segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O TEMPO QUE NOS REVELA (Samuel Rangel)



O Tempo que nos leva.

Da inocência de nossa infância, somos conduzidos pelo tempo até o brilho de nossa idade. E até parece que o tempo não tem alma, pois nos arranca as forças, nos rouba o fôlego. Faz com que nossa cabeça se curve aos fatos mais insólitos. Faz com que nossas pernas percam a rapidez na condução dos dias. Faz com que nossas palavras se percam em meio ao valor que nos dão. Esse tempo, é para muitos um carrasco implacável que nos executa lentamente enquanto a hora se esvai por entre os nossos dedos.

Mas acho que não é assim. Quem sabe o tempo tenha sua própria ciência, e dela faça uso no sentido de nos conduzir a um ser melhor. Do egocentrismo de nossa infância ficamos órfãos já na adolescência, e de forma pueril e irritantemente romântica na adolescência buscamos nossa felicidade na garota mais bonita, no corpo mais escultural, no sucesso refletido nas retinas atentas que nos julgam a cada instante. E tanto quanto nos judiam as manhas da infância, a tristeza de amores não correspondidos ou de relacionamentos rompidos no estapeiam o rosto sem qualquer parcimônia.

E a adolescência então vai-se embora quando nos embrenhamos nos caminhos do instinto, e o tempo nos dá alguns encantos para que possamos nos relacionar com alguém. Porém, como os encantos são apenas alguns, não temos o condão de entrar na alma das pessoas ou de permanecer muito tempo lá.

E o tempo nos faz cansar de tantas idas e vindas. Ele silenciosamente nos propõe um lugar, um alguém, uma forma de viver os dias. Somos então parte de algo, e com o tempo, passamos a dormir na metade de uma cama, ter a metade de um guarda-roupa, ou mesmo dividir até as gavetas da pia do banheiro.

Mas o tempo nos cobra então o que não fizemos, nos cobra até aquilo que estamos deixando de fazer, e nos mostra que nossos olhos precisam aprender a julgar melhor as pessoas e a si próprio, pois o material de que somos feitos se deteriora. O tempo nos mostra ainda que não conseguimos ainda deixar totalmente de lado a adolescência, e nos cobra uma atitude. E aquilo que parecia ser perpétuo, acaba se demonstrando como apenas um passo. Uma passagem que nos remete ao escuro, a solidão, e ao desencontro.

Dessa vez achamos que o tempo nos quer mal, e chegamos a questionar suas intenções. Por qual razão nos flagela tanto? Por que não demonstra a mínima compaixão? Permita-nos ao menos entender tanto sofrimento. E nossa cabeça curva como se fosse pela última vez.

Mas é no escuro que nos enxergamos melhor, e na solidão que ouvimos mais nossos anseios. É neste aparente sofrimento que encontramos o necessários tratamento.

Percebemos então que o tempo arranca nossas forças e nosso fôlego, mas é para que passemos a ter algum respeito que nos faltou em outro momento. E também faz com que nossa cabeça se curve aos fatos mais insólitos, para que com o respeito devido, passemos a entender que não somos melhores ou maiores que ninguém. O tempo faz com que nossas pernas percam a rapidez na condução dos dias para que paremos de fugir de tudo e de todos, para que enfrentemos nossas lutas. E faz com que nossas palavras se percam em meio ao valor que nos dão, para que aprendamos a ouvir mais e julgar de acordo com o que somos e conhecemos.

Então o tempo e a vida, segredos de nossa infância e mistérios de nossa velhice estão lá, lado a lado, de mãos unidas em nossa existência, contemplando-nos como o pai que admira o filho com a bola nos pés.

E então, quando nossa cabeça pratear nossa existência, entenderemos naquela criança afoita correndo atrás da bola, todo o carinho que o tempo nos dedica.

Aos nossos dez anos, corremos muito atrás da bola, e tantas e tantas vezes nem a alcançamos.

Em nossa adolescência, alcançamos a bola e com ela corremos com toda nossa rapidez, ainda que muitas vezes não saibamos exatamente para onde vamos.

E o tempo nos ensina então, quando adultos, que a bola deve correr por nós, e que nós, os preferidos do tempo, é que temos toda a liberdade de fazer a bola correr no sentido que bem entendermos. Temos então o poder de decidir as coisas, e delas tirar as lições e proveitos como verdadeiras bênçãos.

E haverá então o último tempo, aquele que não se revela, mas que ao chegar, nos pega pela mão, agora vestido de findo e nos convocando ao abandono, cerra nossos olhos e nos convida a partir. Neste momento, ele nos mostra que, tanto quanto nós, o tempo pode recomeçar, inclusive para nós, inclusive em nós, inclusive por nós.

O tempo é que faz da vida a verdadeira benção.

