quarta-feira, 10 de setembro de 2008

MEU IRMÃO CIENTISTA AMADOR, O SEU LABORATÓRIO E A GRANDE GERINGONÇA LHC (Samuel Rangel)

Como toda e qualquer família normal, a minha não se esquivou de ter entre os parentes um pequeno gênio, daqueles típicos de filmes apocalípticos. Meu irmão, já aos seus dez anos, ganhou de algum gênio um laboratório de química para experiências de jovens cientistas. E logo começaram as experiências. Um jovem de dez anos não vai querer inventar fórmulas para um creme de beleza. Essas criaturas vão logo tentando descobrir alguns ácidos para derreter todas as formigas do mundo, e as vezes o próprio mundo. Não demorou muito, para que outro gênio entregasse a ele uma bela caixa, com um “brinquedo” chamado Engenheiro Eletrônico. Este brinquedo ensinava adolescentes a montar circuitos eletrônicos.

Pronto. Meu irmão tinha um laboratório em casa, e nós tínhamos motivo para ter muito medo.

Como minha mãe sempre teve bons punhos e bom domínio sobre os filhos, não demorou nada para que meu irmão tivesse que montar seu laboratório no pequeno paiol, nos fundos de nossa casa, um pouco afastado. Assim, caso o seu laboratório multi-disciplinar, e sem nenhuma disciplina, pegasse fogo, poderíamos ao menos salvar a casa.

Lembro-me de, vez por outra, perceber tufos de fumaça saindo da pequena janela do paiol, acompanhados de um pálido irmão que saia pela porta, tossindo e revendo as anotações para ver o que havia dado errado. A verdade é que, não se podia ficar tranqüilo ao saber que um moleque de treze anos, estava fabricando ácido sulfúrico no paiol de casa, tentando fabricar sua própria pólvora, e pior ainda, era a idéia de que ele tentava inventar um novo sistema de transmissão via rádio, logo ali, bem do lado daquela parafernália química.

Enquanto meu irmão esteve perdido naquele laboratório, não teve tempo para se atinar de coisas muito mais interessantes, como a graça das curvas do corpo feminino. E enquanto ele não sabia nada do corpo feminino, vivíamos com uma certa insegurança, como se o paiol fosse explodir em plena manhã de domingo. Para tentar descrever a sensação, era como se a família descansasse à sombra de um vulcão.

Mas graças a Deus, meu irmão chegou a puberdade, onde os moleques desobrem que podem terceirizar o trabalho de sua mão direita. Assim ele desistiu de ser um cientista no estilo “Hugo Agogô” (aquele que sempre tentava acabar com Bate Fino, o morcego com asas que são como uma couraça de aço). Com a incorporação da mulher como fato científico e anatômico na vida de meu irmão, a família encontrou segurança e tranqüilidade novamente.

A lição foi muito boa, e surtiu efeitos. A cada vez que tenho vontade de dar um presente para meu filho, eu penso nas conseqüências. É bom evitar dar a uma criança algo que possa mandar pelos ares a família inteira.

Assim foram meus últimos trinta e cinco anos.

Mas hoje, 10 de setembro de 2008, olho para o paiol com certo desconforto, como se alguém estivesse fazendo uma enorme cagada por lá novamente. Enquanto fumo meu cigarro, cometendo minha própria cagada, acho estranho que o paiol vazio me desperte receio novamente. Após pensar bastante na sensação, agora sei o motivo.



Esse gosto de cabo de guarda-chuvas que me amarga a boca, vem daquela coisa esquisita que foi construída logo ali, na fronteira da Suíça com a França, onde uma turminha de cientistas do mundo inteiro, resolveu recriar o Big Bang.


Poderia ser algo extremamente normal, mas não me sinto confortável em saber que os cientistas criaram o tal do “Large Hadron Collider "(Grande Colisor de Hádrons – o nome por si só já me faz quase borrar as calças).

