sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

SÉTIMO DIA (Samuel Rangel)

Uma homenagem a Ítalo Bovo

No primeiro dia, um silêncio consternado instalou-se em minha cabeça, minha boca, e minha mão. Não sabia o que dizer, e por respeito não escrevi. Quando o segundo dia veio, ainda não tinha respostas para as perguntas que nem saberia fazer.

Chegou o terceiro dia, e enquanto sentava com um amigo à beira de um tanque de Tilápias, percebi que a vida tem seu curso entre as margens de nossos limites. Não somos nós que decidimos o momento em que a vida aflora das profundezas, e nem mesmo teremos a sorte de decidir quando e como chegaremos à foz deste rio.

No quarto dia, o Natal veio silencioso. Fiz-me presente onde não queria, e abracei pessoas que nem desejava. Tudo para ver uma tranqüilidade de pessoas que amo. Misteriosamente, ao abraçar pessoas que fizeram acumular decepções neste rosto cansado, senti-me maior, melhor, mais forte. Senti-me então superior.

No quinto dia, o silêncio era menor, e ousei alguns sorrisos.

No sexto dia, o filho me convida a uma conversa, e a esta jamais me furtaria o dever. Então sentados em nosso bar e testemunha de nossas filosofias, fomos discutir a perda. O significado de perder tem por sua própria natureza, uma abençoada origem. A perda só assola aquele que um dia teve.

Esta é uma das tantas lições deixadas por Ítalo Bovo, um pai atencioso e sábio de Rio Claro, que deu-me gratuitamente um amigo, um parceiro de violão e um companheiro de boemia. Devo a Ítalo Bovo a minha amizade com Ítalo Bovo Junior.

Ao ouvir um dos CDs que gravamos, lá estará a voz do meu “comparsa” (como ele mesmo me chama).

Seu pai nos deixou na sexta-feira passada, precocemente, sem aviso, sem alarme, deixando-nos apenas com perguntas. Deixou-nos dormentes ao partir dormindo. E até isso acho que fez com intenção, pois somente procuramos respostas quando temos alguma pergunta que nos incomoda, a e ao procurar resposta, nos deparamos com pequenas verdades da vida, que ao tocarem nossa alma, nos tornam pessoas melhores, mais humanas.

Essas pequenas verdades constituem um verdadeiro mar de bons valores, como amizade, respeito, justiça, humildade e compaixão.

Então agradeço a Ítalo Bovo as lições que me foram entregues por intermédio de seu filho, dizendo-lhe desde já, que estarei atento a estas pequenas coisas muito valiosas.

E em face de tal presente, não poderia deixar de prestar uma homenagem.

Por considerar que a vida é um livro que nos foi dado em oportunidade para escrever ou mesmo rabiscar nossas linhas, assim considero em relação a todos. Um dia o livro de Ítalo Bovo foi aberto, e não mais se fechou. Antes do último capítulo, outro livro foi aberto, e depois deste ainda outro. Ítalo Bovo está perpetuado no semblante e nas atitudes de seu filho e seu neto, este dois livros abertos e nervosos nas linhas que estão sendo escritas.

Como última lição, aprendi que a morte não é o último capítulo de uma história. A morte carrega um conselho. Se gostou deste livro, leia aquele que está logo ali. É como se fosse uma indicação para aquilo que parece ser outro livro, mas na realidade, é a continuação da mesma história.

Por conhecer as páginas de Ítalo Bovo Junior, e do filho deste também, Ítalo bovo é um livro realmente aberto, que não se fechará jamais. Como o Rio, que embora pareça, não acaba ao tocar o mar. Ele apenas passa a fazer parte de algo infinitamente maior.

Que Deus Te Abençoe e obrigado pelas lições gratuitas.

2 comentários:

Italo Jr. disse...

Meu comparsa,

Agradeço de coração sua homenagem e lamento muito o fato de você, Ronaldo, Chiquinho e todos os nossos outros Best Big Beautiful Black Brooklin Brothers de banda e boemia não terem tido a oportunidade de conhecer pessoalmente o "Seresteiro da minha alma", um exemplo de vida que, como você bem escreveu, hoje está cumprindo sua parte em um plano maior, mas que certamente um dia, talvez nem tão distante assim, estará nos recebendo a todos de braços abertos em um palco cheio de luz! Abraços,

Unknown disse...

Samuel

Agradeço a você pela homenagem feita a nosso pai e ao apoio ao nosso irmão, nestes momentos em que, todos, estamos a aprender com nossas perguntas sem respostas ... Lucia Bovo