ESCOLHAS (Samuel Rangel)

Sinto-me um tolo vez por outra, ao me perceber tentando dividir uma garrafa quase vazia em dois copos. Lá estou eu novamente deitando o gargalo quase seco sobre um copo sedento, mas infeliz no seu desiderato. Penso que a alquimia poderia trazer-me pela mão e combinar algum hidrogênio descuidado com as moléculas de oxigênio que sonho serem minhas. Mas de nada adianta. Teremos três certezas apenas: os dois copos quase vazios e a sede que os atormenta.

E não é diferente com a vida. Tentando dividir as palavras entre o advogado e um escritor sem registro nem permissão. Em outro momento não sei se componho alguma melodia que revele minha alma, ou se rabisco em algum papel o desenho que contaria como ela chegou aqui.

Há ainda a divisão entre o pai e o filho. Não tenho certeza se dedico o meu primeiro abraço ao meu pai, ou se dedico ao meu filho. Mas como nenhum amor é eminentemente felicidade, e não há uma só partida que não revele novos campos, aprendo a boa lição da garrafa vazia. Por mais que tentemos inundar a tudo, estaremos limitados pela nossa capacidade.

Por mais que eu almeje desesperadamente ser um grande homem, jamais serei dois.
Por mais que eu deseje todas as artes, jamais comporei a música virtuosa enquanto minhas mãos escrevem cartas de sentido. E mesmo dentro de cada compartimento desta imensidão chamada vida, não será diferente, pois ao tentar versos, perderei o poder da crônica, e se crônica tentar buscar, serei obrigado a esquecer das rimas.

Mas tanto quanto as lições que julguei tolas no ginasial, estas também são de máxima importância.

Tanto quanto a criança dos anos setenta, que escolhia o pássaro mais colorido no aviário, deixando de escolher o de melhor canto, continuo a cada escolha abdicando de algo não menos importante.

Para cada sim haverá mais de um não.

Para um querer, uma infinidade de rejeições.

Para passear pela teclas do meu piano, terei que silenciar as cordas do meu violão.

Para um beijo, alguns segundos em que deixarei de respirar.

Para cada chegada uma partida.

Para cada passo, um pé deverá ficar atrás.

Para cada nova palavra, uma outra se perdeu no tempo.

Para cada encontro um desencontro.

Para cada casaco novo, um outro se tornou velho.


Para cada eu te amo, haverá de se dizer um eu te esqueço.

E enquanto este ano agoniza, um outro prepara seu primeiro grito.

Assim é.

E na Comédia Del Arte encenada pela vida, no desempenho de nosso papel, para termos a profundidade dos Velhos, teremos que deixar a graça dos Zanis.

Então que seja.

Que venha tudo que há de novo, pois ainda que não possa tocar o passado, eu sempre poderei reverenciá-lo em minhas lembranças.

Que venha o desconhecido, como forma de dar seqüência aos passos que me trouxeram até aqui.

Que venham alegrias e tristezas, chegadas e partidas. Sim. Que venham essas escultoras caprichosas do tempo, que com maior ou menor delicadeza, vão moldando em minha alma o rosto de minha história.

Aceitarei os golpes doloridos da realidade quando o formão afiado arrancar pedaços desta minha alma, mas sei que logo após, ou quem sabe mais tarde, quando o tempo for exato, essas artistas virtuosas haverão de manipular algo com a suavidade do algodão para tornar lisa a sua obra.

Que abram-se as cortinas desses próximos dias, meses e anos, e que a grande Direção do Universo nos permita ter uma bela história para contar ao público.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

ITALO BOVO, FERNANDO SABINO E SEU DOMINGOS (Samuel Rangel)

Eu, que ainda não sabia para que existia uma gilete, odiava muito as aulas de português. Principalmente aquelas ministradas pela professora obesa com malhas de tigresa. A maquilagem exagerada e a calça que não lhe caía bem tornavam aquela imagem nada agradável, e as aulas de português pareciam uma versão inútil do Latim.

Certo dia, enquanto os meus olhos passeavam pelo pátio do colégio Rio Branco, uma outra professora trouxe alguns livros para a sala de aula com a intenção de nos ensinar o que eram crônicas.

Livros para lá e para cá, veio milagrosamente às minhas mãos um livro de Fernando Sabino, cujo Título não tive o bom senso de guardar diante de minha tolice juvenil.

Mas a história, que falava de um bar e de um jogo entre Atlético Mineiro e Cruzeiro, abriu-me os olhos de forma definitiva. Finalmente eu entendia todo o valor da palavra escrita.

Passados trinta anos do meu primeiro encontro com uma crônica, onde tive o prazer de conhecer o bordado de palavras coloridas de Fernando Sabino, Ítalo Bovo nos deixa órfãos de sua valiosa presença. Tentei escrever algo, que até se pode ler logo abaixo deste texto, mas embora esteja aí, não considero esse texto capaz de expressar o que sinto nesse momento.

Chego a pensar que deveria ter silenciado os meus dedos.

