segunda-feira, 29 de setembro de 2008

ROMPENDO O SILÊNCIO (Samuel Rangel)

Em virtude dos rumos da história, política passou a ser um assunto antipático, desconfortável, e que apenas interessava a alguns assessores pegajosos e interesseiros, capazes de qualquer coisa por uma nomeação para algum cargo.

E em virtude do nosso silêncio, e da vergonha que tínhamos de manifestar-se sobre política, surgiram verdadeiras aberrações das urnas. Políticos corruptos tornaram-se a grande maioria de todas as esferas do poder.

Mas se em nosso silêncio criou-se esse caos que hoje tantos nos afeta, reduzindo expectativas e sonhos para a população, transformando assuntos como segurança pública, saúde pública e educação pública, em uma perigosa roleta onde a minoria de sorte sobrevive.

E para promover um verdadeiro levante contra essa idéia de que o dever do estado é mera utopia de alguns tolos, é necessário que se rompa o silêncio. Esse silêncio deve ser rompido em dois momentos. O primeiro no momento de manifestar-se em relação ao apoio que damos, e o segundo, no momento de cobrar os resultados e reprimir exemplarmente esses eventos de corrupção na vida pública.

Rompo aqui o meu silêncio, e o faço em favor da candidata Renata Bueno.

Há muito tempo, minha grande amiga Larissa Paiva apresentou-me Renata Bueno. Desde então, além de compartilhar de uma amizade extremamente saudável, passei a testemunhar todo o esforço e dedicação de Renata à sua preparação para a carreira pública.

Tendo aprendido com seu pai, Rubens Bueno, os primeiro passos da vida pública, ainda dentro de seu ambiente familiar, Renata conservou todas as qualidades de Rubens Bueno, cuja participação na política paranaense foi extremamente benéfica ao nosso Estado do Paraná. Nas últimas eleições, Renata Bueno recebeu mais de vinte e quatro mil votos, revelando assim, tratar-se de pessoa séria e habilitada para representar seus eleitores na Câmara de Vereadores.

Normalmente, somos tomados pelo ceticismo que nos afasta das campanhas políticas, porém, esse ceticismo revelou-se extremamente nocivo à democracia, permitindo que políticos despreparados e de interesses obscuros tenham alcançado projeção política inclusive em nível nacional. Com isso o Bem Comum e o Interesse Público passaram a não mais figurar entre as prioridades políticas de nosso país.

Exatamente por isso, venho romper meu silêncio e manifestar todo meu apoio à Renata Bueno, indicando a você leitor o endereço de sua página como forma de conhecer um pouco dessa pessoa que tanto conheço e tanto admiro. A campanha de Renata se faz assim, com engajamento e dedicação das pessoas que realmente acreditam nela, reconduzindo a política ao rumo certo. Com Renata Bueno e mais políticos dessas qualidade moral, a política poderá servir como instrumento para a construção de um país, um estado e uma cidade melhor.

Permita-me assim pedir alguns segundos de sua atenção, para que acesse a página de Renata Bueno. http://www.renatabueno23010.can.br/

Caso seu candidato seja outro, a favor de quem você dedica a mesma confiança que dedico em favor de Renata Bueno, receba aqui meu apoio, e também meu convite para que rompa seu silêncio e participe da política ativamente, pois é da classe pensante deste país que o futuro depende para ser melhor.

Muito Obrigado

Samuel Rangel


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

ERA SÓ O QUE FALTAVA. NÃO É O BAR, MAS PARECE BOTECO (Samuel Rangel)


Não. Não me refiro ao consagrado bar Era Só o Que Faltava, de meu grande amigo Odilon. Para quem não sabe, Odilon que também sempre esteve envolvido com as artes, criou um espaço fantástico onde música, teatro, humor, e boemia, encontram-se muito bem alocados.

Na realidade, o título desta minha manifestação, vem do email que recebi do colega Diniz, onde fui informado de que um tal crivela, quer meter a "manivela" agora na cultura também. Sim. Exatamente. Agora os parcos recursos dedicados a cultura deste país, segundo o gênio do mal, passariam a ser divididos também como apoio para a construção e reforma de "templos".

Tudo bem. Desde minha infância, algumas vezes pulei algumas orações para terminar mais rápido o terço, mas apenas não posso concordar, que agora o pouco dinheiro dedicado a cultura, seja desviado agora para alguns templos como se fossem teatros.

Eu sei que existe muita cena em alguns templos por aí, mas não creio que isso seja cultura, e sim, fruto da falta dela.

Quanto à colaboração que Crivela pode dar à Cultura deste país?

Caro Aurélio. O que acha da idéia de acrescentar um significado para a palavra “crivela”.

crivela. S. m. 1. Crivo pequeno, de pouca ou nenhuma credibilidade. Crivo que se deve desconsiderar. 2. Diz-se do crivo feito sem a atenção necessária, ou que se desvie da sua função. Crivo absurdo. 3. Falta de crivo.

Mas no fundo, eu não sei como ainda me surpreendem essas coisas.

Num país onde templos são teatros, e senado e câmaras são administradas como botecos ...

Era só o que me faltava.

Quem mandou eu não rezar direito quando era criança?

Aliás.
Meu amigo Odilon.
Nessa terça eu apareço no show do Fábio Silvestre. Isso sim é cultura!

"VOTEM CONTRA ISSO (LEI ROUANET PERMITIR CONSTRUÇÃO DE TEMPLOS RELIGIOSOS) - OFFTOPIC

Não podemos permitir que isso vá adiante! E muito menos que esse cidadão seja prefeito do Rio! O Rio de Janeiro não merece!!! A Lei Rouanet não pode estar sujeita a emendas dessa natureza que desvirtuem sua essência. Assine a petição, por favor, e a divulgue para sua lista. Valéria"O Senador Marcelo Crivela, pastor e politico, está prestes a aprovar, no Senado Federal, uma emenda à Lei Rouanet que permite a construção, reforma de templos religiosos e pagamento de 'pastores' com renúncia fiscal, passando a disputar verbas com a cultura. Quem for contra e quiser se manifestar, assine a petição no site abaixo. Vamos lutar para manter as poucas verbas para as artes e a cultura brasileira contra sanha por dinheiro de alguns 'pastores' .E repasse a informação a seus amigos gerando uma corrente na qual preservaremos a cultura e as Artes no Brasil."


Para assinar clique em
http://www.petitiononline.com/cult2007/petition.html

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

UMA IDÉIA INFELIZ PARA SALVAR UM CASAMENTO (Samuel Rangel)


Há aqueles que dizem que sou pessimista em relação ao casamento, porém, em minha defesa, gostaria de dizer que não é verdade. Como eu poderia ser pessimista em relação ao crepúsculo da vida de solteiro?


Mas independente daquilo que penso em relação à “Extrema Unção dos Solteiros”, a verdade é que depois que a coisa acontece, os envolvidos tentam de todas as formas preservar o casamento, e essa missão não é fácil. Quando o uso do banheiro dispensa a porta fechada, quando a máscara de limpeza estampa o rosto da mulher amada, ou mesmo quando as unhas são cortadas sobre o sofá que ela tanto pediu para comprar, a coisa começa a degringolar. Pronto! Já temos a realidade do casamento.


Dividir a cama com aquela pessoa gripada, ou embalar o sono com a melodia de um poderoso ronco que as vezes dura mais que a própria noite, começam a fazer dessa intimidade um verdadeiro martírio. Mas os mártires não desistem. E quando a estrutura do relacionamento começa a apresentar os primeiros sinais de fadiga, os engenheiros do amor entram em cena com toda sua genialidade.


Em revistas femininas é comum que as mulheres encontrem matérias que as aconselhem a se embrulhar em papel celofane para aguardar a chegada do marido e apimentar a relação. Com a máxima vênia, gostaria de lembrar as repórteres envolvidas nessas matérias, que com o passar do tempo, o homem já não enxerga mais a mulher como um bombom de morango. E normalmente, as brincadeiras fazem parte da intimidade, o que torna bem pouco difícil que um marido engraçadão caia na gargalhada ao olhar para a mulher, sem deixar de dizer que se ela é um bombom, o chocolate esta derretendo pelo pacote.


Se a idéia é salvar o casamento, acho que outras idéias podem ser mais interessantes, e ainda acho bom lembrar que expor um dos dois ao ridículo nessa fase ruim do matrimônio, não é de todo aconselhável.


