quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ONDE ESTÁ O TONINHO DA RENOVAR?


Isso sim é uma boa pergunta. Depois de tanto tempo estrelando as propangadas de sua loja, ninguém mais viu, ninguém mais sabe, e há aqueles que façam disto uma piada. Não cruzam muitas esquinas para você encontrar alguém com a quela piada: - O Toninho da Renovar morreu! E você com a cabeça na educação do seu filho, na festa de aniversário do afilhado e tentando lembrar o número do telefone daquele cidadão de que deve uma quantia razoável, incauto e desatento, pergunto: Ele morreu? Mas como foi isso? E o piadista arremata em meio a gargalhada de Jardim de Infância: Morreu sim! Numa explosão de ofertas!
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E você poderia perguntar por qual razão este cidadão aqui escreve sobre o cidadão.
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Então deixa que eu te conte que em uma dessas explosões de ofertas, um Colchão de molas tamanho King Size veio parar justamente na minha casa, para acomodar meus pai, que após uma cirurgia mais delicada, precisava de um belo e cômodo lugar para repouso. Alguém que nem quero lembrar quem, me havia dito que havia comprado um colchão destes naquela explosão de ofertas, pela mísera quantia de R$ 1.500, e me convenceu a comprar o dito jogo de molas.
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Após um mês de uso, meu pai relata-me que o tal colchão estava apresentando desformações, e passando a prejudicar seu repouso. Hoje me puno, mas na época não acreditei muito, imaginando que aquilo poderia ser uma manifestação das crises pós-cirúrgicas.
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Passados uns três meses, meu pai e minha mãe se unem e me mostram o colchão. Colchão? Se aquilo fosse impermeável dava para fazer uma banheira. Se fosse de inox, dava para fazer uma fracalanza de festa de Italiano, para servir “Polenta com raditio”. Ao remover os lençóis, percebi ainda mais uma valiosa função daquele “colchão”. Poderia-se perfeitamente usar daquela porcaria para usar de molde de meu pai e minha mãe. Pensei em guardar a mercadoria, pois quem sabe, na páscoa, usando daquele molde, eu poderia dar para meus pais uma réplica deles em chocolate.
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E lá se foi meu pai “ajuntar seus dicumentos, pegas suas tistimunhas e entrar com uma ação”. No caso dele, não precisou contratar um “divogado” pois dois de seus filhos o são, inclusive este humilde que relata o ocorrido.
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Percebendo que hoje no Fórum Cível as ações de cobrança e indenização levam anos, além de custarem muito caras, meu pai resolveu recorrer ao pequenas causas, que não é lá muito mais rápido, mas ao menos não é tão burocrático.
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E foi. A Pretensão Resistida objeto do litígio, foi então proposta através da peça exordial oferecida ao Poder Jurisdicional competente, oferecendo ao final, após minuciosa descrição e justificação, os requerimentos de praxe, em especial, a execução das garantias para os fins de fazer a parte Requerida proceder a devida troca da merdacoria (não é erro de digitação).
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Como os esforços no sentido de uma composição amigável na audiência preliminar baldaram inúteis, não restando qualquer conciliação viável, o rito seguiu seu trâmite legal.