Então resolvi procurar conselhos, e o primeiro nome que me surge à cabeça, é o de Fernando Sabino. Fui pesquisar suas crônicas, pois percebo que estou precisando muito estudar antes de escrever novamente.

E em homenagem aos leitores, comecei a buscar inspiração no mestre Fernando Sabino, ainda que nunca lhe tenha faltado o juízo de me admitir como aprendiz.

E numa daquelas artes do destino, encontrei o seguinte texto que passo a oferecer a Ítalo Bovo, seu filho, seu neto e todos os demais seres humanos que tenham a benção de conhecer a paternidade.

_______________________________________

COMO DIZIA MEU PAI (Fernando Sabino)


JÁ SE TORNOU HÁBITO MEU, em meio a uma conversa, preceder algum comentário por uma introdução:

— Como dizia meu pai...

Nem sempre me reporto a algo que ele realmente dizia, sendo apenas uma maneira coloquial de dar ênfase a alguma opinião.

De uns tempos para cá, porém, comecei a perceber que a opinião, sem ser de caso pensado, parece de fato corresponder a alguma coisa que Seu Domingos costumava dizer. Isso significará talvez — Deus queira — insensivelmente vou me tornando com o correr dos anos cada vez mais parecido com ele. Ou, pelo menos, meidentificando com a herança espiritual que dele recebi.
Não raro me surpreendo, antes de agir, tentando descobrir como ele agiria em semelhantes circunstâncias, repetindo uma atitude sua, até mesmo esboçando um gesto seu. Ao formular uma idéia, percebo que estou concebendo, para nortear meu pensamento, um princípio que se não foi enunciado por ele, só pode ter sido inspirado por sua presença dentro de mim.
— No fim tudo dá certo...

Ainda ontem eu tranqüilizava um de meus filhos com esta frase, sem reparar que repetia literalmente o que ele costumava dizer, sempre concluindo com olhar travesso:
— Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim.

Gosto de evocar a figura mansa de Seu Domingos, a quem chamávamos paizinho, a subir pausadamente a escada da varanda de nossa casa, todos os dias, ao cair da tarde, egresso do escritório situado no porão. Ou depois do jantar, sentado com minha mãe no sofá de palhinha da varanda, como namorados, trocando notícias do dia. Os filhos guardavam zelosa distância, até que ela ia aos seus afazeres e ele se punha à disposição de cada um, para ouvir nossos problemas e ajudar a resolvê-los. Finda a última audiência, passava a mão no chapéu e na bengala e saía para uma volta, um encontro eventual com algum amigo. Regressava religiosamente uma hora depois, e tendo descido a pé até o centro, subia sempre de bonde. Se acaso ainda estávamos acordados, podíamos contar com o saquinho de balas que o paizinho nunca deixava de trazer.

Costumava se distrair realizando pequenos consertos domésticos: uma bóia de descarga, a bucha de uma torneira, um fusível queimado. Dispunha para isso da necessária habilidade e de uma preciosa caixa de ferramentas em que ninguém mais podia tocar. Aprendi com ele como é indispensável, para a boa ordem da casa, ter à mão pelo menos um alicate e uma chave de fenda. Durante algum tempo andou às voltas com o velho relógio de parede que fora de seu pai, hoje me pertence e amanhã será de meu filho: estava atrasando. Depois de remexer durante vários dias em suas entranhas, deu por findo o trabalho, embora ao remontá-lo houvesse sobrado umas pecinhas, que alegou não fazerem falta. O relógio passou a funcionar sem atrasos, e as batidas a soar em horas desencontradas. Como, aliás, acontece até hoje.
Tinha por hábito emitir um pequeno sopro de assovio, que tanto podia ser indício de paz de espírito como do esforço para controlar a perturbação diante de algum aborrecimento.
— As coisas são como são e não como deviam ser. Ou como gostaríamos que fossem.

Este pronunciamento se fazia ouvir em geral quando diante de uma fatalidade a que não se poderia fugir. Queria dizer que devemos nos conformar com o fato de nossa vontade não poder prevalecer sobre a vontade de Deus - embora jamais fosse assim eloqüente em suas conclusões. Estas quase sempre eram, mesmo, eivadas de certo ceticismo preventivo ante as esperanças vãs:

— O que não tem solução, solucionado está.

E tudo que acontece é bom — talvez não chegasse ao cúmulo do otimismo de afirmar isso, como seu filho Gerson, mas não vacilava em sustentar que toda mudança é para melhor: se mudou, é porque não estava dando certo. E se quiser que mude, não podendo fazer nada para isso, espere, que mudará por si.

Às vezes seus princípios pareciam confundir-se com os da própria sabedoria mineira: esperar pela cor da fumaça, não dar passo maior do que as pernas, dormir no chão para não cair da cama. Os dele eram mais singelos:

— Mais vale um apertinho agora que um apertão o resto da vida.

— Negócio demorado acaba não saindo.

— Dinheiro bom em coisa boa.

— Antes de entrar, veja por onde vai sair.