E nós homens, quando tentamos reabilitar o relacionamento, também não temos maior sutileza que um Dog Alemão brincando na cristaleira, pois na realidade, nossa eterna infância, dominada pelo egoísmo silencioso que nos faz assistir ao campeonato brasileiro com a paixão que elas gostariam que dedicássemos a elas, faz de nossas atitudes pérolas de genialidade sem noção.
Exemplo disso, é aquele cidadão que no dia do aniversário de casamento, resolve ser romântico. Um homem quando tenta ser romântico, deve tomar muito cuidado, pois a falta de habilidade nesta seara, pode causar verdadeiras catástrofes. O cidadão barrigudo, sempre afeito a cerveja, na noite romântica resolve regar a noite com vinho. Depois da quarta garrafa, o que se tem é um motor de Mercedes 608 roncando na cama, enquanto a mulher com o espartilho vermelho novinho, fica pensando em quem vai ficar com o filhote de poodle que ele deu para ela.


Tem um certo amigo meu que tentou salvar o casamento com alguns dias numa bela casa de uma praia deserta. Hoje é colega nosso de boteco, e vem engrossar a estatística dos divorciados.
Segundo ele conta, a discussão começou no momento de organizar o porta-malas do carro, pois ela não queria que ele levasse a churrasqueira de latão que tanto ele gostava. Ele havia programado de fazer uma deliciosa costela na praia. Para ela, costela não era exatamente a idéia de uma noite romântica. Após muita discussão, o cidadão conseguiu negociar a inclusão na carga de um Gengiskan.


Após a discussão que quase acabou no fórum, desencadeando o divórcio, finalmente entraram no carro e seguiram pela estrada. Este foi o segundo erro. Se a idéia é salvar o casamento, é uma boa idéia evitar as situações de confronto evidente. É lógico que durante as seis horas de estrada, o casal discutiu inúmeras vezes em relação àquela ultrapassagem, em relação à velocidade compatível com aquela curva, e inclusive em relação ao momento de desligar o limpador de parabrisas.


Quando chegaram ao destino, não houve clima suficiente para uma tentativa de intimidade sequer. Cansados e estressados, eles acabaram por tomar a cama com as nádegas uma para o outra. Sexo? Nem pensar. Se não conseguiam nem se olhar, era de pouco inteligência arriscar um toque.


Na manhã seguinte, ele acordou de bom humor, resgatando seu plano mirabolante para salvar o casamento. E logo foi cutucando a mocinha para convidá-la para ir a praia, descansar tranquilamente embaixo de um guarda-sol. Ela já não levantou com o melhor dos humores, e de pouca fala, iniciou a passagem de cremes e do bloqueador solar. Enquanto ela se ocupava com as coisas de mulher, ele foi agir como homem. Terceira cagada. No isoporzinho azul com a tampa amarelada, ele tirou as uvas, o melão e os pêssegos que ela tinha deixado lá, enchendo aquela geladeirinha de pobre com cerveja.


Após andar cerca de quinhentos metros até a praia, por onde ele a fez carregar as cadeiras e o guarda-sol, para poder se ocupar apenas do isopor, escolheram o melhor lugar numa praia deserta. Após ela montar o guarda-sol, ainda em silêncio, abriu a cadeira e se sentou. Após um suspiro, olhou para ele e pediu para que ele passasse a água e um cacho de uvas. Quando ele informou que as uvas não foram à praia, ela apenas abriu o isopor, olhou as 24 cervejas em meio ao gelo, passou a mão revirando o gelo como se tentasse achar algum grão de uva perdido. Nada. Ele realmente havia feito isso. Então ela apenas levantou, falou um “puta que pariu” baixinho e colocou-se no caminho de casa.


Ele permaneceu sentado, imaginando que ela iria buscar a uva. Quinhentos metros para ir, mais quinhentos para voltar, cerca de um quilômetro depois ela estaria de volta com a uva. Enquanto esperava, ele viu um barco de pescador chegando, e como todo homem curioso, foi lá pesquisar o que estava na rede. Como todo chato, levou uma cervejinha para tentar corromper o pescador para que contasse a ele os insondáveis segredos do mar e da pescaria. Ele conseguiu. Começou uma conversa com o pescador, e ali se deteve em detalhes de como pegar cação, onde encontrar robalos, a melhor forma de pescar uma garoupa. Como a sede do pescador era de quem vinha da água salgada, foram cerca de seis cervejas para cada um. Com a aula de pescaria, o cidadão esqueceu da esposa que não voltou com a uva. Aquele palavrão baixinho já informava que ela não voltaria, mas ele se perdeu em sua masculinidade egocêntrica e não percebeu a grande cagada que havia feito.


Mas agora havia um problema. Ele não tinha como carregar tudo para voltar para a casa. Ele até lembrou daquele carrinho de praia que estava em promoção no Carrefour. Foi tolice não ter comprado. Então ele imaginou que ela voltaria para ajuda-lo com as coisas. Mas é claro que ele estava enganado. Ela estava emputecida da vida com ele. A última coisa que um homem pode esperar, é de parceria quando a mulher está pelo pescoço com ele.


Quando acabou a cerveja do isopor, ele com a habilidade de um bêbado, conseguiu ter a idéia de segurar a tampa do isopor com a boca, engatar o isopor na ponta do guarda-sol, e com a outra mão levar as cadeiras. Como ele não conseguiu pegar as duas cadeiras, a cadeira maior que era dela, resolveu pedir para colocar no barco do pescador, e depois voltaria para buscar.


E ele foi de malabarismo andando até a casa alugada. O sol a pino lhe causava tonturas maiores que a da cerveja, e ao chegar em casa, percebeu que as coisas não estavam bem para o seu lado. A sua mulher estava trancada no quarto. Ele tentou, bateu na porta, falou manso até que a porta se abriu. Quando ele sorriu para ela, ela de pronto peguntou: Onde está minha cadeira? Quando ele disse que estava na praia ela iniciou um repertório completo de palavrões de mulher casada. Como ele não conseguiu interrompe-la para explicar, após o surto psicótico ele resolveu ir buscar a cadeira na praia. Como o leitor já deve imaginar, na praia não havia mais cadeira, nem barco e nem pescador.


Ao retornar para a casa, silenciosamente ele teve a idéia. Pegaria o carro e sairia para comprar uma cadeira igual para ela, sem que ela percebesse nada. Tudo seria resolvido. Chegou em casa, e sem falar nada, pegou as chaves do carro e foi para o centro da vila. Lá chegando, ele percebeu que nunca tinha atentado para a cor da cadeira dela. Após se esforçar um monte, achou algo que julgava ser parecido. Após um bom tempo, chegou em casa, e sem falar nada levou a cadeira para os fundos. Quando entrou em casa, ela já estava explodindo em nervosismo, indagando a ele por que havia demorado tanto para ir até a praia se ele havia ido de carro. Ele não tinha resposta, e mais uma vez ela se trancou no quarto. Então ele percebeu que precisava descansar.


Deitou-se na rede e apagou. Acordou já eram quase seis horas da tarde. Ela não estava em casa. Ele então teve um súbito de bom senso e percebeu que até então, só havia feito cagada. Decidiu então que iria arrumar a situação. Percebeu que teria que pensar em algo romântico para a noite.


Ele foi até uma peixaria e comprou uma bela tainha. Lembrou-se de uma ótima receita de “tainha no buraco”. Após temperar a tainha e embrulhá-la em um papel alumínio, comprou mais uma caixa de cerveja e deixou tudo no carro. Foi até a praia e juntou madeiras para uma grande e romântica fogueira. Cavou um buraco a cerca de uns dez metros da fogueira, fez o braseiro, e enterrou a tainha. Após deixar tudo pronto, ainda teve a idéia de comprar um champanhe para regar a noite romântica.


Ao chegar em casa deitou-se no quarto e resolveu fazer uma surpresa para mulher. Cerca de uma hora depois, e já eram quase oito da noite, ela chegou. Como todo homem, um ser naturalmente sem noção, quando ela chegou ele perguntou: O que você vai fazer para o jantar? Ela respondeu com um linguajar que não pretendo usar neste espaço. Após outro surto, ele conseguiu explicar que era brincadeira, e ele havia preparado tudo para a noite. Ele ainda prometeu que seria uma noite romântica.


