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Mas a verdade é que, após uma seleção de Osvaldo Montenegro e algumas músicas de Zé Ramalho, percebi uma coleção de meninas com olhos tristonhos, como se suspirassem internamente lembranças de amores idos, e de decepções que ainda ardem nas unhas roídas pela ansiedade. E lá estavam elas, como se desaconselhassem o repertório que escolhi para uma quinta-feira curitibana. Tentando me desvencilhar desses vacilos que os que são do palco comentem, pensei em mudar o repertório. Não adiantou. Percebi que a felicidade não é lá um Gol mil que cada família possa ter ao menos um na garagem.
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Então coloco o violão no saco, e ponho o microfone em off. Vamos conversar. Como quem dá a palavra em uma reunião de condomínio, a conversa vem em turbilhões, com dois falando ao mesmo tempo, e mais três com os apartes jogados contra teses sobre relacionamentos e as dificuldades encontradas nos dias atuais.
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Como é de se esperar, e sempre, sem a menor esperança de ver mudar, homens num canto e mulheres no outro sobem ao ringue do campeonato da culpa, e trocam ferpas que sempre conduzem ao mesmo final. Os homens não prestam e as mulheres não são confiáveis.
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Tentei apartar a luta uma vez, duas, três, e com o dedo de um aluno de primário implorando pela atenção da Tia Ruthe, consegui após muito tempo dar minha opinião: Não creio que o problema seja dos homens ou das mulheres. Eu creio que o problema esteja nas pessoas sejam elas do sexo que for.
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Deu certo. Os ânimos antes acirrados agora, molham os argumentos com uma Itaipava bem geladinha. Pronto. Por puro interesse comercial quem sabe, coloquei ordem no meu boteco e trouxe a paz entre os sexos.
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Após isso, alguém falou do comportamento de certos homens, e nesse sentido, não pude deixar de conceder total razão.
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Seria mentira dizer que nós homens, não deixamos as vezes nos levar pelos instintos, ao nos deparar com pernas longas, com um belo colo, com curvas pensadas e arquitetadas por um acaso feliz. E quando nos deparamos com essas beldades, o lado racional que normalmente é o predominante, acaba por se embrulhar em saias e blusas que nos fazem tolos.
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Mas a descrição fornecida por uma das pessoas da mesa, acabou se tornando o catalisador deste texto, obrigando-me a dividir com o leitor essa hilária tese, e as soluções encontradas por um grupo de filósofos de botecos.
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A comparação é simples. Alguns homens, quando se deixam levar pelo desejo sexual, acabam se tornando algo extremamente semelhante aquela raça de cachorro: O Cocker. Essas coisinhas peludas com cara de triste, quando encontram uma perna cheirosa, perdem totalmente a noção. Trançando as patinhas em torno do objeto do desejo, lá ficam as criaturas chatas e desagradáveis, em um subindo e descendo no ritmo de seu desejo.
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Alguns homens quando abordam as mulheres, realmente perdem a noção por completo. Como aquele cidadão que ao perguntar o nome da menina não consegue ser claro. E a menina pensa: Ele quer saber o meu nome ou o nome dos meus seios? Um olhar direcionado indiscretamente para os dotes da menina, naturais ou não (e isso já não faz mais diferença pra muita gente), impedem o cidadão de dedicar-se à portadora dos seios, e impede esta de levar a sério a criatura cocker que está pronta para pular em sua perna em plena balada. Se ela não tomar uma atitude rápida, lá estará o marmanjo subindo e descendo nas pernas da menina que já prevê o vexame em plena boate.
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Por si só, já parece extremamente engraçada a imagem de um evento desta natureza em um bar, testemunhado por uma multidão de mulheres, pois a maioria dos homens estaria lá procurando a sua perna ainda.
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Mas para o meu espanto, a comparação final é que trouxe a graça jamais pensada por mim. Já que o comportamento de tantos homens é como o do cocker, então que as mulheres se munam de bolinhas de tênis, ou de meias mesmo (se forem de meias finas ainda podem despertar mais desejo no animalzinho).
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E assim funciona o repelente. A partir do momento que a mulher se encontra em plena investida do cocker bípede de poucos pelos, ela pega a bolinha e joga longe. Lá vai a criatura escorregando as patinhas em disparada carreira atrás da bolinha. Consegue imaginar a cena? Pronto. Elas estão livres das criaturas irracionais? Não. A criatura pega a bolinha e sempre volta. Então é hora de lançar o objeto mais longe ainda. E mais longe, e mais longe, e mais longe, até que, quando você despachar a bolinha pelo Fedex para algum lugar da Sibéria, quem sabe o cocker pare de correr atrás.
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É lógico que existem diferenças, e algumas bolinhas não podem ser lançadas a mais de 30 cm. Principalmente com um poodle velho e com problemas cardíacos. Saber usar a bolinha realmente faz parte de toda a ciência do desejo.
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Mas também é certo que haverá aquelas que dispensarão a bolinha por adorar o pequeno cão em suas pernas.