Curitiba – 1983. Final de Primavera.
O casal sai de casa para fazer o fornecimento (forma com que os antigos se referiam às compras mensais de mercado). Em casa fica a filha acompanhada de seu namoradinho, e o irmão, sentado na sala acompanhando atento os acontecimentos e fiscalizando os movimentos das mãos.
Em um determinado momento, o rapazinho com pouco mais de dezesseis anos, oferece sua bicicleta para que o irmão segurança mirim, vá até o Jardim Ambiental gastar um pouco de sua energia. Como os pais dificilmente deixavam o menino sair, e nunca de bicicleta, o menino de olhos brilhantes sai com a Caloi dobrável rumo ao Ambiental.
Agora, ali, naquela casa, um casal de dezesseis anos, borbulhando hormônios e afoitos de curiosidade, resolve iniciar sua vida corporal em seu sentido anatômico. O rapazinho de pouca experiência, tira a calça de uma vez só descendo em conjunto a calça e a cueca. E ali começam as brincadeiras que a idade permite.
Após alguns olhares estranhos e algumas poucas experiências do tato, o ronco do Opala 250S faz vibrar a garagem da casa. A menina pula do sofá e grita: Meus Pais. O rapaz grita: Ai! Rapidamente veste a calça. Sentam-se no sofá comportadamente. Enquanto o pai passa com os pacotes do mercado, que na época eram de papelão, a mãe vai direto ao quarto. O rapaz percebe que o seu companheiro de virilidade esta a denunciar o seu passado próximo, e cruza a perna.
Ouve-se passos no corredor da casa. Eram sapatos de mulher que batucavam no piso de tacos com sinteco. A menina repara na barra da calça do moleque que um bom quinhão da Zorba de está de fora. O rapaz havia vestido a calça, porém a cueca havia ficado por dentro da calça embolada em uma das pernas. Com a voz suave e trêmula de uma adolescente ela informa o rapaz da problemática posição da Zorba. O rapaz descruza a perna em uma velocidade tal que a cueca sai voando pela sala, caindo caprichosamente sobre a mesa do abajur.
O casalzinho fica imóvel. A mãe adentra à sala e caminha predadora em direção a eles. Não há o que fazer. O ar desaparece do ambiente, enquanto os dois jovenzinhos esperam em apnéia seu triste desiderato. A mãe segue em direção, curva-se rapidamente e a recolhe. Olha para o rapaz e diz: Desculpe a bagunça. Você sabe como são esses meninos. Em falar nisso, onde esta o Junior (claro que o nome é fictício)?
O rapaz rapidamente diz. Está ali fora! Vou chamá-lo! E sai da sala com as canelas de um veado fazendo um risco no taquaral.
A mãe olha para a filha e diz: Ele é uma gracinha!
A menina não responde.
O rapaz localiza o filhote de ex-cunhado no Jardim Ambiental e toma-lhe a bicicleta dizendo. Sua mãe esta lhe chamando. E tem que ser rápido.
O que aconteceu depois?
Uns dizem que o rapaz nunca mais voltou à casa da pobre menina. Outros dizem que ele voltou, namoraram, casaram e hoje sua filha dorme com o namorado em seu próprio quarto.
Alguns dizem que hoje é um político renomado.
Há quem diga que o rapaz virou jardineiro nos Estados Unidos.
E há quem diga que essa história nunca aconteceu.
Seja como for, resolvi contar.
E ainda que seja mentira, melhor essa do que as vacas do Calheiros.
Mas a moral da história?
Pois é:
Em 1982, Opala 250S era carro até no Jardim Social, piso chique era sinteco, cueca boa era Zorba, e com uma Caloi dobrável você até conseguia uma boa iniciação nas artes do amor. Em 2007 as coisas andam um pouco diferentes, mas a Zorba continua sendo uma boa cueca, tão comum que pode até ser confundida com a do seu cunhado.
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4 comentários:
..
Verdade ou mintira ..????
Eis que me deixa na dúvida ,pois facilmente pde acontecer ...
Boa crônica,muito boa mesmo , essa é daquelas q vc vai lendo ,se perde no tempo e da asas a imaginação.
Continue escrevendo Samuel , vou amar visitar diariamente seu Blogger para ler suas crônicas.
BjãO
Cronica muito boa!
Talvez eu faça parte do grupo que acha que ele nunca mais voltou na casa da moça...
Se é que eu ainda acredito que antigamente tudo éra diferente..
porque Zorba continua sendo uma ótima cueca e com certeza pode ser confundida com a do seu cunhado..
rs..
muito bom.. adorei..
beijos Samuca!
Quem me conhece sabe que eu sou suspeito para falar bem de algo feito por meu comparsa musical, mas vocês hão de convir que o cara consegue fazer a gente prestar atenção em uma história sobre um Opala, uma Caloi e uma Zorba, em pleno século XXI... não é mole!
Crônicas da vida real.... só podia ser coisa de Arcanjo mesmo!
Mas realmente em 2007 Zorba ainda é zorba! Apesar de eu nunca ter usado uma dessas...
Mas a tal bike dobrável.... não estou lembrada não. É do meu tempo, mas acho que ainda andava no triciclo Bandeirantes! rs...
De qualquer modo sabe que eu sou fã né!
Bjo bjo querido!!!!
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