Quando ela se acalmou, ele a colocou no carro e foi até a praia. Como ele havia preparado tudo, resolveu colocar o carro na areia para colocar um som romântico perto da fogueira. Ela se surpreendeu com a atitude. Será que ele finalmente havia feito algo certo? Eles se sentaram ali, abriram a champanhe, e começaram a falar sobre os problemas do casamento. Pela primeira vez estavam conseguindo se comunicar com certa educação. Discutiram de forma civilizada a relação.


Agora tudo parecia caminhar para a paz conjugal.

Mas como havia um homem na conversa, as coisas não poderiam dar tão certo assim. Depois que tomaram a champanhe, ele foi para a cerveja. E ele já não vinha bem pela quantidade que havia tomado ao longo do dia. Como ela previa, ele se empolgou na cerveja. Nesse momento ela esboçou uma crítica, mas manteve-se em silêncio para não acabar com a noite.


Quando já era meia noite, por volta da oitava cerveja, ele já não estava tão sóbrio, mas era hora de saborear a “tainha no buraco”. Ele se levantou cambaleando e foi abrir o buraco. Ao abrir o buraco, nada de tainha, e nada de braseiro. Outro buraco e nada. E mais um, e outro, e um novo buraco e nada. Após escavar metade da praia sob o olhar descrente da sua esposa, ele percebeu que havia perdido a tainha. Ela olhava para ele tentando imaginar o motivo de ter casado com uma criatura daquela. Então ele se propôs a levá-la para jantar em algum lugar.

Ainda havia uma salvação para a noite.

Ao tentar movimentar o carro, ele havia encalhado. Mas homem que é homem sabe sair dessas situações. Pegou uma camiseta dela que estava no carro, molhava com água e torcia molhando a areia sob as rodas. E as rodas enterravam mais e mais.


Como durante esse procedimento ele deixou a luz e o som ligado, como você pode imaginar, não demorou para ele ficar sem baterias. E como você também pode imaginar, não demorou para a maré subir e inundar o carro. E como você com certeza já sabe, não demorou para a mulher dele deixar ele sozinho na praia, bebendo cerveja e contemplando as lambidas que o mar dava na porta do seu carro.


Como tudo é previsível, ela voltou para Curitiba de ônibus no dia seguinte, e ele resolveu ficar os outros seis dias para arrumar o carro, e aproveitar o aluguel da casa. E é lógico que quando chegou, a fechadura da casa havia sido trocada.


Sim. Ela ficou com o apartamento e ele ficou com o carro, embora tenha vendido o carro recentemente por um valor bem abaixo do mercado. Mas na separação ele também ficou com a churrasqueira de latão, que hoje está na casa do cunhado dele. Ficou também com as duas cadeiras de praia e com o isopor..


A moral da história?


As vezes, para salvar seu casamento, não faça absolutamente nada. Qualquer tentativa pode desencadear o divórcio.

CELULAR NA ESCOLA. PODE?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

MEU IRMÃO CIENTISTA AMADOR, O SEU LABORATÓRIO E A GRANDE GERINGONÇA LHC (Samuel Rangel)

Como toda e qualquer família normal, a minha não se esquivou de ter entre os parentes um pequeno gênio, daqueles típicos de filmes apocalípticos. Meu irmão, já aos seus dez anos, ganhou de algum gênio um laboratório de química para experiências de jovens cientistas. E logo começaram as experiências. Um jovem de dez anos não vai querer inventar fórmulas para um creme de beleza. Essas criaturas vão logo tentando descobrir alguns ácidos para derreter todas as formigas do mundo, e as vezes o próprio mundo. Não demorou muito, para que outro gênio entregasse a ele uma bela caixa, com um “brinquedo” chamado Engenheiro Eletrônico. Este brinquedo ensinava adolescentes a montar circuitos eletrônicos.

Pronto. Meu irmão tinha um laboratório em casa, e nós tínhamos motivo para ter muito medo.

Como minha mãe sempre teve bons punhos e bom domínio sobre os filhos, não demorou nada para que meu irmão tivesse que montar seu laboratório no pequeno paiol, nos fundos de nossa casa, um pouco afastado. Assim, caso o seu laboratório multi-disciplinar, e sem nenhuma disciplina, pegasse fogo, poderíamos ao menos salvar a casa.

Lembro-me de, vez por outra, perceber tufos de fumaça saindo da pequena janela do paiol, acompanhados de um pálido irmão que saia pela porta, tossindo e revendo as anotações para ver o que havia dado errado. A verdade é que, não se podia ficar tranqüilo ao saber que um moleque de treze anos, estava fabricando ácido sulfúrico no paiol de casa, tentando fabricar sua própria pólvora, e pior ainda, era a idéia de que ele tentava inventar um novo sistema de transmissão via rádio, logo ali, bem do lado daquela parafernália química.

Enquanto meu irmão esteve perdido naquele laboratório, não teve tempo para se atinar de coisas muito mais interessantes, como a graça das curvas do corpo feminino. E enquanto ele não sabia nada do corpo feminino, vivíamos com uma certa insegurança, como se o paiol fosse explodir em plena manhã de domingo. Para tentar descrever a sensação, era como se a família descansasse à sombra de um vulcão.

Mas graças a Deus, meu irmão chegou a puberdade, onde os moleques desobrem que podem terceirizar o trabalho de sua mão direita. Assim ele desistiu de ser um cientista no estilo “Hugo Agogô” (aquele que sempre tentava acabar com Bate Fino, o morcego com asas que são como uma couraça de aço). Com a incorporação da mulher como fato científico e anatômico na vida de meu irmão, a família encontrou segurança e tranqüilidade novamente.

A lição foi muito boa, e surtiu efeitos. A cada vez que tenho vontade de dar um presente para meu filho, eu penso nas conseqüências. É bom evitar dar a uma criança algo que possa mandar pelos ares a família inteira.

Assim foram meus últimos trinta e cinco anos.

Mas hoje, 10 de setembro de 2008, olho para o paiol com certo desconforto, como se alguém estivesse fazendo uma enorme cagada por lá novamente. Enquanto fumo meu cigarro, cometendo minha própria cagada, acho estranho que o paiol vazio me desperte receio novamente. Após pensar bastante na sensação, agora sei o motivo.



Esse gosto de cabo de guarda-chuvas que me amarga a boca, vem daquela coisa esquisita que foi construída logo ali, na fronteira da Suíça com a França, onde uma turminha de cientistas do mundo inteiro, resolveu recriar o Big Bang.


Poderia ser algo extremamente normal, mas não me sinto confortável em saber que os cientistas criaram o tal do “Large Hadron Collider "(Grande Colisor de Hádrons – o nome por si só já me faz quase borrar as calças).

Nesse momento eu teria uma pergunta aos cinetistas que estão operando essa máquina. Não sou cientista, mas tenho algumas noções básicas o suficiente para fazer um café bem forte. Esse tal "Big Bang" que os senhores estão tentando recriar, não foi, com o perdão da palavra, uma "Puta Explosão"?

Eu sei que esse paiol está mais distante, mas a mim parece que esse LHC, laboratório que não é como aquele do meu irmão adolescente, tem um poder de fogo bem maior, o que me inclui na sua esfera de impacto (e põem impacto nisso).

E os termos envolvidos no projeto apocalíptico vão me assuntando cada vez mais. Como raios alguém quer que eu fique tranqüilo sabendo que o nome que deram para a geringonça é Grande Colisor de Hádrons. Com licença senhores cientistas, mas além da puta explosão, agora o nome sugere um “puta colisão” também.

A geringonça está instalada em um anel de 27 quilômetros enterrado cem metros abaixo da zona rural dos arredores de Genebra, na Suíça. Pronto. Bum! Aconteceu o pior! Por alguns instantes consigo imaginar uma vaca suíça caindo no meu jardim.

E o que são esses tais Hádrons? O medo começa a aumentar rapidamente. Socorro. Acesso a internet para tentar me acalmar, e obter informações que me tranqüilizem, pois aqueles cientistas devem saber o que estão fazendo. O medo vira pavor ao saber que os caras desenvolveram uma temperatura superior a do sol dentro da tal geringonça, e ao saber que as tais partículas estão acelerando a velocidades superiores a velocidade da luz, já sinto um medo no abdômen. Vai que uma dessas merdinhas escapa daquela arataca e me acerta a moleira?

Imaginou?