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Pensando bem, nem tudo que e Legal é legal.
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Confesso que não me sinto bem ao ver meu pai, do alto de seus 73 anos, colocar seu terno lutador e a gravata alinhada, para se sentar por horas nas ante-salas do Juizado de Pequenas causas, e sempre ouvir a mesma situação. Nem o representante da Renovar (que nem existe mais), e nem o fabricante do colchão se fazem presentes. E lá vem meu pai guiando seu “golzinho mil” todo desenchavido*, balançando a cabeça negativamente, decepcionado com a Justiça, sentindo-se um tolo crente em frente a cruz caída.
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Quanto ao sono dele, meu irmão deu a ele um colchão digno do sono dos justos, onde um homem de 73 anos, honesto que nunca soube o que e parar de trabalhar possa adormecer enquanto a televisão desliga, essa mesma televisão que nos apresentou o tal Toninho que não quis renovar o colchão do meu pai, que durante tempo não pode se sentir renovado após descansar naquele colchão.
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Mas o pior, é não poder renovar a esperança na luta da Justiça com algumas pessoas como Toninho.
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A propósito, se algum dos leitores souber do paradeiro do cidadão, se é que ele não morreu mesmo naquela explosão de ofertas, faça-me um favor. Avisa a ele que pode vir buscar a merdacoria que vendeu ao meu pai, pois além de não servir como colchão, nem banheira, nem fracalanza, e nem para o raio que o parta, aquela merdacoria só esta ocupando espaço nesta casa.
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Pensei em fazer uma doação aos desabrigados de Santa Catarina, mas acho que eles já têm desgraça demais por lá. Se eu levo uma merdacoria dessa no Corpo de Bombeiros, sou capaz de apanhar feio da guarnição inteira.
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Se puderem, avisem o Toninho.
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* Desenchavido. Ao escrever essa palavra, logo o Word aparece com aquela linha vermelha trêmula sublinhando minha burrice. E como todas as vezes que isso acontece, eu fui logo buscar a sabedoria do mestre. - Óh venerável Aurélio, que nos ilumina com as palavras certas enquanto pensamos em coisas erradas, sabeis vós, do alto de seu vasto vernáculo, como poderia esse seu humilde servo escrever a palavra em questão? Para meu espanto o mestre ficou em silêncio. E nenhuma resposta para esse discípulo surpreso. Então, quem sabe tentando escapar do sufoco de minha ignorância, imaginando que o mestre poderia calar-se por alguma idiotice minha, tentei encontrar Desinchavida, Dezenchavida, Dezinchavida, Desenxavida, Desinxavida, Dezinaxavida, Dezenxavida, e nada.
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Mas eu que jurava tantas vezes ter ouvido tal palavra, e mesmo tantas outras, julgava ter lido em alguma parte. Mas nada. Meu mestre se calou. Não sei se pela minha ignorância ou outra gafe qualquer que tenha cometido. A verdade é que, em meio a meu texto, encontra-se uma palavra que eu não sei como se escreve, inclusive, acreditando até que seja capaz que ela se escreva como eu escrevi. Por isso, a deixa lá, acompanhada deste singelo asterisco, por julgá-la mais adequada do que outra qualquer. Mas se não fui claro, a verdade é que me pai voltou “Puto da vida mesmo”.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