Um dia me disse, ao me surpreender tentando armar um brinquedo qualquer com mãos desajeitadas:

— Meu filho, tudo que é bem feito se faz com os dedos, não com as mãos.

Tenho tido ocasião ao longo da vida de observar como é procedente este seu ensinamento. A mão é grossa, pesada, insensível. Se não fossem os dedos de nada serviria, a não ser para dar bofetadas. Os dedos são refinados, sensitivos, e a eles devemos tudo o que é bem feito e acabado: do mais requintado trabalho manual às mais complicadas operações, da mais fina sensação do tacto à mais terna das carícias.

— Se o cafezinho foi bom, melhor não aceitar o segundo: será sempre pior que o primeiro.
Como tudo mais nessa vida: uma viagem, uma mulher: não repetir, pois a emoção jamais será a mesma da primeira vez. E não desanimar, pois se nascemos nus e estamos vestidos, já estamos no lucro. Nada neste mundo é cem por cento perfeito. Se contamos com mais de cinqüenta por cento, também já estamos no lucro. Quando conseguimos o que é apenas bom, naturalmente devemos continuar aspirando o melhor, se possível - mas perfeição absoluta, só Deus. E creio que Seu Domingos, homem íntegro, reto e temente a Deus, hoje em Sua companhia, não consideraria sacrilégio comentar, naquele seu jeito ladino:

— E assim mesmo, olhe lá...

Seus conselhos eram de tamanha simplicidade que tinham a força de provérbios nascidos da voz do povo: nada como um dia depois do outro, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar, tudo tem seu tempo. Fosse ele influenciado por leituras piedosas, poderíamos mesmo detectar, aqui e ali, vestígios de inspiração bíblica: tempo de semear, tempo de colher...
— É o que nos acontece.

Há uma diferença sutil entre admitir que as coisas são como são, não como deviam ser, e reconhecer que é o que nos acontece. Aqui, o comentário não pretendia refletir a impossibilidade de modelar (com os dedos) os fatos de acordo com a nossa vontade, mesmo que esta esteja certa. Exprime antes a humilde aceitação da nossa precária condição humana, como frágeis criaturas de Deus. Procura se solidarizar com a desgraça alheia, como a dizer que também estamos sujeitos a ela, somos todos irmãos na mesma atribulação. É o que nos acontece.

Portanto, alegremo-nos! Uma amiga minha, que não o conheceu, busca nele se inspirar quando afirma, sempre que se vê diante de algum contratempo:

— Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar o meu bom humor.
Acabei levando esta disposição de minha amiga às últimas conseqüências: o mais importante é não perder a capacidade de rir de mim mesmo. Como Cartola e Carlos Cachaça naquele samba, às vezes dou gargalhadas pensando no meu passado.. . E cada vez acredito mais no ensinamento recebido não sei se de meu pai ou diretamente de Confúcio, segundo o qual há várias maneiras de realizar um desejo, sendo uma delas renunciar a ele. Como adverte outro sábio, se desejamos obstinadamente alguma coisa, é melhor tomar cuidado, porque pode nos suceder a infelicidade de consegui-la.

Tudo isso que de uns tempos para cá vem me vem ocorrendo, às vezes inconscientemente, como legado de meu pai, teve seu coroamento há poucos dias, quando eu ia caminhando distraído pela praia. Revirava na cabeça, não sei a que propósito, uma frase ouvida desde a infância e que fazia parte de sua filosofia: não se deve aumentar a aflição dos aflitos. Esta máxima me conduziu a outra, enunciada por Carlos Drummond de Andrade no filme que fiz sobre ele, a qual certamente Seu Domingos perfilharia: não devemos exigir das pessoas mais do que elas podem dar. De repente fui fulminado por uma verdade tão absoluta que tive de parar, completamente zonzo, fechando os olhos para entender melhor. No entanto era uma verdade evangélica, de clareza cintilante como um raio de sol, cheguei a fazer uma vênia de gratidão a Seu Domingos por me havê-la enviado: Só há um meio de resolver qualquer problema nosso: é resolver primeiro o do outro.

Com o tempo, a cidade foi tomando conhecimento do seu bom senso, da experiência adquirida ao longo de uma vida sem maiores ambições: Seu Domingos, além de representante de umas firmas inglesas, era procurador de partes — solene designação para uma atividade que hoje talvez fosse referida como a de um despachante. A princípio os amigos, conhecidos, e depois até desconhecidos passaram a procurá-lo para ouvir um conselho ou receber dele uma orientação. Era de se ver a romaria no seu escritório todas as manhãs: um funcionário que dera desfalque, uma mulher abandonada pelo marido, um pai agoniado com problemas do filho — era gente assim que vinha buscar com ele alívio para a sua dúvida, o seu medo, a sua aflição. O próprio Governador, que não o conhecia pessoalmente, certa vez o consultou através de um secretário, sobre questão administrativa que o atormentava. Não se falando nos filhos: mesmo depois de ter saído de casa, mais de uma vez tomei trem ou avião e fui colher uma palavra sua que hoje tanta falta me faz.

