Quando escrevi “Analice em Busca do Homem Perfeito”, meio que tentando amenizar esses meus tantos defeitos, falei da desventura humana na busca do par ideal, da sua metade da laranja, ou mesmo de uma parceria para a vida. A base do texto é meu testemunho de uma multidão de errantes que perambulam por becos escuros, tentando achar um alguém.
Mas ontem, após assistir a peça “A Bicicleta do Condenado” da Cia. Nossa Senhora do Teatro Contemporâneo, apresentada no auditório José Maria Santos, o Riad me convidou para aquela canja n Ponto Final.
E este bar, o Ponto Final, mesmo após a reforma de 2005, guarda dentre suas paredes o mesmo espírito que lhe deu vida no início dos anos 90, pois continuando sendo freqüentado pelas boas almas que procuram boa música e um bom papo. O Ponto Final é algo muito maior do que um “bar de modinha”, ou uma vitrine de “ficantes”.
Depois de cantar meus clássicos do Zé Ramalho, sentei-me à mesa com minhas amigas Drica e Babi, falando de nossa apresentação do dia 06 de março. Enquanto falava, deixava os olhos correrem pelo bar, como se buscando algum novo argumento para que eu possa usar em minha peças de teatro. Foram tantas as inspirações que apareceram por ali, que não seria surpresa ser visitado mais uma vez pelo insólito, pelo inacreditável, pelo absurdo.
Mas ontem, vi algo raro, como uma floreira única de uma casa de arquitetura alemã, teimosa que insiste em resistir em meio à sobra doss arranha-céus de vidros negros das grandes cidades.
Um casal.
O que me chamou a atenção, é o semblante, diferente de tudo que se vê.
Enquanto todos carregam nos olhos cicatrizes e ressentimentos de experiências inglórias com as coisas do amor, o casal tinha algo de infantil no olhar. Uma alegria que vez por outra transbordava em forma de beijos e abraços, uma simples alegria de “estar junto”. Diferente daqueles casais que se devoram em desejo, via-se algo mais que hormônios, algo mais que uma simples excitação. Era na realidade uma comemoração da união. Esse comportamento logo me demonstrou que não era união de poucos meses ou quase ano.
Como é de costume, não em contive e fui conversar com o rapaz, que me era familiar das mesas do Ponto Final. Conversando com ele ouvi tratar-se de um relacionamento de quase uma década. Sete anos lentos se passaram preguiçosos antes que se casassem, e mais outros já somavam em bodas.
Confesso que me fez bem aquela imagem.
Eu testemunha cética das carências e anseios de tantos, estava lá assistindo o improvável dançar alegre em minha frente. Ainda existem aqueles que se permitem construir floreiras teimosas onde o concreto era provável. Ainda existem pessoas que cuidam dos jardins da alma, e neles deixam soltas as crianças dos sentimentos brincarem de roda, ou mesmo correm atrás de borboletas coloridas, com uma ingenuidade invejável.
E se ainda existem pessoas assim, não ouso duvidar que um dia mais duas delas se encontrem, ou mais quatro, ou mais tantos.
Essa imagem não me faz mudar de idéia ou abdicar de meus conceitos, principalmente aquele tão sólido quanto o fato de que “um mais um, só é fácil na matemática”. Enquanto expressão aritmética é a mais simples das somas, mas no que se refere ao relacionamento, é uma verdadeira equação extremamente complicada, repleta de variantes e incógnitas, que tornam o resultado imprevisível.
Sem mudar os meus conceitos, sei que é complicado, mas ainda existe.
Então percebi que a nossa capacidade de “ACREDITAR”, depende muito de para onde miramos nossos olhos.
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