MANUAL DO DIVORCIADO

Se você está em meio a um processo de separação, deve levar em conta algumas coisas. Se o princípio do relacionamento foi marcado por um caloroso processo emocional, é lógico que ele não acabará sem passar por outro caloroso processo emocional, só que dessa vez, mais que caloroso, ele é explosivo.
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No começo tudo não passava de arrepios e olhares meigos e apaixonados, mas agora os arrepios reaparecem com o sentido contrário, e os olhares trocados pelo ex-casal, agora vem em forma fagulhas enraivecidas e destruidoras, sem o menor temor de publicar sentimentos de recalque, tristeza, decepção e tantas outras mazelas do espírito humano.
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Mas se você está passando por isso, tenha calma. Você não será o único a encontrar na cabeça atordoada a idéia de rasgar uma foto, ou uma peça de roupa. Também não pense que você está sozinho quando se flagra tentando especular com quem ele, ou ela está saindo.
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O primeiro passo é com certeza, buscar a calma. O primeiro momento do processo da separação é totalmente emocional, e convenhamos, que nos braços da emoção, não temos nada de Homo Sapiens. Como os sentimentos que nos vem não são agradáveis, assumimos uma forma tão explosiva, que faria de Osama Bin Laden um escoteiro do parque Barigui.
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Se esse é seu momento, vamos primeiro nos dar conta de qual é o grau onde estamos. O melhor instrumento de medição da coerência na separação, por incrível que pareça, é o bom senso (as vezes nem acredito que escrevi isso, mas em relação ao processo de separação, é melhor definir as coisas bem claramente).
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Vamos às suposições.
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Se você está brigando por aqueles 19 relógios de parede que ganhou de presente de casamento, pare e analise a situação. Aquelas merrecas de relógio servem para que? Se isso realmente está acontecendo com você, imagine na hora em que for discutir a partilha do imóvel. Essa briga pela partilha dos bens, revela muito a realidade emocional dos separandos.
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Nessa nova vida que você está assumindo, a classe é fundamental, e se você perder a classe com um relógio que imita o canto de doze passarinhos, você realmente precisa de um tempo pra você. Consulte um psicólogo e vá viajar.
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Mas também não é raro encontrar aquele tipo de homem que pede todos os presentes de volta. Ao longo de vinte anos de relacionamento, ele consegue lembrar de todos, inclusive daquela vaquinha no tambor que ele trouxe de Minas Gerais. E no momento da separação, ele quer a maldita vaquinha que ele pagou R$ 2,25. Exatamente. A separação não tem nenhuma vocação racional. É de se indagar o que vai o cidadão fazer com a tal vaquinha?
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Mas as mulheres que se flagram sorrindo, por testemunharem esse comportamento em alguns camaradas, não devem tomar tal posicionamento. Se por um lado o homem comete essas sandices na separação, por outro, existem mulheres que não conseguem manter a separação como assunto particular.
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Lembro-me de uma oportunidade em que eu dirigia meu carro por um bairro nobre da cidade, e ao cruzar um prédio de alto padrão, eu vi roupas voando pela janela. Ali, na calçada, um cidadão juntava camisas, calças e jaquetas, em silêncio, e notoriamente envergonhado pela situação vexatória. O único problema é que, entre a janela que gritava e regorgitava roupas e o cidadão que as juntava, havia um pé de Ipê Amarelo. Em seus galhos, por cerca de uma semana repousaram cuecas e camisetas, até que a prefeitura municipal programasse uma poda para a árvore bem vestida.
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Levando-se em conta isso, é de se propor uma reflexão. Sabendo-se de que o processo de separação é um turbilhão emocional, tudo o que o separando não precisa, é de uma porção de atitudes que venham a despertar a sensação de vergonha que desperta depois e pode durar dias, meses ou até mesmo anos.
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Evite pois, atitudes que venham a colocar você em situação desconfortável. A separação por si só já é bastante desagradável, e não precisa de nenhum tipo de esforço seu, para se tornar um verdadeiro calvário da culpa e da vergonha.
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E existem vários motivos para que você se controle.
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Não existe nada definitivo, e nem mesmo, neste momento conturbado da separação, você pode ter certeza de que ela é definitiva. Tome cuidado para não criar situações irreversíveis.
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O segundo motivo, é que, em sendo definitiva a separação, você precisará reconstruir toda uma vida emocional. Fotos estampadas na manchete de jornais sensacionalistas, e exposições exageradas de sentimentos e emoções, podem ser extremamente prejudiciais à sua imagem. Lembre-se que uma boa dose de classe e charme, ajudará você a reencontrar equilíbrio em sua vida emocional.
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Também é de se considerar que a exposição, acaba tornando os confrontos mais graves. Depois que o fato vira público, ele deixa de ser fato para ser um vexame, um escândalo.
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Então, por mais difícil que seja ou pareça, procure manter a cabeça pensante sobre os ombros, mantenha a calma, converse com algum amigo de verdade e abertamente, visite a família, compre aquela roupa que a outra pessoa tirou de seu armário, use o tempo para você. Da mesma forma, se tiver filhos, seja o pai ou a mãe que você quer, sem ter que ouvir críticas ou censuras sobre a forma com que você fala, brinca ou briga com seus filhos.
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Tudo na vida tem um lado positivo, e então, seja temporária ou definitiva sua separação, procure enxergar esse período como tempo de reconciliação consigo mesmo, e desse reencontro, restaure a pessoa que mudou tanto durante a adaptação à vida de outra pessoa.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

