamente da mesma forma que propomos uma valorização do teatro paranaense, é extremamente necessária uma justa promoção da nossa cultura musical.

Músicas de alta qualidade, compostas e interpretadas por bandas ou cantores solos, que realmente deveriam alcançar repercussão em nível nacional, acabam amarelando e sendo esquecidas pelo descaso com que tratamos os nossos artistas.

Outro aspecto que deve ser levado em conta, e que o curitibano deve saber, é o quanto do “couvert” artístico é repassado ao músico, e quanto efetivamente é recolhido pelos donos de bar. Em relação ao equipamento necessário para uma boa execução musical, qual a compatibilidade de instrumentos caríssimos com o repasse efetivamente realizado pelos “Donos de Bar”.

Em um terceiro aspecto, não menos importante, é o quanto um músico é obrigado a se submeter a uma infinidade de músicas enlatadas, despachadas para cá direto de Goiânia, Salvador, São Paulo ou mesmo Rio de Janeiro.

Quem não conhece um caso de um músico que desistiu de sustentar uma qualidade musical, exatamente em busca de uma mínima dignidade pelo aspecto financeiro.

Da próxima vez que estiver tomando uma cerveja, quando os olhos passarem pelo palco, tente relembrar destas questões, e comungue desta causa.

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