Resta apenas evocá-la, como faço agora, para me servir de consolo nas horas más. No momento, ele próprio está aqui a meu lado, com o seu sorriso bom.
O texto acima foi publicado originalmente no livro " A Volta por Cima " e extraído de " Fernando Sabino - Obra Reunida, Vol. III ", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1996, pág.611.

SÉTIMO DIA (Samuel Rangel)

Uma homenagem a Ítalo Bovo

No primeiro dia, um silêncio consternado instalou-se em minha cabeça, minha boca, e minha mão. Não sabia o que dizer, e por respeito não escrevi. Quando o segundo dia veio, ainda não tinha respostas para as perguntas que nem saberia fazer.

Chegou o terceiro dia, e enquanto sentava com um amigo à beira de um tanque de Tilápias, percebi que a vida tem seu curso entre as margens de nossos limites. Não somos nós que decidimos o momento em que a vida aflora das profundezas, e nem mesmo teremos a sorte de decidir quando e como chegaremos à foz deste rio.

No quarto dia, o Natal veio silencioso. Fiz-me presente onde não queria, e abracei pessoas que nem desejava. Tudo para ver uma tranqüilidade de pessoas que amo. Misteriosamente, ao abraçar pessoas que fizeram acumular decepções neste rosto cansado, senti-me maior, melhor, mais forte. Senti-me então superior.

No quinto dia, o silêncio era menor, e ousei alguns sorrisos.

No sexto dia, o filho me convida a uma conversa, e a esta jamais me furtaria o dever. Então sentados em nosso bar e testemunha de nossas filosofias, fomos discutir a perda. O significado de perder tem por sua própria natureza, uma abençoada origem. A perda só assola aquele que um dia teve.

Esta é uma das tantas lições deixadas por Ítalo Bovo, um pai atencioso e sábio de Rio Claro, que deu-me gratuitamente um amigo, um parceiro de violão e um companheiro de boemia. Devo a Ítalo Bovo a minha amizade com Ítalo Bovo Junior.

Ao ouvir um dos CDs que gravamos, lá estará a voz do meu “comparsa” (como ele mesmo me chama).

Seu pai nos deixou na sexta-feira passada, precocemente, sem aviso, sem alarme, deixando-nos apenas com perguntas. Deixou-nos dormentes ao partir dormindo. E até isso acho que fez com intenção, pois somente procuramos respostas quando temos alguma pergunta que nos incomoda, a e ao procurar resposta, nos deparamos com pequenas verdades da vida, que ao tocarem nossa alma, nos tornam pessoas melhores, mais humanas.

Essas pequenas verdades constituem um verdadeiro mar de bons valores, como amizade, respeito, justiça, humildade e compaixão.

Então agradeço a Ítalo Bovo as lições que me foram entregues por intermédio de seu filho, dizendo-lhe desde já, que estarei atento a estas pequenas coisas muito valiosas.

E em face de tal presente, não poderia deixar de prestar uma homenagem.

Por considerar que a vida é um livro que nos foi dado em oportunidade para escrever ou mesmo rabiscar nossas linhas, assim considero em relação a todos. Um dia o livro de Ítalo Bovo foi aberto, e não mais se fechou. Antes do último capítulo, outro livro foi aberto, e depois deste ainda outro. Ítalo Bovo está perpetuado no semblante e nas atitudes de seu filho e seu neto, este dois livros abertos e nervosos nas linhas que estão sendo escritas.

Como última lição, aprendi que a morte não é o último capítulo de uma história. A morte carrega um conselho. Se gostou deste livro, leia aquele que está logo ali. É como se fosse uma indicação para aquilo que parece ser outro livro, mas na realidade, é a continuação da mesma história.

Por conhecer as páginas de Ítalo Bovo Junior, e do filho deste também, Ítalo bovo é um livro realmente aberto, que não se fechará jamais. Como o Rio, que embora pareça, não acaba ao tocar o mar. Ele apenas passa a fazer parte de algo infinitamente maior.

Que Deus Te Abençoe e obrigado pelas lições gratuitas.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

EXISTEM PESSOAS QUE ... (Samuel Rangel)

Existem pessoas de todas os tipos, cores e religiões.

Existem as pessoas pelas quais sorrimos, mas as que realmente amamos, sorrimos e choramos por elas.

Existem pessoas para as quais cantamos, mas as que realmente amamos, cantamos e calamos por elas.

Existem pessoas para as quais falamos, mas as que realmente amamos, falamos e ouvimos.

Existem pessoas pelas quais torcemos, mas as que realmente amamos, deixamos de torcer e entramos na luta por elas.

Existem pessoas pelas quais trabalhamos, mas as que realmente amamos, trabalhamos e repousamos com elas.

