quarta-feira, 12 de setembro de 2007

História de Fim de Noite (Samuel Rangel)


Mais uma daquelas que só acontecem em bar...Sábado, após uma noite daquelas que a gente tem que ser ao mesmo tempo, caixa, garçom, lavador de copos e músico, quando os ponteiros marcavam quatro horas da madrugada, resolvemos baixar as portas do bar.Porém, como ali ainda havia alguns clientes e amigos, procurando não ser indelicado, eu acabei sentando a mesa.

Abrindo uma Skol e começando a relaxar, percebi que a história do final da noite era uma doação de um casal de (Agaporne). Agaporne para quem não sabe é aquele periquitinho bem bonitinho que não tem pescoço e um bico colorido. A proposta de doação era de um amigo meu, para uma amiga minha, que tem uma filha pequenininha que adora passarinhos.

Pensei em falar e fiquei quieto. Mais uma Skol e ainda não tive a audácia de falar. Porém, quando a terceira Skol tocou a mesa, um daqueles meus surtos de sinceridade veio a tona: Eu já tive um casal de Agaporne.Os olhos da minha amiga brilharam, e os do meu amigo esbugalharam.Quando ele começava a chacoalhar a cabeça tentando evitar que eu falasse, a verdade era maior do que eu. Saiu.

Esse Agaporne é o bicho mais chato do mundo. Da vontade de matar.Comprei um casal uma vez, para que as crianças acompanhassem a reprodução e o desenvolvimento. Meu Deus! Ninguém merece.

Em menos de quatro meses foram três crias, sendo 4 ovos por empreitada. Como crescem rápido, e como eles eram bonitinhos, conseguimos dar as duas primeiras crias rapidamente.

Quando veio a quarta cria, e eu já pensava como fazer para castrar um periquito, as devoluções das primeiras doações começaram. E mais cria, menos doação, e mais devolução.

Certo dia deparei-me com os 17 lazarentos amarelinhos empoleirados aos gritos. Como não havia espaço na gaiola, lá estavam eles, ombro a ombro. E ainda assim gritavam. Gritei: Porra, vocês tão um do lado do outro. Não da pra falar mais baixo? Pra que gritar tanto. Isso sem contar que aquela versão bípede do caramulhão, sempre me entregava de madrugada quando eu chegava em casa .

Aliás, esse lance de gritar a toda hora dessa versão de sogra empenada (o Agaporne não passa disso), não é só na hora de entregar o boêmio não. É pior. É o único periquito que começa a gritar as cinco da manhã e para só as nove da noite. E quando falo gritar, é grito mesmo. Não há a menor melodia no ruído dos canalhas.

Tanto me deixaram louco, que em um momento onde me vali da excludente supra legal de inexigibilidade de conduta diversa (causa supra legal de exclusão da ilicitude), acabei soltando os dezessete canalhas. Para o meu desespero, eles saíram da gaiola, e quando eu imaginava que eles poderiam pegar carona com o Colhereiros do Rio Grande do Sul, dezesseis deles pousaram sobre o meu muro. Acredite, e não o fizeram em silêncio. Continuaram gritando. E eu ali pensei: Que cagada Samuel. Agora fodeu. Grito, Grito e Grito. Eu os espantava mas eles gritavam mais alto. Tive vontade de comprar uma arma, mas lembrei que não tinha dinheiro e que matar pássaros é crime.

Até hoje eles rondam minha casa e ficam gritando nas árvores que a prefeitura não deixa eu cortar.Assim, em 2002 comecei um tratamento psicológico em uma especialista que cura pessoas que tem uma doença chamada Síndrome Maldita e Amaldiçoada da Maldição do Agaporne (SMAMA - no cid110 é o Código 197. f-10. e prevê aposentadoria por invalidez).Após contar a história, a minha amiga desistiu da doação e pediu a conta dela.Meu ex-amigo perguntou se poderia pendurar a conta.Hoje ele me ligou e pediu o número da minha psicóloga.

Ao final de tudo, o que se pode entender é que quando a noite chega ao fim, um certo espírito de sinceridade invade o bar, e faz com que coisas como essa aconteçam.Aliás, falando de Orkut, vou fazer uma comunidade "Eu Odeio Agaporne"Um abraço a todos, e passem longe desses animais.
Samuel Rangel

Já Havíamos Falado de Calheiros (Samuel Rangel)

