sexta-feira, 24 de outubro de 2008

PARA LEMRAR DAQUELES QUE NÃO ESTÃO NO MAPA

Quando se fala para os amigos, que estamos de malas prontas para apresentar uma peça na Bahia, na região de Porto Seguro, logo se vê nos olhos invejosos o brilho do mar entre o azul e o verde, de hotéis de sacadas largas, de barracas cercadas de coqueiros e do frenético ritmo bahiano. E como natural e inevitável, vem o previsível comentário: Se deu mal!
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Nesse segundo ano em que fui convidado a participar do projeto social de uma grande empresa da Bahia, em parceria com a Cena Hum Academia de Artes Cênicas, eu já tinha plena noção de que não se tratava do que se possa chamar de passeio. Nestes oito dias de Bahia, acordando as vezes as 4 horas da manhã, para chacoalhar como um Chocomilck dentro de um ônibus sem ar condicionado (ônibus com ar condicionado é bem mais pesado, e exatamente por isso, não chega a alguns vilarejos que teríamos que visitar), visitamos uma Bahia que não está no mapa. E realmente não está no mapa mesmo.
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Como aluno aplicado de meu pai que sustentou heroicamente esta família dando aulas de geografia, ao retornar para Curitiba, sentei-me com ele em frente ao computador para mostrar no Google Earth o itinerário de nossa epopéia teatral.
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Com os olhos ainda apertados pela imagem daquele povo humilde, tentei encontrar algumas localidades onde apresentamos a peça Bambalalão, escrita por meu amigo George Sada, que com todo seu talento, escreveu uma peça que ensina crianças a brincar de teatro, permitindo assim uma introdução às Artes Cênicas.
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Após uma longa procura, descobri que nomes como Ponto Central, Santa Maria Eterna, São João do Paraíso, Projeto Maravilha, Mundo Novo, União Bahiana, Gabiarra e tantos outros onde eu estive, não constam no mapa. Realmente eles não existem para o Google Earth, e pelo que percebi, eles também não existem para as autoridades públicas.
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Graças as fotos muito bem captadas pelas lentes do fotógrafo Ernandes Alcântara, hoje posso mostrar ao leitor que eles existem. Se por um lado eles não existem para aquelas autoridades locais, como não existem para o Google Earth, eles existem para mim, como passarão a existir para você.
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Eles podem não ter muita coisa, o que por si só já é inadmissível, mas nós, não podemos de forma alguma deixar de ter consciência de que eles existem.
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Mas assumindo minha própria culpa, quem sabe daqui alguns dias, os meus compromissos e meu desespero em busca das contas rápidas que cortam o mês, façam deste que escreve um outro membros da enorme comunidade dos esquecidos. Quem sabe eu me esqueça do pequeno cantor, da menina que sorri franzindo o nariz, ou até mesmo daquele que no corpo franzino e desnutrido, quebrado em frangalhos por uma enormidade de doenças, que fez do seu pequeno braço a proteção para a sua irmã que chorava.
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Quem sabe eu me esqueça, mas quem sabe ao ler este texto, eu conte com o retorno de pessoas como você na difícil tarefa de fazer existir aqueles que tantos querem apagar do mapa.
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Como?
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Repasse esse email para seus amigos, comente, divulgue, indique, e não deixe que eu me esqueça. Mais ainda, não permita que os esquecidos continuem à margem de sua própria existência.





(Obrigado pela música meu pequeno cantor)

Obrigado ainda mais ao meu amigo George Sada pelo convite para este projeto, a Humberto Gomes que com toda sua sensibilidade dirigiu esse trabalho, aos colegas de cena Érika Paraguaia, Karina Kotacho, Renata Petisco, Bruno Girello, e também a atriz e produtora Gabrielle Olsen.

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