Existem pessoas que que merecem crédito, mas as que realmente amamos, tem nosso crédito e nossas maiores dívidas.

Existem pessoas que existem, e existem pessoas que amamos.

FELIZ NATAL (Samuel Rangel)

Passei mais um ano olhando as pessoas e vi muita tristeza.

Vi tristeza em meio a gargalhadas tolas e superficiais.

Vi sorrisos políticos que deixaram escapar uma melodia infeliz, carregada de mágoa e rancor.

Vi pessoas caladas na hora de dizer eu te amo, e vi pessoas falando eu te amo quando deveriam ter ficadas caladas.

Vi pessoas abraçando clientes e empurrando com os pés o filho que pedia o colo.

Vi pessoas se reunindo para falar dos outros e esquecendo-se de si.

Vi que as pessoas perderam-se tentando se encontrar.

Vi que muitos começaram a odiar em função de tanto amor.

Testemunhei pessoas trocando valores, amizades, ética e dignidade por coisas de somenos importância.

Sei que muitas pessoas passarão o Natal sem nenhuma companhia.

Sei que tantas outras pessoas, passarão o Natal longe de uma pessoa que queriam muito ao seu lado.

Sei que haverá mesas parcas e ralas, com pouco além de uma vela e uma pinha.

Sei que haverá pessoas tão tristes que esquecerão de comemorar a vida.

Hoje, ocupo-me principalmente destas pessoas, até por que, as demais não terão tempo de ler esta mensagem.

A você que não está feliz, eu espero que felicidade surja hoje de forma diferente.

Após esse ano de 2007, venho desejar um Feliz Natal.

Não limitarei esse desejo às Boas Festas, mas desejarei as melhores comemorações, a todo o tempo e todos os dias. Ainda que não se possa fazer a festa, o motivo para comemorar a vida existe a todo momento.

A todos aqueles que estão em conflito, desejo que este se resolva com a sabedoria do tempo e a paz do espírito, pois do conflito justo surgirão duas pessoas melhores. Do conflito injusto, uma delas aprenderá a superar, e a outra, a se superar.

A todos aqueles que têm solidão, eu desejo janelas largas para observar as pessoas na rua, pois existem aqueles que além de solidão, não têm comida, roupas ou mesmo saúde.

A todos aqueles que sofrem por mágoa ou rancor, desejo que o perdão surja intenso e sincero. A todos aqueles que magoaram, desejo que surja a humildade de pedir o sincero perdão. Mas desejo ainda que ambos saibam que não se pode perdoar quem não pediu perdão.

Espero que ninguém se culpe por não conseguir perdoar aquela pessoa que não pediu suas sinceras desculpas em arrependimento, mas espero que o perdão surja enorme e intenso quando isso acontecer.

O desejo que tenho a todos, é de um Natal repleto de pequenas coisas, que são justamente aquelas sem as quais, belos detalhes da vida se perdem em nada.

Que as luzes acendam-se nesse Natal, e iluminem a tudo e a todos que o escuro tenta cobrir.

Feliz Natal e uma bela comemoração do seu verdadeiro sentido.

A VIDA!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

RETROSPECTIVA 2007 (Samuel Rangel)

Quando dezembro despenca do calendário, normalmente ficamos assustados com a rapidez que o ano se passou. Corremos para o espelho e lá estão duas novas rugas envelhecendo nossos olhos cansados. Lembramos então que chegou o momento de corrermos para as lojas abarrotadas de pessoas ensandecidas pelo espírito natalino. Elas se acotovelam nas lojas em busca de um Feliz Natal.

No trânsito o espírito natalino não e menos beligerante. Vemos que os carros estão crescendo e os pára-choques estão ficando mais grossos, enquanto mãos nervosas se agitam para reclamar da moça parada em fila dupla, ou mesmo do espertinho que roubou sua vaga no estacionamento do shopping.

Mas como tão bem foi cantado por Seu Jorge e Ana Carolina ... É ISSO AÍ!

Vamos então nos aconchegando no sofá de natal para assistir às retrospectivas de nossas espirituosas emissoras de televisão, mais ou menos sensacionalistas, que mostram imagens mais ou menos chocantes, mas que não nos fazem nem mais nem menos humanos.

Então deixemos de lado esses programas que nos enjoam, e vamos fazer nossa própria retrospectiva 2007.

Em janeiro, fomos piores do que achamos que somos e melhores do que pensam de nós.

Em fevereiro, nos calamos diante de barbarias e gritamos quando pisaram no nosso calo.

Em março, decepcionamos alguém que nos ama para surpreender alguém que não valia a pena.

Em abril, nos sentimos sozinhos em meio à multidão e acompanhados de nossa solidão.

Em maio, fomos a um casamento para cumprir um protocolo e bebemos com um amigo uma separação.

Em junho deixamos a jaqueta velha no armário por mero capricho, e nos enterramos sob os cobertores enquanto alguém congelava na rua.