E vou colhendo informações sobre o projeto genial. Descubro que alguns estudiosos, acreditam que a experiência vai criar um buraco negro. Ok. Eu confesso. Era medo, virou pavor, e agora se transforma em uma grande cagaço mesmo. Vou correndo até outras páginas para tentar achar alguma notícia que me acalme, e descubro que como os resultados da pesquisa são imprevisíveis, os próprios criadores do projeto montaram uma comissão para avaliar os riscos da pesquisa, e encontrar soluções se algo der errado.

Com licença senhores cientistas, mas se por acaso aparecer um buraco negro bem na fronteira da Suíça com a França, que raios esses gênios pretendem fazer?

Ok. Então nesse exato momento em que escrevo, tem uma porção de malucos que estão fabricando um buraco negro bem ali, na Suíça, que agora virou o paiol do mundo?

Francamente.

Sinto-me novamente como em minha infância, só que dessa vez, é como se tivesse ouvido no café da manhã que aquela coisinha esquisita que meu irmão está trabalhando, cheia de fita isolante e com pedaços de uma torradeira elétrica, é nada mais nada menos que uma bomba atômica.

Pense numa pessoa tensa, como diz Larissa.

E depois de pesquisar tantos textos científicos, religiosos, paranormais, gibis, revistas de fofocas e outras baboseiras, fui encontrar alguma tranqüilidade no texto de Luiz Fernando Veríssimo, que muito gentilmente nos informa que se o tal buraco negro aparecer, não vai ser dos grandes não. No máximo, vai engolir só a Suíça mesmo.

E lá vai o Homo Sapiens, que já não é mais tão sapiens, mexer com as coisas da criação, brincar de Deus. Tudo bem se quer brincar de Deus, mas espero pelo menos que este brincar de Deus, não acabe mandando todos nós para o inferno.

O que podemos fazer por enquanto? Torcer para aqueles cientistas serem mais responsáveis que meu irmão adolescente, e no aspecto de Gerenciamento do Caos, podemos desenvolver um grupo de inteligência, para fazer soar o alarme ao menor sinal de colapso.

Como? Se alguém olhar para o céu, e enxergar uma vaca suíça voando na velocidade da luz, liga pra mim e me diz pra que direção ela está indo. Combinado?

Fico no aguardo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

FILHOS. COMO PODEREMOS GANHAR ESSA QUESTÃO?

Aquela coisinha bonitinha (e normalmente é bonitinho só para os pais), que dormia em meu peito o sono dos justos, cresceu e não precisa mais de minha mão para trocar seus passos. Hoje já dispara em desabalada carreira pelas escadas da escola. Ele nem precisa mais de minha colher para comer. Tem seus próprios tostões juntados na mesada que a mãe lhe dá, para ir até a cantina e comprar alguma porcaria.

Uma vez ouvi de um amigo que quanto mais o tempo passa, mais os pais ficam órfãos dos filhos. Tal frase é tão verdadeira, que vez por outra me faz olhar para meu filho já com saudades de amanhã. Mas antes do orfanato paterno, entre o parto e o dia do vôo do filho, temos as fases que devem ser vencidas.

E nestas fases vivi a guerra com os cobertores bem regurgitados de macarrão e suco de uva (não poderia ser algo sem cor?), que me fez escrever uma crônica que já estampa este espaço ( http://anjosboemios.blogspot.com/2008/05/o-filho-o-pai-e-os-dois-cobertores.html ). Foi numa destas fases que ele, com sua simplicidade, resumiu a história de Jesus Cristo em não mais que trinta segundos, acusando os Reis “Magros” de terem seguido a estrela de Belém, encontrado Jesus e o pregado na Cruz. Foi numa destas fases, mais precisamente aos três anos dele, que quando indaguei se poderia namorar aquela menina, ele apenas respondeu, com uma cátedra proverbial: Pode. "É só ela não estressar com você" !( http://anjosboemios.blogspot.com/2007/09/meu-filho-um-filsofo-samuel-rangel.html ).

E assim são os filhos, mas quanto mais ficamos órfãos, mais nos curvamos à "Sua Alteza, O Filho".
E chega o tempo em que as artes na escola extrapolam as aulas de Educação Artística. A pouca idade e quase nenhuma experiência, fica evidenciada pela equivocada escolha dos amiguinhos. Normalmente os mais “espoletas” são mais engraçados. E assim, hábitos novos que não são os de casa, surgem no comportamento de nossos filho. E lá está o pai a tentar aconselhar o filho a não cometer tal erro. O problema disso é que o pai, com toda a sua moral de pai, já vem desmoralizado pelo fato de, lá no fundo, saber que cometeu aqueles mesmos erros. Não há como olhar para o filho, e bloquear as lembranças daquela nossa fase. Isso facilita a conversa.

Porém, e em que pese todos os conselhos de psicólogos, psicopedagogos, profissionais de quem tantas vezes tentamos nos socorrer, e mesmo tantos outros profissionais da área, sou pai, e não sou um pai profissional. Sou um pai amador sim. Exerço a paternidade por amor. Tenho certeza que meus métodos não são os melhores, e tenho o bom senso de confessar os meus erros cometidos na tentativa de tantos acertos.

Se errei ou não, não sei, mas os fatos se passaram recentemente.

.............

Na primeira arte no colégio, lá está o pai, com olhos grossos de irritação, mas que mantêm a linha para não extrapolar os muitos deveres e poucos direitos da paternidade. Um mês sem videogame. Senteça prolatada.

Na segunda, nova presença, nova audição da pouca melódica denúncia sobre as artes cometidas. O castigo agora é sem tempo determinado. Dessa vez surge nos olhos do menino de seis anos uma certa maturidade. Parece que vamos vencer.

Aos pais que estão para passar por essa situação, tranqüilizo-os desde já que alcançar a vitória é impossível, pois na realidade a vitória vem antes do esforço. A vitória é ser pai. Ser pai, é como um mandato eletivo. Depois que você ganha o título, é só obrigação.

Nesse cabo de guerra com o moleque, entre uma conversa e outra com a professora, surge agora um moleque de oito anos que se diz pré-adolescente. Com gel no cabelo, óculos escuros, e com uma gíria própria da geração. Nós? Deixamo-os na escola e vamos trabalhar. Na realidade, se tivéssemos condições e juízo, deveríamos sair direto do portão da escola e fazer uma vigília na igreja enquanto os moleques estão na escola, rezar por um relato de um bom comportamento ao final do dia.

Foi assim que recentemente novas ocorrências foram surgindo na escola, e novos castigos. Em uma dessas ocasiões, então resolvi falar com o moleque como ele gostaria:

- Você é pré-adolescente? Então vai agir como tal. Chega dessas criancices (senti-me mal nesse momento, mas deu certo).

E foi assim que as ocorrências foram diminuindo. Voltamos a comer pipoca ao final da aula nos dias em que eu ia busca-lo na escola. Voltamos a conversar sobre trânsito, futebol, e coisas que ele viu no programa “Caçadores de Mitos”. Fiquei até surpreso ao saber que há pouco tempo, a Discovery dedicou um programa a descobrir se é o refrigerante, o feijão ou o a massa que provoca maior flatulência. Pode?

Há algum tempo, as artes ressurgiram, e com elas, o pai carrancudo, as conversas menos amigáveis e os castigos. Numa dessas oportunidades, sabendo que se tratava de algo não tão grave, decidi ser racional, e usando de maiêutica, com indagações fui tentando construir através do uso do silogismo um conhecimento útil para o rapazinho.

Foi mais ou menos assim. Já no carro, no trânsito que não andava, eu fui perguntando a ele se ele tinha consciência do que estava acontecendo:


O DIÁLOGO

(Para facilitar a transcrição do diálogo, usei a abreviatura “P” de pai para o pai, e “F” de filho para o filho. Esperto, não?)

P - Meu filho. Você sabe que você está passando dos limites?
F - Eu sei pai.
P – Eu tenho conversado contigo, tenho explicado as conseqüências para você, mas não tem adiantado. Isso tem deixado o pai bem triste.
F – Eu sei pai.
P – Desse jeito eu vou ter que tomar uma atitude. Não é possível que as coisas continuem assim.
F – Eu sei pai.
P – Você acha que seu pai fica feliz ao chegar na escola e receber estas notícias? Toda vez que isso acontece eu fico extremamente decepcionado.
F – Eu sei pai.
P – Não é bom ouvir as pessoas na escola reclamando do filho da gente. Eles podem pensar que eu e sua mãe não lhe damos educação. Eles cobram da gente algo que a gente está tentando fazer.
F – Eu sei pai.
P – E da mesma forma sua mãe deve pensar que quando você vem para a minha casa, tudo vira festa. Sua mãe vem reclamar comigo depois sobre isso.
F – Eu sei pai.

