sexta-feira, 27 de março de 2009

PUDIM, O RIN TIN TIN TUPINIQUIM ... E BOM DIA PRA MIM.


Com certeza você já acordou com uma ligação de alguma operadora de celular oferecendo um plano de merda. E não tenho a menor dúvida, que você já teve um suave despertar, com a campainha de sua casa sendo insistentemente tocada por um pedinte. Também não é de se duvidar que você já tenha recebido um bom dia da vida com uma má notícia, daquela tia gorda que fala assim: Advinha quem morreu!
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Essa história de ser despertado pelo inusitado, e de olhar para uma cama carente dizendo até logo para você, não é novidade nem para mim e nem para você. Somos cercados por uma trupe de espiões sacanas, que esperam a gente ter a oportunidade de dormir até mais tarde para criar um evento e interromper nosso sono.
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Mas sinceramente, hoje foi inacreditável. Para não citar o nome do amigo, vou chamá-lo apenas de “Pudim”, numa honrosa menção ao ilustre personagem que tem roubado a cena na peça de Analice em Busca do Homem Perfeito.
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Hoje, 27 de março de 2009, quando o relógio marcava 6:30 da manhã, justamente neste dia que eu havia escolhido para dormir até as nove, a campainha começou a tocar insistentemente, irritantemente, incansavelmente, incessantemente, ininterruptamente, impertinentemente, inoportunamente, in ... Ok. Eu sei que você cansou, e já ficou irritado com tanta insistência, porém, ao menos fui feliz em descrever o quanto essa campainha foi tocada.
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Ao afastar a cortina da sala, dou de cara com Pudim (e não adianta insistir para saber o nome do bebum), cantando para toda a vizinhança a trilha bandida do filme Tropa de Elite. Ao seu lado, um cachorro companheiro, que na realidade, tem a obrigação de mostrar para o bêbado onde ele mora.
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Preocupado com a situação, saí com os olhos remelentos e com o cabelo em pé, do tipo estou dormindo, e perguntei o que estava acontecendo. Pudim então me pede um cigarro, e volta a cantar a sua trilha sonora. Cigarro na boca, e um pé engatilhado para lhe acertar a bunda, cinco minutos depois, e cerca de dez recusas ao convite de tomar uma cerveja como café da manhã (francamente, eu gosto de cerveja, mas gosto mais de mim, mas para ele seria uma espécie de copo de leite de boa noite), Pudim sai cambaleante pela rua, conduzido pelo seu racional cachorro Negão.
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Entro e olho para a cama que abandonei, já imaginando como faria para voltar a sonhar com a deusa que eu estava quase pegando, mas quando dobro os joelhos para alcançar o justo descanso, ouço assovios e alguns gritos pela janela. Ao atinar do que se tratava, percebo que Pudim resolveu pular o muro do vizinho para me fazer uma serenata vespertina, e a letra da música era: Vamos tomar uma cerveja? Não aguenta? Vez por outra ele ainda me chamava pelo aumentativo do extremo inferior do aparelho digestivo que é controlado por um esfincter.
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Nos braços do sono que eu sonhava em ter, não percebi de pronto, mas logo lembrei que meu vizinho tem um daqueles cães bombados, com corpo de búfalo e cabeça de sogra, orelhas cortadas e rabo pitoco, dentes de onça e paciência de professor ginasial. Ao me tocar disso, fui correndo para o muro, e vejo Pudim de quatro rosnando para o animal. Inacreditável, mas o animal mais perigoso da região (depois daquela vizinha de língua solta), não havia atacado o bêbado.
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O coração não boca já avisa que estou prestes a ver Pudim virar ração de cachorro, do tipo carne moída com pedacinhos de álcool. Eu então me vejo com as pernas moles, e já começando a querer pular o muro para salvar o Pudim. Como eu estava com sono, e não sem bom senso, gritei para Pudim que fosse saindo lentamente, sem dar as costas para o cão. Eu já imaginava como é que aquele pudim de cachaça iria pular o muro sem dar as costas para o cão. Não havia o que fazer. Eu estou prestes a presenciar um banquete canino com um amigo de muito tempo servido na bandeja. Os minutos foram passando, e o Pit Bull ali, armado, pronto para atacar Pudim.
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Quando eu já pensava em telefonar para o vizinho, e pedir para ele prender o cão, perguntei-me silenciosamente o que eu diria sobre a criatura que estava lá meio em pé, meio cambaleante, no meio do seu jardim.
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Neste momento, lembrando uma mistura do seriado da Lassie com o Rin Tin Tin, o cão Negão pula por sobre o muro e parte contra o Pit Bull, começando o que seria a luta mais injusta de todos os tempos. O meu coração que já estava acelerado inscreve-se para compor a banda do Olodum, e visto metade do tênis para sair correndo pela rua, tentando salvar o Negão, Pudim, e minha moral que já estava comprometida pelo show matutino do meu amigo.
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Neste momento, ao chegar ao portão do vizinho, o vejo saindo de casa com uma machado na mão erguido sobre a cabeça. Percebendo que ele estava pronto para rachar a mamona de Pudim, eu gritei que ele era meu amigo e que estava tudo bem. Nesta hora o vizinho me olha com a única cara que podia. Sobre sua cabeça um balão invisível me fez poder ver o que ele pensava, mas não posso escrever aqui.
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O vizinho irritado separa a briga dos cães, e Pudim sai com o Negão ferido carregando-o nos braços. Quando olho para Pudim ele me convida para tomar uma cerveja e comemorar a vitória de Negão na briga com o Pit Bull. Olhei para Negão e não o vi com nenhuma intenção de comemorar, até porque não havia vitória nenhuma.
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Então resolvi bancar o bom Samaritano. Recolhi Pudim no meu carro, com Negão ao colo, e levei ambos até a casa onde moram. Depois de perguntar ao Negão uma ou duas vezes sobre o endereço, pois Pudim só sabia falar em cerveja, cheguei a frente do referido habitáculo. Quando o tiro de dentro do automóvel, com o pedaço de cão na mão, a cunhada do cidadão me olha e diz.
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Você hein Samuel ... Bebendo até essa hora? E o pior é que leva “Pudim” para o mal caminho.
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Ao retornar para a casa, meu vizinho da frente pergunta se aquilo era hora de chegar em casa. A vizinhança toda acordada com a canção de Pudim e meus berros para interromper a luta dos cães, olha para mim com ar de reprovação, pois todos sabem que tenho um bar, e de pronto, associaram o ocorrido à minha história. Justamente no dia em que eu havia ido dormir cedo como um bom rapaz.
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Por isso gostaria de agradecer publicamente ao Pudim, por me dar a oportunidade de escrever este texto. A merda é que sei que meus vizinhos não vão ler.
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Desejo melhoras ao Negão, para que da próxima vez, morda forte mesmo o seu dono, para que ele não venha tocar a porra da minha campainha as 6:30 da manhã para pedir cigarro e tomar cerveja. Francamente. E digo mais Pudim. Se o Pit Bull me pedir seu telefone, e falo o número e o endereço. E espero que você vire bonzo da próxima vez.
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Agora que não consigo mais dormir, Bom Dia pra você também!