sexta-feira, 23 de abril de 2010

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. UMA QUESTÃO DE TEMPO


ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. UMA QUESTÃO DE TEMPO

Não há paranaense, nato ou de coração, que não se sinta profundamente entristecido diante dos acontecimentos políticos que hora se desenrolam. É com intensa mágoa que todos vêem os magnos interesses do Estado sacrificar nas áreas da mais condenável politicagem.

Melindroso, inflado de óbices, é o período histórico que o Paraná atravessa, exigindo a abnegação, o altruísmo, os melhores carinhos e cuidados de todos os seus filhos, máximo daqueles que tem no momento a responsabilidade de diretores de seus destinos político-administrativos.

Ninguém ignora a situação delicadíssima do Estado, a qual, envolvendo a grandeza de seu futuro, impõe aos homens do governo o sacrifício de suas conveniências partidárias.

Não é só por meio de palavras sonoras que devemos mostrar o amor a nossa terra; é por meio de atos que não estejam em contradição com essas aparatosas declamações.


Não são palavras minhas, nem guardam qualquer relação proposital com os atuais escândalos que envolvem a presidência da Assembléia Legislativa. São palavras extraídas de um texto dos representantes do Partido Republicano, publicadas no Jornal Diário da Tarde, de 30 de dezembro de 1911, e firmada pelo meu bisavô paterno, Cipriano Gomes da Silveira, representante do Diretório Municipal de Conchas e que exercia o cargo de prefeito daquela cidade naquela época.

Em outubro do ano seguinte, começava a Guerra do Contestado.

Parece que após quase um século, ainda não se tem um postura ideal por parte de grande parte dos políticos.

Hoje os jagunços não são aqueles que armados de facões de madeira, enfrentavam a força policial em meio as preces fanáticas dedicadas aos monges. Hoje, os abandonados, tal qual os revoltosos, são aqueles que se dão contas dos autos salários que alguém recebeu em seu nome.

Hoje os revoltosos são os estudantes que invadem a Assembléia, derrubando as grades que o povo paga, sem entender exatamente a diferença entre a instituição e esse ou aquele que contra ela teve o ato indigno.

Os revoltosos hoje têm nas mãos o título de eleitor, e por certo não pouparão da degola os que atentaram contra a moral e a dignidade do exercício do poder público.

Mas enquanto isso a Assembléia aguarda, complacentemente que algo aconteça. As vésperas do dia do trabalho, a Assembléia não consegue trabalhar, e nem mesmo, dar uma respostas aos trabalhadores que tanto quanto qualquer deputado sério, assustam-se com salários fantásticos, benevolências de relações escusas, concedidos a fantasmas.

O momento exige trabalho, e um trabalho sério.

É o que se espera, e já é tempo de encerrar essa espera, pois tarda uma postura contundente e realmente digna de restaurar a imagem da instituição da Assembléia Legislativa. Não há só um deputado que possa renunciar ao interesse do povo para atender um interesse pessoal.

Aos que erraram, que corajosamente se afastem, e cuidem de suas próprias vidas. Que dediquem-se ao tempo necessário para elaborar suas defesas e tentar oferecer suas razões. Pois que fiquem então, tão somente aqueles que defendem a Assembléia. Que fiquem tão somente aqueles cuja dignidade e trabalho legitimam sua postura dentro desta instituição.

E se ainda assim, aos envolvidos no escândalos que insistirem em aquartelar-se nas trincheiras do poder, que se erga uma legião de deputados conscientes do momento em que o Paraná atravessa, para através de todo e qualquer procedimento previsto no regimento, proponha não só o afastamento, mas também o ostracismo dos que insistem em sufocar a Assembléia.

Ainda há esperança.

Será que passados cem anos, também estas palavras serão resgatadas por alguém?

Resta saber em que parte da história estará essa passagem. Quem serão os nomes a serem relembrados, e qual a dignidade que cada um revelou pelos seus atos.

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