Em julho, comemoramos as curtas férias enquanto reclamávamos das estripulias de nossos filhos.

Em agosto, ficamos irritados com as notícias políticas, e logo após, fomos jantar com os assessores de nossos mandatários.

Em setembro, investimos quase tudo em nosso trabalho pensando em nossa família, mas deixamos de investir um abraço nela.

Em outubro, resolvemos fazer uma análise de nossa conduta e acabamos pensando somente nas atitudes dos outros.

Em novembro, o espírito de final de ano aparece, mas descobrimos que teremos que repetir a mensagem do ano passado, pois nada de novo aconteceu.

Em dezembro, não haverá tempo para dedicarmos atenção às pessoas que amamos, pois estamos mais envolvidos com a compra dos presentes delas.

E assim 2007 chegou ao fim?

Ainda não.

Restam-nos aproximadamente um milhão e setecentas mil oportunidades para que nosso coração bata por alguém, por algo, ou ao menos, para agradecer a vida.

Restam minutos suficientes para amassar nossos filhos com um abraço infantil em meio às cócegas no tapete da sala.

Restam ainda algumas noites sem nuvens para admirarmos o céu que nos cobre gratuitamente desde nosso surgimento milagroso neste mundo.

Resta-nos tempo mais que suficiente para perdoar, superar e sorrir, pois levamos anos construindo mágoas, mas podemos superá-las em apenas um segundo.

Resta ainda a oportunidade de abrirmos os olhos para o significado do Natal, da Vida, do Amor, da Paz e de nossa real importância nessa história louca.

Resta-nos tempo para desenharmos caprichosamente um 2008 mais humano.

Errar é humano, mas amar, apesar de ser divino, neste mundo é exclusivamente humano.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A GRANDE LOTERIA DA VIDA (Samuel Rangel)

(Este texto é dedicado ao meu grande amigo Daniel Canha, feito em meio a uma conversa nossa pelo MSN)

Existem por aí loterias de todas as espécies, legais e ilegais, reguladas pelo estado ou pela iniciativa privada. Cada uma delas promete um prêmio. Algumas dão um carro, outras dão uma moto, existem aquelas que dão casas, e a grande maioria delas, dá prêmios saborosos em dinheiro.

Ao iniciar a minha quinta década, posso dizer que alguns panos da ilusão caíram descortinando verdades também de todos os tipos, inclusive revelando que a vida é uma grande loteria, e o mundo uma grande casa lotérica, cheia dos apostadores eufóricos, uns otimistas, os outros contando com o ovo ainda não botado pela galinha (leia como quiser). E vejo ainda aqueles que fazem bolões, e que para vencer, unem-se aos montes. Outros apostam seus míseros tostões para tentar a sorte.

E do pouco que aprendi sobre a vida, posso dizer que já ganhei muito. Ganhei depois de errar e tantas vezes errei tentando acertar.

Aprendi algumas coisinhas.

As melhores roupas não devem ser usadas para que a gente faça o jardim, e nem podemos viver com belas roupas sem ter um jardim que nos acalme a alma.

Aprendi que carros esportivos são ótimos na estrada, mas não nos levam às praias desertas.

Aprendi que belas mulheres são colírios para os nossos olhos, mas aprendi ainda que quando elas são mais mulheres do que belas, são um remédio para a alma.

Aprendi que às vezes é preciso fugir do amor, por amor próprio.

Aprendi que amigos às vezes dizem sim apenas por amizade.

Aprendi que o trabalho enobrece o homem, mas desde que ele pense no que trabalha e no que faz pelo homem em seu trabalho.

Aprendi que palavrões têm sua própria hora, e eles fogem de nossas bocas, feito crianças serelepes. Mas eles não devem jamais assustar as pessoas à nossa volta. Mas eu aprendi também que as palavras que parecem belas nem sempre não verdadeiras, e o que não é verdadeiro jamais será belo.

E descobri que ao ter um filho, morremos um pouco para nós e nascemos para a eternidade.

Descobri que gosto mais do azul do que de vermelho. E realmente prefiro o branco à cor preta, mas que me vestir de preto às vezes me dá a melancolia calma que a felicidade precisa.

Descobri tantos temperos insensatos que fazem do sabor algo insuperável. E descobri que não basta misturar os gostos deliciosos para se fazer apreciar um bom paladar.

Aprendi que existem coisas maravilhosas que devem ficar separadas. E só são maravilhosas quando estão só.

Descobri que um relacionamento tem um certo prazo de validade, ainda que esse prazo seja maior que uma vida. E descobri que pessoas que passam rapidamente pela nossa vida, acabam nos dando lições tão valiosas quanto a própria vida.

Descobri que não basta nossa boca dizer um “muito obrigado” enquanto nossos olhos contemplam a vantagem que nos deram.

Descobri que presentes caros ou baratos, podem quebrar, perder a utilidade, ou mesmo nos fazer mal.