QUANDO SE TEM UM CARRO VELHO, O QUANTO VALE UM GRANDE AMIGO


Então você comprou aquele carrão quase zerinho, e os seus amigos já cercaram você no estacionamento e começaram com a arcaica piadinha “ e os meus deizão nada”. Você saiu do estacionamento se julgando um galã global, e algumas mulheres na rua passaram a te olhar com outros olhos no trânsito. Finalmente você entrava para o seleto grupo dos “bem motorizados”.
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O tempo foi passando e você nem viu. Quando alguém lhe fazia uma proposta para comprar o carrão, você respondia com o dobro do valor do mercado. Mas o tempo continuou passando, e você nem aí. Um certo dia você percebe que seus amigos deixaram de fazer lances para o seu carro, e naquele dia, quando você embarca no carrão, você vê seu retrovisor interno despencar sobre seu colo.
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Pronto. A verdade veio a tona e a ficha caiu junto com o espelho retrovisor. Você é o proprietário de uma nave, algo de outro mundo, que ninguém mais tem e nem se interessa em ter um. Quando você percebe que o carro esta velho, apesar de sua ligação emocional com o bólido, você compra o Alô Negócios (coisa de pobre mesmo), para dar uma olhadela no preço de mercado da ferragem. Foleando as páginas, em negrito você vê o anúncio: TROCO CARRINHO DE CACHORRO QUENTE POR SOM, CARRO DE MENOR VALOR, MENOS ESPERO (Não insista).
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Então vem a imagem do vendedor que te entregou as chaves da barca na concessionária, dizendo em alto e bom tom que aquele carro jamais iria desvalorizar. Você pensa também na mãe desse vendedor, mas antes que a ira faça você começar a temporada de caça à criatura, você se dá conta de que está com o bólido há mais de dez anos. Opa! Há dez anos atrás, um Pentiun 233 era sonho de consumo de qualquer Escritório de Advocacia de Respeito. Porquê o carro não poderia envelhecer também.
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Neste dia você finalmente descobre o que realmente significa a palavra casamento. Você definitivamente está casado com a ferragem, e não adianta pensar em se livrar. Ninguém virá buscar. Surge então a idéia de reforma.
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Um pneu novo (aliás são quatro), um joguinho de rodas, um insufilm, mas nada adianta. A caranga não perde aquele ar “senhoresco”, com os traços de avô, e precisando de uma bengala. Seu destino está definido. O máximo que você vai conseguir, é vender a caranga daqui uns vinte anos para a Rede Globo gravar alguma novela de época que se passe nos anos 90.
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Nessas horas os amigos são importantes. Eles não abandonarão você só por causa do seu bólido, apesar de rirem aos montes em sua chegada nos churrascos. Tudo bem, afinal, sempre gostei de comédia. Apenas acho que não deveria se passar dentro do meu próprio carro e sem público pagante.
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Hoje, cansado de ver o meu querido automóvel (e por mais que outros não queiram, eu o chamo assim. Sim, ele é meu automóvel), arrastar o cano de escape como se estivesse tentando arar o asfalto do centro de Curitiba, levei ao meu bom amigo Hector, da Rota 27, para ver se em algum armário velho, ele encontraria uma borracha de sustentação do escapamento.
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Erguemos o carro, enquanto ele dizia que era melhor eu procurar no museu do automóvel. Enquanto o carro erguia, um rasgo no pneu do tamanho da falha de San Andreas, que se explodem na estrada, São Francisco nenhum dará um jeito de salvar sua pele.
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Certo, então trocamos o pneu também Hector.
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Enquanto o carro esta erguido, pensei que o serviço de lavagem era gratuito, pois uma enorme quantidade de líquido corria por debaixo do carro. Só então fui perceber que se tratava da mangueira do respiro do tanque de gasolina, e o que escorria pelo chão, era justamente os trocados que eu pretendia usar no final de semana no parque com meu filho. Solto o grito: Tampem essa mer...cadoria! Eu não posso perder dinheiro assim (mas como se pode perder aquilo que nunca se encontrou?)
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Depois de uma hora fuçando no tanque para cessar o vazamento, chega a hora de pagar a conta. Um pneu, duas borrachas, uma mangueira, mais a mão de obra. E eu só tenho R$ 50 no bolso. Como é que vou acertar a situação agora.
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Quando chego ao caixa já com o grito pronto: Fui assaltado!, Hector olha para mim e diz. Fica tranquilo Samuca, me dá “deizão” da borracha e está tudo certo.
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Olhei incrédulo. E quando insistia para ele para pagar os únicos R$ 50 que tinha, ele sorri e me desabafa. Sabe o que é Samuca? É que adoro trabalhar com velharia.
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Nessas horas é que entendemos que amigos são extremamente importantes, embora nem sempre lhe façam bem à sua auto-estima.
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Em falar em auto-estima, quem sabe a minha sofra exatamente por eu não ter diferenciado a auto-estima da estima pelo auto.