Pena Alternativa
de: S@mu&l R@ng&l
para: meus amigos
enviado: 3 de julho de 2007 09:17
Existem momentos para sorrir, mas existem momentos para se fazer silêncio.E os piores momentos destes em que deveríamos fazer silêncio, é aquele que a indignação não nos permite ficar calados. Acredito que não seja o único, mas as imagens daquele cidadão que morreu diante das câmeras a espera de uma ambulância, pouco além do movimento de greve de alguns funcionários da saúde pública, não permite o silêncio.De pronto, a mesma tela de televisão que mostrava os últimos e agonizantes momentos de vida daquele cidadão (dito semelhante a mim e a você fique, bem claro), faz lembrar das histórias de como a de Calheiros. E nós nem conseguimos nos recuperar dessas lembranças, lembramos em seguida de Juízes e Ministros envolvidos com a venda de sentença ao narcotráfico. Mas falando em Juízes a gente acaba lembrando daquele caso em Curitiba onde um infeliz togado, um pobre ignorante de beca, ignora que o rapaz que esta a sua frente não tem sapatos para participar da audiência que lhe é capital, determinando um adiamento daqueles que só os deuses (com o devido perdão pois Deus só existe um) podem decidir.E nossa lembrança passa a ser a parte ruim da retrospectiva de fim de ano, com imagens curtas e rápidas, mas fortes e profundas que lotam nossa cabeça de indignação.Pois bem, então falando em juízes e julgados, ministros e autoridades imorais, e sem esquecer os já esquecidos, vamos falar de condenação.De que adianta mandar Calheiros e essa Trupe Criminosa Judiciária para a cadeia, se o menos esclarecido já sabe que lá terão direito a apartamento especial, telão, telefone e tantas outras coisas que aquele pé de chinelo jamais viu.Quem sabe a pena alternativa fosse a melhor (mas sei que estou superestimando a sensibilidade desses vermes).Acho que se lhes resta alguma sensibilidade, deveriam assistir a 16 horas por dia, a reprise dos últimos minutos de vida daqueles que mataram, com direito a tomadas no olhar de quem sabe que vai morrer. Nas outras oito horas poderíamos deixa-los com os pesadelos de sua consciênciaNão mataram? Não atiraram, mas tiraram e mataram.Lamento
Samuel Rangel

“QUANTO MAIS ME DEREM, MAIS EU TENHO!” por Samuel Rangel

Ok.

Neste dia em que o sóbrio Senado julga a maroteira de Calheiros, decidindo se o moleque fez arte ou não, eu resolvi perder um pouco da vergonha e pedir também. Então pensei, pensei, e lembrei-me de uma frase usada por Davi Amnésia (um malabares que fez um show no Barigui uma vez). “Quanto mais me derem, mais eu tenho!!!”

Bom. Abrindo bem meu coração, quero dizer que a Advocacia sempre foi uma de minhas paixões, tanto quanto a música, o teatro e o público. Mas ela nunca chegou nem perto do amor que sinto por meu filho.

Exatamente por isso, não vou deixar meus valores morias sucumbirem às propostas indecentes do mercado da advocacia. Não vou advogar para traficantes e assaltantes, e nem mesmo para os porcos que chafurdam na política e que a tudo comprame a tudo vendem.

Pois bem. Chegou minha hora de dizer: A mim não compram.

Empilhem suas notas perante os psicólogos de seus filhos que sofrem de vergonha, pois do meu filho cuido eu. Poderei não ter dinheiro para lhe dar muito. Mas darei a ele ao menos um bom exemplo. Empilhem suas notas sujas nas concessionárias que vendem carros blindados, e saibam que jamais poderão abrir suas janelas, viverão reféns de seus abusos. Jamais poderão tocar a realidade.

Fecho hoje o meu escritório e vou trabalhar em casa, defendendo apenas aqueles que eu achar que mereçam defesa. Aqueles que tem seus erros oriundos das paixões, e não da ganância.

Entregarei um pouco mais de minha alma à música.

Colocarei mais ar em minhas palavras para delas tentar extrair alguma poesia.

Levarei meu corpo um pouco mais ao palco, para com a arte tentar levar um pouco mais de alegria às pessoas.

Abraçarei mais limpo o filho que crio.

E sei das tempestades que se amontoam logo ali no horizonte, mas sei também que quando estamos fazendo o que é certo, temos mais fôlego. O ar não é aquele que temos só nos pulmões. O ar se acumula em nossa alma,em nossa determinação e em nosso coração.

E assim protegerei ainda a minha amada advocacia, pois alguém então aprenderá que existem advogados que advogam com amor, iluminados pelos padrões éticos e morais que tivemos de nossos pais.

E se eu os tive, não me desfaço de tal patrimônio.

E essa campanha?

Pois bem.

Para se viver de arte neste país, realmente temos que ser artistas (com o devido perdão pelo trocadilho).

Peço a você que lê agora, que abrace uma causa. Peço tão somente que você faça do endereço do blogue anjosboemios.blogspot.com, a página inicial do seu internet explorer (ou similar).
Cada acesso seu a internet, passa a contar como uma visita a este blogue. E quem sabe alcancemos um número de visitas expressivo que chame a atenção de algum patrocinador.

Assim, entre os textos do blogue, os ensaios das peças, as noites que estarei cantando em algum bar, estarei dizendo um rotundo não ao mercado prostituído da advocacia, que faz de muitos bons homens, advogados subservientes ao tráfico e à corrupção. Duas clientelas que destroem a cada dia, um pedaço de nossos sonhos.

Não vou ter vergonha de pedir isso a vocês, pois vergonha temos dos acontecimentos que haverão de escrever essa parte da história do Brasil nas páginas mais negras da história desse povo.

E se não for pedir demais, quando ouvir falar que a Companhia Anjos Boêmios, ou mesmo da irreverente banda The Best Big Beautiful Black Brooklin Brotehrs Blues Band vai subir em algum palco, venha testemunhar que o dinheiro não compra tudo.

Um Grande Abraço a Todos

Samuel Rangel