Nesse momento eu teria uma pergunta aos cinetistas que estão operando essa máquina. Não sou cientista, mas tenho algumas noções básicas o suficiente para fazer um café bem forte. Esse tal "Big Bang" que os senhores estão tentando recriar, não foi, com o perdão da palavra, uma "Puta Explosão"?

Eu sei que esse paiol está mais distante, mas a mim parece que esse LHC, laboratório que não é como aquele do meu irmão adolescente, tem um poder de fogo bem maior, o que me inclui na sua esfera de impacto (e põem impacto nisso).

E os termos envolvidos no projeto apocalíptico vão me assuntando cada vez mais. Como raios alguém quer que eu fique tranqüilo sabendo que o nome que deram para a geringonça é Grande Colisor de Hádrons. Com licença senhores cientistas, mas além da puta explosão, agora o nome sugere um “puta colisão” também.

A geringonça está instalada em um anel de 27 quilômetros enterrado cem metros abaixo da zona rural dos arredores de Genebra, na Suíça. Pronto. Bum! Aconteceu o pior! Por alguns instantes consigo imaginar uma vaca suíça caindo no meu jardim.

E o que são esses tais Hádrons? O medo começa a aumentar rapidamente. Socorro. Acesso a internet para tentar me acalmar, e obter informações que me tranqüilizem, pois aqueles cientistas devem saber o que estão fazendo. O medo vira pavor ao saber que os caras desenvolveram uma temperatura superior a do sol dentro da tal geringonça, e ao saber que as tais partículas estão acelerando a velocidades superiores a velocidade da luz, já sinto um medo no abdômen. Vai que uma dessas merdinhas escapa daquela arataca e me acerta a moleira?

Imaginou?

E vou colhendo informações sobre o projeto genial. Descubro que alguns estudiosos, acreditam que a experiência vai criar um buraco negro. Ok. Eu confesso. Era medo, virou pavor, e agora se transforma em uma grande cagaço mesmo. Vou correndo até outras páginas para tentar achar alguma notícia que me acalme, e descubro que como os resultados da pesquisa são imprevisíveis, os próprios criadores do projeto montaram uma comissão para avaliar os riscos da pesquisa, e encontrar soluções se algo der errado.

Com licença senhores cientistas, mas se por acaso aparecer um buraco negro bem na fronteira da Suíça com a França, que raios esses gênios pretendem fazer?

Ok. Então nesse exato momento em que escrevo, tem uma porção de malucos que estão fabricando um buraco negro bem ali, na Suíça, que agora virou o paiol do mundo?

Francamente.

Sinto-me novamente como em minha infância, só que dessa vez, é como se tivesse ouvido no café da manhã que aquela coisinha esquisita que meu irmão está trabalhando, cheia de fita isolante e com pedaços de uma torradeira elétrica, é nada mais nada menos que uma bomba atômica.

Pense numa pessoa tensa, como diz Larissa.

E depois de pesquisar tantos textos científicos, religiosos, paranormais, gibis, revistas de fofocas e outras baboseiras, fui encontrar alguma tranqüilidade no texto de Luiz Fernando Veríssimo, que muito gentilmente nos informa que se o tal buraco negro aparecer, não vai ser dos grandes não. No máximo, vai engolir só a Suíça mesmo.

E lá vai o Homo Sapiens, que já não é mais tão sapiens, mexer com as coisas da criação, brincar de Deus. Tudo bem se quer brincar de Deus, mas espero pelo menos que este brincar de Deus, não acabe mandando todos nós para o inferno.

O que podemos fazer por enquanto? Torcer para aqueles cientistas serem mais responsáveis que meu irmão adolescente, e no aspecto de Gerenciamento do Caos, podemos desenvolver um grupo de inteligência, para fazer soar o alarme ao menor sinal de colapso.

Como? Se alguém olhar para o céu, e enxergar uma vaca suíça voando na velocidade da luz, liga pra mim e me diz pra que direção ela está indo. Combinado?

Fico no aguardo.