HISTÓRIA EM QUADRADINHOS VIII - Buddy e Analice em O RISCO QUE CORRE UM CAFAJESTE








quarta-feira, 12 de novembro de 2008

HISTÓRIA EM QUADRADINHOS VII - Buddy e Pudim em SOU BÊBADO E NÃO LOUCO











NÃO É TEMPO DE VEEMÊNCIA (Samuel Rangel)



Quem sabe sejam os últimos ares de meus pulmões, ou mesmo as últimas palavras que nem tenho fôlego para dizer. Mas talvez os anos se passem longos e muitos para mim, e eu possa se rir de muitas outras bobagens minhas. Quem sabe? E nem mesmo eu sei? Apenas sinto algo que me desconforta diante de tanta idiotice que me assola. Essa idiotice, ora de minha infância graciosa, ou mesmo dos grisalhos que me enchem de qualquer razão barata, ora destes olhos magistrados que me julgam com ironia diante da fragilidade que minha segurança tenta esconder.
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A verdade é que não sei, e quem sabe ... Quem sabe?
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Do pouco que se pode saber resta esse amargo nos olhos, o cheiro do sal, e esse perfume que ouço nos ares que as mãos deslocam enquanto a garganta brada em silêncio o desgosto de uma multidão de infelizes.
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Quem sabe?
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Quem sabe não tenham percebido que a soberba e a cátedra estejam fora de moda, e que não é tempo de veemências, apesar de tantas faculdades que se espalham pelas quadras das cidades, de muitas falácias e poucos saberes. Apenas os tolos andam por aí com pregações em punho. Os sábios andam calados e moribundos, e isso me assusta. Parece que desistiram de dividir seus lampejos de sapiência conosco. Eu estranho que eles , que tanto falaram contra essa fome de consumir coisas, tenham desanimado diante do fato de ninguém mais querer comprar suas idéias.
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Quem sabe?
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Acho coisas que não procuro e delas me enalteço e me sensibilizo. Não preciso olhar muito além de minhas janelas semi-cerradas que quebram as luzes que tentaram entrar nas manhãs de minha vida.
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Quem sabe?
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Esse selo que aperta as cortinas contra luz, talvez seja fruto de minha pouca força para enxergar algumas realidades. Justamente a luz que hoje esse televisor derrama no meu quarto, enchendo-o de pouca coisa, muitos alardes de pouco ruído. Esse televisor que hoje me mostra corpos de adultos e crianças com se fossem a mesma coisa. Esse televisor que insiste em gastar tanta energia com a mais barata das dramaturgias, transformando um romance de dois belos rostinhos na parte principal de uma história enrolada, sem fim, e com palhaços sem maquiagem ou nariz vermelho.
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Eu não sei, e nem mesmo sei porque estou falando, ou mesmo se deveria estar falando. Minhas próprias tolices,
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Apenas sei que elas não deveriam ficar aqui dentro.
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Quem sabe?
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Acho que das poucas coisas que posso dizer, resta-me apenas a idéia de questionar, como forma de ser mais humano, menos alienado, menos parte desse gado em confinamento.
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E se não fizer sentido a você que não me ouve agora, eu poderia entender diante do único fato verdadeiro que posso bradar com absoluta veemência, embora não seja seu tempo.
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Seu olhos e os meus não andaram juntos a petiscar as cores das mesmas coisas, do azul do mar ao vermelho sangue. Da cor preta da cegueira ao branco que se traja antes do luto.
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Nem mesmo foram as mesmas melodias que embalaram ou que espantaram nosso sono.
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Não mordemos as mesmas frutas, e nem passamos a boca pelas mesmas bocas, procurando histórias de amor ou mesmo tentando fugir de alguma outra história.
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E essas mãos. Quem sabe? Nem eu mesmo sei contar a história de minhas mãos, mas quem sabe alguma memória celular, como aquelas que dizem alguns cientistas, seja hoje justamente o motivo desses dedos cansando ficarem tão ávidos sobre as cordas.
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Quem sabe alguma palavra de maior profundidade, que nem entendo, que canto com mais fôlego, e faço parceria com esse pedaço de madeira morta que as cordas devolvem à vida.
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Não sei.
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Quem sabe?
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Pergunte a esse violão parceiro.
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E se não fizer nenhuma lógica a você, fique feliz, pois significa que tudo está dentro da maior normalidade. Esta normalidade de nenhum sentido e de pouca lógica.
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Sentidos? Quem sabe?
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Talvez sejam a única verdade que não nos trai e não nos abandona. Os sentidos não nos traem. Quem nos trai são esses pensamentos que brincam com os sentidos. .
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Pois não é tempo de veemências.