E a conversa foi seguindo, seguindo, seguindo, sem que a resposta do piá mudasse. Eu sei pai, eu sei pai, eu sei pai, até que não agüentei mais. Então, e que me perdoem as psicólogas, eu estourei mesmo.
P – Escuta aqui moleque. Você não vai falar com seu pai? Você está brincando comigo? Eu estou aqui falando contigo e você fica apenas com essa história de “eu sei pai, eu sei pai, eu sei pai”? O que é isso? Chega disso. Agora você vai falar com seu pai. Que história é essa? Se você sabe de tudo isso, por que não muda essa situação? Eu cansei disso. E outra coisa. Você fica aí dizendo eu sei pai, eu sei pai, eu sei pai, enquanto a situação esta desse jeito. Você acha que sabe de tudo moleque?
F – Pai. Posso falar?
P – Claro. Estou esperando.
F – Pai. Eu também sei que não sei tudo.


Agora eu pergunto ao leitor: Qual a melhor atitude para um pai numa situação dessas?

a) Proibir o moleque de ler a Recreio;
b) Parar o carro e mandar o moleque fazer 10 flexões;
c) Trinta e sete anos sem videogames;
d) Calar-se e concentrar-se em um “mantra interior para busca da paz em seu próprio eu”;
e) Nenhuma das alternativas anteriores está 100% correta.

Como na maior parte das questões relativas à paternidade, não há uma resposta 100% correta, e você deveria ter marcado a alternativa “e”.

Mas se você é pai, com certeza nesta situação você, nos braços desse amor cego pela criatura que está no banco de trás, você não consegue ter a resposta correta, e no turbilhão desse sentimento paterno, você vai acabar misturando as repostas, proibindo o moleque de fazer flexões, ou lendo a Recreio para ver como se para o carro, ou ficar calado em frente ao videogame, ou iniciar um mantra de trinta anos em busca do seu próprio eu.

A verdade é que não temos como ganhar uma questão dos nossos filhos. Quando a paternidade nos vem, temos que exercê-la da forma que ela é. Intensa e não tão racional.

Essa é a hora em que se encerra a conversa com um filho, e a frase tão criticada por nós mesmos, volta a nossa boca com o eco da voz de nossos pais.

“É ASSIM POR QUE EU SOU SEU PAI E PRONTO!”

Em que pese a fragilidade do argumento, essa é uma frase que põem fim a uma batalha entre pai e filho, e restabelece a harmonia frágil de um relacionamento irracional, fundamentado só no amor, com um conflito que jamais poderemos vencer.

PARA DESCONTRAIR – O TORNEIO DE XADREZ



Campeonato de Xadrez, marcado provocativamente para as 8:30 da madrugada de sábado. Para piorar a situação, o filho vem manifestando há mais de quinze dias a intenção de participar desse torneio.

Para complicar de vez a situação do treinador aqui, na sexta-feira anterior, havia um aniversário de um amigo no bar e eu havia me comprometido a fazer a música. E lá vai o amigo músico treinador tocar até as quatro em meia da madrugada. O amigo músico treinador humano chega em casa as cinco e meia da manhã, e acorda as sete para levar o filho para o empolgante torneio de xadrez.

Então as oito horas, o motorista amigo músico treinador humano, pega seu bólido (insisto em não chamar minha condução de carro), e leva o moleque ao local do torneio. Lá chegando, descobre que não poderá assistir nenhum dos jogos do seu campeão, e poderá tão somente torcer do lado de fora do ginásio, sem sequer poder enxergar as mesas onde os jogos acontecem. Então o torcedor motorista amigo músico treinador humano se posta em frente a televisão de vinte polegadas para assistir à final olímpica do voley feminino.

Cerca de quinze minutos depois do começo da primeira rodada, o torcedor motorista amigo músico treinador humano vê seu filho sair com a primeira vitória.

Durante os próximos 45 minutos, que antecedem o início da próxima rodada, o orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, vê seu filho deixar de torcer para o Brasil e se embrenhar no grande jardim do colégio brincado compulsivamente com os coleguinhas de torneio.

Começa a segunda rodada, e cerca de três minutos depois, o filho sai do ginásio. Indagado sobre o resultado da partida, ele apenas responde: Perdi pai. O pai insiste: Mas como foi o jogo? O filho responde que perdeu a dama. O pai insiste e pergunta: Tudo bem. Mas como foi o xeque mate? Então o filho diz: Eu desisti.

Naquele momento o não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, comunica ao filho que não se deve desistir de uma partida simplesmente por perder uma dama. E volta o preocupado não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano a assistir ao jogo Brasil e Estados Unidos. Mas quando os técnicos do voley pedem tempo, o investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, percebe que seu filho está extrapolando nas brincadeiras com os amiguinhos. Resolve não interferir na situação. Pensa ser melhor deixar o moleque brincar um pouco.

Sem intervir, apenas observa, e espera o resultado da terceira rodada. As onze horas da manhã, o serviço de alto-falantes chama os pequenos competidores aos tabuleiros do ginásio. E lá vai meu filho. Volto a torcer para o Brasil

Acaba o jogo de voley, e o Brasil é campeão olímpico feminino, são entregue as medalhas, as americanas choram. Tudo parece perfeito.

Quando é quase hora de almoçar, estranho a ausência do meu filho. Vou até a porta do ginásio, e não o vejo. Pergunto ao professor e sou informado que ele saiu tão logo a rodada começou. Ao perguntar o resultado da terceira partida, o professor me informa que ele perdeu.

Tudo bem, o compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, vai procurar o filho no páteo enorme da escola. Quando o encontro, vejo-o se pendurando em uma pequena árvore que parece pedir socorro, enquanto um amigo seu o incentiva a quebrar a árvore.

Irado, o compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, repreende o filho e o convida ao almoço em casa, não sem antes, passar por uma conversa no caminho, onde o seu comportamento será dissecado, e será avaliado o retorno para as três rodadas restantes no período da tarde.

É hora da conversa. E da conversa, deverá surgir um conselho.

Na conversa, percebo que o gênio do meu filho, achou mais interessante brincar de madeireiro com seus amiguinhos do que jogar o campeonato de xadrez. Pronto. Pense numa pessoa tensa. O pai sente-se ofendido, por ter que acordar tão cedo para levar seu filho para atentar contra a natureza.

Então o ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, resolve que não retornará ao turno da tarde. O filho insiste. E o pai simplesmente diz que percebeu que o filho veio para brincar, e não para jogar. Brincar é coisa que se pode fazer em casa, e não precisamos acordar de madrugada para tal compromisso.
O filho insiste que não. Que realmente quer jogar.

O conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, então faz um acordo com o filho: Voltamos a tarde só para jogar. As brincadeiras com os amiguinhos estão proibidas. Ok? O filho concorda.

O almoço transcorre em silêncio. O cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano consegue descansar durante quinze minutos, até que o filho o acorda e adverte da hora para voltar ao campeonato.

A dupla chega quinze minutos antes da quarta rodada. O filho pede ao pai que compre um pequeno tabuleiro de xadrez, e pede para treinar um pouco antes do próximo jogo. As 14 horas chamam os competidores e o brincalhão do meu filho.



No período da tarde, a televisão sumiu, e não havia um lugar para se sentar enquanto se esperavam os filhos. Não havia jeito. O negócio era só esperar mesmo.

Passam-se 10 minutos e nada do filho sair. Passam-se vinte, e não passam sozinhos. Trinta, quarenta, cinqüenta minutos, e o desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, começa procurar a segurança do evento, pois já pensava que seu filho havia sido seqüestrado.

Uma hora e dez minutos depois do início da quarta rodada, surge o moleque com o punho de Pelé, já dando sinais de sua vitória. Ao chegar perto do aliviado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, o filho informa que ganhou, mas quase perdeu, pois logo nos primeiros lances, saiu em desvantagem com uma torre, um bispo, um cavalo e um peão. O esforço e concentração durante aquela hora é que havia revertido o resultado do jogo. Então o realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano convida o filho para usar o tabuleiro de mão para uma partida rápida.

Passamos um partida relâmpago, e o piá voltou para a quinta rodada. A espera começa para o dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano. A quinta rodada leva cinqüenta minutos que atentam contra as pernas do dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano. Mas a recompensa vem ao final. Mais uma vitória e de virada.

