domingo, 19 de agosto de 2007

ABACATEIRO - por Samuel Rangel

Na casa amarela, naquele bairro de polacos

Fiz lembranças de um abacateiro.

Sobre o canil derrubava as frutas

Que em meio a açúcar eu devorava


Casa humilde sem chão de tacos

Guardada apenas por perdigueiros

Calçada simples feita por minha mãe

Que dirigia por vezes a camionete de meu avô


Certa feita meu irmão mais velho

Na perversidade da sua infância

Derrubou um colibri que beijava as flores

No muro de plantas que vizinhava ao Foche


Era tudo maior do que o real

Ou eu era menor do que sou hoje

No velho sótão nunca entrei

Por que lá enlouquecera Adelaide


No porão, descoberto sem paredes

Vi os filhotes de Maitê em choro

Lembro-me do branco e preto de seu pelo

Lembro-me da bola de pano que brincava


Não há mais a casa amarela

Nem mesmo meu avô João tem mais vida

Lembranças fortes de minha infância

Que nem comento com minha avó Yolanda


Foi o tempo e veio o grisalho

Que hoje tomam os meus cabelos

Ficaram as cores registradas

Daquela casa que contava a história

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