Nesse tempinho que tanto acho tanto, descobri que nossas descobertas nem sempre são verdadeiras, mas nem por isso devemos deixar de dividi-las com aquelas pessoas que tanto amamos.

Hoje eu sei que ainda não me conheço, e muito provavelmente, passarei o resto da vida surpreendendo-me com minhas capacidades e incapacidades.

Passarei o resto da vida criando e superando medos, para um dia quem sabe entender que eles sejam metades de uma mesma coisa boa.

Passarei o resto da minha vida sem saber explicar o que é o amor.

Mas se alguém quiser saber o que é o amor, quando eu olhar para o meu filho, apenas olhe para os meus olhos e procure não escutar o que eu falo.

Quanto à loteria da vida?

Às vezes estamos no balcão, com o palpite mais quente que nos veio à cabeça.

Então um suposto infeliz nos bate e faz marcar errado o nosso palpite. Ao sairmos da lotérica percebemos o erro, e o cidadão está ao nosso lado.

Quer minha opinião?

Espere sair o resultado antes de xingar o cidadão.

Às vezes é o destino que nos empurra, e seria uma tolice xingar essa criança brincalhona que é o destino. Sei que o destino às vezes é cruel, mas não deixa de ser aquela criança brincalhona escolhendo a formiga no jardim. É o destino.

E a vida? Onde fica a grande loteria da vida?

É a única loteria que o entrega o prêmio antes de fazer-mos as apostas.

O prêmio é a própria vida.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

AGRADECIMENTO A LILI MARLENE (Samuel Rangel)

Já faz algum tempo que venho recebendo respostas inspiradoras da amiga Lili para os textos que publico aqui. E por si só, bastariam aquelas respostas e comentários para que eu continuasse debruçando sobre esse teclado cansado, misturando palavras com vontade de esclarecer meus sentimentos e minha história.

Mas a amiga foi além. Recebo a notícia de que havia um presentinho para mim no blogue dela (http://thegirlunderthelantern.blogspot.com/). Carente que sou, fui como garoto procurar o meu tesouro escondido, e lá descubro que a amiga havia indicado este meu blogue para o prêmio ESCRITORES DA LIBERDADE.

Então meu muito obrigado é pequeno Lili.

Neste mundo louco onde os carros passam sobre as pessoas, e as pessoas ainda dirigem carros, receber esse reconhecimento é encontrar fios de esperança na humanidade. É saber que embora nós estejamos doentes, existem aqueles que andam recebendo alta. É descobrir que alimentos da alma ainda andam por aí nas mesas postas em corações alheios.

Quanto ao título do prêmio, queria apenas observar a poesia que nele encontro.

Escritores da Liberdade.

Escritores da Liberdade são na realidade aqueles escravos das palavras. Vassalos da sua própria expressão. Serviçais de suas emoções. E exatamente por se curvarem a tudo isso, escrevem a liberdade, com a liberdade de escrever.

Volto a falar que quando escrevo, escrevo imaginando o rosto de quem está lendo. Confesso aqui que sou dependente de você que está lendo esse texto agora. Escrevo pensando em um sorriso discreto, e do sorriso sou dependente químico. Eu consigo imaginar uma chacoalhada de cabeça, até que surge uma gargalhada. Pronto. A vida faz sentido

E sonho que agora tenho o que tanto precisava. A capacidade de fazer bem para quem sequer estava perto de mim, justifica minha existência e torna legítima minha permissão de viver.

Eu sempre escrevo desta forma e dominado por este desejo.

Mas se o silêncio das pessoas as vezes me traz um pouco de solidão, é por que preciso saber que alguém leu. Imaginar que ninguém lê isto que escrevo agora, é como se eu apresentasse as minhas peças para as lâmpadas do teatro.

Por isso humildemente reconheço que os comentários são importantes para mim.

E agora minha amiga Lili Marlene, posso dizer que se um dia eu realmente for um “escritor da liberdade”, quero ao menos ter todas as palavras para lhe dizer o quanto esse seu presente me fez bem.

Posso dizer ainda que os presentes são o que mais importa.

Considero presentes, aquelas pessoas que estão do outro lado da tela, lendo essas palavras que deixei aqui para você, justamente para você Lili Marelene, que sempre esteve presente neste Blogue.

Muito Obrigado

TROIS FOIS MERDE POUR UNE BONNE CHANCE (Samuel Rangel)

É hoje, e em dia de estréia o coração cresce. Vamos falar da vida e resolver nossas mentiras. Vamos sorrir desta grande piada e encontrar nossa estima pela imagem humana de nossos limites.

É hoje.

E que venha a inspiração de Osvaldo Montenegro para que esta noite seja Sem Mandamentos.

E que os olhos do palco e da platéia se cruzem em cumplicidade e amizade, palavras e emoções.

Que todos se identifiquem como filhos do mesmo acaso maravilhoso.

Então que seja!!!!!

"Trois fois merde pour une bonne chance"

Espero todos lá.