Não há tempo para outra partida relâmpago, e o filho retorna rapidamente para a última rodada. São quatro horas da tarde, e a maratona está para acabar. Nova espera para o ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, e dessa vez, não há de se esperar uma vitória. A rodada é difícil, e é previsível um resultado negativo. A ansiedade é fruto da necessidade de descanso.

Outros cinqüenta minutos se passam, e ao final o moleque sai e dá um pulo e um soco no ar, repetindo o ato de comemoração inventado por Pelé. O surpreso ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano recebe o filho comemorando. O professor também comemora o resultado imprevisível.

O momento aconselha a sensatez. Então o sensato ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano pergunta ao filho se ele percebe a diferença entre as partidas da manhã e as da tarde. Diz ao filho que poderia ter chego ao final do torneio numa posição bem melhor, mas como incentivo, o sábio sensato ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano, por sua própria conta, considerando que o garoto não havia perdido uma só partida no período da tarde, decreta-o

CAMPEÃO DA TARDE.


O menino não recebeu medalhas, mas recebeu uma bela lição e um título de consolação.
Quanto ao sábio sensato ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano? Este foi pai.

Sim. Ser pai é tudo isso: sábio sensato ansioso dolorido dedicado realizado desesperado cansado conselheiro ofendido irado não tão compreensivo investigador não tão orgulhoso torcedor motorista amigo músico treinador humano. E é ser tudo isso sem vírgulas, pois na realidade, você tem que ser isso em um único período.

Quem sabe essa coleção de definição de emoções, sem vírgula, seja o início da elaboração do melhor conceito de pai.

Sou pai. Graças a Deus!


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O BAR DO LAXIXA, O CÃO FEROZ, E O DIA EM QUE TIVE VERGONHA DE ACERTAR


Aos quatorze anos, com não mais que cinco pelos no queixo, eu era sócio do Clube Cefet. Digo que era sócio do Centro Federal de Educação Tecnológica, em função de que eu passava mais tempo nas atividades esportivas e no clube do xadrez, do que em sala de aula. As salas de aula do Cefet na época tinham uma cor que a cromoterapia jamais aconselharia. Também é justo dizer que não entendo o real motivo de ter me embrenhando em meio aos transistores e resistências do curso de eletrônica, mas é justo registrar que havia meninas maravilhosas naquela escola. Exemplo maior era Isaura, de cabelos negros cacheados e olhos azuis. Por onde andará Isaura? Casada com certeza, divorciada talvez.

Mas como todo menino ansioso, de que me adiantaria ser sócio de tão belo clube e não participar de Natação (a primeira vez que entrei em uma piscina térmica), Voleibol (eu era uma espécie de líbero, mas como não existia isso na época, eu era um boleiro dentro da quadra), Basquete (aqui sim joguei alguma coisa e cheguei a treinar pelo Cefet) e Handebol (que cheguei a treinar pelo Cefet também, esporte para o qual realmente eu tinha jeito, apesar de que jeito no handebol é o que menos conta).

Com essa maratona diária de atividades esportivas, eu chegava em casa normalmente por volta das vinte e três horas, descendo do ônibus Vicente Machado, na esquina do açougue Primor. Naquela época, o bigorrilho não era um bairro iluminado, mas não havia assaltantes suficientes para dar início a um processo estatístico.

Lembro-me que certa oportunidade, Laxixa, o dono de um bar que ficava colado com o açougue e o mercadinho do Seu Freitas, havia adotado um cachorro, porém, ao fechar o bar, Laxixa colocava um caixote de madeira para fora com algumas folhas de jornal. Ali dormia o cão de guarda do bar.

Eu fui notificado da adoção da pior forma possível. Ao descer do ônibus, tão logo virei a esquina, lá estava o encorpado cachorro com os dentes a mostra. E eram dentes grandes e assustadores, cuja lembrança só me deixou em paz, ao fazer terapia no Canil da Polícia do Exército do Quartel General, apenas cinco anos mais tarde.

Quando percebi a fera com os dentes mirando minha altura média, percebi que era hora de correr. E corri mesmo. Um esportista, com 75 kg de músculo, correndo como velocista de um guapeca adotado de bar, mas com dentes bem convincentes. Absorvi a idéia de tanto reviver a situação. Lá estava o cão, lá estavam os dentes, e lá estava o Samuel correndo com um cão, digo, mais que um cão. Todas as noites, meu nada amistoso treinador me esperava na esquina para me aplicar o último condicionamento físico do dia.

Numa dessas noites, o cão que era extremamente inteligente, mas nem tanto, resolveu esperar o garotão mais próximo da esquina, realizando a primeira tocaia canina que tive conhecimento na vida. Ao virar a esquerda rente a parede, não tive tempo de reagir. Quando vi, lá estava a besta com os dentes cravados na minha canela. Consegui que o bichinho largasse o osso ao aplicar uma bela malada na orelha, com a mala do Cefet que tinha um transformadorzinho 12V/110V.
Acreditei que aquilo era suficiente.

Ao chegar em casa, e constatar os estragos da mordida, resolvi ocultar o ocorrido de meus pais. Antigamente, as vacinas anti-rábicas eram aplicadas bem no meio do umbigo. Sensação que eu não gostaria de reviver. Na farmácia do seu Américo, nas proximidades da Igreja dos Passarinhos, fiz o curativo e me virei sozinho. Ao menos a altura da mordida não havia danificado a calça de brim cinza, nem furado o meu sapato mocassim.

Naquela mesma noite, ao descer do ônibus, senti latejar a mordida no tornozelo, e resolvi passar mais longe da parede. Foi o primeiro ponto que fiz no jogo de cão e cagão com o cachorro. Ele estava me esperando colado na parede, mas ao ver que passei longe, avançou e eu corri sem dar a ele mais uma porção de canela para o jantar.

Nas noites seguintes, resolvi descer um ponto antes, para não me deparar com a perigosa besta, mas após andar duas quadras a mais durante uma semana, percebi que a ferida da mordida não ia cicatrizando bem. Voltei ao Seu Américo, que me disse que eu deveria evitar andar muito, ao que aplicou um antisséptico e mandou-me seguir a vida.

Já fazia mais de um mês que o animal me dedicava uma perseguição irracional. Fiquei revoltado, e fui conversar com o Laxixa sobre o devorador de estudantes que matinha à sua porta. Fui em marcha acelerada, lembrando o que hoje se chama de “um consumidor ciente de seus direitos”. Vou chegar lá e mandar o Laxixa dar um sumiço nesse cachorro, pensava eu.

Após três quadras de marcha acelerada, quando avisto o bar, vejo o devorador de canelas deitado a frente do bar. Lá estava o animal, que ao me ver a cerca de vinte metros, arreganhou os dentes e partiu em minha direção. E lá estava eu correndo novamente. Já não bastava os corridões noturnos que eu levava todos os dias, agora a anta tinha que fugir do cachorro de dia também?

Tentei por mais algumas vezes, porém, quando percebia o cão na frente do bar, eu desviava e seguia para o CEFET. Eu sabia que o cão não poderia montar guarda para sempre. Um belo dia, ao ver o bar, percebi a caixa vazia. Essa é a oportunidade. Eu havia me tornado um estrategista, e por isso eu venceria o cão irracional. Ao entrar no bar, fui direto ao Laxixa e mostrei-lhe a canela, dizendo que havia sido o seu cão que tinha executado tão belo serviço. Laxixa riu, e disse estranhar aquilo. Segundo Laxixa, o cão passava o tempo todo ali e não havia atacado nunca ninguém. Enquanto eu insistia na acusação, o cão lazarento entra no bar, com a cauda pitoca chacoalhando, e vai até Laxixa, que prontamente tira algo da compota e joga para o guapeca.
Pronto. Ali estava um cachorrinho angelical, balançando a caudinha cortada para o dono do bar. O interessante é que aquela gracinha, tinha exatamente as mesmas característica do cão que tentava me devorar pelas canelas todas as noites. Então Laxixa abaixa, dá uma coçada naquela cabeçorra quadrada, e diz: Não morda ele urso, ele é amigo! Ele é amigo! Aquele indecente do cão fez cara de que entendeu o recado, e até fiquei tranquilo, pois na frente de Laxixa eu dei uma coçadela nas costas do amigável cãozinho.

