Blogueiros?
Quem sabe, os "blogueiros" sejam os hackers que
inserem o "vírus da leitura" na iternet, vírus esse
que cria um hábito saudável em substituição
a tantos outros vícios nem tão saudáveis.
(Samuel Rangel)
Você já experimentou montar a bicicleta que deu ao seu filho ao lado de parentes? É lógico que uma multidão de palpiteiros irá se reunir ao seu redor e oferecer gratuitamente uma série de conselhos de pouca serventia, palpites, opiniões inválidas, “pitacos”,achismos, impressões distorcidas, correções incorretas, advertências indevidas e orientações desorientadas.
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Ainda por motivos não muito bem esclarecidos, diante da polêmica criada, alguém resolveu reformar a bicicleta da língua portuguesa, segundo o que dizem, para unificar o português, atribuindo-lhe o devido trato como uma das línguas de maior influência política mundial, possibilitando assim aos países envolvidos, e lógico ao Brasil também, uma maior influência política global.
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Neste primeiro momento, quero deixar claro que a influência e imagem do Brasil pode melhorar no cenário mundial sim, no entanto a partir de outras reformas, parecendo-me um tanto quanto pueril a idéia de que a unificação da língua poderia alcançar tal objetivo.
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Não adianta mudar a forma com que se escreve a idéia de corrupção para mudar a idéia que se faz de um país. Quer me parecer que o acento que abandonará a idéia, tornando-a em um substantivo abstrato com uma terminação próxima do pretérito imperfeito, deveria ser deixado para um segundo momento. Antes seria de bom alvitre cuidar dos assentos de nossas Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, Congresso e tantas outras instituições públicas pertencentes aos três poderes que mendigam uma reforma.
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E na diferença entre acentos e assentos, surge uma multidão de especialistas muito mais habilitados do que este que escreve, formando os três times do campeonato. Os “do contra”, os “a favor”, e “os que não sabem bem ao certo”. Mas o que se pode ter certeza neste momento, é que essa reforma não surtirá os efeitos esperados tão breve. Não é preciso muito esforço para visualizar que o português, seja ele escrito além Tejo, ou nas letras do Kuduro de Angola, padece de outras mazelas muito além dessa reforma.
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Enquanto a cultura não for reformada nos países de língua portuguesa, incentivando a leitura dentre a população, a forma com que as palavras são escritas pouco importa. De nada adianta escrever cinquenta com ou sem trema, enquanto as pessoas acharem isso um número excessivo de linhas em um texto. E não adianta mudar a forma com que se escreve preguiça, substituindo o cê cedilha por dois “esses” enquanto ela tornar a televisão e o computador muito mais fáceis e atraentes.
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Tudo bem. Não se pode aqui deixar de agradecer ao computador, pois meu melhor professor de ortografia, sem dúvida foi o dicionário do Word, muito melhor, mais simpático e mais honesto que aquela professora gorda e folgada da quinta série.
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Uma coisa que há de se ter em mente, é que todo aquele que escreve, deve buscar formas eficazes no sentido de despertar o interesse do leitor. Quantos são aqueles que hoje não conseguem viver sem um livro, e leram seus primeiros parágrafos nas simpáticas revistas em quadrinhos? Essa consciência é algo que o escritor deve ter em mente, independentemente da reforma da língua portuguesa ou não. E nessa tarefa de oferecer a leitura como alternativa à internet pela própria internet, é bastante interessante, tanto que os blogues e os leitores se multiplicam no dia a dia. Inserir o vírus da leitura justamente no meio que tanto afasta o leitor desse hábito saudável.
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Mas não é o único atentado que vem sofrendo a língua portuguesa, pois quando a internet passou a fazer parte de nossas vidas, uma multidão de termos “yankees” passaram a fazer parte de nosso linguajar. E quem sabe pela aculturação americana, passamos muito tempo chamando o programa de software, e o equipamento de Hardware. Endereços passaram a ser links, URLs e tantas outras palavras que não dizem nada para nós em nossa própria língua.
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Então a velocidade da internet, que deveríamos chamar de Rede Mundial de Computadores, aumentou em gigas, e oferece muito mais diversão para manter os incautos afastados dos livros. E nesse meio, um devorador de vidas chamado Messenger, que deveríamos chamar apenas de “mensageiro”, criou um dialeto virtual capaz de causar espanto a qualquer pessoa com um mínimo de admiração pela língua portuguesa.
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Somos torpedeados por uma infinidade de abreviaturas criadas em algum laboratório do mal, e que, embora facilitem a escrita, começam a invadir o mundo real. O caso clássico é aquele da prova aplicada aos alunos da quinta-série, em que o professor pergunta: Qual o impacto da crise econômica mundial na vida econômica de sua família.
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A aluna então responde:
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“A cryse economica mondial naum crio ninhum poblema pra minha femili, prq agenti sempri foi economico meixmo. Vc tmb podi acaba cum a cryse, porque cryse siguinifica loko im inglez. Shuahuahaushaushauashua ! Kkkkkkk! Beijux”
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E muitas vezes, justamente aqueles que deveriam ser guardiões da linguagem bem escrita e falada, acabam por criar um festival de atrocidades contra a língua portuguesa. Seria o caso de um seriado no melhor estilo novela de televisão, direcionado aos jovens por uma grande emissora. Não bastasse o que eles já andam escrevendo por aí, a dramaturgia cria para eles então um leque de gírias e expressões de toda sorte que afastam mais ainda o jovem do bom português.
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Alguns até acreditam que o bom português é aquele homem de bigodes grandes que dá descontos para todos mundo ali na padaria.
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Mas não se quer aqui propor uma avalanche de críticas capaz de soterrar qualquer bom interesse existente por trás dessa reforma, até porque, escrevendo um português único, quem sabe esse espaço possa encontrar algum leitor além do oceano Atlântico, já que na Terra de Vera Cruz a literatura anda de poucos amigos.
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Ao menos, há de existir um lado subjetivo em tudo isso. A intenção de unificar é sempre positiva quando busca a integração e a harmonização, e pode se dizer que intenções como essa andam raras em um mundo dito globalizado que só tende a apartar, dividir e desagregar.
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Mas seja lá sob o aspecto que for, uma reforma pode ser bem interessante, pois ao menos assim, quem sabe eu que gosto tanto de escrever, possa definitivamente aprender uma parte dessa língua riquíssima que é a língua portuguesa.
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Uma língua tão rica que é a única para qual existe uma palavra para saudade. Saudade como essa que sinto agora dos bancos escolares, onde eu realmente deveria ter dado valor à língua portuguesa como forma maior de comunicação entre as pessoas e os povos.
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E se a palavra dita é efêmera, a escrita é eterna, ao menos até que alguém rasgue o bilhete.
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