Ao descer do ônibus a noite, eu pensava que tudo havia sido resolvido, mas lá estava o cão novamente de tocaia, e a conversa civilizada que havíamos tido durante o dia, era cessar fogo entre árabes e israelenses. Foi só a ONU virar as costas e a guerra havia recomeçado. Em função daquilo, pensei em desenvolver um relacionamento amigável com o cão. Noites depois, na saída do CEFET, tive a idéia de comprar um pão. Antes de chegar na esquina, joguei o pão e o cão foi logo abocanhar. Enquanto ele comia, fui conversando com ele para tentar um relacionamento estável com o animal. Ao engolir o pão, o cão não havia percebido que eu tinha o jogado. E lá estava eu correndo pela enésima vez do feroz animal.

Mas isso não poderia durar para sempre. Definitivamente não. Não bastasse o estresse que eu tinha no CEFET, ainda tinha que me submeter aos ataques insanos daquela besta.

Uma colega minha de ônibus da Vicente, Amarilda, havia testemunhado alguns ataques pessoais do animal contra mim. Solidária ela me deu a solução do problema. Ela mesmo havia sido atacada pelo cão meses antes, mas apenas se abaixou, pegou um pedra no chão e atirou no cachorro. E ela registrou ainda que não era necessário acertar no animal. Era só jogar a pedra e o respeito se instalaria magicamente. Em função daquela estratégia, havia um acordo de paz entre ela e a fera. Eles tinham encontrado um ponto de equilíbrio no difícil relacionamento homem e animal.

Naquela noite, transtornado com a situação, quando desci do ônibus, decidi colocar um ponto final. Como o cão sempre estava de tocaia, eu não tinha certeza de que poderia pegar uma pedra já com o ataque em andamento. Então adiantei o expediente. Havia um pedra no chão que prontamente juntei sem fazer qualquer escolha. Passei a mala para a mão esquerda e segurei a pedra com a direita junto ao corpo. Afastei-me cerca de sete metros da parede que o cão usava de cobertura e andei na direção do embate. Ao alcançar o ângulo de visão do cão, ele saltou contra mim. Em uma reação pronta e rápida, atirei a pedra na direção do cão, e quando vi, lá estava ele estendido no chão logo após um ganido estridente. Resolvi acelerar o passo sem parar para esperar o cão acordar. Eu havia solucionado o problema e pronto.

Na manhã seguinte, ao passar pelo bar do Laxixa, vi uma aglomeração junto a caixa onde ficava o cão. Ao aproximar, percebi que o bolinho de pessoas olhava para o cão gravemente ferido, ao passo que um deles, dizia que aquilo havia sido atropelamento. Algum Opala 250 S, Maverick ou Galaxie, havia passado por cima do pobre animal que agonizava.

Ao me aproximar e compor o bolinho, o cão levanta os olhos para mim, e tenta sair correndo ao mesmo tempo que chora. Todos olham com estranheza, mas não causo nenhuma suspeita. A esposa do Laxixa olha para mim e diz: Ele está assutado. Foi atropelado esta noite. Peguei o rumo do ponto de ônibus com a certeza de que o cão não sobreviveria, o que mais tarde veio a se confirmar.

Quando Amarilda soube da morte do cão, veio me indagar sobre o ocorrido. No primeiro momento neguei, mas ao ser tranqüilizado por ela, lembrando que o cão era um peste, acabei confirmando a autoria do canicídio. E ela perguntou como eu havia conseguido matar um cão com uma só pedrada. Nem eu sabia a resposta, mas na conversa mais tranquila de quem pega o ônibus em paz, acabei percebendo a falta de sorte do cão.

Primeiro, o cão não tinha nada que ter se feito de santo para o Laxixa, ao mesmo tempo que o Laxixa não poderia fechar os olhos para a situação. Posteriormente vim a saber que eu havia sido uma espécie de vingador misterioso do bairro. O animal havia colecionado canelas durante um bom tempo.

Segundo, o cão poderia ter aceitado aquele pedaço de pão como uma proposta de trégua, ou mesmo pedágio.

Mas a real falta de sorte do cão, é que a primeira pedra que me apareceu na frente naquela oportunidade, era um dos históricos paralelepípedos da Vicente Machado ( não se fazem mais paralelepípedos como antigamente).

O segundo fator real que influiu no seu infortúnio previsível, foi de que eu treinava Handebol desde os meus onze anos, no Colégio Rio Branco, e tinha uma pontaria invejável, associada a um arremesso bastante forte, que havia entortado alguns dedos de colegas de esporte.

Por último, e o mais grave, é que alguém com o esfincter contraído, não pensa muito. Embora eu tivesse lembrado dos conselhos de Amarilda ao juntar a pedra, eu não consegui lembrar que não era para acertar o infeliz dentuço. Em um ato reflexo, o animal já era.

Senti muita vergonha de ter cometido aquele ato durante muito tempo, mas de certa forma, isso me facilitou muito o aprendizado do que era uma Causa Supra-legal de Excludente de Antijuridicidade, como fator decisivo na absolvição de um acusado. Eu já havia vivido uma Inexigibilidade de Conduta Diversa.

Estou ciente de que a situação permite várias críticas, e surge a imagem de minha amiga Lu, como protetora dos animais, furiosa e com o dedo jogando bilhar com a bola do meu nariz, mas embora eu tenha vergonha de ter agido certo (apenas certo demais), gostaria de invocar outras causas para afastar de mim qualquer condenação. Eu era menor de idade, e já se passaram 25 anos deste fato. O bar do Laxixa não existe mais, e o lapso temporal faz com que a pretensão punitiva tenha sido atingida já pela prescrição.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O ANALISTA POLÍTICO AMADOR

Foto aérea de Curitiba na década de 50, colorida manualmente.


Se quando o assunto é Seleção Brasileira, todo brasileiro é um técnico, quando o assunto é política, todo brasileiro deveria ser um Analista Político. Não daquele tipo emplumado com teorias conspiratórias e com linguajar algébrico, mas ao menos, um ser pensante, com capacidade de analisar uma questão política. O problema é que o brasileiro leva mais a sério a Seleção Brasileira, do que a Política Brasileira. Cinco em cada dez tupiniquins, sabem desenvolver com habilidade o sistema quatro/quatro/dois do futebol, mas seria um alento encontrar um dentre estes mesmos dez, que soubesse o significado de termos como coligação, majoritárias, pluripartidarismo e legenda. E Esquerda e Direita? Social Democracia, Comunismo, Socialismo e Globalização? Seria mais fácil enxergar algum futuro político para o Brasil.

Mas para não ser pessimista, não é sorte apenas nossa essa situação política. O “grande xerife do mundo” (agora com aspirações de ampliar seu império para planos universais), também anda tropeçando nas próprias pernas.
Enquanto Bush é desconvidado da Convenção do Partido Republicano que pretende lançar a candidatura de seu pretenso sucessor, John Mccain, o candidato Democrata Barack Obama desafia o moralismo dando um selinho na esposa de seu vice.

Isso seria um escândalo, caso a vice Republicana Sarah Palin não deixasse vir a público a gravidez indesejada de sua filha, com o agravante de tornar-se pública ainda a informação de que seu marido transitou algemado por uma delegacia após ser preso dirigindo embriagado. E para provar que as coisas por lá andam complicadas, Sarah Palin ainda tem contra si uma denúncia de ter abusado do seu poder de governadora, para pressionar o chefe de polícia local a demitir o arteiro de seu ex-cunhado durante o processo de divórcio. E o mais incongruente agora, é que a “nacionalista candidata a vice do partido republicano”, é acusada de ter participado de um partido separatista do Alasca.. E eu que achava que a política brasileira é que ia mal? Uma nacionalista separatista? Eu achava que isso era coisa própria do pluripartidarismo brasileiro, onde um “mico” pula da esquerda para a direita, com a facilidade e rapidez de um símio mesmo.

Voltemos para a Terra de Vera Cruz. Que os tupiniquins falem de si, e esqueçam deles, americanos, antes que eles lembrem de invadir a “quase nossa Amazônia”. Também não acho que o momento seja oportuno para falar de Brasília, pois eu teria que comprar uma porção extra de grampos para anexar a este texto os últimos escândalos (O que é isso Ministro? O senhor já foi mais influente!). E da mesma forma acho oportuno deixar em paz o Governador do Estado, que anda muito ocupado com os “negócios de família” (Este sim tem demonstrado ser um homem de família e cuidado bem dos seus).

Se as próximas urnas falam de prefeito e vereadores, vamos falar de Curitiba.

Agora, com o alívio tolo de que os americanos andam enrolados em seu processo eleitoral, posso avaliar tranqüilamente os debates realizados pela Bandeirantes, os resultados das últimas pesquisas, e o pitoresco horário eleitoral gratuito.

Os debates puderam revelar claramente a que vieram os candidatos.

Alguns se candidataram cientes de sua derrota, mas simplesmente para defender uma idéia. Muito Louvável.

Outros, usam dessa campanha para alcançar publicidade que lhes garanta uma eleição para um cargo de menor importância nas próximas eleições. Muito esperto!

Existem alguns também os que são candidatos e não sabem bem porque, nem para que. Muito Interessante!

Um é candidato à reeleição, e outra é candidata do seu partido. Muito importante.

Nos bastidores da política, encontros são comuns para definir colaboradores e oponentes.

Uns servem aos interesses dos outros, na medida em que estejam do mesmo lado, e o que se tem, é um candidato com mais de 70% das intenções de voto, enquanto todos os demais não chegam a 30%. E o mais interessante, é que justamente este que tem a maioria absoluta das intenções de voto, é o de menor rejeição quando a pergunta da pesquisa é "em quem você não votaria". Será que isso não é suficiente para relaxar os ânimos?

Pois bem. Parece que a oposição acredita em algum milagre, e sinceramente, milagres no que se refere a política me assustam, pois creio que Deus não se mete nestas coisas. Qualquer evento "Sobrenatural" na política, é sempre criado nos caldeirões de magos com capuzes. Não é de se duvidar que alguma “denúncia esfumaçante” seja jogada na mídia em breve para tentar reverter a situação atual. Isso não é de duvidar quando dois partidos da oposição contam, um com o poder federal, e outro com o poder estadual a seu favor.

Mas o que se vê por hora é o esperneio dos perdedores, e por isso, se unem para confrontar em multidão ao candidato da reeleição. Eis um debate, mas quase sem nenhuma audiência.

Em que pese ter esse método funcionado por tantas e tantas décadas, acho que a oposição deveria se poupar de tal papel. O povo não é mais uma multidão de colonos com tridentes em busca das bruxas. Não estão enfrentando um "candidato surpresa", daqueles que surgem de um programa de rádio ou televisão, ou mesmo de um investidor oculto e misterioso. Trata-se de um político que trilhou o caminho mais lógico. Traçando um paralelo entre política e futebol, não se trata de um caso como o de Dunga, que iniciou sua carreira de técnico dirigindo a Seleção Brasileira.

Para poupar de dissabores a oposição, seria interessante analisar essa candidatura à reeleição mais a fundo. Primeiro, por que o mandato exercido nos últimos três anos e meio, manteve-se nos limites do bom senso, da discrição na hora certa, e da presença do poder municipal no momento devido. Isso de pronto reflete a aceitação da reeleição como melhor caminho a seguir para mais de 70% da população.

Mas não se trata de um simples prefeito tentando sua reeleição. O caminho que ele trilhou para chegar até ali, incluiu escala na Assembléia Legislativa por dois mandatos, e na prefeitura, como vice-prefeito e Secretário de Obras, justificando assim sua chegada à prefeitura. E os esbravejantes opositores me indagariam: onde estaria o mandato de vereador?

A pergunta poderia colocar este analista político amador em maus lençóis, porém, ao se dedicar um pouco de atenção aos fatos, a resposta vem ainda mais contundente. A história política deste candidato conta com mais de cinqüenta anos. Alguém gritaria então que não é possível, pois ele não tem tudo isso de vida.
Então a resposta vem documentada.


Diploma de Morador de meu pai,
quando estava na Casa do Estudante


Em 1957, meu pai chegava a Curitiba, vindo de Ponta Grossa, para tentar o ingresso em uma faculdade. Das poucas posses da família, fez hospedagem na Casa do Estudante, que lhe colocaria em contato com a política acadêmica. E nesta política acadêmica, conheceu José Richa, com quem exerceu cargo na União Paranaense dos Estudantes. Nesta mesma época, meu pai testemunhou o convite feito por Ney Braga a José Richa, para candidatar-se a Deputado Federal. Eleito, este mesmo José Richa, não exitou a fazer oposição ao regime militar e mesmo a Ney Braga, filiando-se ao MDB (este sim velho de guerra), partido que fez tanta frente à Arena, numa época em que artigos como estes justificariam um convite a uma ida sem volta para a Argentina.

Foto tirada no Salão Nobre da Faculdade de Direito Curitiba
31/10/1957 – Posse da Diretoria da UPE. Ao centro meu pai, Carlos José Silveira, e à direita José Richa


Este José Richa que foi Governador do Estado do Paraná por seus próprios méritos, pai do atual candidato à reeleição, foi quem lhe deu educação e lhe preparou para a vida pública, o que permite arrematar que um candidato as vezes tem mais experiência que sua própria idade.


A Chapa eleita em 1957

Ao centro José Richa


Fenômeno semelhante é o que acontece com Gustavo Fruet (com quem tive a honra de estudar na Faculdade de Direito da UFPr. Também testemunhei o convite para ingressar na vida pública após a morte de seu pai). Gustavo, ao longo de sua carreira política, vem colendo apoio popular e aprovação de seus mandatos. Para tanto basta invocar a votação que alcançou nas últimas eleições, quando foi reeleito Deputado Federal. Lembro-me orgulhoso de sua postura as vezes isolada nas CPIs.

Tanto Gustavo Fruet quanto o candidato à reeleição, demonstram claramente que uma família de tradição política, tem condições de preparar bons políticos. Então aquelas campanhas com jargões do tipo “É Hora da Mudança”, “Chega dos Mesmos”, “Pela Nova Política”, revelam-se imaturas e utópicas, ao mesmo tempo em que são vazias e nada construtivas. Quando a única proposta de um candidato é tirar o outro, não se tem absolutamente nada que não seja um “trono vazio”.

Não basta dizer que não é bom para invocar a substituição. O fato de mudar, não significa que obrigatoriamente estamos mudando para melhor. Eu mesmo me confesso um eleitor de Lula para o primeiro mandato (as vezes acho que não paro de repetir isso por não conseguir me perdoar), porém, mudamos para melhor? Que os mensalões e os outros escândalos respondam por mim.

Não vou sucumbir aos encantos de promessas de apoio do governo federal para aquela candidata, ou de apoio do governo estadual para aquele candidato, deixando de observar os fatos como eles realmente são. E creio que esse pensamente seja harmônico com 70 entre 100 curitibanos.

Levando-se em conta essa tendência, constatando que os dois políticos de maior aprovação na opinião pública são membros de famílias com história na política paranaense, acho interessante observar o surgimento de Renata Bueno, filha de Rubens Bueno, a quem dediquei meu voto em todas as eleições que disputou na sede de meu título de eleitor.



Renata Bueno, além de ter recebido toda a formação moral de Rubens Bueno, preparou-se para essa candidatura, motivo pelo qual, dedicarei minha atenção às suas propostas, e dentro do possível, apoiarei seus projetos. Não se trata de uma daquelas figuras políticas de maquiagem grossa, de sorriso falso, que tanto tentam nos ludibriar.
Renata Bueno, as vezes de pouca fala, pode estar a demonstrar outros caminhos para a política paranaense, longe dos extremismos aparentes que se desqualificaram num poder vermelho furta cor, ou mesmo dos políticos de português sofrível eleitos pelos programas policiais das rádios sensacionalistas. Renata Bueno tem a possibilidade, e agora também o dever de, junto com Beto Richa e Gustavo Fruet, demonstrar que o Paraná tem famílias com boa história política, que ainda são esperança para nosso estado e nosso país.

Lógico que esta regra não se aplica a maus políticos, pois algumas famílias políticas são responsáveis pela degradação do estado e do país (Você deve pensar que estou falando de ACM, e estou mesmo). A mesma regra que se aplica aos filhos, não necessariamente se aplica aos netos. Mas quando um político deixa bons frutos em sua carreira, é de bom alvitre olhar para os seus filhos, pois dentre eles, existe grande possibilidade de surgir um que continuará a desenvolver seu trabalho.

Mas isto, parte apenas e tão somente de um Analista Político Amador.

Ps.: Para alguns, causará estranheza minha manifestação política, mas aprendi com o meu silêncio, e dessa vez eu devo romper com ele.